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LIVROS DE ESCRITURA





 Só existe uma religião, embora haja cem versões desta. 





- George Bernard Shaw, Plays Pleasant and Unpleasant 


[Peças Agradáveis e Desagradáveis]


, Vol. 2, Prefácio O tema comum que há em todas as religiões é que se nós crermos em Deus e nos submetermos ao Seu decreto 


– obedecendo o que nos foi ordenado e evitando o que nos foi proibido, e arrependendo-nos perante Ele pelas nossas transgressões


 – alcançaremos a salvação. A diferença está na definição do decreto de Deus. Os judeus consideram o Antigo Testamento como o ponto final da revelação no presente, enquanto que cristãos e muçulmanos afirmam que se os judeus seguissem a sua escritura, eles aceitariam Jesus como um profeta e abraçariam os seus ensinamentos. 


 Os muçulmanos levam o pensamento um pouco mais 





longe, afirmando que qualquer um (judeus, cristãos ou outros) que realmente abraceos ensinamentos de Jesus terá de reconhecer que ele ensinou o monoteísmo estrito, a Lei do Antigo Testamento, e a vinda do último profeta. Mas, na verdade, a maioria dos que dizem seguir Jesus não segue o que Jesus ensinou, mas sim o que os outros ensinaram sobre Jesus. Desta forma, Paulo


 (e os teólogos paulinos que seguiram na sua esteira) usurpou Jesus na derivação do cânone cristão. E, no entanto, encontramos o Antigo Testamento a advertir-nos: Portanto, aplica-te a pôr em prática tudo o que eu te ordeno. Nada acrescentarás e nada tirarás da Lei.Quando surgir em teu meio um profeta ou um intérprete de sonhos, e te apresentar um sinal ou um prodígio, se essa obra maravilhosa que ele anunciou se realiza e ele te exorta: „Vinde e sigamos outros deuses (que não é o Deus que tu conheceste) e passemos a servi-los!‟ 


Não deis ouvidos às palavras desse pregador ou sonhador. Porquanto é Yahweh, vosso Deus, que vos está pondo à prova para aflorar 





diante de todos o quanto, de fato, amais ao SENHOR de todo o coração e com toda a alma. Seguireis, pois, somente a Yahweh, vosso Deus, e a Ele amareis com reverência, cumprindo fielmente seus mandamentos e obedecendo à sua Palavra.


 A Ele tão somente servireis e vos apegareis!


 (Deut. 12:32-13:4). Apesar deste aviso, Paulo proclamou uma construção de Deus que “não é o Deus que tu conheceste”. 


O pântano teológico derivado dos misticismos de Paulo é inevitavelmente espesso e confuso. Muitos, se não a maioria, dos adoradores não estão cientes das origens questionáveis da doutrina da sua religião, e simplesmente confiamnum líder carismático


 (pastor, padre, papa, etc.)


 e comprometem o seu caminho ao dele 


(ou dela). Assim que essa escolha é feita, os seguidores tornam-se crentes confirmados numa construção religiosa de homens, que, como vimos, entra em conflito de forma significativa com os ensinamentos do próprio Jesus. Cristãos monoteístas, por outro lado, reconhecem que líderes carismáticos, embora convincentes, são frequentemente desviados, e então lutam para aderir à escritura no seu lugar.  Isto nem sempre é fácil, como qualquer um que tente 





destilar os ensinamentos de Deus do Antigo e do Novo Testamento sabe. 


As orientações gerais (acreditar em Deus, nos Seus profetase na revelação) e as leis (por exemplo, os Dez Mandamentos) são claras. Os pontos mais delicados não, e para estes a enorme variedade de seitas e igrejas judaicas e cristãs, e a profundidade e amplitude das suas diferenças, atestam. Como, então, é que isto deixa o buscador sério? A desistir da religião, como muitos têm feito? 


Ou a procurar um livro final e esclarecedor de revelação, como transmitida pelo profeta final previsto por ambos Antigo e Novo Testamentos?


 O que se segue é uma análise do Antigo e do Novo Testamentos, não para os validar como escritura, mas sim para expor os muitos erros e inconsistências que traem a sua corrupção. 


O propósito deste livro não é abalar a fé daqueles que reverenciam esses textos como escritura, mas sim redirecionar essa fé para onde estes textos a dirigem. Face à crítica textual moderna, enganamos a nós mesmos (e convidamos o ridículo e a condenação) se acreditarmos no Antigo ou no Novo Testamentos como a Palavra de Deus não adulterada. No entanto, se reconhecermos os erros das Bíblias judaicas e cristãs e entendermos a significância destes erros, este entendimento poderá dirigir a nossa busca por orientação. Depois de lerem os capítulos seguintes, aqueles que 





desejem continuar essa busca poderão fazê-lo na sequela a este livro, que se estende à análise primeiro do Alcorão Sagrado e, em seguida, dos profetas. 


Da mesma forma que as escrituras exigem análise, assim também temos de validar os profetas se formos confiar na revelação que eles afirmaram tertransmitido. 





1 – O Antigo Testamento





 [A Bíblia] 





contém em si poesia nobre; e algumas fábulas espertas; e alguma história encharcada em sangue; e uma riqueza de obscenidade; e mais de mil mentiras


 - Mark Twain, Letters from the Earth [Cartas da Terra], Vol. II Vamos começar por colocar “dois de cada espécie (de animal) na arca”, e depois... Ah, espere. Seria “dois de cada espécie”, de acordo com


 Génesis 6:19, ou sete de animais puros e dois de animais impuros, conforme Génesis 7:2-3? 


Hmm. Bem, nós temos até 120 anos para pensar sobre isso, porque esse é o limite da vida humana, conforme a promessa de Deus em Génesis 6:3.


 Então, assim como Sem…


 Oops. Mau exemplo. Génesis 11:11 afirma, “Sem viveu quinhentos anos…” 





Oookay, esqueça Sem. Então, assim como Noé… Duplo oops. 


Génesis 9:29 ensina: “Toda a duração da vida de Noé foi de novecentos e cinquenta anos, depois morreu.” Então vamos ver, Génesis 6:3 prometeu uma vida limitada a 120 anos, mas alguns versículos depois tanto Sem como Noé quebraram a regra? 


Ih!Intervalo. Vejamos as datas do Antigo Testamento de um ângulo diferente. Aqui está Génesis 16:16: “Abraão tinha oitenta e seis anos quando Hagar o fez pai de Ismael.” 


Génesis 21:5 diznos: “Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o seu filho Isaque.” Então, vamos ver, cem menos oitenta e seis, subtraindo os seis dos primeiros dez, nove menos oito... Recebo catorze. Então Ismael tinha catorze anos quando Isaque nasceu. Um pouco mais tarde, em Génesis 21:8, lemos: 


“O menino [Isaque] cresceu e foi desmamado.”Ora, o desmame no Médio Oriente leva dois anos, segundo o costume étnico. Então alinhavando dois para catorze anos, e Ismael tinha dezasseis anos antes de Sarah ter ordenado Abraão a expulsálo (Génesis 21:10). Tudo bem. Por agora. Mais um par de versículos, e Génesis 21:14-19 retrata 





o expulso Ismael como um bebé indefeso em vez de um jovem de dezasseis anos de idade com capacidade robusta, como se segue: Então, Abraão levantou cedo, tomou alguns pães e um recipiente de couro cheio de água fresca e os entregou a Hagar e, tendo-os colocado nos ombros dela, despediu-a com o menino. Ela se pôs a caminho e ficou vagando pelo deserto de Berseba. Quando acabou a água do odre que carregava, ela colocou a criança debaixo de um arbusto e foi sentar-se perto dali, à distância de um tiro de arco e flecha. Lastimava consigo mesma: “Não suporto ver morrer meu menino!” Enquanto ela se lamentava, a criança começou a chorar ainda mais forte. Deus ouviu os gritos do menino; e, lá do céu, a voz do anjo de Deus chamou Hagar e a encorajou: “Hagar! Por que te afliges?


 Não temas, pois Deus ouviu o clamor do menino, lá onde tu o deixaste. Ergue-te, pois! Levanta o 





menino, segura-o pela mão, porque Eu farei dele um grande povo!” Então Deus abriu os olhos de Hagar e ela pôde enxergar uma fonte de boas águas. Correu até lá, encheu seu odre e deu para Ismael beber. Um jovem de dezasseis anos de idade, descrito como um “menino”? 


Num tempo e lugar quando jovens de dezasseis anos eram normalmente casados e à espera do seu segundo ou terceiro filho, apoiando uma família em crescimento?


 Além de serem caçadores, soldados e, embora raramente, até mesmo reis? Dezasseis anos eram igualados a masculinidade nos dias de Ismael. Então, como exatamente deu o seu pai um “menino” de dezasseis anos de idade, Ismael, a Hagar?


 E como o deixou ela a chorar 


(ou seja, “o clamor do menino") como um bebé indefeso sob um arbusto?


 E como, precisamente, a sua mãe o levantoue segurou pela mão?


 Por último, esperar-se-ia realmente que acreditássemos que Ismael era tão frágil, que a sua mãe teve de lhe dar de beber, porque ele era incapaz de obter isso sozinho? 


Hmm, sim, isso é o que se entende aqui. Isso é o que nós devemos supostamente acreditar.  Mas espere, ainda há mais. 





2 Crónicas 22:2 ensina que “[Acazias] tinha quarenta e dois anos quando começou a reinar...” 


 Hmm. Quarenta e dois anos de idade. Não parece digno de menção. Exceto, é claro, se notamos que 2 Reis 8:26 registra“Acazias tinha vinte e dois anos quando começou a reinar...”


 Então, qual foi? 


Quarenta e dois ou vinte e dois? 


Vamos receber uma dica da Bíblia. 2 Crónicas 21:20 ensina que o pai de Acazias, o rei Jeorão, morreu com a idade de quarenta anos. Ahã. O rei Jeorão morreu com a idade de quarenta anos e foi sucedido pelo seu filho, que tinha quarenta e dois? Noutras palavras, o rei Jeorão tinha um filho dois anos mais velho do que ele? A aritmética, de acordo com o Rato Mickey, é “Ser capaz de contar até vinte sem tirar os sapatos”. Mas entre os dedos dos pés do leitor e todos os apêndices do gato da família, não há nenhuma maneira de dar um sentido a estes números. E, embora a conclusão lógica se aproxime da velocidade de compactação,


 2 Crónicas 22:1 menciona que Acazias era o filho mais novo do rei Jeorão, pois cavaleiros tinham morto todos os filhos mais velhos de Jeorão. Então, se Acazias era dois anos mais velho do que o querido pai defunto, quantos anos teriam mais os seus irmãos mais velhos acima do seu pai? 





Obviamente,


 2 Crónicas 22:2 não pode ser confiável e 2 Reis 8:26, que ensina que Acazias tinha vinte e dois anos quando começou a reinar, deve ser a versão correta. Então, o rei Jeorão morreu com quarenta 


(2 Crónicas 21:20) e foi sucedido por Acazias, que tinha vinte e dois 


(2 Reis 8:26). O que significa que o rei Jorão tinha dezoito anos quando Acazias nasceu e aproximadamente dezassete anos quando ele foi concebido. Não só isso, mas Jeorão tinha filhos mais velhos (2 Crónicas 22:1), então ele deve ter começado a sua família na idade de quinze anos ou menos. Lá se vai a teoria de Ismael ter sido um menino indefeso com a idade de dezasseis anos. Era um tempo em que adolescentes eram homens. Mas e quanto a 2 Crónicas 22:2, que afirma que Acazias tinha quarenta e dois anos quando ele assumiu o trono?


 Um erro de cópia, sem dúvida. Mas essa não é a questão. Isaías 40:8 afirma que “a Palavra de nosso Deus permanece eternamente!” Esta afirmação não desculpa erros de cópia, ou qualquer outro erro, independentemente de quão pequeno seja. Na verdade, de acordo com Isaías 40:8, qualquer “palavra” que nãotenha “permanecido eternamente” é desqualificada como tendo sido de Deus. 





E isto deve fazer-nos questionar a autoria. Se “a Palavra de nosso Deus permanece eternamente”, e a “palavra” da idade de Acazias não resiste ao teste do tempo, de quem é esta palavra? 


De Deus ou de Satanás?


 Não olhe agora, mas até mesmo o Antigo Testamento parece incerto sobre este ponto. 2 Samuel 24:1 diz: “Então, mais uma vez irouse Yahweh contra Israel e moveu Davi a punir o povo ordenando: „Vai agora e faz a contagem completa do povo de Israel e de Judá!‟” No entanto,


 1 Crónicas 21:1 menciona: “Então Satan, o Inimigo, levantou-se contra Israel e induziu Davi a fazer um recenseamento de todo o povo debaixo do governo do rei.” Então, qual foi?


 O Senhor, ou Satanás? 


Há uma ligeira (tipo, total) diferença. Tipo, roubo de identidade...? 


Mas, falando a sério, o erro é compreensível. Afinal, é muito difícil saber com quem se está a falar quando não se pode dar um rosto à revelação. E, como Deus disse em Êxodo 33:20, “Não poderás ver a Minha face, porque o ser humano não pode ver-Me e permanecer vivo!” Então, temos isso. Nenhum homem pode ver a face de Deus e viver. Bem, com exceção de Jacob, é claro. Como Génesis 





32:30 declara: “Então denominou Jacó àquele lugar Peniel, „face de Deus‟, porquanto afirmou: „Vi a Deus face a face e, contudo, minha vida foi poupada‟”E


 E não devemos esquecer-nos de Moisés, conforme Êxodo 33:11: “Então Yahweh, o SENHOR, falava com Moisés face a face, como quem conversa com seu amigo.” Portanto nenhum homem pode ver a face de Deus, e viver. Com exceção de Jacó e Moisés. Mas Deus não mencionou essa exceção, não é?


 Então, talvez Ele tenha mudado de ideia. Mas, talvez não. Por um lado, Génesis 6:6-7 sugere que Deus comete erros pelos quais Ele se arrepende, como se segue: “Então o SENHOR entristeceu-Se muito por haver criado os seres humanos sobre a terra, e esse sentimento feriu profundamente o Seu coração. Declarou então o SENHOR: „Farei desaparecer da superfície do solo os seres humanos que criei, todos os homens; os grandes animais até os pequenos seres; e as aves do céu. Arrependo-Me de havê-los feito!” (itálico meu). Por outro lado, Números 23:19 registra: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.”


 A questão, se ainda não é óbvia, é que o Antigo 





Testamento está repleto de erros. Talvez os erros mais simples sejam numéricos, e estes são abundantes. Por exemplo, 2 Samuel 8:4 fala de Davi como tendo setecentos cavaleiros e


 1 Crónicas 18:4, descreve o mesmo evento, fazendo o número como sete mil. Nada de grave. Setecentos num verso, sete mil noutro 


– obviamente algum escriba remendou um zero. Errado. O Antigo Testamento não tem zeros. Na verdade, ele nem tem numerais. No tempo do Antigo e Novo Testamentos, os algarismos árabes com os quais estamos familiarizados não eram de uso comum. Os algarismos romanos desajeitados eram a linguagem da matemática, e as primeiras evidências do zero data de 933 EC. Em hebraico antigo, os números eram escritos por inteiro. Setecentos era sheba‟ me‟ah e sete mil era sheba‟ eleph. Portanto, esta diferença bíblica pode de fato representar um erro de escriba, mas não é um simples erro de um só zero. Pelo contrário, é a diferença entre me‟ah e eleph. Da mesma forma, 


2 Samuel 10:18 fala de setecentos cocheiros e quarenta mil cavaleiros e


 1 Crónicas 19:18 fala de sete mil cocheiros e quarenta mil soldados de infantaria. 


2 Samuel 23:8 registraoitocentos homens,


 1 Crónicas 11:11 





numera-os atrezentos. E no caso de o leitor suspeitar que eles estão a falar sobre eventos diferentes, Josebe-Bassebete e Jasobeão são referências cruzadas, esclarecendo que as duas passagens descrevem a mesma pessoa. 2 Samuel 24:9 descreve oitocentos mil homens “que arrancavam da espada” em Israel e quinhentos mil em Judá;


 1 Crónicas 21:5 coloca os números de um milhão e cem mil em Israel e quatrocentos e setenta mil em Judá. 2 Samuel 24:13 descreve sete anos de fome, 1 Crónicas 21:11-12 afirma que foramtrês. 1 Reis 4:26 numeraas bancas do cavalo de Salomão aquarenta mil,


 2 Crónicas 9:25 numeraas aquatro mil. 1 Reis 15:33 ensina que Baasa reinou como rei de Israel até ao vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá; 2 Crónicas 16:1 afirma que Baasa ainda era rei de Israel no trigésimo sexto ano do reinado de Asa. 1 Reis 5:15-16 fala de 3.300 deputados para Salomão,


 2 Crónicas 2:2 registra 3.600. Em 1 Reis 7:26, lemos sobre dois mil banhos, mas em 2 Crónicas 4:5 o número é de três mil. 2 Reis 24:8 menciona, “Tinha Joaquim dezoito anos quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém.”


 2 Crónicas 36:9 relata, “Tinha Joaquim oito anos quando começou a reinar, e reinou três meses e dez dias em Jerusalém”. Esdras 2:65 registraduas centenas de homens e mulheres cantores, Neemias 7:67 afirma que eram duzentos e quarenta e cinco. Ora, são estas diferenças importantes?





 Resposta: Sim e não. Para a maior parte, seria insignificante para nós quantos banhos, cantores e soldados de infantaria havia, ou se um escriba cometeu um deslize da caneta enquanto outro arredondou números para a centena mais próxima. Da perspetiva de transmitir informações úteis, estas discrepâncias são insignificantes. No entanto, da perspetiva de validar o Antigo Testamento como a Palavra infalível de Deus, estas discrepâncias são altamente significativas. Além disso, existem numerosas diferenças que não são numéricas por natureza. Por exemplo, Génesis 26:34 diz-nos que as esposas de Esaú eram Judite e Basemate; Gênesis 36:2-3 registra as suas esposas como Ada, Aolíbama e Basemate.


 2 Samuel 6:23 afirma que Mical não teve filhos, até ao dia da sua morte; 


2 Samuel 21:8 atribuiu cinco filhos a Mical. 


2 Samuel 8:9-10 fala de Toí como rei de Hamate, e Jorão como um emissário do rei Davi; 1 Crónicas 18:9-10 registra o nome do rei, como Tou, e o do emissário como Hadorão. Novamente, não é nada de grave. Mas aqui está algo que é: 2 Samuel 17:25 diz-nos queItra (ou Itrá, ambos os nomes são referências cruzadas, de modo que sabemos que essas duas passagens falam de um mesmo indivíduo) 


era um





 israelita, enquanto que 


1 Crónicas 2:17 identifica-o como um ismaelita. Ora, se os autores do Antigo Testamento não conseguiramfazer isto direito, nós podemos perguntar-nos como muito mais inclinados eles poderiam ter estado, sendo judeus, à troca calculada de linhagem no caso de Abraão sacrificar o seu “filho unigénito”, Isaque. No capítulo “Jesus Gerado?”, anteriormente neste livro, eu discuti sobre o fato de que em nenhum momento foi Isaque o único filho de Abraão. E nós encontramos aqui que os autores do Antigo Testamento substituíram “israelita” por “ismaelita” quando não havia nenhuma motivação óbvia. Quanto mais provável seria elesterem mudado as linhagens quando o seu direito de primogenitura e aliança com Deus estavam em jogo?


 Aliás, uma vez que esta contradição se tornou conhecida, os tradutores da Bíblia tentaram fazê-la desaparecer. Por exemplo, a Nova Versão Revisada traduz o hebraico yisre‟eliy em


 2 Samuel 17:25 para “ismaelita”, e, em seguida, reconhece numa nota de rodapé discreta que a tradução correta é “israelita”. Yishma‟e‟li é “ismaelita”. A prova contra a integridade dos tradutores é reforçada pelo fato de que praticamente toda a Bíblia publicada antes de meados do século XX (incluindo a Versão Padrão Americana de 1901, sobre a qual a VPR e a NVPR são baseadas) traduz yisre‟eliy para “israelita”.


 Só depois de a inconsistência bíblica ter sido 





identificada é que a tradução foi corrompida para “ismaelita”. Por este engano moderno, a Nova Versão Padrão Revisada evita o conflito na sua tradução, mas não nos documentos de origem.


 E nós faríamos bem em observar esta fraude, pois seria surpresa se futuras traduções da Bíblia tentarem encobrir os outros erros expostos neste trabalho presente? 


Ora, aqui está a questão.


 2 Reis 19 e Isaías 37 contêm uma sequência de trinta e sete versículos que correspondem praticamente ao pé da letra. Esta correspondência é tão exata que críticos bíblicos sugeriram que os autores plagiaram, quer a partir de um ou de outro documento da mesma fonte. E enquanto o plágio explicaria a consistência, uma sugestão mais generosa poderia ser que estes dois capítulos exemplificam a precisão requintada que esperamos de um livro de Deus. Se uma história é recontada uma, duas ou mil vezes, desde que a origem da tradição resida na revelação do Todo-Poderoso, esta não deveria mudar. Nem nos mínimos detalhes. O fato de que as histórias mudam, tanto no Antigo e como no Novo Testamentos, ameaça a pretensão à infalibilidade bíblica. E depois há as perguntas simples. Perguntas como: “Será que alguém realmente acredita que Jacó lutou com Deus, e Jacó prevaleceu 


(Génesis 32:24-30)?


” O Criador de um universo de 240.000.000.000.000.000.000.000 milhas de 





diâmetro, com todas as suas complexidades, com o miserável, de médio peso, planeta Terra sozinho pesando 5.976.000.000.000.000.000.000.000 kg–e alguém acredita que uma bolha insignificante de protoplasma não só lutou com Aquele que o criou, mas tambémprevaleceu? Outra pergunta simples: Génesis 2:17 registra Deus a advertir Adão, “contudo, não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comeres, com toda a certeza morrerás!” Génesis 3:3 contribui, “Mas do fruto da árvore que está no centro do jardim, Deus disse: „Dele não comereis, nele não tocareis, para que não morrais!‟” Então, qual é? Adão mordeu a maçã ou não? Da forma como a história é contada, ele mordeu a maçã e viveu. No entanto, Deus prometeu a morte no mesmíssimo dia. Então ele mordeu-a ou não? Se ele o fez, ele deveria ter morrido, e se ele não o fez, a humanidade deveria estar ainda no paraíso. Será a palavra “morrer” um erro de tradução, uma metáfora ou uma inconsistência? Se for um erro, então deixe os tradutores admiti-lo. Se for uma metáfora, então podemos reconhecer a natureza metafórica do idioma hebraico e sugerir que Jesus, da mesma forma, não “morreu” mais do que Adão morreu. E se for uma inconsistência, bem… Próximo ponto – quem escreveu o Antigo Testamento? 


A tradição conta que Moisés escreveu o Pentateuco (os cinco 





primeiros livros), mas podemos supor que ele encontrou uma ligeira dificuldade técnica 


(como o fato de que ele estava morto) quando ele chegou ao registro do seu próprio obituário em Deuteronómio 34:5-12. Então, quemescreveu sobre a sua morte, enterro, velório e as consequências? 


É este autor confiável, e o que poderá isto dizer sobre a autoria do Antigo Testamento como um todo? Depois, há os contos de embriaguez nua, incesto e prostituição que nenhuma pessoa de modéstia poderia ler para a sua mãe, muito menos para os seus próprios filhos. E, no entanto, um quinto da população do mundo confia num livro que registra que Noé “Bebeu do vinho que havia feito, embriagou-se e ficou [nu] dentro da sua tenda.” (Génesis 9:21), e que Ló… …partiu de Zoar com suas duas filhas e passou a viver nas montanhas, porque tinha grande receio de permanecer morando na pequena Zoar. Por esse motivo instalou-se numa caverna nas montanhas, ele e suas filhas. Certo dia, a filha mais velha propôs à filha mais nova: “Nosso pai já é idoso e não há nenhum outro homem nesta região que





 venha unir-se a nós, de acordo com o costume de todo mundo. Vem, façamos nosso pai beber muito vinho e deitemonos com ele; assim suscitaremos uma descendência de nosso pai!” Portanto, elas fizeram seu pai embebedar-se com vinho, naquela mesma noite, e a mais velha veio deitar-se junto a seu pai, que não percebeu nem quando ela se deitou, nem quando se levantou. No dia seguinte, a primogênita orientou a irmã: “Na noite passada eu dormi com meu pai; façamo-lo embriagar-se também nesta noite e tu te deitarás com ele; a fim de que possamos preservar a linhagem de nosso pai!” Então, outra vez deram muito vinho ao pai naquela noite, e a filha mais nova foi e se deitou com ele. Ló não tomou conhecimento quando ela se deitou nem quando se levantou. Assim, as duas filhas de Ló engravidaram do próprio pai. (Génesis 19:30-36) 





Contos de deboche e desvio incluem adultério e prostituição 


(Génesis 38:15-26), mais prostituição (Juízes 16:1), depravação total (2 Samuel 16: 20-23), prostituição (Ezequiel 16:20-34 e 23:1-21), 


e prostituição temperada com adultério (Provérbios 7:10-19). O estupro incestuoso de Tamar em 


2 Samuel 13:7-14 carrega uma moral mais interessante, pois Tamar foi aconselhada a “acalmar-se”, pois “afinal, ele [o estuprador, Amnom] é teu irmão! Cala-te e não te angusties tanto assim!” 


(2 Samuel 13:20)


. Ah, ufa, o estuprador era irmão dela 


– nenhum problema, então… O QUÊ!?


 Devemos acreditar que tais “pérolas de sabedoria” são os frutos de revelação 


– ou o material de sonhos desviantes? E sobre o assunto dos sonhos, 2 Timóteo 3:16 diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver”. Agora isso faz sentido. Essa é a maneira que deve ser. Mas pode alguém conceber o “ministério, repreensão, correção ou ensino da maneira certa de viver” veiculada nas passagens acima? 


Aqueles que pensam que podem, provavelmente deveriam estar na cadeia. Outra curiosidade – de acordo com Génesis 38:15-30, Perez e Zerá nasceram de Tamar depois da fornicação incestuosa com o seu sogro, Judá. Passando por cima do fato 





de que, de acordo com Levítico 20:12, tanto Judá como Tamar deveriam ter sido executados (e profetas não estão acima da lei), vamos inspecionar a linhagem de Perez e Zerá. Afinal de contas, a suposta “palavra de Deus” diz-nos: “Nenhum filho bastardo, nascido de união ilícita, fará parte da congregação do Eterno; e seus descendentes também não poderão entrar na assembleia do SENHOR até a décima geração.”


 (Deuteronômio 23: 2). 


Então, quem foi a décima geração de Zerá? Ninguém importante. Bem, então, quem era a décima geração de Perez? 


Alguém muito importante. Alguém chamado Salomão. O seu pai (a nona geração)


também tem um nome que soa familiar: Davi. Se nós confiarmos em 


Mateus 1:3-6, Davi foi a nona geração de um bastardo, e como tal, não deveria de maneira nenhuma entrar na “assembleia do Senhor”. 


O mesmo vale para Salomão. E, no entanto, ambos são tidoscomo patriarcas, se não profetas. Hmm. Um entendimento estranho, na melhor das hipóteses. Além disso, se formos acreditar no Antigo Testamento, Salomão não foi só a décima geração de ilegitimidade através de Perez, mas também a primeira geração de ilegitimidade 





através do seu pai, Davi, pela união adúltera com Bate-Seba, esposa de Urias (2 Samuel 11:2-4). Mais uma vez, passando por cima da pena de morte não cumprida (Levítico 20:10), Salomão é retratado como tendo uma dose dupla de ilegitimidade. Ou terá ele? Algo não parece certo. Ou Davi e Salomão não foram profetas ou o Antigo Testamento não é confiável. As peças da revelação dada por Deus não deveriam exigir remodelação e força para se encaixarem. Elas devem encaixar-se em congruência com a perfeição d'Aquele que criou os céus ea terra em perfeita harmonia. Essa é a forma correta, e o cristão comum sugere que tal é precisamente o caso com o Novo Testamento. No entanto, essa afirmação merece inspeção também. Tendo examinado o acima, podemos facilmente entender por que o autor de Jeremias lamenta: “Como podeis afirmar: „Nós somos sábios e conhecemos bem toda a Torá, Lei, de Yahweh!‟, quando na realidade a pena fraudulenta dos escribas a transformou em mentira?”


 (Jeremias 8:8). A Bíblia Atualizada de João Ferreira de Almeida, ao contrário da Nova Versão de King James, não suaviza as suas palavras, e registra este verso como: “Como pois dizeis: „Nós somos sábios, e a lei do Senhor está conosco?


‟ Mas eis que a falsa pena dos escribas 


a converteu em mentira.” Então esse é o Antigo Testamento – tão cheio de erros que mesmo um dos autores lamenta a corrupção bíblica gerada pela “falsa pena dos escribas”. Muitos afirmam que problemas semelhantes assolam o Novo Testamento – que fraquezas, inconsistências e contradições perturbam a afirmação da inerrância divina. Se for verdade, os cristãos enfrentam o desafio: “És tu uma pessoa de Deus, ou do Cristianismo?”


 Esta questão exige testemunho.


 Os seguidores de Deus irão submeter-se à verdade que Ele transmitiu, quando esclarecida, enquanto que aqueles que seguem uma religião feita pelo homem defenderão a sua doutrina contra a razão e a revelação. Uma discussão da fundação frágil ou inexistente das mais apaixonadamente defendidas doutrinas cristãs já foi oferecida. O que resta a ser examinado é a autoridade, ou a falta dela, do Novo Testamento. 





2 – O Novo Testamento





Nós dois lemos a Bíblia dia e noite, Mas tu leste escuridão onde eu li luz. - William Blake, The Everlasting Gospel


 [O Eterno Evangelho] Claro, o sentimento de Blake na citação acima não é nada de novo. O Novo Testamento contém inconsistências suficientes para ter gerado uma variedade estonteante de interpretações, crenças e religiões, todas alegadamente com base na Bíblia. E assim, encontramos um autor a oferecer a divertida observação: Podes e não podes, Deves e não deves, Vais e não vais, E serás amaldiçoado se o fizeres, 





E serás amaldiçoado se não o fizeres. Porquê tanta variação de pontos de vista? 


Para começar, BeDuhn diz-nos: “Deixei claro que cada tradução foi criada por interesses escusos, e que nenhuma das traduções representam o ideal de um projeto académico, neutro.” 


 Mais importante ainda, diferentes campos teológicos discordam sobre quais livros deveriam ser incluídos na Bíblia. 


O apócrifo de um grupo é a escritura de outro. Além disso, mesmo entre aqueles livros que foram canonizados, os muitos textos de fontes variantes carecem de uniformidade. Esta falta de uniformidade é tão omnipresente que o Dicionário do Intérprete da Bíblia afirma: “É seguro dizer que não há nenhuma frase no NT em que a tradição do MS [manuscrito] seja totalmente uniforme.”  Nenhuma frase? 


Não podemos confiar numa única frase da Bíblia? Difícil de acreditar. Talvez. O fato é que existem mais de 5.700 manuscritos gregos detodo ou parte do Novo Testamento. 


Além disso, “nenhuns dois desses manuscritos são exatamente iguais em todos os seus elementos… 


E algumas dessas diferenças são significativas.” 


 Considere aproximadamente dez mil  manuscritos da Vulgata Latina, adicione as muitas outras 





variantes antigas


 (ou seja, siríaca, copta, arménia, georgiana, etíope, núbia, gótica, eslava) eo que temos? Um monte de manuscritos. Um monte de manuscritos que não correspondem em lugares e não raramente contradizem uns ao outros. Estudiosos estimam o número de variantes de manuscrito na casa das centenas de milhares, alguns estimam até 400,000.  Nas palavras agora famosas de Bart D. Ehrman, “Possivelmente é mais fácil colocar a questão em termos comparativos: existem mais diferenças nos nossos manuscritos do que há palavras no Novo Testamento.” 


Como aconteceu isso?


 Pobre manutenção de registros. Desonestidade. Incompetência. Prejuízo doutrinário. Escolha o seu. Nenhum dos manuscritos originais sobreviveu do primeiro período cristão. 


 Como resultado, “nós nunca seremos capazes de reivindicar certo conhecimento do que era exatamente o texto original de toda a escrita bíblica. 


 Os manuscritos mais antigos completos (Vaticano MS. Nº 1209 eo Códice Sinaítico Siríaco) datam do século IV, trezentos anos depois do ministério de Jesus. Mas, os originais...? Perdidos. E as cópias dos originais?


 Também perdidas. Os nossos manuscritos mais antigos, noutras palavras, são cópias de cópias de cópias de ninguém-sabe





quantasoutras cópias dos originais. Não admira que eles diferem. Na melhor das mãos, erros de cópia não seriam nenhuma surpresa. No entanto, manuscritos do Novo Testamento não estavam nas melhores mãos. Durante o período das origens cristãs, os escribas eram destreinados, não confiáveis, incompetentes,


 e em alguns casos iletrados. 


Aqueles que eram visualmente incapacitados poderiam ter cometido erros com letras e palavras parecidas, enquanto que aqueles que eram deficientes auditivos poderiam ter cometido um erro de registroda escritura quando esta era lida em voz alta. Frequentemente, os escribas eram sobrecarregados e, portanto, inclinados aos erros que acompanham a fadiga. Nas palavras de Metzger e Ehrman, “Já que a maioria, se não todos, deles [os escribas] teriam sido amadores na arte da cópia, um número relativamente grande de erros sem dúvida penetrava nos seus textos enquanto eles os reproduziam.” 


 Pior ainda, alguns escribas permitiam prejuízo doutrinário, o que influenciaria a sua transmissão da escritura.  Como Ehrman afirma: 


“Os escribas que copiaram os textos mudaram-nos.” 


 Mais especificamente, 


“O número de alterações deliberadas feitas no interesse da doutrina é difícil de avaliar.” 


E até mais especificamente, “Na terminologia técnica da crítica textual – que retenho por conta 





das suas ironias significativas – estes escribas „corromperam‟ os seus textos por razões teológicas”. 


 Erros eram introduzidos sob a forma de adições, exclusões, substituições e modificações, mais normalmente de palavras ou linhas, mas, ocasionalmente, de versos inteiros. , 


 Na verdade, “numerosas mudanças e acréscimos entraram no texto” 


, com o resultado de que “todas as testemunhas conhecidas do Novo Testamento são, em maior ou menor extensão, textos misturados, e até mesmo vários dos manuscritos mais antigos não estão livres de erros flagrantes”. 


O escopo destes erros é tão grande que os duzentos estudiosos do Seminário de Jesus concluíram que “Oitenta e dois por cento das palavras atribuídas a Jesus nos evangelhos não foram realmente ditas por ele.” 


 Vejamos alguns exemplos. De acordo com o estudioso bíblico J. Enoch Powell, em relação ao livro de Mateus, 


A custo de interrupção, por vezes grave, onde quer que apareça, passagens sobre João Batista foram inseridas. Todas têm a função de mostrá-lo como tendo reconhecido em Jesus o cumprimento da sua própria missão.





Pior ainda, “É de fato possível que todos os longos discursos colocados na boca de Jesus foram introduzidos artificialmente.” 


 Isto, é claro, incluiria o „grande sermão‟, a „carga missionária‟, e cada parábola que o livro de Mateus registra Jesus como tendo dito. Em Misquoting Jesus [Citando Jesus Erradamente], Ehrman apresenta evidência persuasiva de que a história da mulher apanhada em adultério (João 7:53-8:12) e os últimos doze verículos de Marcos não estavam nos evangelhos originais, mas foram acrescentados por escribas mais recentes.  Além disso, estes exemplos “representam apenas dois de milhares de lugares nos quais os manuscritos do Novo Testamento chegaram a ser mudados por escribas.” 


 Na verdade, livros inteiros da Bíblia foram forjados.  Isto não significa que o seu conteúdo é necessariamente errado, mas certamente não significa que ele está certo. Então, quais livros foram forjados?


 Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 1 e 2 Pedro, e João – uns gritantes nove dos vinte e sete livros e epístolas do Novo Testamento – são a certo nível suspeitos. 


 Livros forjados? 


Na Bíblia?


 Por que não estamos surpresos? 


Afinal, mesmo os autores do evangelho são desconhecidos. Na verdade, eles são anónimos. 


 Os estudiosos bíblicos raramente, ou nunca, 





atribuem a autoria do evangelho a Mateus, Marcos, Lucas ou João. Como Ehrman nos diz: “A maioria dos estudiosos hoje abandonou estas identificações, e reconhece que os livros foram escritos porcristãos desconhecidos, mas relativamente bem-educados, falantes da língua grega 


(e da sua escrita) durante a segunda metade do primeiro século.” 


 Graham Stanton afirma, 


“Os evangelhos, diferentemente da maioria dos escritos greco-romanos, são anónimos. Os títulos familiares que dão o nome de um autor 


(„O Evangelho segundo...‟)


 não faziam parte dos manuscritos originais, porque foram adicionados só no início do segundo século.”  Adicionados por quem? 


“Por figuras desconhecidas na igreja primitiva. Na maioria dos casos, os nomes são suposições ou talvez o resultado de votos piedosos.”  Então, o que é que os discípulos de Jesus têm a ver com a autoria dos evangelhos?


 Pouco ou nada, até onde sabemos. De acordo com Ehrman, “Moisés não escreveu o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento) e Mateus, Marcos, Lucas e João não escreveram os Evangelhos.”  Além disso, “Dos vinte e sete livros do Novo Testamento, apenas oito quase certamente voltam para o autor cujo nome possuem: as sete cartas indiscutíveis de Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, e Filemón) e a Revelação de João (embora 





não tenhamosa certeza de quem este João era).” E por que não estamos certos sobre quem foi o João, que escreveu o „Evangelho segundo João‟?


 Vamos voltar a este assuntodaqui a pouco. Por agora, é suficiente entender que nós não temos nenhuma razão para acreditar que os discípulos foram os autores de qualquer um dos livros da Bíblia. Para começar, vamos lembrar-nos que Marcos era um secretário de Pedro e Lucas um companheiro de Paulo. Os versos de


 Lucas 6:14-16 e 





Mateus


10:2-4


catalogam os doze discípulos e, embora estas listas difiram sobre dois nomes, Marcos e Lucas não estão emnenhuma das listas. Assim, só Mateus e João eram discípulos verdadeiros. Mas mesmo assim, estudiosos modernos desqualificam-nos como autores de qualquer maneira. Porquê? Boa pergunta. João, sendo o mais famoso dos dois, por que deveríamos desqualificá-lo de ser o autor do Evangelho de “João”?


 Hmm… porque ele estava morto? Múltiplas fontes reconhecem que não há provas, com exceção de testemunhos questionáveis de autores do século II, para sugerir que o discípulo João foi o autor do Evangelho de “João”. 


 Talvez a refutação mais convincente seja que se crê que o discípulo João morreu em ou à volta de 98 EC





enquanto que o Evangelho de João foi escrito doze anos mais tarde, por volta de 110 EC.  Outra linha de raciocínio é que Atos 4:13 diz-nos que João e Pedro eram (e não vamos brincar com a tradução, aqui – leia isto em grego) “iletrados”. Noutras palavras, eles eram analfabetos. Então, quem quer que tenha sido Lucas (companheiro de Paulo), Marcos


 (secretário de Pedro) e João (o desconhecido, mas certamente não o iletrado, morto há muito tempo), nós não temos nenhuma razão para acreditar que qualquer um dos evangelhos foram escritos pelos discípulos de Jesus. Para este fim, Stanton coloca uma questão intrigante: “Foi a eventual decisão de aceitar Mateus, Marcos, Lucas e João correta?


 Hoje é geralmente aceito que nem Mateus, nem João foram escritos por um apóstolo. E Marcos e Lucas podem nem ter sido associados dos apóstolos.”  O Professor Ehrman é mais direto na sua afirmação: Estudiosos críticos são bastante unânimes hoje ao pensar que Mateus não escreveu o Primeiro Evangelho ou João o Quarto, que Pedro não escreveu 2 Pedro e, possivelmente, não 1 Pedro. Nenhum outro livro do Novo Testamento afirma ser escrito por um dos discípulos terrenos de Jesus. Há 


livros do apóstolo Paulo, é claro. Existem treze com o seu nome no Novo Testamento, pelo menos sete dos quais são aceites por quase todos os estudiosos como autênticos.  Por que é, então, que as nossas bíblias rotulam os quatro evangelhos como Mateus, Marcos, Lucas e João? 


Alguns estudiosos, Ehrman sendo apenas um deles, sugerem ser algo semelhante auma marca


 – o moderno termo de publicidade para a prática comercial de solicitar o apoio de celebridades para vender o produto. Os cristãos do século II que favoreceram estes quatro evangelhos tinham uma escolha – reconhecer a autoria anónima dos evangelhos ou fingi-la.


 O bluff provou-se irresistível, e eles escolheram atribuir os evangelhos às autoridades apostólicas, assim, ilegitimamente “marcando” os evangelhos como autoritários. Então vejamos 


– não temos nenhuma evidência quequalquer livro da Bíblia, evangelhos incluídos, tenha sido da autoria de discípulos de Jesus. Além disso, a maioria dos estudiosos aceita a autoria de Paulo em apenas metade das obras atribuídas a ele. Independentemente de quem foi o autor do quê, corrupções e inconsistências têm resultado em mais variantes de manuscritos do que palavras no Novo Testamento. Por fim, até os estudiosos da crítica textual falham em 





concordar. 


 Porquê? Porque “considerações dependem, o que será visto, de probabilidades, e às vezes a crítica textual deve pesar um conjunto de probabilidades contra outro.” 


Além disso, no que diz respeito aos problemas textuais mais complexos, “as probabilidades são muito mais divididas uniformemente e às vezes o crítico deve ficar contente com a escolha da leitura menos insatisfatória ou até admitir que não existe sequer uma base clara para escolha.”  Ampliando este pensamento, “Ocasionalmente, nenhuma das variantes se irá recomendar como original, e uma pessoa [ou seja, um crítico textual] será obrigada tanto a escolher a leitura que é consideradacomo menos insatisfatória ou a entrar em emenda conjetural.” 


 Hmm. Emenda conjetural, emenda conjetural – não é isso língua académica para “palpite”? 


Então, talvez não devêssemos surpreender-nos que, assim como Jeremias lamentou as “falsas penas” dos escribas do Antigo Testamento, o padre da Igreja do século III, Orígenes, lamentou as “falsas penas” dos escribas do Novo Testamento: As diferenças entre os manuscritos tornaram-se gigantes, seja através da negligência de alguns copistas ou através da audácia perversa de outros; 





eles ou deixam de verificar o que têm transcrito, ou, no processo de verificação, fazem acréscimos ou supressões como desejam.”  Essa foi a voz de um padre da Igreja do século III, a comentar apenas sobre o primeiro par de cem anos. Nós temos de nos perguntar sobre que outras corrupções ocorreram nosdezassete ou dezoito séculos que se seguiram. Mas o que quer que tenha acontecido nos séculos que se seguiram, pelo terceiro século, os escribas confiados a copiar e preservar manuscritos do Novo Testamento modificaram-nos. Claro, muitos erros de cópia não foram intencionais e/ou inconsequentes. Mas Ehrman conta-nos que muitos outros não foram só deliberados, e não só significativos, mas também doutrinariamente motivados.  E este é o vandalismo bíblico com o qual nos preocupamos - as adições, as omissões e as alterações, deliberadas ou não, que mudaram a mensagem pretendida dos manuscritos do Novo Testamento. Estas mudanças tiveram um tremendo impacto no curso do Cristianismo. A inserção da Cláusula Joanina 


(A Primeira Epístola de João, versículos 5:7-8, como discutida no Capítulo 8: Trindade) emprestou apoio falso à doutrina da Trindade. A adição dos últimos doze versículos de Marcos desviou algumas seitas apalaches a pedir assistência da cobra, 





e muitas denominações evangélicas à prática ininteligível de “falar em línguas”. A perspectiva alterada sobre a existência de Jesus guiou a teologia em direção à deificação de Jesus e à doutrina da expiação. No processo, os escribas não transmitiram a mensagem de Jesus, eles transformaram-na. Um caso em que uma corrupção foi identificada e corrigida é o de Atos 8:37. Este versículo não é encontrado nos manuscritos mais antigos, e parece ser uma inserção mais tardia por um escriba. Por este motivo, foi retirado de muitas traduções modernas, incluindo a Nova Versão Internacional ea Nova Versão Padrão Revisada. Ao procurá-lo, encontramos na NVI e na NVPR, bem como noutras traduções respeitadas, a enumeração de Atos 8:37, mas deixada em branco. Vejamos outro exemplo. Bruce M. Metzger diz-nos que Atos 15:34 foi inquestionavelmente inserido pelos copistas. 


 Ele não está sozinho nesta opinião. Mais uma vez, tanto a Nova Versão Internacional como a Nova Versão Padrão Revisada enumeram este versículo, mas deixam-no em branco. A Nova Versão de King James, no entanto, mantémno, como o fazem as bíblias em latim. De maneira semelhante, muitos outros versículos do Novo Testamento foram retirados das bíblias mais conceituadas, como a NVI e NVPR, mas mantidos na Versão Nova de King James. As omissões mais notáveis são: Mateus 





17:21, 18:11; Marcos 7:16, 9:44, 9:46, 11:26; parte de Lucas 9:56, 17:36, 23:17; João 5:4; Romanos 16:24; parte de 


1 João 5:7. Enquanto inserções ilegítimas são reconhecidas e omitidas por algumas bíblias, outras ignoram-nas. Na verdade, elas não só ignoram as inserções ilegítimas, mas também as aprovam. Se desejássemos documentar alguns destes erros, o lugar lógico para começar seria pelos livros mais respeitados do Novo Testamento, os evangelhos. Nós já descobrimos o fato de que os discípulos de Jesus não parecem ter sido os autores dos evangelhos. No entanto, mesmo que tivessem sido os autores dos evangelhos, Jesus não pareceu sentir que os seus discípulos poderiam lidar com tudo o que ele lhes queria dizer


 (João 16:12 – “Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora.”). Ele considerava-os comotendo pouca fé 


(Mateus 8:26, 14:31, 16:8, e Lucas 8:25), com falta de compreensão (Mateus 15:16), e desesperava por ter de suportar com aquela “geração incrédula e perversa...”


 (Lucas 9:41). Por isso, talvez não devêssemos ficar particularmente perturbados ao saber que os discípulos não foram os autores dos evangelhos. Talvez eles não fossem os melhores homens para o trabalho. Afinal de contas, aqueles que deveriam ter 





conhecido Jesus melhor


 – os seus próprios parentes


 – achavam-no louco (Marcos 3:21 e João 8:48), e o próprio povo a quem ele foi enviado rejeitou-o (João 1:11). Então a questão de maior preocupação não deveria ser quem foram os autores dos evangelhos, mas se eles são confiáveis. A resposta, aparentemente, é “Não”. 


As pessoas no Seminário de Jesus analisaram as palavras atribuídas a Jesus no Evangelho de João, e “não foram capazes de encontrar um único dito que poderiam com certeza traçar até ao Jesus histórico… 


As palavras atribuídas a Jesus no Quarto Evangelho são, na maioria, a criação do evangelista.”  Agora, por que faria ele uma coisa dessas?


 Porque, “os seguidores de Jesus estavam inclinados a adotar e a adaptar as palavras dele para as suas próprias necessidades. Isto levou-os a inventar contextos narrativos com base na sua própria experiência, para os quais importaram Jesus como a figura de autoridade.” 


O Seminário de Jesus documentou centenas de exemplos nos evangelhos, incluindo os casos em que “os seguidores de Jesus emprestaram livremente da sabedoria comum e cunharam os seus próprios provérbios e parábolas, que depois atribuíram a Jesus.” 278 Lá se vai “João”. Agora, vamos olhar para algumas dificuldades específicas, começando com o livro de Mateus. Mateus 2:15 afirma que Jesus foi levado para o Egito “para 





que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: „Do Egito chamei o meu Filho‟”. Bem, essa foi a proposta. No entanto, qual escritura exatamente a detenção de Jesus no Egito deveria cumprir? 


Oséias 11:1. Então, o que Oséias 11:1 diz, exatamente? 


“Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei a meu filho.” Uma boa correspondência bíblica – não é? 


Não. A correspondência só parece boa, se pararmos de ler. Se continuarmos para o próximo versículo, a passagem completa diz: “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei a meu filho. Quanto mais eu os chamava, tanto mais se afastavam de mim; sacrificavam aos baalins, e queimavam incenso às imagens esculpidas.” 


(Oséias 11:1-2, JFAA). Tomado em contexto,só se poderá aplicar esta passagem a Jesus Cristo, se, ao mesmo tempo, afirmarmos que Jesus adoravaídolos. Erros semelhantes abundam. Uns curtos dois versículos depois, Mateus 2:17 comenta sobre o genocídio dos bebés de Belém com as palavras “Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta Jeremias: „Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque eles já não existem.‟” 


(Mateus 2:17, JFAA). 





Um problema menor.


 A passagem do Antigo Testamento referenciada, Jeremias 31:15, refere-se a um evento real na história, nomeadamente o rapto das crianças de Rachel, juntamente com as da comunidade de Israel, por Sargão, rei da Assíria.


 O paralelo bíblico não é apenas tenso e estressado, mas também é inexistente. Assim também com Mateus 27:10, que faz referência a uma citação em Jeremias 32:6-9. Neste caso, a citação referenciada simplesmente não está lá. Além disso, Mateus 27:10 fala do campo de um oleiro, ao preço de trinta moedas de prata. Jeremias 32:6-9 fala do campo de Hanamel, ao preço de dezassete siclos de prata. Ambas foram transações reais separadas em tempo e lugar. Qualquer esforço para reivindicar o “cumprimento” da escritura anterior é caprichoso na melhor das hipóteses. E a lista continua. Nós podemos entender muito bem por que alguns autores do Novo Testamento podem ter procurado validação através da alegação do cumprimento das profecias do Antigo Testamento. 


No entanto, esta tática tem maus resultados quando a escritura referenciada acaba por ser desassociada, mal aplicada ou francamente inexistente. Em vez de conferir legitimidade, tais erros resultam num documento, bem como num autor, infelizmente suspeitos. Tendo tocado em algum destes erros, agora vamos 





olhar para uma curta (e em nenhuma forma completa) lista de inconsistências transparentes.



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