A Influência da Civilização Islâmica no Campo da Educação e Relações
Dr Ragheb Elsergany
Traducão: Sh Ahmad Mazloum
A cópia no campo da ciência, das artes e da poesia é algo tangível e claro porque é um efeito puramente material que pode ser detectado com clareza e precisão. Mas o impacto social e humano (educação e relações) pode ser detectado de forma menos clara. Quanto maior o espaço de tempo mais claro o desenvolvimento social. Além disso, as questões sociais são geralmente relacionadas com a cultura, filosofia e religião, que ainda são campos de conflito entre o Islam e o Ocidente até agora. Por esta razão, evitamos, nesta pesquisa, a citação de muitas das comparações. Nós realmente descobrimos que muito do que o Islam aprovou não chegou à civilização ocidental até agora devido às diferenças restantes no parecer, conceitos e filosofias. Portanto, nós pesquisamos aqui as manifestações do impacto da civilização islâmica.
Jolivet Castaoi diz em seu livro “Lei de História”: “A Europa tem uma dívida para o ambiente profícuo de que desfrutou durante tais épocas com o pensamento árabe. Quatro séculos se passaram e eles não tinham outra civilização além da civilização árabe. Os estudiosos da civilização islâmica são os portadores da sua bandeira que se agita.”[1] Em um processo muito lógico, qualquer desenvolvimento na civilização ocidental moderna, em comparação com a civilização romana, pode ser atribuído à tal época intermediária, a época da civilização islâmica.
O impacto sobre a civilização européia no assunto da educação e valores
Em artigos anteriores, nós apresentamos exemplos dessas contribuições, que a civilização islâmica tem acrescentado na matéria dos direitos, liberdades, educação e relações. Vamos destacar aqui o impacto dessas contribuições sobre a civilização ocidental.
Em 890 dC, Afonso, o Grande, queria trazer alguém para a disciplina de seu filho e herdeiro ao trono. Ele trouxe dois muçulmanos de Córdoba por causa de seu interesse em tê-lo bem-comportado. Ele não encontrou entre os cristãos na época uma pessoa competente para esta missão.[2]
Quando os muçulmanos conquistaram a Andaluzia, algumas pessoas preferiram emigrar para a França, para não viver sob o governo islâmico. Thomas Arnold[3] escreve sobre a natureza do tratamento aos cristãos que aceitaram viver sob a égide do Estado islâmico e o compara com o tratamento recebido por aqueles que emigraram. Ele diz: “Aqueles que emigraram para a França para viver sob o domínio cristão não estiveram, na verdade, em melhor situação do que seus irmãos na religião que eles deixaram para trás (referindo-se àqueles que aceitaram viver sob o domínio islâmico). Em 812 dC, Charlman entrou em cena para proteger os exilados que seguiram com ele quando ele desertou da Espanha sobre a coerção dos funcionários do Império e sua perseguição contra eles. Depois de três anos, Luis, o piedoso não encontrou outra maneira, senão a emissão de um novo decreto para melhorar as condições dos exilados que em breve, apesar disso, queixaram-se novamente sobre os nobres que usurparam as terras que lhes foram atribuídas. Não demorou muito tempo após a tentativa de resolver esses problemas, até que começaram a se queixar novamente. Os decretos reais e as ordens que foram emitidas para melhorar as condições desses exilados não trouxeram resultado nenhum. E encontramos em idades tardias, entre a comunidade espanhola que fugiu do governo islâmico, uma classe menosprezada que foi mal tratada e se colocou sob a mercê de seus companheiros cristãos.”[4]
Confirmando o fato de que a relação com os muçulmanos disciplinou as naturezas dos cristãos, Arnold declara que Azidor, um historiador da Andaluzia, “censurou os conquistadores muçulmanos severamente”, mas “ele escreveu a questão do casamento de Abd-al-Aziz ibn Mussa ibn Nusayir com a viúva do rei Roderic, sem mencionar uma única palavra rejeitando este ato.”[5]
Arnold acrescenta: “Muitos cristãos tinham nomes árabes e imitaram seus vizinhos muçulmanos na criação de alguns sistemas religiosos. Assim, muitos deles foram circuncidados. Eles seguiram as mesmas regras (dos muçulmanos) em termos de alimentos e bebidas.”[6]
Os Cruzados que ocuparam os países da Grande Síria durante as cruzadas foram um exemplo de fanatismo na medida em que Montgomery Watt[7] questionou: “É estranho que os nômades que participaram nas cruzadas acreditem que sua religião é a religião da paz”.[8]
Mas a situação deles depois de se misturarem com os muçulmanos foi narrada por Will Durant, que disse: “Os europeus que se instalaram nesses dois países (Síria e Palestina nas cruzadas) adotaram gradualmente o estilo oriental de se vestir … seu contato com os muçulmanos que viviam naquele reino aumentou. Portanto, a aversão e hostilidade entre os dois lados reduziu, os comerciantes muçulmanos começaram a entrar em áreas cristãs com toda liberdade e vendiam seus produtos para pessoas de lá. Os pacientes cristãos preferiam os médicos muçulmanos e judeus em vez dos médicos cristãos. Os clérigos cristãos permitiram que os muçulmanos fossem às mesquitas para a adoração, e os muçulmanos começaram a ensinar seus filhos o Alcorão nas escolas islâmicas nas cidades cristãs de Antioquia e Trípoli.”[9]
É claro que isso não se originou de tolerância original, pois temos visto como os cruzados na Espanha trataram as doutrinas diferentes, isso sem contar as religiões diferentes, cinco séculos depois dessa época na Espanha.
Porém, o tratamento oferecido por Saladino aos cruzados, depois que ele libertou Jerusalém, tem um especial apreço e reconhecimento no Ocidente:
Maxime Rodinson[10] diz: “O arquiinimigo Saladino foi muito admirado pelos ocidentais. Ele lançou uma guerra com humanidade e cavalheirismo, embora apenas alguns o retribuíssem com posturas semelhantes, principalmente Ricardo Coração de Leão”.[11]
Thomas Arnold diz: “Parece que os modos de Saladino e sua vida que contou com o heroísmo causaram na mente dos cristãos em sua época uma influência mágica especial na medida em que um grupo de cavaleiros cristãos eram tão atraídos por ele que eles abandonaram a religião cristã e deixaram seus povos e se juntaram aos muçulmanos”.[12]
Durant também relata a admiração dos historiadores cristãos com a grandeza de Saladino: “Saladino estava comprometido com sua religião até o último limite. Ele se permitiu ser absolutamente duro com os cavaleiros do templo e do hospital, mas era normalmente amável com os fracos e misericordioso com os derrotados. Ele superou os seus inimigos no cumprimento de suas promessas de uma forma que fez historiadores cristãos se surpreenderem como a religião islâmica – que, na opinião deles, é “errada” – pode levar um homem a tal ponto em grandeza.”[13]
Depois de 13 séculos do slogan do Islam “Vocês são filhos de Adão, e Adão foi feito de pó. Não há preferência de um árabe sobre um estrangeiro, nem de um negro sobre um branco, nem de um branco sobre um negro, exceto por piedade”[14], Abraham Lincoln libertou os escravos em meados do século XVIX em circunstâncias críticas. Ele enfrentou uma forte resistência daqueles que se beneficiaram com a classe dos escravos, de tal forma que ele estava prestes a desistir. No entanto, ele emitiu a legislação. É de notar que ele próprio não acreditava na igualdade entre as raças.
A Discriminação Racial na Europa
Vale dizer: a discriminação racial no tratamento ainda existe até hoje na Europa a nível de relações, especialmente em países, como França e Alemanha. Lobon diz: “Os árabes têm o espírito de igualdade absoluta em linha com os seus sistemas políticos. O princípio da igualdade, que foi anunciado na Europa – teoricamente, não na prática -, é completamente firme na natureza da lei (islâmica). Os muçulmanos nunca conheceram essas classes sociais, cuja existência resultou e ainda resulta na mais violenta das revoluções no Ocidente.”[15] Depois de 14 séculos do slogan do Islam sobre o tratamento de prisioneiros: [Ou fazer-lhes mercê ou aceitar-lhes resgate] (Muhammad: 4), e da recomendação do Profeta (a paz esteja com ele): “Tratem bem as mulheres”.[16] Depois de 14 séculos, a convenção de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros em 1949 chegou a discutir os direitos dos presos e não chegou ainda, a se igualar aos direitos dos prisioneiros no Islam.
O mesmo vale para o acordo de Genebra sobre o tratamento de civis durante a guerra, que foi assinado em 12 agosto de 1949, depois de 14 séculos da afirmação do Profeta (a paz esteja com ele): “Conquistai, mas não agi traiçoeiramente, não roubai, não esquartejai, e não matai crianças”.[17]
Abu Bakr disse: “Não desobedeçai, não roubai, não sejai covardes, não destruiai um monastério, não retirai uma palmeira, não queimai terras cultivadas, não matai um animal, não cortai uma plantação ou árvore, e não matai uma pessoa de idade nem uma criança. E encontrareis pessoas que se retiraram, os deixem e o ato para o qual se retiraram”.[18]
A mesma coisa se aplica ao divórcio. Quatorze séculos após o Islam declará-lo, as leis civis na Europa passaram a permitir o divórcio (a lei civil foi lançado na Inglaterra em 1969 dC).
É muito claro que a declaração internacional sobre o fim da discriminação contra as mulheres foi influenciada pela lei islâmica. As declarações sobre o direito das mulheres de possuir e herdar e sua competência legal são quase uma cópia do que está na jurisprudência islâmica. Esta declaração foi emitida em 1967 dC.
Isso foi depois que o Ocidente testemunhou, nas épocas mais recentes, estranhos incidentes. Um exemplo disso é o episódio no qual a Igreja declarou que era um grande fardo sustentar uma mulher, por isso a vendeu por dois “xelins”[19] em 1790 dC. Até o início do século XVIX (1805 dC), o marido tinha o direito de vender sua mulher a um preço específico de (seis centavos). Quando um homem inglês vendeu sua esposa em 1931, ele encontrou um advogado para defendê-lo com uma lei que datava de antes de 1805 dC. O tribunal, então o castigou com dez meses de prisão.
As mulheres só tiveram o direito de possuir um imóvel no final do século XVIX (1882 dC). As mulheres eram consideradas incapazes (inimputáveis) na França, junto com os doentes mentais e as crianças, até 1938 dC.[20]
[1]Jolivet Castaoi: lei da história, citando: Muhammad Kurd Ali: al-Islam wa al hadarah al Arabiyah (o Islam e a civilização árabe) p 544.
[2] Muhammad Kurd Ali: al-Islam wa al hadarah al Arabiyah (o Islam e a civilização árabe) p 548.
[3] Thomas Arnold: famoso historiador Inglês (1864-1930), um dos grandes orientalistas britânicos. Era decano da escola de línguas orientais em Londres em 1904. Um dos seus escritos mais famosos é o livro “convite ao Islam”.
[4] Thomas Arnold: O convite ao Islam, p 159.
[5] Idem, p 160.
[6] Idem, p 160.
[7] Montegmery Watt: (1909-2006 dC), estudioso inglês especializado em estudos islâmicos e decano do departamento de estudos árabes da Universidade de Edinburgh. Escritor de vários livros sobre filosofia islâmica, comparação das religiões, história islâmica e civilização islâmica.
[8] Montegmery Watt: Contribuições do Islam à civilização ocidental, p 102.
[9] Will Durant: História da civilização, 15/34.
[10] Maxime Rodinson: Estudioso francês, um dos mais importantes especialistas em história das religiões. Ele escreveu muitos livros sobre o Islam e o mundo árabe, entre eles: “Muhammad”, “O capitalismo e o Islam”, “O marxismo e o mundo islâmico”, “A grandeza do Islam”.
[11] Maxime Rodinson: A imagem ocidental e estudos ocidentais e islâmicos, p 41.
[12] Thomas Arnold: O convite ao Islam, p 111.
[13] Will Durant: História da Civilização, 15/45.
[14] Ahmad (23.536), Shu’ayib Al-Arna’ut disse: Bem-transmissível. Al-Tabarani: Al-Mu’jam Al-Kabir (14.444), Al-Bayhaqi: Shu’ab al-Iman (4921), Al-Albani disse: Autêntico. Veja: Al-Silsilah Al-Sahiha (2700).
[15] Gustav Lobon: Civilização dos árabes, p 391.
[16] Al-Tabarani: Al-Mu’jam Al-Kabir (977), Al-Mu’jam Al-Saghir (409), Al-Haithami disse: Seu isnad (corrente de transmissão) é bom. Veja: Mujama’ al-Zawa’id (10007).
[17] Narrado por Abu Daud, autenticado por Al-Albani em Sahih Abu Daud.
[18] Ibn A’sakir: História de Damasco, 2 / 75.
[19] Unidade monetária que era usada na Inglaterra e ex colônias britânicas. Um xelim equivalia a 12d (pence antigo) ou 1/20 de libra. Dr. Abd Al-Wadud Shalabi: Fi Mahkamat Al-Tarikh (No Tribunal da História), p 60 em diante.
[20] Dr. Abd Al-Wadud Shalabi: Fi Mahkamat Al-Tarikh (No Tribunal da História), p 60 em diante.