Há versões diferentes do Alcorão?
Abeer Eltahan
Assunto interessante, não? Quando lidamos com o livro “mais autêntico do mundo”, que possui uma mensagem “divina e inalterada”, e que é conhecido como a “mensagem final revelada por Deus”, perguntas como essa colocam todas essas afirmações “no moinho”. Visando resolver essas confusões, então, discutiremos aqui várias ideias que são vistas como controversas.
A Raiz do Problema
O desentendimento todo surgiu com os islamofóbicos. Eles afirmam que a palavra “quira’at” significa, na verdade, um conjunto de versões diferentes do Alcorão. Por causa disso, promovem, erroneamente, a ideia de que o Alcorão não é único em sua mensagem.
Afinal de contas: o que é “quira’at”?
“Quira’at” é uma palavra no plural que literalmente significa “recitações”. Em outras palavras, ela se refere aos métodos de recitação oral do Alcorão que foram aprovados pelos estudiosos muçulmanos.
Tradicionalmente, encontramos 10 desses estilos sendo reconhecidos por eles, sendo que desses, sete são classificados por Abu Bakr Ibn Mujahid como mais autênticos e aceitos. De acordo com uma narração de Ibn Masoud , todos os estilos autênticos foram ensinados e revisados de forma oral e pessoal pelo próprio profeta (PECE), juntamente com seus companheiros, até o fim de sua vida terrena.
Cada escola de “quira’at” tem o seu nome derivado de um dos leitores famosos do Alcorão que foram ensinados pelo profeta (PECE). Vale ressaltar aqui que essas formas de leitura variam somente em seus estilos, uma vez que não comprometem os significados e nem permitem aquilo que foi proibido.
Por exemplo: encontramos no português vários sotaques diferentes, tanto locais quanto internacionais, de país para país. Seria correto, por essa razão, dizer que há tipos diferentes da língua?
Quão diferentes são as “quira’at” umas das outras?
Primeiramente, é bom lembrar que o Alcorão foi preservado tanto de forma oral quanto em sua escrita. Dos estilos de recitação existentes, somente aqueles classificados como autênticos pelos estudiosos são considerados válidos. E, como mencionado anteriormente, no total são 10. Qual critério, então, foi utilizado para classificá-los como autênticos?
Para que as “quira’at” sejam consideradas autênticas, devem:
Observar a condição de “Tawaatur”: possuir uma corrente de narração confiável, numerosa e contínua, que possa ser traçada e associada ao profeta (PECE). 2. As variações em suas recitações devem ser compatíveis com as construções gramaticais da língua árabe. Caso existam quaisquer construções que sejam vistas como incomuns, será necessário averiguar sua existência em passagens populares de prosa ou poesia pré islâmicas.
A recitação deve coincidir com o manuscrito de uma das cópias do Alcorão que foram distribuídas durante a época do califa Uthman (o terceiro califa), que é aquela em que o dialeto dos Quraysh (a tribo do profeta) é utilizado.
Mas como ficam as versões impressas do Alcorão?
Hoje em dia, as “quira’at” podem ser encontradas também em versões impressas. Apesar disso, a maioria dos muçulmanos desconhece esse fato. Para saber qual estilo a sua cópia segue, basta checar suas páginas iniciais ou finais, que mencionarão as regras de pronúncia utilizadas, bem como o “isnad”, ou a “autenticação” daquela narração.
Outra informação que merece ser compartilhada aqui é o fato de que o primeiro Alcorão escrito foi ditado pelo profeta (PECE) à alguns de seus companheiros imediatamente após sua revelação. Foram esses manuscritos, juntamente com os seus memorizadores, que foram utilizados como fonte de autenticação durante o tempo de Abu Bakr (o primeiro califa). Já na era de Uthman (o terceiro califa), a segunda coleção, no dialeto dos Quraysh, foi realizada.
Nenhuma das duas versões possuem pontuação e acentos diacríticos, sendo esses introduzidos somente mais tarde, pelos estudiosos, para garantir que a pronúncia do Alcorão fosse realizada corretamente e de acordo com a versão autêntica das “quira’at”.
A pontuação e os acentos diacríticos foram introduzidos, como dito acima, por estudiosos muçulmanos. Os mais conhecidos são Abu’l Aswad ad-Du’alî (d. 69 / 688), Naṣr Ibn ʿĀṣim (d. 89 / 707) e Yaḥya Ibn Yaʿmur (d.129 /746).
O quão diferente são as “quira’at”?
Subhii al-Saalih, em seu livro de estudo da ciência do Alcorão, resume essas diferenças em sete categorias:
Diferenças gramaticais.
Diferenças consonantais.
Diferenças na natureza dos substantivos (singulares, duais, plurais, masculinos ou femininos).
Diferenças que marcam a substituição de uma palavra por outra.
Diferenças provenientes da mudança de ordem de uma palavra em expressões onde a reversão é significante na língua árabe, seja ela de forma geral ou na estrutura daquela expressão.
Diferenças provenientes de adições ou remoções menores, de acordo com a tradição dos árabes.
Diferenças provenientes das particularidades de cada dialeto.
É possível também adicionar à lista a diferença no status de “Basmalah”. E um outro fato a ser reiterado é que todas essas “quira’at” são autênticas e traçadas ao profeta (PECE). (1)
Conclusão:
As “quira’at” não são “versões” e nem “textos” diferentes do Alcorão, mas sim revelações divinas e inalteradas, passadas de geração à geração, que podem ser traçadas ao próprio profeta (PECE). Embora sejam sim diferentes em vários aspectos, transmitem a mesma mensagem, com mesmo significado. No Alcorão, encontra-se um versículo informando que Allah irá preservá-la até o Dia do Julgamento.
“Em verdade, fomos Nós que enviamos o Alcorão; e em verdade, seremos o seu guardião.” [Alcorão 15:9] (2)