O governador de Madina o açoitou por isso. Os madinenses ficaram revoltados com o
que aconteceu, e sabendo disso, o Califa pediu-lhe desculpas publicamente e
expressou-lhe o seu arrependimento pelo ato pecaminoso de seu governador. Malik,
como é digno de uma personalidade de seu nível, perdoou ao agressor.
A sua vida se prolongou até os noventa anos. Era um oceano de saber, como dizia seu
discípulo Ach-Cháfi'i: "Ninguém alcançou em saber o nível de Málik. Quem deseja
conhecer a tradição autêntica que procure Málik"
A linha de pensamento e a escola de jurisprudência que ele fundou se difundiram em
muitas terras islâmicas, principalmente na África do norte, e África Ocidental.
Abu Hurayrah
Milhões de muçulmanos, desde o início da história do Islam até os dias atuais, se
familiarizaram com o nome de Abu Hurayrah. Nos discursos e palestras, nas khutubas
das sextas-feiras e seminários, nos livros biográficos e de hadith, o nome de Abu
Hurayrah é mencionado.
Graças a seus esforços notáveis, centenas de ahadith ou ditos do Profeta foram
transmitidos para as gerações posteriores. Ele é o nome mais ilustre no rol dos
transmissores de hadith.
Ao lado dele estão nomes como Abdullah, o filho de Umar, Anas, o filho de Malik, Umm
Al-Muminin Aicha, Jabir Ibn Abdullah e Abu Said Al-Khudri, que transmitiram mais de
mil ditos do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).
Abu Hurayrah tornou-se muçulmano pelas mãos de At-Tufayl Ibn Amr, o chefe da tribo
dos Daws, a qual ele pertencia. Os daws viviam na região de Tihamah, que se estende
ao longo do mar Vermelho, no sul da Arábia.
Quando At-Tufayl retornou a sua cidade, depois de se encontrar com o Profeta (que
a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) e se tornar muçulmano no início de sua
missão, Abu Hurayrah foi um dos primeiros a responder ao chamado. Ele era diferente
da maioria dos daws, que permanecia teimosamente presa às suas velhas crenças.
Quando At-Tufayl visitou Makkah de novo, Abu Hurayrah o acompanhou. Lá, ele teve a
honra e o privilégio de se encontrar com o Profeta Muhammad (que a Paz e a
Bênção de Deus estejam sobre ele), que lhe perguntou: "Qual é o seu nome?"
Ele respondeu: "Abdu Shams, (servo do sol).''
Disse o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele): ''Ao
invés desse, que seja Abdur Rahman (servo do Clemente)"
Ele respondeu: "Sim, será Abdur-Rahman, ó Mensageiro de Deus",
No entanto, ele continuou a ser conhecido como Abu Hurayrah, literalmente "o pai de
um gato", porque, assim como o Profeta, ele gostava de gatos.
Abu Hurayrah permaneceu em Tihamah por muitos anos e, somente no começo do
sétimo ano da Hégira, ele chegou a Madina com outros de sua tribo. O Profeta
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) estava em
campanha em Khaybar. Sendo um necessitado e destituído, Abu Hurayrah tomou sem
lugar na mesquita.
Ele era solteiro, mas com ele estava sua mãe, que ainda não tinha se convertido. Ele
desejava ardentemente, e rezava para que ela se tornasse uma muçulmana. Mas, ela
se recusava terminantemente.
Um dia, ele a convidou a acreditar somente em Deus e a seguir Seu Profeta (que a
Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), mas ela proferiu algumas palavras sobre
o Profeta que entristeceram Abu Hurayrah. Com lágrimas nos olhos, ele foi ter com o
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), que lhe
perguntou:
"O que o faz chorar, ó Abu Hurayrah?"
"Eu nunca deixei de chamar minha mãe para o Islam, mas ela sempre me repele. Hoje,
eu a convidei de novo e ouvi dela palavras de que não gostei. Peça a Deus para fazer
o coração da mãe de Abu Hurayrah se inclinar pelo Islam."
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) atendeu o
pedido de Abu Hurayrah e orou por sua mãe.
Disse Abu Hurayrah:
"Fui para casa e encontrei a porta fechada. Ouvi o barulho de água e quando tentei
entrar minha mãe disse: ''Fique onde está, ó Abu Hurayrah.''
E depois de vestir suas roupas, ela disse: ''Entre!''
Eu entrei e ela me disse: "Testemunho que não há outro Deus senão Allah e que
Muhammad é Seu servo e mensageiro."
Voltei ao Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) chorando de
alegria, quando uma hora antes eu tinha estado chorando de tristeza, e disse: "Tenho
boas notícias, ó Mensageiro de Deus. Deus respondeu às suas preces e guiou a mãe
de Abu Hurayrah para o Islam."
Abu Hurayrah amava muito o Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele); ele nunca se cansava de olhar para o Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus
estejam sobre ele), cujo rosto lhe parecia ter todo o brilho do sol, e também nunca se
cansava de ouvi-lo.
Muitas vezes ele louvava a Deus por sua boa sorte e dizia:
"Louvado seja Deus, Que guiou Abu Hurayrah ao Islam. Louvado seja Deus, Que
ensinou a Abu Hurayrah o Alcorão. Louvado seja Deus que concedeu a Abu Hurayrah
a companhia de Muhammad, que a paz de Deus esteja com ele.' "
Ao chegar a Madina, Abu Hurayrah se dedicou a buscar o conhecimento. Zayd Ibn
Thabit, o notável companheiro do Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam
sobre ele), relatou:
"Quando estávamos eu, Abu Hurayrah e um outro amigo meu na mesquita rezando a
Deus Todo Poderoso, o Mensageiro de Deus apareceu. Ele veio em nossa direção e
sentou-se entre nós. Nós ficamos em silêncio e ele disse: "Terminem o que estavam
fazendo." Então, meu amigo e eu fizemos uma súplica a Deus antes de Abu Hurayrah e
o Profeta disse amém. Aí, Abu Hurayrah fez uma súplica, dizendo: "Ó Senhor, eu Lhe
peço o que meus dois companheiros pediram e ainda peço pelo conhecimento que
jamais será esquecido."
"O Profeta Muhammad disse: ''Amém''
Nós, então, dissemos: ''E pedimos a Deus pelo conhecimento que jamais será
esquecido e o Profeta respondeu: ''O jovem Dawsi pediu antes de vocês.''
Com sua formidável memória, Abu Hurayrah conseguiu memorizar, nos quatro anos
que passou com o Profeta, as jóias de sabedoria que emanavam de seus lábios. Era
um dom que ele possuía e que usou inteiramente a serviço do Islam.
Ele tinha todo o seu tempo livre. Diferentemente dos Muhajirin, ele não ficava nos
mercados, comprando ou vendendo mercadorias. Diferentemente dos Ansars, ele não
tinha terras para cultivar nem colheitas para guardar. Ele ficava com o Profeta (que a
Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) em Madina e sempre o acompanhava nas
viagens e expedições.
Muitos companheiros ficavam fascinados com a quantidade de ahadith que ele
memorizou e, muitas vezes, indagavam dele sobre um certo hadith e suas
circunstâncias.
Certa vez, Marwan Ibn Al-Hakam quis testar a capacidade de memória de Abu
Hurayrah. Foram para um cômodo e atrás de uma cortina Marwan colocou um escriba
desconhecido de Abu Hurayrah e ordenou que ele escrevesse tudo o Abu Hurayrah
dissesse.
Um ano mais tarde, Marwan chamou Abu Hurayrah de novo e lhe pediu que recitasse o
mesmo hadith que o escriba tinha registrado. E descobriu-se que ele não tinha
esquecido uma única palavra.
Abu Hurayrah tinha a preocupação de ensinar e transmitir os ahadith que ele tinha
memorizado e o conhecimento sobre o Islam em geral. Conta-se que um dia ele
passava pelo mercado de Madina e naturalmente viu as pessoas ocupadas nos
negócios.
"Quão fracos vocês são, ó povo de Madina!", ele disse.
"O que você vê de fraco em nós, Abu Hurayrah?", eles perguntaram.
"A herança do Mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, está sendo repartida e
vocês ficam aqui! Por que vocês não vão e pegam a sua parte?"
"E onde está isto, ó Abu Hurayrah?" eles perguntaram.
"Na mesquita", ele respondeu.
Rapidamente, eles saíram e Abu Hurayrah esperou até que eles retornassem. Quando
eles o viram, disseram: "Ó Abu Hurayrah, fomos até a mesquita, entramos e não vimos
nada sendo distribuído."
"Vocês não viram ninguém na mesquita?" ele perguntou.
"Ó sim, vimos algumas pessoas fazendo a Salat, outras lendo o Alcorão e algumas
discutindo sobre o que é halal e o que é haram."
"Esta é a herança de Muhammad, que Deus o abençoe e lhe conceda a paz.", ele
respondeu.
Abu Hurayrah passou por muitas privações e dificuldades, como conseqüência de sua
busca dedicada do conhecimento. Ele contava sobre si mesmo:
"Quando a fome me atingia, eu procurava por um companheiro do Profeta e lhe
perguntava sobre um versículo do Alcorão e (ficava com ele) aprendendo, porque
assim ele me levava à sua casa e me dava comida."
Um dia, minha fome estava tão grande que coloquei uma pedra sobre meu estômago e
me sentei no caminho dos companheiros. Abu Bakr passou e eu o indaguei sobre uma
versículo do Livro de Deus. Eu apenas perguntei porque assim ele me convidaria para
sua casa, mas, ele não o fez. Então, Umar Ibn Al Khattab passou por mim e lhe
perguntei sobre um versículo, mas ele também não me convidou.
Então, o mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, passou e percebendo que
estava com fome, disse: "Abu Hurayrah!" "Ao seu dispor", respondi e o segui até que
entramos em sua casa. Ele encontrou uma vasilha com leite e perguntou a seus
familiares: "De onde vocês conseguiram isto?" "Alguém trouxe isto para você",
responderam.
Então ele me disse: "Ó Abu Hurayrah, chame os necessitados". Obedeci e todos
beberam do leite.
Chegou o tempo em que os muçulmanos foram abençoados com riqueza e bens
materiais de todos os tipos. Abu Hurayrah, finalmente, conseguiu sua parte de fortuna.
Ele tinha uma casa confortável, esposa e filho. Mas, esta mudança de sorte não
modificou sua personalidade e nem ele se esqueceu dos dias de necessidade.
Ele dizia "Cresci como um órfão e emigrei como um pobre e indigente. Costumava me
alimentar do que Busrah Bint Ghazwan me dava. Eu servia as pessoas quando elas
retornavam de suas viagens e cuidava de seus camelos. Então Deus me mandou casar
com ela (Busrah). Assim, louvado seja Deus que fortaleceu sua religião e transformou
Abu Hurayrah em um iman." (Esta última afirmação é uma referência ao tempo em que
ele foi governador de Madina).
Muito do tempo de Abu Hurayrah era passado em exercícios espirituais e em devoção
a Deus. Ficar a noite acordado em oração e devoção era uma prática regular de sua
família, incluindo sua esposa e filha.
Ele ficava acordado uma terça parte da noite, depois sua mulher uma outra terça parte
e sua filha a outra terça parte. Desta forma, na casa de Abu Hurayrah não havia uma
hora da noite que não estivesse alguém em prece e devoção.
Durante o califado de Umar, ele foi indicado como governante de Bahrain. Umar era
muito criterioso com o tipo de pessoas que ele indicava como governante. Seus
indicados deviam viver simples e frugalmente e não deviam ser muito ricos, ainda que
a fortuna tivesse sido obtida por meios legais.
Em Bahrain, Abu Hurayrah ficou muito rico. Umar ouviu falar sobre este fato e mandou
chamá-lo a Madina. Umar achava que a fortuna tinha sido adquirida por meios ilegais e
o questionou sobre onde e como ele tinha amealhado tal fortuna. Abu Hurayrah
respondeu: "Da criação de cavalos e dos presentes que recebi."
"Devolva isto ao tesouro público muçulmano", ordenou Umar.
Abu Hurayrah assim fez e levantando suas mãos para os céus rezou: "Ó Senhor,
perdoa o Amir al-Muminin." Em seguida, Umar pediu-lhe que se tornasse governador
uma vez mais, mas ele não aceitou. Umar lhe perguntou por que ele estava recusando
e ele respondeu:
"Porque assim minha honra não será manchada, nem minha fortuna tomada."
E acrescentou: "E temo julgar sem conhecimento e falar sem sabedoria."
Por toda sua vida, Abu Hurayrah foi gentil e cortês com sua mãe e sempre estimulava
as pessoas a serem gentis com seus pais.
Um dia ele viu dois homens andando juntos, um mais velho do que o outro. Ele
perguntou ao mais novo: "O que é esse homem para você?"
"Meu pai", a pessoa respondeu.
"Não o chame pelo nome. Não ande na frente dele e não se sente antes dele",
aconselhou Abu Hurayrah.
Os muçulmanos têm uma dívida de gratidão com Abu Hurayrah por ter ajudado a
preservar e transmitir o legado valioso do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele). Ele morreu no ano 59, depois da Hégira, quando tinha 78
anos de idade. Que Deus o abençoe e lhe conceda a paz.
Saad Ibn Abi Wakkas
É o ilustre Companheiro coraixita, Saad Ibn Málik Ibn Wuhaib Ibn Abd Manaf Ibn Zahra
Ibn Kilab, pai de Isac Ibn Abi Wakkas, um dos emigrantes pioneiros e um dos dez
alvissarados pelo Paraíso. Foi um dos seis indicados por Umar Ibn Al Khattab para
substituí-lo no califado.
Sua Posição e Seus Méritos
Foi um dos que Deus abriu-lhes o peito para o Islam, de uma forma convicta. Por causa
de sua conversão, sua mãe o boicotou para obrigá-lo a reconsiderar. Porém isso só
aumentou a sua fé e sua firmeza. Os historiadores narram que sua mãe lhe disse.
"Soube que você cometeu apostasia. Por Deus, não haverá proteção para mim,
nem alimentação até que você negue a religião de Muhammad."
Ela permaneceu assim durante três dias o ele não a atendeu. Foi, então ter com o
Profeta e o colocou à par da situação. O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) ficou fascinado por sua fé e por isso Deus revelou o
seguinte versículo sagrado:
"E recomendamos aos humanos benevolência para com seus pais; porém, se te
forçarem a atribuir-Me o que ignoras, não lhes obedeças, porque vosso retorno
será a Mim, e, então, inteirar-vos-ei de quanto houverdes feito". (29ª Surata,
versículo 8).
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) rogou a
Deus por ele: "Senhor, atende o rogo de Saad, se pedir-Te algo."
Foi ele quem construiu a Kufa, por ordem de Umar Ibn Al Khattab e foi designado como
seu governador durante o califado de Umar e do califado de Uthman. Ao ser inquirido a
respeito dele, Umar disse:
"Nomeei como governador o mais honrado e capaz das pessoas e o menos
severo. Ele é forte durante a adversidade e o mais querido coraixita entre as
pessoas".
Posteriormente, Umar o indicou para substituí-lo no califado, dizendo:
"Se o escolhido for Saad, será uma boa escolha. Se não for, que o escolhido
peça o auxílio dele."
Foi também um dos narradores da tradição.
Sua Luta Pela Causa de Deus
Ele escreveu uma página gloriosa na luta pela causa de Deus e pela causa do Islam.
Foi o primeiro a derramar sangue pela causa de Deus. Participou da Batalha de Uhud
junto com o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).
Era um dos arqueiros que estava ao lado do Profeta Muhammad (que a Paz e a
Bênção de Deus estejam sobre ele). Este sempre ficava fascinado com ele e o
incentivava.
Quando os muçulmanos quiseram conquistar a Pérsia e Umar Ibn Al Khattab assumiu
o califado, quis ele próprio comandar o exército. Porém, os muçulmanos o
aconselharam a escolher um dos companheiros. Ele subiu ao púlpito e disse:
"Homens, estava eu disposto a sair convosco, porém os conselheiros me
convenceram a não fazê-lo o a nomear alguns companheiros para assumiram os
assuntos de guerra.''
Os muçulmanos escolheram por unanimidade Saad Ibn Abi Wakkas como
comandante desse exército, o que alegrou Umar sobremaneira, porque conhecia a sua
capacidade. E, apesar de sua confiança na sua sinceridade, na sua crença e
capacidade, nomeando-o como comandante, ele lhe traçou um sistema íntegro dandolhe
aquele extraordinário conselho:
"Ó Saad, não se deixe enganar se for dito: Tio e Companheiro do Profeta, porque
Deus não apaga o mal com o mal, mas apaga o mal com o bem. Não há
parentesco perante Deus a não ser a obediência a Ele. As pessoas, quer sejam
ilustres, quer sejam humildes, perante Deus são iguais. Deus é o Seu Senhor e
eles são seus servos. Sobrepujam um ao outro pelos seus atos, e alcançam Suas
recompensas com a Sua obediência. Observa o que o Profeta Muhammad
costumava fazer e pratique-o."
Saad partiu em direção a Pérsia e cumpriu fielmente o conselho de Umar, pois foi um
exemplo extraordinário de comando, de política proba. Tal política deu seus frutos,
fortalecendo as fileiras, unindo os corações e difundindo a cooperação e a
solidariedade.
Quando o comandante corajoso chegou às terras persas, não foi enganado pelas
aparências nem o exército numeroso o amedrontou. Enviou um emissário com a
seguinte mensagem:
"Estamos vos convocando para a nossa religião, pois é uma religião que prega o
que é excelente e proíbe o que é abominável. Se vos negardes devereis pagar a
Jizya (tributo). Se, vos negardes sereis combatidos. Se aceitardes, deixaremos
convosco o Livro de Deus pelo qual vos regereis, deixando vosso país a vosso
cargo. Se aceitardes pagar a Jizya aceitamos e vos protegeremos. Se negardes,
então vos combateremos."
Os persas se negaram e aconteceu o combate na batalha de Cadissiya, onde Deus
cumulou os muçulmanos com a vitória, apesar de sua inferioridade numérica:
"Quantas vezes um pequeno grupo venceu outro mais numeroso pela vontade de
Deus, porquanto Deus está com os perseverantes!" (2ª Surata, versículo 249).
Ele enviou mensagens para Umar comunicando a vitória. Foi um dia glorioso na
história dos muçulmanos. Saad permaneceu na Pérsia até conquistar a sua capital
Madáin.
Seu Falecimento
Após uma vida repleta de luta cheia dos atos mais dignos, ele faleceu no ano cinqüenta
e cinco da Hégira. Que Deus Se compraza com ele e o recompense com o melhor
galardão.
Umar Ibn Abdul Aziz
Umar Ibn Abdul Aziz Ibn Marwan Ibn Al Hakam da dinastia omíada, da tribo de Coraix,
o governador justo, o quinto dos Califas Probos.
Nasceu em Madina no ano 62 da Hégira. Sua família mudou enquanto ele era criança
para o Egito, pois seu pai, Abdul Aziz Ibn Marwan tinha sido nomeado governador do
Egito. Depois de um curto tempo, retornou para Madina para ser educado nela.
Depois de completar sua educação no ano 85 da hégira, o Califa Abdul Malik Ibn
Marwan nomeou-o governador de Khanasira, uma cidade próxima a Allepo, onde
permaneceu dois anos. O Califa Al Walid Ibn Abdul Malik o nomeou para governador
de Madina, à qual foram acrescentadas, pouco tempo depois, as cidades de Makkah e
Taif.
Assim, Umar tornou-se Governador do Hijaz. Permaneceu no cargo até 93 da Hégira,
quando foi exonerado pelo Califa Al Walid. Ele abandonou o Hijaz e foi morar em
Damasco, onde permaneceu durante seis anos, quando foi designado como Califa.
Sua Posição e Seus Méritos
Umar Ibn Abdul Aziz é considerado o primeiro reformador do Islam do final do primeiro
século da Hégira. Narra-se que Ahmad Ibn Hanbal disse:
"Há uma tradição que diz que a cada cem anos Deus envia alguém para reformar as
práticas dessa comunidade. Nos primeiros cem anos vemos Umar Ibn Abdul Aziz e nos
segundos cem vemos Ach-Cháfi'i."
Os historiadores afirmam que era considerado como o quinto Califa Probo. Sufian Attauri
afirmava: "Os Califas são cinco: Abu Bakr, Umar, Otman, Ali e Umar Ibn
Abdul Aziz. Que Deus os tenha em Sua graça."
Sua Política no Governo
Sua política era tirada, do espírito do Islam, pois era misericordioso para com o fraco
injustiçado, poderoso para com o forte injusto. Ouvia as reclamações de seus vassalos,
participava com eles nos seus sentimentos, sentia a sua dor e suas esperanças,
preocupando-se sempre com os problemas da coletividade. Nunca privilegiou seus
parentes ou membros de sua tribo, sempre se preocupando em servir a religião e
elevar a palavra do Islam.
Ele exonerou Ussama Ibn Zaid da função de tributação e castigou-o ao ficar à par de
sua injustiça, sem permitir a interferência de ninguém. Exonerou Yazid Ibn Abi Muslim
do governo da África, por este tiranizar as pessoas, aparentando-se como reformador
para esconder seus crimes. Por isso, ele também o castigou.
Ele executava todos os ensinamentos do Islam com minuciosidade, e honestidade. Os
governantes omíadas antes dele tomavam a Jizia (imposto) daqueles que adotavam o
Islam, apesar da lei islâmica não permitir isso. Quando ele assumiu o califado, ordenou
a suspensão da Jizia sobre os que se converteram. Ele instruiu seus governadores e
funcionários com a sua famosa frase:
"Suspendei a arrecadação da Jizia daqueles que se converteram. Que Deus
abomine o vosso ato. Sabei que Deus enviou Muhammad como orientador e não
como coletor. "
Umar convocou os bárbaros para o Islam. Quando aceitaram, ele suspendeu a Jizia
sobre eles. Os governadores antes dele eram severos em arrecadá-la, Umar revogou
tudo isso.
Ascetismo e Austeridade
Há um consenso geral entre os historiadores de que quando Umar Ibn Abdul Aziz
assumiu o califado deixou todas as aparências de luxo de uma vez e adotou o
ascetismo e a austeridade de forma profunda. Quando assumiu o califado trouxeramlhe
carruagens e cavalos enfeitados com condutores.
Perguntou: "O que é isso?"
Responderam: "Carruagens do Califa."
Disse: "Prefiro a minha montaria."
Ele mandou retirar todos os móveis de luxo da residência do Califa e juntá-los ao
tesouro público, conformando-se em sentar sobre esteiras.
Ele herdou essa austeridade de seu antepassado Umar Ibn Al Khattab, pois era o avô
de sua mãe. Ele foi uma luz que iluminou o caminho das pessoas para a prática do
bem, pois era o exemplo perfeito do governador muçulmano justo.
Permaneceu no califado dois anos e meio, um curto espaço de tempo, mas deixou
traços extraordinários, durante o qual os muçulmanos viveram felizes e ficam
exultantes só em recordá-lo.
Ele faleceu no ano 101 da Hégira, antes de atingir os quarenta anos de idade. As suas
últimas palavras foram as contidas no versículo 83 da 28ª Surata:
"Destinamos a morada no outro mundo para aqueles que não se envaidecem
nem fazem corrupção na terra; e a recompensa será dos tementes."
Que Deus ilumine seu rosto, proporcione-lhe as melhores recompensas pelas suas
obras em prol do Islam e dos muçulmanos.
Salah ad Din Al Ayyub
(Saladino)
O domínio muçulmano sobre os lugares cristãos sagrados, superpopulação e as
constantes guerras na Europa, estimularam as Cruzadas, a primeira grande aventura
colonial ocidental no Oriente Médio. Entre 1097 e 1144 d.C, os cruzados criaram
principados de Edessa (no nordeste da Síria atual), Antioquia, Trípoli e o Reino Latino
de Jerusalém.
A região politicamente fragmentada foi um alvo fácil para a conquista dos europeus. A
primeira ameaça muçulmana às trincheiras européias não veio da Grande Síria e sim
de Zangi, o emir de Mosul (Iraque). Zangi tomou Edessa em 1144 d.C, e seu filho Nur
Ad Din (Luz da Fé), defendeu Damasco, estendendo o domínio, de Allepo até Mosul.
Quando o último califa Fatimida morreu, Nur Ad Din tomou o Egito também. Eliminando
o sectarismo sunita/xiíta, a rivalidade que tinha ajudado a aventura européia, ele
conclamou a jihad, para unificar a força para os árabes na Grande Síria e Egito. A jihad
foi para libertar Jerusalém, a terceira cidade mais sagrada para os muçulmanos, a qual
chamamos de Bayt Quds (a casa da santidade), em memória à parada do Profeta
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) naquela cidade, em
sua viagem noturna aos céus.
Coube a Saladino (Salah ad Din Al Ayubbi, retidão da fé), um oficial de Nur ad Din,
recuperar Jerusalém. Saladino, que era Curdo, unificou a Síria e o Egito, uma
preliminar necessária, e depois de muitos revéses, tomou Mosul, Allepo e uma série de
cidades, desde Edessa até Nasihin.
Em 1187 d.C, Saladino tomou Al Karak, um forte dos cruzados no caminho entre Homs
e Trípoli, tomado pelo infame Reginaldo de Chatillon, que havia descumprido tratados,
molestado a irmã de Saladino e atacado Makka, com o objetivo de obter o corpo do
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), para exibilo,
como troféu em Al-Karak.
Saladino sitiou Jerusalém em setembro de 1187d.C, e nove dias depois, a cidade se
rendia. O comportamento de Saladino e o controle completo de suas tropas,
granjearam-lhe o respeito de todos os habitantes de Jerusalém e o epíteto de "flor do
cavalheirismo islâmico".
Saladino chegou ao Egito em 1168 d.C, como integrante da equipe de seu tio, o
general curdo Shirkuh, que se tornou o vizir, do último califa Fatimida. Depois da morte
de seu tio, Saladino se tornou o senhor do Egito.
Os cruzados foram empurrados de Jerusalém e da maior parte da Palestina, por Salah
ad Din ibn Ayyub, posteriormente ele aboliu o califado Fatimida, que naquela época já
não mais representava uma força em termos religiosos e devolveu o Egito à ortodoxia
sunita.
Ele restaurou e estreitou os laços com o Islam oriental e devolveu o Egito ao domínios
representados pelo califado Abássida em Bagdá. Ao mesmo tempo, o Egito abriu-se
para as novas mudanças sociais e os movimentos intelectuais que estavam surgindo
no Oriente.
Saladino apresentou ao Egito a madrasah, uma mesquita-escola, que era o coração
intelectual do renascimento religioso sunita. Até Al Azhar, fundada pelos Fatimidas,
tornou-se o centro da ortodoxia islâmica.
Saladino infligiu os mais poderosos golpes contra os cruzados, ergueu o orgulho
muçulmano e o auto-respeito, e fundou a dinastia dos Ayúbidas, que governou o Egito
até 1260 d.C. Durante sua vida, promoveu a harmonia entre os muçulmanos do Oriente
Médio e ganhou a posição de honra e afeição entre eles, que permanece forte até hoje,
principalmente na Síria.
Da mesma forma que os Fatimidas, Saladino manteve o Iêmen sob seu controle,
assegurando, assim, uma importante vantagem estratégica e comercial sobre a região
do mar Vermelho. Quando Saladino morreu de malária em 1192 d.C, seu governo se
estendia do rio Tigre até o Norte da África e o sul do Sudão.
Bilal Ibn Rabbah
O Califa Umar disse:
"Abu Bakr é um senhor; e libertou a outro senhor.''
O Califa Umar, se referia a Bilal Ibn Rabbah; o escravo etíope; que era um escravo e
foi um senhor !
Era um escravo da tribo de Bani Yumah em Makkah, sua mãe era uma escrava
também. A vida dele, como escravo era terrível; todos os dias pareciam iguais; não
podia controlar seu presente nem tinha esperanças para o seu futuro.
Os dias se passavam e cada dia mais, Bilal ouvia sobre Muhammad, e a religião a qual
ele estava pregando. Bilal ouvia seus donos falar sobre ele, com ódio e fúria, em
especial Umaya Ibn Kalaf. Ouvia falar acerca da fidelidade de Muhammad, sua honra e
bons costumes, sua pureza e seu Bom juízo. Também os ouvia comentar as causas da
oposição que lhe faziam; primeiramente estavam a cega confiança na religião de seus
ancestrais; logo estavam temerosos de que, com a nova religião universal e igualitária,
Quraysh e Makkah perderiam seu prestigio como centro religioso e comercial da
Arábia.
Também haviam aqueles que não aceitavam Muhammad como profeta, por não
agrada-los que um Profeta surgisse do clã dos Bani Hashim , e não de seu clã.
Passaram os dias e Bilal, viu finalmente a luz de Deus. Sentiu um chamado no fundo
de seu coração, e então se converteu ao Islam. A noticia se propagou entre os Bani
Yumuh rapidamente. Os amos de Bilal se sentiam envergonhados e furiosos porque
um de seus escravos, estava seguindo a Muhammad. Umaya disse:
"Não há problema. O sol de hoje se ocultará levando o Islam deste escravo rebelde".
Decidiram tortura-lo até que renegasse a sua fé islâmica. Porém contrariamente aoque
foi dito por Umaya, os que se ocultarão foram os ídolos de Quraysh. A firmeza de Bilal
ante as cruéis torturas recebidas, foi uma amostra de orgulho, não só pelo Islam, sua
religião, mas sim para toda a humanidade.
Bilal, deu a humanidade, por graça do Islam, uma lição sobre a força da identidade e
da fé diante das mais terríveis pressões. Demonstrou que a raça e a condição social
não são nenhum obstáculo diante de uma fé firme e a confiança em Deus. Também
demonstrou a as gerações vindouras que a liberdade não se vende.
Os amos de Bilal, para castiga-lo decidiram expo-lo diariamente debaixo do calor do
meio dia no deserto, o qual era mortal nesse momento. Retiravam suas roupas e o
deitavam na areia escaldante do deserto, também apoiavam sobre o seu uma grande
pedra ardendo, de uma maneira a qual Bilal não podia se mexer, a tortura era tão cruel
que as pessoas que o levavam para castigar, ordenadas por Umaya sentiam pena
dela.
Umaya ofertou a Bilal que o libertava do castigo se ele dissesse uma só palavra a favor
dos ídolos.
Porém, Bilal se manteve firme, quando bastava dizer apenas uma palavra a favor dos
idolos para que parassem com a tortura. Lhe pediam que fala-se o nome de dois
deuses a Al-lat e Al'uzza; mas ao contrário, ele repetia:
"Deus é Único... É Único..." sem parar.
Lhe diziam: "Só repita o que lhe dizemos"
E ele dizia exausto: "Minha língua não pode faze-lo".
Ao entardecer o levavam amarrado pelo pescoço, e entregavam para as crianças, e
elas o arrastavam pelas ruas de Makka, a noite o chicoteavam novamente para que
voltasse a adoração dos ídolos.
Assim passaram-se os dias, e Bilal repetia decididamente: "Deus é Único... É
Único..."; diante de seus torturadores. Era tanta sua perseverança e sua firmeza que
seus amos perderam a esperança de qualquer êxito contra sua firme convicção. Em
uma ocasião passava pelo lugar aonde costumavam tortura-lo, Abu Bakr o qual viu a
maldade que estavam cometendo contra Bilal, dirigindo-se a seu torturador e lhe disse:
''Ó Umaya, tu não temes a Deus no que diz respeito a este pobre, até quando vai
castigá-lo ?''
Umaya respondeu:
''Vós é que o corrompestes, agora salvai-o daquilo que estás a ver.''
Abu Bakr disse:
"Castigais acaso a um homem só porque diz que seu Senhor é Deus?"
Abu Bakr gritou com Umaya:
"Toma aqui o dinheiro, é mais do que ele vale, e deixai-o livre"
Umaya, se alegrou muito, pela quantia oferecida por Abu Bakr, em troca da liberdade
de Bilal, tomou o dinheiro, e entregou o escravo a Abu Bakr, e lhe disse:
"Antes houvesse oferecido uma só peça de prata, te venderia da mesma maneira"
Abu Bakr sentiu nessas palavras a decepção e frustração que sentia Umaya, porém,
Abu Bakr não exitou em demonstrar a sua generosidade dizendo as seguintes
palavras:
"Por Deus! Se tivesse me pedido cem peças de prata, igualmente eu o
compraria!"
E Abu Bakr, libertou Bilal, uma vez livre, Bilal emigrou para Madina pela causa de Deus
e de Seu Profeta. Foi ali, onde o Profeta Muhammad elegeu, Bilal para que fosse o
muaddhim, para chamar os muçulmanos para a oração cinco vezes ao dia na
mesquita. Essa mesma voz que, treze anos atrás, exclamava "Deus é Único..." agora
entoaria o Adhan, para encher de fé os corações dos Crentes.
Passaram os meses, até que chegou um momento decisivo para o Islam; pela primeira
vez se enfrentariam em combate nas cercanias de Madina, os muçulmanos e os
incrédulos de Makkah. O Profeta Muhammad elegeu as palavras de Bilal, "Deus é
Único", como grito de guerra. Ambos os exércitos se encontraram frente a frente e o
destino teria preparado algo especial para Bilal.
Umaya Ibn Kalaf, tinha o costume de se esconder quando os makkenses saíam para
combater; e desta vez planejava fazer o mesmo. Porém, 'Uqbah Ibn Abi Mu'it, seu
amigo, que sempre o apoiou no momento de torturar os muçulmanos, foi a sua casa e
o acusou de covarde e por esconder-se como as mulheres. Umaya no teve outra saída,
senão, preparar-se para marchar com o exército de Makkah. Não sabia, o que o
destino lhe teria preparado.
Sabemos que o destino sempre prega suas peças, principalmente naqueles que
maltratam e abusam dos mais fracos. 'Uqbah, era quem incentivava a Umaya para
torturar os crentes, e seria ele mesmo que levaria a Umaya para sua morte, e a dele
também! E, pelas mãos de quem? Pelas mãos de Bilal!
Quando se enfrentarão os exércitos, Umaya ao ouvir dos muçulmanos: "Deus é
Único!", sentiu uma estranha sensação em seu peito. Como poderia as palavras de um
escravo negro converter-se tão rapidamente em lema de uma religião e de uma nova
nação?
Nesse momento, pressentiu que enfrentava a algo fora do comum neste mundo. Em
um dos momentos mais decisivos da batalha, Bilal, viu a Umaya Ibn Khalaf e exclamou:
"És um dos cabeças da incredulidade! Se ele se salvar desta, eu não me salvarei
!"
E se lançou sobre Umaya, com suas recordações e cicatrizes que as torturas de
Umaya, haviam causado sobre ele e a outros crentes. Clamou em voz alta as mesmas
palavras de sempre: ''Deus é Único!''. E um grupo de muçulmanos se lançou sobre
Umaya, e seus filhos antes dele, fugiram do campo de batalha.
Ele, que havia causado tanta dor e sofrimento aos crentes com seu ódio e vaidade, não
podia escapar sem saldar suas contas! Quando Umaya caiu morto, Bilal começou a
entoar do fundo de seu coração "Deus é es Único!".
Passaram-se os anos, os muçulmanos foram fortalecendo-se cada vez mais e mais;
até prepararem um exército de dez mil homens para entrar em Makkah e tomar posse
de esta cidade Sagrada para o Islam.
Entram em Makkah, já vencida sem derramar uma gota de sangue e sem represálias
contra sua gente, a mesma gente, que anos antes os haviam acusado, torturado e os
expulsaram de seus lares, separando-os de suas famílias.
O momento mais emotivo foi quando o Profeta Muhammad, ingressou juntamente com
Bilal em direção a Kaaba, o edifício sagrado que os idólatras haviam, colocado suas
deidades de pedra, barro e outros materiais.
O Mensageiro, começou a destruir estes ídolos um por um, logo ordenou a Bilal que
subisse no alto da Kaaba e entonasse o Adhan. Foi um momento de gloria para os
silenciosos guerreiros muçulmanos. Por fim se escutava o chamado a adoração
exclusiva de Deus de sua Casa Sagrada! Tantos anos de luta para estarem ali na casa
de Deus, ouvindo o chamado de Bilal para oração!.
Bilal viveu sempre ao lado do Profeta, participava em todas as batalhas, chamava os
crentes a oração na mesquita, constantemente praticava e defendia os ritos do Islam, a
religião que o livrou da escuridão para luz, da escravidão a liberdade. O Profeta o
apreciava imensamente. Constantemente o descrevia como:
"Um homem dentre a gente do Paraíso".
Quando o Profeta morreu, seu sucessor, o Califa Abu Bakr, recebeu a Bilal que lhe
disse:
"Oh, Califa do Mensageiro de Deus, ouvi o Profeta dizer": "A melhor obra de um
crente é combater pela causa de Deus."
Abu Bakr disse: "O que desejas então, Bilal ?".
Bilal disse: "Desejo partir para a fronteira e lutar pela causa de Deus até morrer".
Abu Bakr respondeu: "E quem chamará os fiéis para oração então ?".
Contestou Bilal com os olhos cheios de lágrimas: "Não será eu muaddhin de nada,
depois de have-lo sido na vida do Profeta ".
Abu Bakr disse: "Ao contrario, tu serás nosso muaddhin".
Bilal expressou: "Se és que me libertas-te para que te sirva, pois que assim seja,
se és teu desejo. E se és que me libertas-te por Deus, pois deixa-me partir para
aquilo para o qual me libertas-te".
Abu Bakr respondeu: "Te libertei por Deus, Bilal"
Algum tempo depois Bilal se apresentou diante de Umar, sucessor de Abu Bakr e pediu
novamente para ser enviado para a guerra em Sham.
Bilal dedicou o resto de sua vida a defender a causa de Deus nas fronteiras do Califado
Islâmico. E nunca más se ouviu sua voz pronunciando o chamado para a oração; pois
ao dizer: "Testemunho de que Muhammad é o mensageiro de Deus", ele se
recordava dos tempos em que era muaddhim do Profeta, perdia a voz e interrompia em
soluços e pranto, por causa destas recordações.
O último chamado que se escutou foi durante a visita do Califa Umar a Sham. E nessa
ocasião, o Califa pediu fervorosamente a Bilal que realiza-se o chamado a oração.
Assim ele entoou o Adhan, todos os Sahabas choraram... ao recordar os tempos do
Profeta e de Bilal como muhaddin.
Bilal morreu em Sham, servindo a causa de Deus, no ano 20 depois da Hégira.
Em Damasco estão os restos mortais deste homem que foi um exemplo de firmeza em
defesa da fé e dos princípios que sempre defendeu.
Que Deus, bendiga a Bilal!
ABU SUFYAN IBN AL-HARITH
Dificilmente podemos encontrar laços tão estreitos entre duas pessoas como os que
existiram entre Mohammad, o filho de Abdullah, e Abu Sufyan, o filho de al-Harith.
Claro que não se trata daquele Abu Sufyan ibn Harb, o poderoso chefe coraixita e
grande inimigo do Profeta.
Abu Sufyan ibn al-Harith nasceu quase que na mesma época que o Profeta. Eles se
pareciam bastante um com outro. Cresceram juntos e por algum tempo viveram na
mesma casa. Abu Sufyan era primo do Profeta. Seu pai, al-Harith, era irmão de
Abdullah, e ambos eram filhos de Abd al-Muttalib.
Abu Sufyan também era irmão-de-leite do Profeta. Halimah, que cuidou do jovem
Mohammad, também o amamentou durante algum tempo.
Na infância e juventude, Mohammad e Abu Sufyan foram amigos muito íntimos. Eles
eram tão próximos que teria sido natural que Abu Sufyaan estivesse entre os primeiros
a responder ao chamado do Profeta, que a paz estejaa com elle, e a seguir a religião
da verdade de todo o coraação. Mas, não foi assim, pelo menos por muitos e muitos
anos. Desde o momento em que o Profeta tornou públilco o chamado para o Isla e pela
primeira vez advertiu os membros de seu clã para os perigos de continuaarem em sua
existência de descrença, injustiça e imoralidade, o fogo da inveja e do ódio irrompeu no
coração de Abu Sufyan. Os laços de parentesco se romperam. Onde antes houvera
amizade, havia agora revolta e ódio. Onde antes era fraternidade, agora era resistência
e oposição.
Naquela épocaa, Abu Sufyan era conhecido com um dos melhores lutadores e
cavaleiros do Coraix e um de seus mais perfeitos poetas Usou sua língua e sua
espada contra o Profeta e sua missão. Todas as suas energias foram mobilizadas para
denunciar o Islam e perseguiur os muçulmanos. Em qualquer batalha contra o Profeta
ou tortura e perseguição contra os muçulmanos, lá estava Abu Sufyan. Ele compunha e
recitava versos atacando e vilipendiando o Profeta.
Por quase vinte anos, este rancor consumiu sua alma. Seus três outros irmãos, Nawfal,
Rabiah e Abdullah, já haviam abraçado o Islam, menos ele.
No oitavo ano depois da Hégira, no entanto, um pouco antes da libertação de Macca, a
posição de Abu Sufyan começou a mudar, conforme ele mesmo explica: "Quando o
movimento do Islam se tornou vigoroso e sólido, e as notícias sobre o avanço do
Profeta para libertar Macca começaram a chegar, o mundo desabou sobre mim. Sentime
preso numa armadihla. 'Para onde ir?' perguntei para minha esposa. 'E com quem?'
e disse para ela e meus filhos: 'Preparem-se para abandonar Macca. O avanço de
Mohammad é iminente. Certamente serei morto. Nada valerei se for reconhecido pelos
muçulmanos.' 'Agora', respondeu minha família, 'você precisa perceber que árabes e
não árabes prometeram obediência a Mohammad e aceitaram sua religião. Você ainda
se opõe a ele, quando poderia ter sido o primeiro a apoiá-lo e ajudá-lo.'
Eles continuaram tentando influenciar-me no sentido de reconsiderar minha atitude em
relação à religião de Mohammad e de buscar aquela antiga afeição. Finalmente, Deus
abriu meu coração para o Islam. Levantei-me e disse para meu servo, Madhkur:
'Prepare um camelo e um cavalo para nós.' Juntamente com meu filho Jafar,
galopamos à grande velocidade até al-Abwa, entre Macca e Medina. Sabia que
Mohamad estava acampado lá. Aproximei-me do lugar, cobri meu rosto a fim de que
ninguém pudesse me reconhecer e me matar, antes que pudesse alcançar o Profeta e
declarar minha aceitação do Islam diretamente a ele.
Vagarosamente, avancei a pé, enquanto grupos avançados de muçulmanos se dirigiam
para Macca. Evitei o caminho deles, com medo de que um dos companheiros do
Profeta pudesse me reconhecer. Continuei assim até que vislumbrei o Profeta num
monte. Agora caminhando às claras, fui direto a ele e descobri meu rosto. Ele me olhou
e me reconheceu, mas virou o rosto. Mais uma vez me voltei para ele. Ele evitou me
olhar e de novo virou o rosto. Isto aconteceu diversas vezes.
Eu não tinha dúvidas de que, ao encontrar o Profeta, ele ficaria contente com minha
aceitação do Islam e que seus companheiros se rejubilariam com sua felicidade. No
entanto, quando os muçulmanos viram o Profeta, que a paz esteja com ele, me
evitando, eles olharam para mim e se afastaram. Em seguida apareceu Abu Bakr que
violentamente se afastou. Olhei para Omar ibn al-Khattab, com meus olhos implorando
por sua compaixão, mas ele foi mais cruel do Abu Bakr. Na verdade, Omar saiu para
incitar um dos ansar contra mim.
'Ó inimigo de Deus', gritou para que os ansari ouvissem, 'você é um dos que perseguiu
o Mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, e torturou seus companheiros. Você
levou sua hostilidade contra o Profeta até os confins do mundo.'
Os ansari continuaram me censurando em voz alta, enquanto outros muçulmanos me
encaravam com raiva. Neste ponto, vi meu tio al-Abbas e corri para ele em busca de
refúgio.
'Ó tio', eu disse, 'esperava que o Profeta, que a paz esteja com ele, ficasse feliz com
minha aceitação do Islam por causa de nosso parentesco e por causa da posição que
desfruto entre meu povo. Você sabe qual foi a sua reação. Fale com ele em meu nome
para que ele fique satisfeito comigo.'
'Não, por Deus', respondeu meu tio. 'Não falarei com ele em absoluto, depois que o vi
evitar você, a menos que uma oportunidade se apresente.'Eu honro o Profeta, que a
paz e as bênçãos de Deus estejam com ele, e tenho por ele profundo respeito.'
'Ó tio, por quem, então, você me abandonará?´, supliquei.
'Nada posso fazer, exceto o que você já ouviu', ele disse.
A ansiedade e a dor tomaram conta de mim. Vi Ali inb Talib pouco depois e falei com
ele a respeito do meu caso. Sua resposta foi a mesma que a de meu tio. Voltei a meu
tio e lhe disse: 'Ó tio, se você não pode abrandar o coração do Profeta em relação a
mim, então, pelo menos, impeça aquele homem de continuar me denunciando e
incitando os outros contra mim.' 'Descreva-o' disse meu tio. Eu descrevi o homem e elle
disse: 'Aquele é Nuayman ibn al-Harith an-Najjari'. Elle se dirigiu a Nuayman e disse: ó
Nuayman! Abu Sufyan é o primo do Profeta e meu sobrinho. Se o Profeta está zangado
com ele hoje, estará satisfeito com ele um outro dia. Portanto, deixe-o em paz...' Meu
tio continuou tentando aplacar a ira de Nuayman até que ele se acalmou e disse: 'Não
mais o rejeitarei.'
"Quando o Profeta alcançou al-Jahfah (cerca de 4 dias de viagem de Macca), eu me
sentei na entrada de sua tenda. Meu filho Jafar ficou ao meu lado. Quando o Profeta
estava deixando sua tenda, ele me viu e me evitou. Contudo, não desisti de buscar sua
satisfação. Sempre que ele acampava em algum llugar, eu me sentava na entrada de
sua tenda e meu filho ficava em frente a mim ... Continuei assim por algum tempo. Mas
a situação se tornou demais para mim e acabei ficando deprimido. Disse para mim
mesmo:
'Por Deus, ou o Profeta, que a paz esteja com elle, mostra-se satisfeito comigo ou eu
pegarei meu filho e perambularei pelo mundo até morrer de fome e de sede.'
Finallmente, o Profeta abrandou e disse a Abu Sufyan: "Agora não há mais acusação
contra você." O Profeta confiou o novo adepto a Alli ibn Abi Talib, dizendo: "Ensine a
seu primo como fazer o wudu e sobre a Sunna e depois traga-o a mim." Quando Ali
retornou, o Profeta disse:
"Diga ao povo que o Mensageiro de Deus está satisfeito com Abu Sufyan e que eles
devem ficar satisfeitos com ele."
Abu Sufyan continua: "O Profeta então entrou em Macca e eu fiz parte de sua equipe.
Ele se dirigiu à Mesquita e eu também, tentando dar o melhor de mim para ficar em sua
presença e não me separar dele por nada...
Mais tarde, na Batalha de Hunayn, os árabes se juntaram numa força sem precedentes
contra o Profeta, que a paz esteja com ele. Estavam determinados a desfechar um
ataque mortal contra os Islam e os Muçulmanos. O profeta saiu para enfrentá-los com
um grande número de seus companheiros. Eu fui com ele e quando vi uma multidão de
mushrikin disse: "Por Deus, hoje expiarei toda a minha hostilidade passada conttra o
Profeta, que a paz esteja com ele, e ele, certamente verá, da minha parte, o que
agrada a Deus e o que agrada a ele.'
Quando as duas forças se encontraram, a pressão dos mushrikin sobre os
muçullmanos foi violenta e os muçulmanos começaram a perder o ânimo. Alguns, até,
começaram a debandar e uma terrívelll derrota se aproximava. No entanto, o Profeta
permaneceu firme no meio da batalha, e com uma perna de cada lado de sua mula
"Ash-shahba", como uma montanha elevada, brandindo sua espada, ele lutou por ele
próprio e pelos que estavam à sua volta. Saí com meu cavalo e fui lutar a seu lado.
Deus sabe que desejei o martírio ao lado do Mensageiro de Deus. Meu tio tomou as
rédeas da mulla do Profeta e ficou a seu lado. Eu tomeu minha posição do outro lado.
Com minha mão direita, eu desviava os ataques contra o Profeta e com a esquerda
segurava minha montaria. Quando o Profeta viu meus golpes devastadores sobre o
inimigo, ele perguntou a meu tio: 'Quem é este?' 'Seu irmão e primo, Abu Sufyan inb al-
Harith. Contente-se com ele, ó Mensageiro de Deus.'
'Sim, estou, e Deus lhe garantiu o perdão por todas as hostilidades praticadas contra
mim.' Mal cabia tanta felicidade em meu coração. Beijei seus pés no estribo. Ele se
voltou para mim e disse: 'Meu irmão! Por minha vida! Avance e ataque!'
As palavras do Profeta me estimularam e todos mergulhamos nas posições dos
mushrikin até que eles se espalharam e fugiram em todas as direções."
Depois de Hunayn, Abu Sufyan ibn al-Harith continuou a usufruir da alegria do Profeta
e teve a satisfação de estar em sua nobre companhia. Mas, jamais encarou o Profeta
diretamente nos olhos ou lançou seu olhar sobre seu rosto, por causa da vergonha e
embaraço de seu passado hostil contra ele.
Abu Sufyan continuou a sentir intenso remorço pelo tempo que levou tentando apagar
a luz de Deus e se recusando a seguir Sua mensagem. Dalli em diante, ele passaria
seus dias e noites recitando os versículos do Alcorão, buscando compreender e seguir
suas leis e se beneficiar com suas admoestações. Ele se afastou do mundo e de seus
brilhos e se voltou para Deus com todas as forças de seu ser. Certa vez o Profeta, que
a paz esteja com ele, o viu entrar na mesquita e perguntou para sua esposa: "Você
sabe quem é esse, Aisha?" e ela respondeu: "Não, ó Mensageiro de Deus." "É meu
primo, Abu Sufyan ibn al-Harith. Veja, ele é o primeiro a entrar na mesquita e o último a
sair. Seus olhos não se afastam do cadarço de seu sapato."
Quando o Profeta, que a paz esteja com ele, morreu, Abu Sufyan sentiu imensa dor e
chorou amargamente.
Durante o califado de Omar, que Deus o abençoe, Abu Sufyan sentiu que seu fim
estava próximo. Um dia, as pessoas o viram em al-Baqi, o cemitério perto da mesquita
do Profeta, onde muitos companheiros estão enterrados, cavando e preparando uma
sepultura. Ficaram surpresos. Três dias mais tarde, Abu Sufyan estava se deitando
estirado e sua família em volta dele começou a chorar. Mas, ele disse: "Não chorem
por mim. Por Deus, não fiz mais nada de errado desde que aceitei o Islam." E com
essas palavras ele morreu.