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precedência sobre a Sua vontade e ordem; Não pode haver atracção a
qualquer coisa que contradiga qualquer dos Seus Atributos; e não pode
haver desejo que oponha o Seu decreto - e se alguma vez tal coisa
aconteça a tal pessoa, então ele simplesmente repudia-a, como faz
como os sussurros de shaytan. Por certo, ele preferiria cair do céu do
que levar a sério tal coisa dentro dele.
Isto, como o Profeta صلى الله عليه وسلم disse, é fé clara e verdadeira.65 Por ela,
ele é salvo da preocupação que acompanha más acções, da ansiedade
quanto a elas, graças à paz e doçura que vêm ao voltar-se para Ele.
Se ele se apoiar na crença firmemente depois de ter duvidado, ou
no conhecimento depois da ignorância, ou na lembrança depois da negligência,
ou no arrependimento depois da rebeldia, ou na sinceridade
depois do exibicionismo, ou na honestidade depois do engano, ou no
esclarecimento depois da confusão, ou na humildade da proximidade
depois da impetuosidade do desejo, ou na modéstia depois da ostentação,
então a sua alma estará em paz.
Tudo isto é devido à conscientização que liberta o coração do
sono ocioso e ilumina os palácios do Jardim à sua frente - tal como um
homem clamou:
“Ó alma, cuidado! Ajuda-me com o teu esforço
na escuridão das noites,
para que no Dia da Ressurreição
ganhes uma boa vida nessas alturas!”
Ele reconheceu, pela luz do despertar, o propósito da sua criação,
e o que encontraria, do momento da sua morte ao momento que
entraria na morada eterna (isto é, o Jardim ou o Fogo). Ele reconheceu o
quão depressa passa este mundo, e o quão incerto é para as suas crianças,
e como este destrói quem o ama. Então ele levantou-se nesta
luz, cheio de determinação, e disse:
65 Muslim, Kitab Al-Iman, 2/153; relatado pela autoridade de Abu Hurairah, que disse:
“Alguns dos companheiros do Profeta صلى الله عليه وسلم vieram atéele e disseram: ‘Encontrámos algo
nos nossos corações pelo qual estamos orgulhosos de falar sobre’. Ele perguntou:
‘Encontraram mesmo?’. Eles disseram: ‘Sim.’Depois ele disse: ‘Essa éa verdadeira
fé.”
51
“Que aflição a minha, porque descurei de minhas
obrigações para com Allah!” [39:56]
Então ele parte para um novo começo na sua vida, compensando
pelo que ele perdeu e trazendo de volta à vida o que morreu. Agora ele
enfrenta destemidamente as armadilhas que encontrou antes, e aproveita
o momento com a sua capacidade recentemente descoberta, que,
quando tivesse passado por ele antes, teria causado a sua perda de
todo o bem.
Depois ele percebe, à luz do seu despertar e à luz das dádivas
que Allah lhe deu, que ele é incapaz de medir e contar as bênçãos de
Allah, ou de pagar a sua dívida. Com esta percepção, ele reconhece as
suas falhas e deficiências, as suas más acções e todas as coisas más
que fez, toda a sua desobediência e negligência de tantos deveres e direitos.
O seu ego é quebrado e o seu corpo é humilhado e ele aborda
Allah com a sua cabeça baixa. Ele reconhece a generosidade de Allah e
vê ambos os seus próprios delitos e falhas ao mesmo tempo.
Ele também vê, à luz do seu despertar, o quão precioso é o
tempo, e o quão importante este é. Ele reconhece que este é a capital
do seu bem-estar futuro que não deve ser desperdiçado, e ele torna-se
tão poupado com ele que só o gasta em acções e obras que o aproximarão
de Allah - pois desperdiçar tempo é a semente do fracasso e arrependimento,
e ser cuidadoso com este é a raíz do sucesso e prazer.
Estas são então as consequências de estar consciente e o que
as aumenta. Estes são os primeiros passos da alma em paz no seu caminho
para Allah e para a akhira.
O Ego Censurador de Si Mesmo
Foi dito que este tipo de ego é aquele que não pode descansar
em qualquer estado em particular. Ele muda frequentemente, lembra-se
e esquece-se, submete-se e transgride, ama e odeia, alegra-se e entristece-
se, aceita e rejeita, obedece e rebela-se.
Foi também dito que é o ego do crente. Al-Hasan Al-Basri disse:
“Você sempre verá o crente a censurar a si mesmo e a dizer coisas
como ‘Eu queria isto? Porque é que fiz aquilo? Isto é melhor que
aquilo?’”.
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Foi também dito que o ego culpa a si mesmo no Dia da Ressurreição:
cada um culpa-se pelas suas acções, seja pelas suas más acções,
se ele fazia muitas, ou pelas suas falhas, se ele fazia boas acções. O
Imam Ibn Al-Qayyim diz que tudo isto está correcto.
Há dois tipos de ego censurador de si mesmo: aquele que é culpável
e aquele que não é culpável. O culpável é o ego ignorante e desobediente
que Allah e os Seus anjos culpam. O ego que não é culpável é
o ego que se culpa pelas suas falhas na obediência a Allah, apesar de
todos os seus esforços nessa direcção. Este ego não é realmente culpável.
Os egos mais louváveis são aqueles que se culpam por causa
das suas falhas em obedecer Allah. Este é o ego que aguenta o criticismo
dos outros na busca pelo Seu agrado. Este escapou de ser culpado
por Allah.
Quanto ao ego que aceita as suas acções como elas são, sem
auto-censura, e que não aguenta criticismo dos outros - o que significa
que não é sinceramente obediente a Allah - este é o ego que Allah
culpa.
O Ego que Incita ao Mal
Este é o ego que traz castigo para si mesmo. Pela sua própria natureza,
este guia o seu dono em direcção a todas as más acções. Ninguém
pode livrar-se do seu mal sem a ajuda de Allah. Como Allah diz
sobre a esposa de Al-Aziz, na história de Yusuf:
“E não absolvo minha alma do pecado. Por certo,
a alma é constante incitadora do mal, exceto a de
quem meu Senhor tem misericórdia. Por certo, meu
Senhor é Perdoador, Misericordiador.” [12:53]
Allah também diz:
“E, não fora o favor de Allah para convosco, e Sua
misericórdia, Ele jamais dignificaria a nenhum de
vós, mas Allah dignifica a quem quer. E Allah é
Oniouvinte, Onisciente.” [24:21]
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Foi-nos ensinado o du’a: “Todo o louvor é para Allah, nós louvamo-
Lo e buscamos a Sua ajuda e o Seu perdão. Procuramos refúgio
n’Ele do mal dos nossos egos e do mal das nossas acções.”66
O mal reside escondido no ego, e é isto que o guia a fazer o que
é errado. Se Allah deixasse o servo sozinho com o seu ego, o servo seria
destruído entre o seu mal e o mal a que este anseia; mas se Allah lhe
garantir sucesso e ajuda, então ele sobreviverá. Procuramos refúgio em
Allah, Todo-Poderoso, do mal dos nossos egos e do mal das nossas
acções.
Então o ego é uma entidade única, apesar do seu estado mudar:
do ego que incita ao mal (an-nafs Al-ammara), ao ego censurador de si
mesmo (an-nafs Al-lawwama), ao ego em paz (an-nafs Al-mutma’inna),
que é o objectivo final de perfeição.
O ego em paz tem um anjo a ajudá-lo, que auxilia e orienta. O
anjo lança bondade ao ego, para que este deseje o que é bom e esteja
consciente da excelência de boas acções. O anjo também mantém o
ego longe de más acções e mostra-lhe a feiúra das más acções. Contudo,
tudo o que é para Allah e por Ele, sempre vem da alma que está
em paz.
O ego que incita ao mal tem shaytan como aliado. Ele prometelhe
grandes recompensas e ganhos, mas lança falsidade para ele. Ele
convida-o e incita-o a fazer o mal. Ele lidera-o com esperança atrás de
esperança e apresenta-lhe falsidade de uma forma que ele aceitará e
admirará.
A nafs Al-mutma’inna, o ego em paz, e o seu anjo requerem o seguinte:
firme crença em Allah, O Único, sem parceiros; excelência moral;
bom comportamento para com Allah, pais, companheiros, etc.; temor a
Allah; total confiança e dependência de Allah; voltar-se arrependido a Allah;
deixar todos os assuntos para Allah; aproximar-se de Allah; restringir
expectativas; e estar preparado para a morte e o que vem depois desta.
O Shaytan e os seus ajudantes, por outro lado, requerem a nafs
Al-ammara, o ego que incita ao mal - o oposto de tudo isto.
66 Hadith sahih, Abu Dawud, Kitab an-Nikah, 6/153; Ibn Ma’jah, Kitab an-Nikah,
1/609.
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O desafio mais difícil para o ego em paz é libertar-se da influência
do shaytan e da nafs Al-ammara. Se este entra nesta luta, então tornase
nafs Al-lawwama - o ego censurador de si mesmo; e se a luta é vencida,
então torna-se nafs Al-mutma’inna. Se só uma acção fosse aceite
por Allah, a pessoa que a fizesse teria sucesso pela sua virtude, mas o
shaytan e a nafs Al-ammara recusam-se a encorajar o ego a fazer
mesmo uma só acção deste tipo.
Alguns aos quais foi dado conhecimento por Allah e pelos próprios
egos disseram, “Se eu pudesse saber ao certo que mesmo uma
só acção foi aceite por Allah, então eu estaria mais feliz na chegada da
minha morte do que o constante viajante quando vê a sua família”. Abdullah
Ibn Umar disse, “Se eu pudesse saber ao certo que Allah aceitou
até uma das minhas prostrações, não haveria nenhum amigo perdido
mais querido para mim do que a própria morte”.
A nafs Al-ammara encoraja o mal e opõem-se abertamente à nafs
Al-mutma’inna. Sempre que a última apresenta uma boa acção, a primeira
apresenta uma má acção como resposta. A nafs Al-ammara diz à
nafs Al-mutma’inna que jihad não é nada mais que suicídio, uma esposa
viúva, crianças órfãs, e desperdício de riqueza. Ela tenta convencer a
nafs Al-mutma’inna de que zakat e sadaqah não são nada mais que uma
despesa desnecessária e um fardo, um buraco no seu bolso, que levará
à dependência de outros, até se tornar como os pobres.
Responsabilizar o Ego
Quando o ego que incita ao mal domina o coração de um crente,
o único remédio é responsabilizá-lo e depois ignorá-lo. O Imam Ahmad
relatou a partir de Umar Ibn Al-Khattab, que Allah esteja satisfeito com
ele, que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse, “A pessoa inteligente é aquela que responsabiliza
o seu ego e age em preparação para o que está depois da sua
morte; e a pessoa insensata é aquela que se abandona aos seus anseios
e caprichos e espera que Allah cumpra os seus desejos fúteis.”67
O Imam Ahmad também relatou que Umar Ibn Al-Khattab, que Allah
esteja satisfeito com ele, disse, “Julguem os vossos egos antes de
67 Da’if, at-Tirmidhi, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 7/155; Al-Hakim, Al-Mustadrak, Kitab Al-
Iman, 1/57.
55
serem julgados [perante Allah]; e pesem os vossos egos na balança antes
de serem pesados na balança [perante Allah]. Se vocês forem responsabilizados
amanhã, será muito mais fácil se já se responsabilizaram
hoje - então façam isso, antes de chegarem à Reunião Final pois:
‘Nesse dia, sereis expostos; nenhum segredo vosso
se ocultará.’ [69:18]”68
Al-Hasan disse, “Um crente é responsável pelo seu ego, e ele responsabiliza-
o para agradar a Allah. O julgamento será mais leve no Dia
do Juízo para as pessoas que responsabilizaram os seus egos nesta
vida, mas será severo para as pessoas que não se prepararam para ele,
responsabilizando os seus egos antecipadamente.”
Um crente é distraído por algo que ele gosta, então ele diz: “Por
Allah, eu gosto de ti e eu preciso de ti, mas não há meios pelos quais te
poderei ter, então foste mantido longe de mim”. Quando isso está fora
do seu campo de visão e para além do seu alcance, então ele cai em si
e diz, “Eu não queria isso realmente! O que me fez preocupado com
aquilo? Por Allah, não me preocuparei mais com isso outra vez!”
Os crentes são um povo que foi impedido através do Qur’an de
ceder aos prazeres deste mundo; este fica entre eles e o que poderá
destruí-los. O crente é como um prisioneiro neste mundo, que tenta libertar-
se das suas algemas e grilhões, pondo a sua confiança em nada
[mundano], até ao dia que ele encontra o seu Criador. Ele sabe bem que
é responsável por tudo o que ouve, vê e diz, e por tudo o que ele faz
com o seu corpo.69
Malik Ibn Dinar disse, “Que Allah conceda misericórdia a um servo
que diz para o seu ego ‘Não és este e este? Não fizeste isto e isto?’, e
depois repreende-o e fá-lo colocar no seu lugar, e disciplina-o e restringe-
o de acordo com o Livro de Allah, Poderoso e Glorioso, e torna-se
o seu guia e mestre.”
É, sem dúvida, responsabilidade de quem acredita em Allah e no
Dia do Juízo, e de quem deseja manter os seus assuntos em ordem,
certificar-se de responsabilizar o seu ego. Ele deve controlar o que este
faz e o que não faz, mesmo as actividades mais insignificantes, pois
cada exalação durante a sua vida é preciosa. Pode ser usada para adquirir
um dos tesouros que garantem um estado de felicidade eterno.
68 Ahmad, Kitab az-Zuhud, 7/156; Al-Baghawi, Sharh as-Sunnah, 14/309; Abu Na’im,
Al-Hilya, 1152.
69 Veja Ibn Kathir, Al-Bidaya wa’n-Nihaya, 9/272; Abu Na’im, Al-Hilya, 2/157.
56
Quem a desperdiça, ou a usa para adquirir coisas que podem causar
destruição, sofrerá grandes perdas, que só acontecem pela permissão
das pessoas mais ignorantes, insensatas e imprudentes. A verdadeira
dimensão de tais perdas só será aparente no Dia do Juízo. Allah, O Exaltado,
diz:
“Um dia, cada alma encontrará presente o que fez
de bem e o que fez de mal; ela almejará que haja
longínquo termo entre ela e ele (o mal).” [3:30]
Há duas formas de responsabilizar o ego: uma antes da acção, e
outra depois da acção.
A primeira forma é a decisão que é feita quando um crente hesita
antes de agir. Este é o momento de avaliação antes da intenção ser formada.
Ele não procede até estar certo de que é uma acção boa e genuína.
Se não o é, então ele abandona-a.
Al-Hasan, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Que Allah
conceda misericórdia a um servo que hesita no ponto de avaliação e,
quando vê que a acção é por Allah, realiza-a, mas, quando vê que é
para outro senão Allah, então ele evita completá-la.”70
Isto foi explicado como significando que quando o ego parte para
fazer uma coisa ou outra, o servo começa a considerar o valor disso, ele
primeiro pára e pensa para ele próprio “É permitido fazer isto?”. Se a resposta
é não, ele não realizará a acção. Se a resposta é sim, ele novamente
pára e pergunta “É melhor para mim fazê-lo ou não?”. Se a resposta
é não, ele abandonará a acção e não tentará realizá-la, mas se a
resposta é sim, ele então pausará pela terceira vez e perguntará a si
mesmo “Esta acção é motivada pelo desejo de procurar o agrado de Allah
e recompensa, ou é para adquirir poder, admiração e dinheiro?”.
Se é a última opção que solicitou a ideia da acção, então ele não
a realizará, mesmo que ela resultasse em adquirir esses ganhos mundanos
que solicitaram a ideia da acção em primeiro lugar - pois, pelo contrário,
isto resultaria no seu ego a acostumar-se a associar outros com
Allah, e faria agir por causa de algo ou alguém para além de Allah mais
70 Este relato éapoiado por um hadith sahih transmitido por Muslim, Kitab Al-Iman,
2/18, pela autoridade de Abu Hurairah, que disse que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve falar o bem ou permanecer calado; e quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve ser generoso para com o seu vizinho; e quem
acredita em Allah e no Último Dia deve ser generoso para com o seu convidado.“
57
fácil para ele, e quanto mais fácil é fazer algo para outro senão Ele, mais
difícil se torna fazer algo intencionado para o Seu agrado.
Se é a primeira opção que solicitou a ideia da acção, ele pára
mais uma vez e pergunta a si mesmo “Terei ajuda ao fazer isto? Tenho
companheiros que me possam ajudar e auxiliar se precisar de ajuda ao
realizar esta acção?”. Se ele vir que não tem aliados para o ajudar, ele
adiaria fazer esta acção, tal como o Profeta صلى الله عليه وسلم adiou a jihad contra o
povo de Makkah até que tivesse aliados e forças suficientes que garantissem
sucesso.
Se ele vir que há ajuda confiável para realizar a acção proposta,
então, finalmente, ele deverá começá-la, e ele terá sucesso, pela permissão
de Allah. O fracasso só poderá ocorrer se uma destas salvaguardas
estiver em falta, pois quando elas são todas combinadas, elas garantem
o sucesso. Estes são os quatro passos que um servo precisa de
dar ao responsabilizar o seu ego antes de fazer qualquer coisa.
A segunda forma é a de responsabilizar o ego depois de uma acção.
Há três categorias disto:
Primeiro, responsabilizar o ego por um acto de obediência no qual
o que é devido a Allah não foi cumprido completamente ou feito da melhor
maneira possível. Há seis coisas que são devidas a Allah em actos
de obediência: sinceridade ao fazê-los, dedicá-los só a Allah, seguir o
exemplo do Profeta صلى الله عليه وسلم, ter atenção em fazê-los bem, reconhecer as
bênçãos de Allah neles e, depois disto tudo, estar consciente das suas
próprias falhas ao fazê-los. Uma pessoa pode responsabilizar o seu ego,
mas será que ela deu a devida atenção e esforço a estes pré-requisitos?
Ela cumpriu-os no seu acto de obediência?
Segundo, responsabilizar o ego por qualquer acção que seria melhor
ter sido deixada do que realizada.
Terceiro, responsabilizar o ego quanto à intenção ao realizar uma
acção permitida. Foi esta realizada para o agrado de Allah, Exaltado seja,
e sucesso na akhira, garantindo o sucesso - ou foi, na verdade, para
procurar os ganhos passageiros desta vida, perdendo assim o que poderia,
ao contrário, ser ganho?
A última coisa que uma pessoa deve fazer é não ter atenção e ser
negligente ao responsabilizar o seu ego, começando sem qualquer preparação,
e tratando dos assuntos levemente, atrapalhando tudo. Isto só
trará a sua ruína. Este é o destino das pessoas que são arrogantes. Tal
58
pessoa fecha os olhos às consequências ao agir desta maneira e depende
do perdão de Allah. Ela negligencia a responsabilização do seu
ego e não contempla o resultado do seu comportamento. Se ele faz
este tipo de coisas, ele comete más acções até se acostumar a elas, e
então torna-se difícil retirar-se delas.
Concluindo, o crente deve primeiro responsabilizar o seu ego
quanto aos seus actos obrigatórios de adoração. Se ele estiver em falta
nestes, então ele deve apressar-se a retificar a sua situação, seja compensar
pela adoração que negligenciou, ou corrigir o que ele pode ter
feito de forma errada na sua adoração.
A seguir, ele deve responsabilizar o seu ego quanto a actos proibidos.
Se ele vir que fez algum, ele deve arrepender-se rapidamente,
procurar pelo perdão de Allah, e fazer boas acções para erradicar as
más acções que foram gravadas no seu livro (de acções).
De seguida, ele deve responsabilizar o seu ego quanto aos assuntos
que negligenciou. Se ele vir que foi negligente ao fazer aquilo
para o qual ele foi criado, ele deve apressar-se à lembrança de Allah e
aproximar-se d’Ele com um coração aberto.
Depois, ele deve responsabilizar o seu ego pelas palavras que falou,
pelos passos que os seus pés deram, pelas coisas que as suas
mãos agarraram, e pelo que os seus ouvidos ouviram (voluntariamente).
Ele deve perguntar-se “Eu queria isto para quê? Eu fiz isto por quê? Eu
fiz isto por quem? Por que fiz isto desta maneira?”.
Ele deve saber que cada acção e cada palavra são registadas em
dois livros; um deles tem o título “Fiz isto por quem?”, e o outro tem o título
“Quão bem fiz isto?”. A primeira pergunta é relacionada à sinceridade,
e a segunda é relacionada à própria acção. Allah, Exaltado seja,
disse:
“Para que Ele interrogasse os verídicos acerca de
sua verdade.” [33:8]
Se os verídicos serão questionados sobre a sua verdade, e serão
julgados de acordo com quão verídicos foram, o que se pode imaginar
no caso das pessoas da falsidade?
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Os Méritos de Responsabilizar o Ego
Isto envolve:
Primeiro, identificar as falhas do ego. Aquele que não reconhece
as suas falhas não poderá livrar-se delas. Yunus Ibn Ubaid disse: “Eu conheço
cerca de cem atributos da bondade e, no entanto, não encontro
nem um deles no meu ego.”
Muhammad Ibn Wasi disse: “Se as más acções produzissem flatulência,
ninguém conseguiria sentar-se na minha companhia.”
O Imam Ahmad escreveu que Abu’d-Darda’ disse: “Nenhum homem
ganha entendimento e conhecimento completo, a não ser que deteste
todas as pessoas que não são próximas a Allah, e volte a sua atenção
ao seu ego e o deteste ainda mais.”
Segundo, saber quais os direitos de Allah. Isto é importante porque
faz com o que o servo deteste o seu ego e liberta-o de arrogância e
de se auto-satisfazer com as suas acções. Isto abre as portas da submissão
e humildade para ele, e resulta na purificação da sua alma pelas
Mãos do seu Senhor. Ele desespera pelo seu ego e acredita firmemente
que a sua sobrevivência não será alcançada sem o perdão, generosidade
e misericórdia de Allah. É direito d’Ele ser constantemente obedecido,
lembrado e agradecido.
60
TREZE
PERSERVERANÇA
Allah fez da perseverança um cavalo incansável, uma faca cortante
implacável, um exército vitorioso e invencível, uma fortaleza formidável
e indestrutível. Ela e a vitória são companheiras inseparáveis.
Allah, Glorioso e Poderoso, louvou aqueles que perseveram no
Seu Livro, e diz que lhes dá recompensas sem fim e os apoia com a
Sua orientação, poder e uma vitória certa. Ele diz:
“E obedecei a Allah e a Seu Mensageiro, e não disputeis,
senão, vos acovardareis, e vossa força se
irá. E pacientai. Por certo, Allah é com os perseverantes.”
[8:46]
Por virtude deste companheirismo, aqueles que perseveram ganham
em ambas nesta vida e na próxima como merecem; eles ganham
as Suas bênçãos, ambas evidentes e escondidas.
Allah fez da liderança no seu din dependente de perseverança e
certeza. Ele diz:
“E fizemos deles próceres, que guiaram os homens,
por Nossa ordem, quando pacientaram (perseveraram).
E eles se convenciam dos Nossos sinais.”
[32:24]
E Ele diz que a perseverança dos que perseveram é algo bom
para eles, e Ele afirmou isto com um juramento:
“E, em verdade, se pacientais, isso é melhor para
os perseverantes.” [16:126]
E Ele diz que através da perseverança e do temor a Allah, os esquemas
do inimigo não causarão qualquer dano aos Seus servos crentes,
mesmo se esses esquemas forem os piores:
“E, se pacientardes e fordes piedosos, sua insídia
em nada vos prejudicará. Por certo, Allah está
sempre abarcando o que fazem.” [3:120]
Allah fez o sucesso condicional à perseverança e piedade:
61
“Ó vós que credes! Pacientai e perseverai na
paciência; e sede constantes na vigilância e temei a
Allah, na esperança de serdes bem-aventurados.”
[3:200]
Ele também fala do Seu amor por aqueles que perseveram, que é
o maior incentivo possível para qualquer pessoa que procure pelo Seu
amor:
“E Allah ama os perseverantes.” [3:146]
Allah dá boas novas àqueles que perseveram e promete-lhes três
coisas, e cada uma é bem melhor que qualquer coisa pela qual as pessoas
deste mundo se invejam:
“E, em verdade, pomo-vos à prova, com algo do
medo e da fome e da escassez de riquezas e de pessoas
e de frutos. E alvissara o Paraíso aos perseverantes;
Àqueles que, quando uma desgraça os alcança,
dizem: ‘Por certo, somos de Allah e, por
certo, a Ele retornamos’. Sobre esses são as
bênçãos e misericórdia de Seu Senhor. E esses são
os guiados.” [2:155-157]
Allah fez o alcance de um lugar no Jardim e a evitarão de um lugar
no Fogo a recompensa exclusiva dos que perseveram pacientemente:
“Por certo, recompensei-os, hoje - porque pacientaram
- com serem eles os triunfadores.” [23:111]
Ao fazê-los os beneficiários particulares dos Seus versos, Allah
distinguiu aqueles que aguentam e perseveram e são agradecidos por
tal fortuna imensa. Ele diz, em quatro sítios diferentes no Qur’an:
“Por certo, há nisso sinais para todo o perseverante,
agradecido.” [14:5, 31:31, 34:19 e
42:33]
A perseverança é um verdadeiro atributo do crente. Ele circula em
torno e volta para este. É o pilar que apoia a fé, sem o qual ele não poderia
permanecer em pé. Quem não tem perseverança, não pode ter fé,
ou se ele realmente tiver fé, esta é escassa e fraca. Tal pessoa adora a
62
Allah pela metade: se ele encontra algo bom nesta vida, a sua crença é
assegurada, mas se ele é afligido com infortúnio, então ele afasta-se de
Allah e perde tudo nesta vida e na próxima, fazendo um acordo para a
perda.
As boas novas proclamadas pelo Profeta Jesus (que a paz esteja
com ele) foram só apreciadas pelos afortunados por causa da sua perseverança,
e eles ascenderam aos níveis mais altos por causa da sua
gratidão. Eles voaram com as asas da perseverança e gratidão até aos
Jardins da Bem-Aventurança.
“Emulai-vos por um perdão de vosso Senhor e por
um Paraíso, cuja amplidão é como a do céu e da
terra, preparado para os que crêem em Allah e em
Seus Mensageiros. Esse é o favor de Allah: concede-
o a quem quer. E Allah é possuidor de Magnífico
favor.” [57:21]
Visto que a perseverança e a gratidão são dois elementos da fé,
quem estiver preocupado sobre o bem-estar da sua alma - desejando a
sua salvação e esperando pela sua boa fortuna - não deve negligenciar
estes dois essenciais.
Ele deve aproximar-se de Allah com eles, para que Ele os coloque entre
os bem-sucedidos no Dia em que ele O encontrar.
O Significado da Essência da Perseverança
A palavra sabr em árabe, significando “perseverança” ou “paciência”,
implica auto-restrição e retenção. No contexto da shari’ah, esta significa
impedir o ego de se tornar agitado, a língua de se queixar, e as
mãos de baterem no rosto e rasgarem as roupas (como expressão de
luto).
Foi dito que isso é uma das mais excelentes posses do ego, sem
a qual não é possível fazer nada correctamente. É uma força do ego que
possibilita endireitá-lo e beneficiá-lo.
Quando o Imam Junaid foi questionado sobre o que isso é, ele
disse: “Engolir algo amargo sem mostrar qualquer desagrado no seu
rosto.”
63
Dhu’n-Nun Al-Misri disse sobre isso: “A perseverança é distanciarse
de todos os males e transgressões, e permanecer calmo quando se
está envolvido em aflições impossíveis, e aparentar ter o suficiente
quando a pobreza tem residência permanente no seu lar.”
Também foi dito que a perseverança é: “Ser firme e permanecer
amável quando a aflição açoita, e permanecer contente quando afligido
por infortúnio, sem mostrar quaisquer sinais de queixa.”
Um dia, um homem virtuoso viu uma pessoa a queixar-se ao seu
irmão, então ele disse-lhe “Por Allah, o que estás a fazer realmente é a
queixar-te sobre Aquele que é misericordioso para contigo, enquanto
apresentas a tua queixa a alguém que não tem misericórdia própria para
te dar.”
Também foi dito:
“Quando te queixas ao filho de Adão,
estás de facto a queixar-te do Misericordioso
a alguém que não tem misericórdia própria.”
Há dois tipos de queixa:
O primeiro tipo de queixa é a queixa a Allah, Poderoso e Glorioso,
que não é inconsistente com a perseverança, como disse o Profeta
Ya’qub:
“Apenas queixo-me a Allah de minha aflição e
tristeza…” [12:86]
E também:
“Então, cabe-me bela paciência.” [12:83]
O Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Ó Allah! Eu queixo-me a Ti sobre a fraqueza
da minha força e a falha da minha capacidade.”71
O segundo tipo de queixa é a queixa sobre aflição, opondo-se à
sua natureza e carácter. Este tipo é incompatível com a perseverança,
ele contradiz e cancela-a.
71 Da’if, Al-Haythami, Majma’az-Zawa’id, 6/35.
64
A arena do poder é mais significativa para o servo do que a arena
da perseverança; como o Profeta صلى الله عليه وسلم disse a Allah “Se não estais irado
comigo, não me preocuparei, mas o Teu Poder é mais significativo para
mim.”72
Isto não contradiz o seu dito “Não foi oferecido a alguém melhor
ou maior presente do que a perseverança.”73
Isto aplica-se a alguém que foi afligido por um infortúnio. A arena
da perseverança no seu caso é a melhor, mas, antes da aflição açoitar,
a arena da força e saúde é mais significativa.
O ego é o animal que carrega o servo para o Jardim ou para o
Fogo. A perseverança é para o ego o que as rédeas e viseiras são para
o animal - se não tivesse nenhum destes, vaguearia em todas as direções.
Al-Hajjaj disse uma vez: “Verifiquem os vossos egos, pois eles podem
aprontar todo o tipo de travessura. Que Allah conceda misericórdia
para quem puser rédeas e viseiras no seu ego, direcionando-o com as
viseiras para a obediência a Allah, e orientando-o longe da desobediência
com as rédeas. Evitar pacientemente o que Allah proibiu é mais fácil
do que aguentar o castigo que Ele inflige.”
Há dois tipos de impulso que dirigem o ego: um é o impulso activo
da coragem, e o outro é a força inibidora da restrição.
A verdadeira essência da perseverança é abrir caminho para o primeiro
tipo de energia em direcção ao que é benéfico, e usar o segundo
tipo de energia para evitar fazer algo nocivo.
Há pessoas que perseveram ao fazer a oração da noite regularmente
e ao aguentar o fardo do jejum, e, no entanto, elas não têm o poder
de restringir de um olhar proibido. Há outras que conseguem fazer
isto, e, no entanto, não têm a energia para preservar ao ordenar o bem e
proibir o mal, ou ao lutar em jihad.
Foi dito que “Resistência, paciência e perseverança são o que
constituem a bravura do ego”. Semelhante a este dito é o provérbio “Coragem
é ser capaz de perseverar por um momento.”
Resistir pacientemente é o oposto de se tornar agitado. Como Allah,
Poderoso e Glorioso, diz das pessoas do Fogo e o que elas dizem:
72 Da’if, parte do hadith anterior.
73 Al-Bukhari, Kitab az-Zakat, 3/335; Muslim, Kitab az-Zakat, 7/144.
65
“É-nos igual que nos aflijamos ou pacientemos;
não há, para nós, fugida alguma.” [14:21]
Tipos de Perseverança
Há três tipos de perseverança, dependendo da intenção por trás
desta: perseverança ao completar actos de adoração e ao ser obediente;
perseverança ao evitar acções proibidas e ao ser desobediente; e
perseverança diante do destino, tanto que o servo não se torna irritado
em tempos de adversidade.
Foi dito sobre estes tipos diferentes: “Um servo deve ter uma ordem
para obedecer, proibições para evitar, e adversidade para resistir.”
Há outra maneira de categorizar a resistência e a perseverança,
nomeadamente, perseverança onde há escolha e perseverança onde
não há escolha. A primeira é melhor e tem uma significância maior do
que a última, pois a perseverança onde não há escolha é o tipo que é
comum a todas as pessoas; é exercida por todos aqueles que não mostram
perseverança por escolha.
Por esta razão, a perseverança do Profeta Yusuf, que a paz esteja
com ele, ao recusar as propostas da esposa de Al-Aziz é mais significativa
do que a sua resistência ao que os seus irmãos lhe infligiram quando
eles o atiraram no poço.
O Homem nunca poderá sobreviver sem perseverança. Ele flutua
entre uma ordem que ele deve obedecer e cumprir, proibições que ele
deve evitar e ignorar, destino que deve tomar o seu percurso, e bênçãos
pelas quais ele deve agradecer o Provedor. Como a situação humana
nunca muda, o Homem tem de perseverar até ao dia da sua morte.
Tudo o que o servo encontra nesta vida é um de dois tipos: um
tipo combina com os seus desejos e corresponde à sua vontade, e o
outro não o faz.
Ele precisa de ter paciência para ambos os tipos, mas o primeiro
tipo - tal como ter saúde, riqueza e poder - requer mais paciência dele
em vários aspectos:
Primeiro, ele não deve colocar a sua confiança neles; nem deve
ser arrogante e mal-educado por causa deles; nem devem eles ser a
66
causa da sua ingratidão; nem deve ele celebrar com eles de maneira
que Allah não aprova.
Segundo, ele não se deve tornar preocupado com a sua aquisição.
Terceiro, ele deve perseverar ao cumprir o que é direito de Allah
sobre eles.
Quarto, ele deve persistir nos seus esforços em não despender
deles ao fazer lucro haram.
Foi dito: “Ambos o mu’min e o kafir são capazes de perseverar em
tempos de dificuldade, mas só o crente é capaz de perseverar em tempos
de facilidade.”
Abdur-Rahman Ibn Awf disse: “Nós fomos afligidos com dificuldade,
e perseverámos e resistimos, mas quando desfrutámos de tempos
de facilidade, fomos incapazes de perseverar.”
Isso é a razão pela qual Allah avisa os Seus servos contra tornarem-se
envolvidos e preocupados com dinheiro, esposas e crianças. Ele, Poderoso
e Glorioso, diz:
“Ó vós que credes! Que vossas riquezas e vossos
filhos não vos entretenham, afastando-vos da lembrança
de Allah.” [63:9]
O outro tipo, que não corresponde às suas vontades e desejos, é
ou relacionado a assuntos onde o servo tem uma escolha - como em
actos de obediência ou desobediência - ou a assuntos nos quais o
servo não tem escolha - como calamidades. Talvez ele tenha uma escolha
logo no início, mas não quanto ao seu fim quando elas já se desenvolveram.
Assim, deste segundo tipo há três categorias:
Primeiro, existe assuntos nos quais o servo tem escolha, que incluem
todas as acções que envolvem obediência ou desobediência.
No caso das acções que envolvem obediência, o servo precisa
de perseverar ao fazê-las porque o ego, por conta da sua natureza,
opõe-se a muito do que faz parte da adoração e servitude. Ao fazer a
oração, por exemplo, o ego é preguiçoso e prefere levar o seu tempo,
67
especialmente se este é acompanhado por um coração duro sobrecarregado
por más acções, e é inclinado a seguir os seus próprios desejos
e a misturar-se com pessoas que negligenciam as ordens de Allah. Ao
pagar o zakah, perseverança e resistência são necessárias por causa
das características mesquinhas e avarentas do ego. Ao fazer Hajj e ao
lutar em jihad, a perseverança é necessária, por causa de ambas as características
mencionadas acima: preguiça e mesquinhez.
Um servo precisa de perseverar em três circunstâncias:
Primeiro, antes de cumprir um acto de obediência, prestando
atenção à sua sinceridade ao fazer este acto de obediência.
Segundo, durante o acto de obediência, persistindo em completá-
lo sem quaisquer omissões e sem se tornar negligente, de acordo
com as suas intenções sinceras, e sem permitir que a execução física
da acção distraia o coração de descansar em submissão total perante
Allah, O Altíssimo.
Terceiro, depois de completar o acto de obediência, evitando pacientemente
qualquer coisa que apague a sua recompensa. Este tipo de
paciência significa que ele não deve ficar satisfeito por ter sido obediente
e vangloriar-se sobre isso, trazendo-o do reino do segredo velado para o
da análise pública.
O acto do servo é um segredo entre ele e Allah, Altíssimo, e é
gravado como tal no reino dos segredos. Se ele falar sobre isso, este é
removido de lá e trazido para o reino do conhecimento público. Então ele
não deve pensar que não há mais necessidade da perseverança assim
que a acção física é terminada.
No caso dos actos de desobediência, o assunto é claro e simples.
A maior ajuda para o servo evitar pacientemente tais actos é desistir
dos seus maus hábitos e evitar contacto com aqueles que encorajam
tais hábitos através de companheirismo e conversa.
Segundo, há assuntos nos quais o servo não tem escolha, e os
quais ele não pode evitar, tais como infortúnios, que podem não ser
causados pelo Homem - como a morte e a doença - ou podem ser causados
pelo Homem - como violência física e verbal.
Em relação ao primeiro tipo de infortúnio, há quatro níveis: o nível
de incapacidade de lidar (com a situação), que inclui agitação e reclamação;
o nível de resistência paciente e perseverança; o nível de aceitação
68
e contentamento; e o nível de gratitude, no qual o infortúnio é visto como
uma bênção - e então aquele que é afligido agradece Àquele que o
aflige.
Em relação ao segundo tipo de infortúnio, que é causado pelo
Homem, há quatro níveis, e outros quatro: o nível de perdão; o nível de
purificação do coração quanto a qualquer vontade de satisfazer desejos
de vingança; o nível de estar em posição de fazer isso (e mesmo assim
não o fazer); e o nível de tratar o malfeitor com gentileza.
Terceiro, há assuntos que são trazidos por escolha do próprio
servo, mas assim que estes acontecem e se apoderam da sua situação,
não lhe é deixada mais nenhuma escolha quanto à sua mudança ou liberdade
dos seus efeitos.
Os Méritos da Perseverança
Umm Salama ( ضي لله عن(ا ') relatou que ela ouviu o Mensageiro de
Allah صلى الله عليه وسلم dizer: “Não há muçulmano que, quando afligido com um infortúnio,
diga como Allah lhe ordenou dizer ‘‘Somos de Allah e a Ele retornaremos’
[2:156], ó Allah, recompensa-me pelo meu infortúnio e dá-me
melhor depois deste’, sem que Allah lhe garanta melhor que isso.”
Ela continuou: “Quando Abu Salama morreu, eu disse ‘Quem dos
muçulmanos será melhor que Abu Salama, cuja família foi a primeira a
seguir o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم ao fazer hijrah?’. Depois eu disse o que
Allah nos ordenou dizer, e Ele concedeu o meu casamento com o Seu
Mensageiro 74 ”.صلى الله عليه وسلم
Abu Huraira relatou que o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “O Glorioso
e Todo-Poderoso disse: ‘Não tenho nada excepto o Jardim como
recompensa para o Meu servo crente que, quando retiro uma das melhores
pessoas deste mundo (isto, é através da morte), permanece paciente
e espera pela recompensa de Allah.”75
Nos dois livros de as-Sahih, é relatado que ‘A’isha ( ضي لله عن(ا ') relatou
que o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “Qualquer crente que for afligido
por um infortúnio, mesmo que seja tão pequeno como o picar de
74 Muslim, Kitab Al-Jana’iz, 6/220.
75 Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/241.
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um espinho, ser-lhe-á removido das suas más acções, como recompensa.”
76
Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “O crente continua a
ser afligido com dificuldades no seu corpo, riqueza e crianças, até ele ou
ela encontrar-se com Allah completamente livre de todas as suas más
acções.”77
Khabbab Ibn Al-Arath relatou, “Nós queixámo-nos ao Mensageiro
de Allah صلى الله عليه وسلم sobre a nossa situação enquanto ele estava sob a sombra
da Kaabah, com a sua cabeça a descansar no seu manto. Nós dissemos
‘Pedirá a Allah para nos ajudar? Poderá suplicar a Allah por nós?’.
Ele disse: ‘Dentre os vossos antepassados, um crente foi apreendido e
colocado num buraco cavado especialmente para ele; depois uma serra
foi trazida e posta na sua cabeça que seria cortada à metade, depois da
sua carne ser fatiada com pentes de ferro e separada dos seus ossos -
e mesmo isso tudo não fez com que ele abandonasse o seu dín. Por Allah,
este dín será completado, e um homem será capaz de viajar de
San’a a Hadramout, sem temer ninguém excepto Allah e o lobo - pois
este poderia espantar as suas ovelhas - mas vós estais impacientes!’”78
Alguns dos nossos antepassados costumavam dizer, “Se não
fosse pelos infortúnios, entraríamos na próxima vida completamente destituídos.”
Sufyan Ibn ‘Uyaynah disse, ao comentar sobre o verso seguinte
do Qur’an:
“E fizemos deles próceres, que guiaram os homens,
por Nossa ordem, quando pacientaram. E eles se
convenciam de Nossos sinais.” [32:24]
“Quando queriam amputar a perna de Urwah Ibn az-Zubair, disseram-lhe
‘Podemos oferecer-te uma bebida (alcoólica) para que não sintas a
dor?’. Ele respondeu ‘Allah deu-me esta aflição para testar a minha perseverança
- devo então agir contra a Sua vontade?’”
76 Al-Bukhari, Kitab Al-Mardha, 10/111; Muslim, Kitab Al-Birr wa’s-Silah, 16/129.
77 Ahmad, Al-Musnad, 2/287; at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/80; Al-Hakim, Kitab ar-
Riqaq, 4/124.
78 Al-Bukhari, Kitab Al-Ikrah, 12/315, e também Kitab Manaqib Al-Ansar, 7/164.
70
Umar Ibn Abdal-Aziz disse: “Sempre que Allah dá uma bênção a
um servo, e depois retira-a dele, e o servo persevera pacientemente a
sua perda, então Ele recompensa-o com uma bênção melhor do que a
que Ele retirou.”
Quando Abu Bakr as-Siddiq (! ضي لله عن ') adoeceu e as pessoas o
visitavam, elas disseram “Deveremos chamar um médico para te ver?”.
Ele disse “O Médico já me viu”. Elas disseram “O que é que Ele te
disse?”. Ele disse “O que Eu desejo, Eu faço acontecer.”
Foi relatado que Sa’id Ibn Jubair disse, “Perseverança é a aceitação
do servo perante Allah da aflição que Ele causou para ele, o seu reconhecimento
de que Allah a levou em conta, e a sua esperança do que
Allah o recompensará por ela. O servo pode estar interiormente num estado
de medo e pânico, mas ao exercer o autocontrole, nada excepto a
perseverança pode ser observada na sua aparência.”
O dito de Ibn Jubair “a aceitação do servo perante Allah da aflição
que Ele causou para ele” é como uma explicação das palavras “Certamente,
a Allah pertencemos”. Aqui, o servo aceita que ele pertence a Allah
e Allah faz o que Ele deseja com as Suas possessões.
O seu dito “a sua esperança do que Allah o recompensará por
ela” é como uma explicação das palavras “e, certamente, para ele retornaremos”.
Isto significa que quando retornarmos para o nosso Senhor,
Ele recompensar-nos-á pela nossa perseverança - pois a recompensa
por perseverança nunca é perdida.
71
CATORZE
GRATIDÃO
Gratidão é agradecer Àquele que concede bênçãos pela Sua generosidade.
A gratidão de um servo deve ter três qualidades, sem as
quais não pode ser considerada gratidão. Elas são o reconhecimento íntimo
e apreciação da bênção, falar sobre ela abertamente, e usá-la
como meio para O adorar.
A gratidão é um assunto do coração, da língua e dos membros. O
coração é para o conhecimento e amor a Ele; a língua é para Lhe agradecer
e louvar; e os membros são para ser usados na obediência
Àquele que está a ser agradecido, e para se abster de cometer actos
desobedientes.
Allah, Glorioso e Altíssimo, ligou a gratidão com a crença. Ele diz
que ele não precisa punir as Suas criaturas se elas Lhe agradecem e
creem n’Ele. Ele ( سبحان! .تعالى ) diz:
“Que faria Allah com vosso castigo, se agradeceis
e credes?” [4:147]
O Glorioso e Todo-Poderoso também diz que as pessoas gratas
são distinguidas do resto dos Seus servos por causa da misericórdia
que Ele mostra para com eles. O Todo-Poderoso e Glorioso diz:
“E, assim, nós os provamos uns pelos outros, a fim
de que digam: ‘São estes aqueles a quem Allah fez
mercê, entre nós?’. Não é Allah bem Sabedor dos
agradecidos?” [Qur’an 6:53]
Ele divide as pessoas entre gratas e ingratas; e a coisa mais desagradável
para Ele é a ingratidão do seu povo; e a coisa mais preciosa
para Ele é a gratidão do seu povo:
“Por certo, guiamo-lo ao caminho, fosse grato,
fosse ingrato.” [76:3]
E também:
72
“E, de quando vosso Senhor noticiou: ‘Em verdade,
se agradeceis, acrescentar-vos-ei Minhas graças.
Mas, em verdade, se estais ingratos, por certo,
Meu castigo será veemente.” [14:7]
Nestes versos, Allah faz a concessão de mais bênçãos condicional
à gratidão. Não há limite quanto ao aumento das Suas bênçãos, tal
como não há limite em ser agradecido a Ele. Allah, Todo-Poderoso e
Glorioso, fez uma grande parte da recompensa dependente da Sua vontade.
Ele diz:
“E, se temeis penúria, Allah enriquecer-vos-á com
Seu favor, se quiser. Por certo, Allah é Onisciente,
Sábio.” [9:28]
E também:
“…e Ele perdoa a quem quer.” [5:40]
E também:
“E Allah volta-Se para quem quer, remindo-o.”
[9:15]
Ele não põe limites na Sua recompensa pela gratidão quando Ele
se refere a ela:
“E recompensaremos os agradecidos.” [3:145]
Quando o inimigo de Allah, shaytan, soube do valor da gratidão -
e que esta é um dos estados mais exaltados e elevados - ele direcionou
os seus esforços para a distração das pessoas quanto a isso:
“Em seguida, achegar-me-ei a eles, por diante e por
detrás deles, e pela direita deles e pela esquerda deles,
e não encontrarás a maioria deles agradecida.”
[7:17]
Allah descreveu os agradecidos dentre os seus adoradores como
sendo poucos em número:
“Enquanto poucos, dentre Meus servos, são os
agradecidos.” [34:13]
73
É relatado que o Profeta صلى الله عليه وسلم ficou de pé em oração toda a noite
até os seus pés ficarem inchados. Foi-lhe perguntado: “Porque fazeis
isto quando Allah já te perdoou todas as tuas ações, passadas e futuras?”.
Ele صلى الله عليه وسلم disse: “Não devo eu ser um servo agradecido?”.79
O Profeta صلى الله عليه وسلم disse uma vez a Mu’adh: “Por Allah, és-me querido!
Então não te esqueças de dizer no final de toda a oração ‘Ó Allah, ajuda-
Me a lembrar de Ti, em ser-Te agradecido e em servir-Te apropriadamente.’”
80
A gratidão está ligada à generosidade de Allah e é o que a faz aumentar.
‘Umar Ibn Al-Khattab disse: “Liga a generosidade de Allah para
contigo à tua gratidão para com Ele.”
Ibn Abi’d-Dunya relatou que ‘Ali Ibn Abi Talib (! ضي لله عن ') disse a
um homem da tribo de Hamazan “A generosidade de Allah está ligada à
gratidão, e a gratidão está ligada ao aumento da Sua generosidade. A
generosidade de Allah não parará de aumentar a não ser que a gratidão
do Seu servo pare.”
Al-Hasan disse: “Fale da generosidade d’Ele frequentemente, pois
falar dela é gratidão.”
Allah ordenou ao Seu Mensageiro صلى الله عليه وسلم a falar da generosidade do
seu Senhor no verso:
“E, quanto à graça de teu Senhor, proclama-a.”
[93:11]
Allah ( سبحان! .تعالى ) fica satisfeito quando o efeito da Sua generosidade no
Seu servo se torna aparente, pois isso é uma forma de gratidão que fala
por si mesma.81
Quando Abu Al-Mughirah costumava ser questionado sobre como
ele estava, ele diria “Estamos mergulhados na generosidade do Senhor,
79 Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/14; Muslim, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 17/162.
80 Ahmad, Al-Musnad, 5/245-247; Al-Hakim, Ma’rifat as-Sahabah, 3/273; an-Nisa’i,
Kitab as-Sahw, 3/53.
81 Isto éapoiado por um hadith relatado por at-Tirmidhi, Kitab Al-Adab, 8/106, e por
Al-Hakim, Kitab Al-At’ima, 4/135, pela autoridade de ‘Amr Ibn Shu’aib, trasmitido a ele
pelo seu pai e avô, que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Allah gosta de ver o efeito da Sua generosidade
no Seu servo.”- Sheikh Shakir classificou este hadith como sahih no seu Al-
Musnad, 6708.
74
e incapazes de ser suficientemente agradecidos. Ele é Amabilíssimo para
connosco, mesmo quando Ele não necessita de nós, e nós somos desrespeitosos
para com Ele, mesmo quando somos extremamente dependentes
dele.”
Sharih disse “Sempre que um servo é aflito com um infortúnio, Allah
concede-lhe três coisas: que isso não afecte a sua fé; que não seja
mais severo do que poderia ter sido; e que, como foi decretado, já passou
e acabou.”
Yunus Ibn ‘Ubaid relatou que Abu Ghunaimah foi questionado
uma vez “Como está?”. Ele respondeu “Fui apanhado entre duas bênçãos
cuja natureza é tal que não sei qual delas é mais excelente: as minhas
más ações que Allah ocultou para mim, para que ninguém me confrontasse
sobre elas; ou a afeição por mim que Allah colocou nos corações
das Suas criaturas, e as quais, por causa das minhas ações e
obras, eu não mereço.”
Suffian disse sobre este verso do Qur’an:
“Então, deixa-Me com aqueles que desmentem esta
Mensagem. Fá-los-emos se abeirarem de seu
aniquilamento, por onde não saibam.” [68:44]
… que Allah faz as suas bênçãos agradáveis para eles, enquanto Ele
restringe a habilidade de ser agradecido deles.
Outros disseram que sempre que tais pessoas (agradecidas) cometem
um pecado, Ele confere uma bênção para elas (por causa desta
qualidade).
Um homem perguntou uma vez a Abu Hazim “Ó Abu Hazim, qual
é a gratidão dos olhos?”. Ele respondeu “É não revelar o bem que eles
veem e ocultar o mal que eles veem.” O homem disse “E qual é a gratidão
dos ouvidos?”. Ele respondeu “Quando ouves algo bom com eles,
tu tentas entender, e quando ouves algo mau, tu rejeita-lo”. O homem
perguntou “E qual é a gratidão das mãos?”. Ele disse “Não as uses para
tirar o que não é teu, e não as restrinjas de dar o que é o direito de Allah”.
O homem perguntou “E qual é a gratidão do estômago?”. Ele respondeu
“Que a sua parte mais baixa seja para comida, e que a sua parte
mais alta seja para sabedoria” (isto é, não deve estar completamente