A Compaixão: Uma Fonte que Nunca Seca
A compaixão é uma das mais nobres virtudes morais que o Islã incentiva, por seu profundo impacto no fortalecimento dos laços da comunidade. Quando o interior da ummah se une pelo espírito da compaixão, sua frente externa — com a permissão de Deus — torna-se protegida, forte, e florescem nos corações de seus membros os sentimentos de solidariedade e fraternidade.
O Mensageiro de Allah ﷺ disse:
“Os crentes, em seu afeto, misericórdia e compaixão uns pelos outros, são como um corpo: se um órgão sofre, todo o corpo responde com febre e insônia.”
O hadith reúne três palavras: misericórdia, afeto e compaixão. E embora seus significados se cruzem, sua repetição carrega — ao meu ver — uma mensagem precisa: encha seu coração de todas as boas qualidades, e não negue nenhuma delas aos outros. Se você perceber tristeza escondida no olhar de seu irmão, ou um peso que o oprime, ou uma necessidade que o limita, procure dentro do seu coração o melhor e o mais puro gesto de compaixão — por palavras ou por ações — e ofereça-o com sinceridade.
Assim, o espaço cinzento e sombrio se transforma em um amplo jardim, impregnado pelo perfume da afeição e iluminado pela luz límpida da fraternidade.
Se seguíssemos o ensinamento do Profeta ﷺ, a ummah se tornaria como um único corpo: o que fere um de nós feriria a todos; o que preocupa um vizinho nos preocuparia; o que tira o sono de um irmão tiraria o nosso.
Quando os ventos da generosidade sopram abundantes, os rostos se iluminam e voltam a florescer na alma aquilo que os dias haviam murchado. Até o gesto mais simples de compaixão tem um efeito profundo nos corações cansados ao nosso redor — assim como as primeiras chuvas alegres do inverno fazem brotar as plantas e jardins. Assim também a compaixão irriga os corações feridos e revive as sementes do amor e da irmandade.
Quão belo seria se o bem permanecesse espalhado entre as pessoas: um consola seu irmão com seu dinheiro, outro com palavras gentis, outro com suas orações — ainda que as distâncias se ampliem e as ocupações se multipliquem.
Ibn al-Qayyim, que Allah tenha misericórdia dele, disse:
“A compaixão entre os crentes é de vários tipos: com o dinheiro, com a influência, com o corpo e o serviço, com o conselho e a orientação, com a súplica e a busca de perdão, e com o compartilhar de sua dor. E conforme a força da fé, assim será a força dessa compaixão. E o Profeta ﷺ foi o mais compassivo de todos com seus companheiros; e seus seguidores possuem dessa compaixão na medida em que o seguem.”
E disse Ibrahim ibn Adham:
“A compaixão é dos atributos dos verdadeiros crentes.”
Quando os valores da ummah são elevados e suas virtudes são nobres, ela vive forte, digna e respeitada, recuperando sua glória perdida. Mas quando suas virtudes se corrompem, ela enfraquece, suas forças se dissipam e seus inimigos se aproveitam de sua fragilidade, até que ela cai ao fim das nações.
“As nações sobrevivem enquanto perduram suas virtudes;
Se suas virtudes se vão, elas também se vão.”
Hoje, a ummah necessita urgentemente de reviver essa grande virtude — a compaixão. Quando nos afastamos dela, as dores dos muçulmanos deixaram de comover até os próprios muçulmanos, quanto mais o Ocidente descrente que finge carregar uma “humanidade” artificial.
E que humanidade é mais verdadeira do que aquela cujo manancial é a Revelação divina?
Se não fortalecermos uns aos outros como um edifício sólido, então de quem esperamos que se importe com as feridas dos muçulmanos e suas causas?
E a compaixão não se restringe às calamidades: sempre que você puder consolar um irmão, faça-o.