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A questão do Agnosticismo é de fundamental importância a qualquer discussão teológica, porque o agnosticismo coexiste de forma complacente com o amplo espectro de religiões, ao invés de assumir uma posição teológica separada ou de oposição.  Thomas Henry Huxley, o originador do termo no ano de 1869 EC[1], afirmou de maneira clara:





“O Agnosticismo não é um credo, mas um método, cuja essência reside na aplicação vigorosa de um único princípio... De forma positiva o princípio pode ser expresso com em questões do intelecto, seguir sua razão até onde ela puder levá-lo sem outras considerações.  E negativamente, em questões do intelecto, não finja que conclusões que não são demonstradas ou demonstráveis são incontestáveis.”[2]





A palavra em si, como Huxley parece tê-la pretendido, não define um conjunto de crenças religiosas, mas ao invés disso exige uma abordagem racional a todo conhecimento, inclusive aquele vindo da religião.  A palavra “Agnosticismo”, entretanto, se tornou um dos termos mais mal aplicados em metafísica, tendo desfrutado de uma diversidade de aplicações.





Em diferentes épocas esse termo foi aplicado a uma variedade de indivíduos ou subgrupos, diferindo profundamente em níveis de piedade e sinceridade de propósitos religiosos.  Em um extremo existem os que buscam sinceramente e que ainda não encontraram verdade substanciada nas religiões com as quais tiveram contato.  Mais frequentemente, entretanto, o desmotivado em relação à religião utiliza o termo para justificar desinteresse pessoal, tentando dessa forma legitimar o escapismo em relação à responsabilidade da investigação séria de evidências religiosas.





A definição moderna de “agnóstico”, como encontrada no Oxford Dictionary of Current English(Dicionário Oxford de Inglês Atual), não é fiel à explanação de Huxley do termo; entretanto, não representa o entendimento comum mais moderno e usual da palavra, que é a de que um agnóstico é uma “pessoa que acredita que a existência de Deus não é comprovável.”[3]  Por essa definição, a visão agnóstica de Deus pode ser aplicada de forma variada a entidades hipotéticas como gravidade, entropia, zero absoluto, buracos negros, telepatia mental, dores de cabeça, fome, impulso sexual e a alma humana - entidades que não podem ser vistas com os olhos ou seguras com as mãos, mas parecem ser reais e evidentes.  Claramente, não ser capaz de ver ou segurar alguma coisa específica não necessariamente nega sua existência.  O religioso argumenta que a existência de Deus é esse tipo de realidade, enquanto que o agnóstico defende o direito de tal crença, desde que não sejam exigidos provas.





Como um aparte, a filosofia de que nada pode ser provado de forma absoluta parece ter sua origem em Pirro de Élis, um filósofo da corte grega para Alexandre o Grande, comumente reconhecido como o “pai do ceticismo”.  Embora seja saudável certo nível de ceticismo, até mesmo uma proteção, a posição extrema adotada por Pirro de Élis é um tanto problemática.  Por quê?  Porque o pirronista inveterado logicamente estimula o cético de ceticismo (ou seja, a pessoa que pensa normalmente) a fazer a pergunta: “Você alega que nada pode ser conhecido com certeza... então, como pode estar tão certo?”  Os inimigos da lógica podem criar uma grande confusão pela compilação de paradoxos e compostos filosóficos.  Outro grande perigo é levar ao abandono da lógica, em favor da decisão pelo desejo.  Outro perigo é permitir que a imersão em contorcionismo intelectual suprima o bom senso.





A humanidade deve reconhecer que se o bom senso prevalece, detratores teimosos começam a parecer atordoados quando a maçã cai sobre suas cabeças muitas vezes.  Depois de um ponto, aqueles de bom senso para aceitar intervalos de confiança mínimos (ou valores “P”, como são conhecidos no campo de análise estatística) começam a esperar por maçãs maiores, mais altas e mais duras para convencer os pirronistas desafiadores academicamente ou simplesmente removê-los da equação.





Então, pelo bom senso (e experiência), a maioria das pessoas aceita quaisquer teorias que pareçam mais razoáveis, provadas ou não em sentido absoluto.  Dessa forma a maioria das pessoas aceita as teorias da gravidade, entropia, zero absoluto, buracos negros, fome, uma dor de cabeça do autor e uma fadiga ocular do leitor – e bem fazem.  Essas coisas fazem sentido.  Na opinião dos que têm religião, toda a humanidade deve aceitar também a existência de Deus e do espírito humano, porque a evidência esmagadora testemunhada nos muitos milagres da criação apóia a realidade do Criador ao ponto em que o nível de confiança se aproxima do infinito e o valor “P” diminui para algo menor e mais indefinível que o último dígito de Pi.





Com relação à invenção de T.H. Huxley do termo “agnóstico”, há uma citação dele explicando-o:





“Toda variedade de opinião filosófica e teológica estava representada lá (a Sociedade Metafísica) e se expressava abertamente; a maioria dos meus colegas eram –istas de um tipo ou de outro; e, por mais gentis e amigáveis que fossem, eu, um homem sem um rótulo para se revestir, não podia incorrer nos mesmos sentimentos desconfortáveis que devem ter acometido a raposa histórica quando, após deixar a armadilha na qual seu rabo permaneceu, se apresentou às suas companheiras normalmente de rabo longo.   Então eu pensei e inventei o que concebi ser o título apropriado de “agnóstico””.[4]





De acordo com o exposto acima, indivíduos que se identificam com o rótulo de “agnósticos” devem reconhecer que o termo é uma invenção moderna que surgiu da crise de identidade de um indivíduo em um círculo de metafísicos.  Aquele que cunhou esse termo se identifica como um homem sem um rótulo, semelhante a uma raposa sem rabo - ambos implicando a percepção de certo nível de inadequação pessoal.  Qual parte do orgulho desse homem ele deixou para trás nas mandíbulas de um enigma religioso indecifrável?  Obviamente, Huxley, como muitos metafísicos e teólogos proeminentes ao longo da história, foi incapaz de encontrar uma categoria doutrinária que se adequasse ao seu conceito de Deus.





Independentemente das considerações acima, mesmo se uma pessoa argumentar que Huxley não fez mais do que colocar um rótulo a uma teologia antiga que antes não tinha nome, a pergunta “E daí?”  salta a sinapse da consciência mais uma vez.  Rotular uma teologia não implica validação ou, mais importante, valor.  Se houvesse valor no conceito, uma pessoa suspeitaria que tivesse sido mencionado antes – como 1.800 anos antes e nos ensinamentos de um profeta como Jesus.   Ainda assim os profetas, Jesus Cristo incluído, pareciam ter uma mensagem muito diferente, cujo ápice era a recompensa de fé na ausência de prova absoluta, apesar da incapacidade de ver a realidade de Deus com os próprios olhos.





De acordo com Huxley, a palavra foi elaborada como uma antítese ao “gnóstico” da história da igreja primitiva, e pretendia se opor não apenas ao teísmo e ao Cristianismo, mas também ao ateísmo e panteísmo. Ele pretendeu uma palavra que cobrisse com um manto de respeitabilidade não a ignorância sobre Deus, mas a forte convicção de que o problema de Sua existência é insolúvel. ”[1]





A raposa sem rabo em busca de um “manto de respeitabilidade?” Assim parece, mas quem o culparia?  Era uma época difícil e confusa – em função do ambiente, muitos intelectuais devem ter ficado muito frustrados e se imaginado não apenas sem um rabo, mas sem toda a parte traseira.  Em uma época e lugar em que, como Huxley descreve, a escolha, em termos práticos, era o Cristianismo ou nada, qualquer um que ponderasse sobre as dificuldades teológicas seria forçado a reconsiderar o voto de filiação a qualquer clube cristão exclusivo.  A invenção do rótulo de “Agnosticismo” nasceu sem dúvida da frustração de ter que lidar com aqueles cujas doutrinas podiam ser facilmente desacreditadas por homens e mulheres de intelecto, mas em um vazio teológico em que a alternativa aceitável ainda não estava presente para o mundo de língua inglesa.  O que podia fazer uma pessoa que acreditava em Deus, mas não acreditava nas religiões as quais foi exposta?  A fuga era a única alternativa e, ao que parece, foi exatamente isso que Huxley fez.  Huxley cunhou um termo englobando um conceito antigo que deu a todos que lhe prestaram aliança uma rota de fuga do ambiente acalorado e apinhado da discussão religiosa em direção ao recanto privado das convicções pessoais.





Ainda assim, embora o termo permitisse uma válvula de escape popular para aqueles que fugiam da pressão da discussão religiosa séria na época de Huxley, surge a questão: “O termo tem valor nos dias atuais?” A verdade do conceito permanece, mas a questão não é se existe verdade no conceito, mas se existe valor na verdade.  Uma pedra tem verdade, mas qual é seu valor?  Muito pouco, sob circunstâncias normais.





Então, por um lado o fator “E daí?” permanece.  Resumir o conceito antigo da questão sobre a falta de provas acerca de Deus soa muito claro e prático, mas o conceito da impossibilidade de provas muda a crença de alguém em Deus?  Uma pessoa pode abraçar qualquer dos incontáveis sistemas de crença/descrença ao mesmo tempo em que admite que a verdade de Deus não pode ser provada.  Ainda assim essa admissão não muda a profundidade da convicção que cada pessoa tem em seu coração e mente.





E a maioria das pessoas sabe disso.





Poucos devotos acreditam que podem dar suporte à sua religião ou à existência de Deus com provas absolutas e irrefutáveis.  Desafios crescentes por laicos cada vez mais inteligentes e bem informados têm colocado um fardo impossível da prova sobre o clero das crenças judaica e cristã, em especial.  Perguntas e desafios, que em épocas passadas acarretariam acusações de heresia como medida prática para suprimir a sedição são agora lugar comum e merecem respostas.  O fato de que as respostas da Igreja a tais questionamentos desafiam a lógica e a experiência humana resulta no clero não ter escolha a não ser reverter o desafio para o questionador, na forma da assertiva: “É um mistério de Deus. Você apenas tem que ter fé.” O questionador pode responder: “Mas eu tenho fé - tenho fé que Deus pode revelar uma religião que responderá a todas as minhas perguntas”, para receber o conselho: “Bem, nesse caso, você tem que ter mais fé.” Em outras palavras, uma pessoa tem que parar de fazer perguntas e se satisfazer com o discurso do grupo.  Mesmo quando não faz sentido, e mesmo que as escrituras fundamentais ensinem o contrário.





Assim, nos últimos séculos a hierarquia de muitas seitas judaico-cristãs substituiu a lógica dada por Deus por uma ideologia gnóstica, que no início (ou seja, o período daqueles que tinham mais conhecimento) da história do Cristianismo era considerada como seita herética.   O cenário é bizarro; é como dizer: “Aquele forno era um modelo do ano passado. Os protótipos não funcionaram. De fato explodiram e todos que o usaram foram queimados até a morte, mas o estamos trazendo de volta porque precisamos do dinheiro. Mas prometemos que, se você acreditar – quero dizer realmente acreditar – prometemos que você ficará bem. E se ele de fatoexplodir na sua cara, não nos culpe. Você não acreditou o suficiente.” O triste é que muitas pessoas não estão apenas comprando para si, mas estão separando um para cada filho.





O esquema geral das coisas é tal que o clero considerava a fé cristã fundada em conhecimento até que leigos instruídos passaram a ter mais conhecimento.  Por muitos séculos os leigos não tinham permissão para possuírem Bíblias, tendo a morte como punição.   Somente com a supressão dessa lei, a fabricação do papel na Europa (no século 14), a invenção da imprensa (meados do século 15), e a tradução do Novo Testamento para o inglês e alemão (século 16) as Bíblias ficaram disponíveis e acessíveis à leitura do homem comum.  Assim, pela primeira vez, os leigos foram capazes de ler a Bíblia (nos locais onde estava disponível – a publicação e distribuição continuaram limitadas por muitas décadas) e de apresentarem desafios racionais para estabelecer doutrinas baseadas na análise pessoal das escrituras fundamentais.  Quando esses desafios derrotaram os argumentos dos apologistas da Igreja, a maioria das seitas cristãs fez uma coisa surpreendente - rejeitaram uma alegação de quase 2.000 anos de que a doutrina devia ser baseada em conhecimento e instituíram ao invés disso o conceito de salvação através de orientação espiritual e justificação pela fé.  Ênfase particular foi colocada na suposta virtude de comprometimento cego e irrefletido (e, portanto, incondicional).





As defesas “espirituais” modernas que jorram da orientação da nova igreja imitam a “exclusividade mística” herética dos antigos gnósticos, todas ecoando sentimentos familiares como “Você não entende, não tem o Espírito Santo dentro de você como eu tenho”, ou “Você só tem que seguir a sua luz-guia – a minha é firme, direta como laser e brilhante como Xenon, mas a sua é trêmula e embaçada” ou “Jesus não habita em você como habita em mim.” Sem dúvida essas afirmações apelam ao ego de quem fala ao estilo “Viu como sou especial?”, mas se alguém insiste na crença com base em caminhos espiritualmente exclusivos, então sem dúvida outros insistirão em uma discussão sobre a diferença entre ilusão e realidade.  T.H. Huxley, sem dúvida, ficaria feliz em presidir o debate.





O problema é que alegar exclusividade mística como a chave para orientação e/ou salvação é alegar que Deus abandonou de forma arbitrária a criação “não salva” – dificilmente um cenário divino.   Não faz muito mais sentido Deus ter dado a toda a humanidade chance igual de reconhecer a verdade de Seus ensinamentos?   Então aqueles que se submetem às Suas evidências mereceriam recompensa, enquanto que aqueles que as negam seriam responsabilizados por não atribuírem reconhecimento, crédito e adoração quando devido.





Mas infelizmente, a natureza da ilusão é que os iludidos raramente são capazes de reconhecer os erros de seus equívocos; a natureza dos gnósticos é semelhante no sentido em que eles tipicamente estão muito enamorados de sua filosofia, que lhes satisfaz e serve, para perceber a falsidade de suas bases.  E, de fato, é difícil acreditar que o garçom cuspiu na sopa quando o restaurante é cinco estrelas, o serviço é refinado e a apresentação é impecável.  Aparência e paladar podem ser tão bons a ponto de desafiar a realidade.  Mas é o freguês que considera o portador da verdade como um estraga-prazeres inconveniente, ao invés de considerá-lo um benfeitor sincero, que sofrerá com o enjôo provocado pela refeição.



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