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disse: “Desde o momento da sua chegada a Madinah até sua morte ,صلى الله عليه وسلم


a família de Muhammad صلى الله عليه وسلم nunca comeu uma refeição de pão de trigo


três noites seguidas”.30


Ibrahim Ibn Adham disse: “A pessoa que controla o seu estômago,


controla o seu din, e quem controla a sua fome, controla o seu


comportamento. A desobediência para com Allah é mais próxima de


uma pessoa satisfeita, com o seu estômago cheio, e mais afastada de


uma pessoa com fome.”


Manter Má Companhia


Companhia desnecessária é uma doença crónica que causa


muito dano. Quantas vezes o tipo errado de companhia e mistura entre


pessoas de sexos opostos privou essas pessoas da generosidade de


Allah, plantando discórdia nos seus corações que até com a passagem


do tempo - mesmo sendo tempo suficiente para montanhas se desgastarem


- este não foi capaz de a dissipar. Ao manter tal companhia, nós


podemos encontrar as raízes da perda, ambas nesta vida e na próxima.


Um servo deve beneficiar de companheirismo. Para fazê-lo, deve


dividir as pessoas em quatro categorias, e ter cuidado para não as confundir,


pois assim que uma é confundida por outra, o mal pode infiltrar-se


através dessa confusão:


A primeira categoria é as pessoas cuja companhia é como comida:


é indispensável, de noite ou de dia. Assim que um servo satisfaz a


sua necessidade dela, ele deixa-a até precisar dela outra vez, e assim


por diante. Estas são as pessoas com conhecimento sobre Allah - das


suas ordens, das tácticas dos Seus inimigos, e das doenças do coração


e os seus remédios - que querem o bem para Allah, para o Seu Mensageiro


صلى الله عليه وسلم e para os Seus servos. Associar-se com este tipo de pessoa é


um sucesso por si mesmo.


A segunda categoria é as pessoas cuja companhia é como um


medicamento. Ela só é necessária quando uma doença se instala.


Quando se está saudável, ela não é necessária. No entanto, conviver


com elas é, por vezes, necessário para o nosso meio de vida, negócios,


30 Al-Bukhari, Kitab at-At’ima, 9/549; e Muslim, Kitab az-Zuhud, 8/105.


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consulta, etc. Assim que a necessidade de conviver com elas é cumprida,


conviver mais que isso deve ser evitado.


A terceira categoria é as pessoas cuja companhia é prejudicial.


Conviver com este tipo de pessoa é como uma doença, em todas as


suas variedades e graus, forças e fraquezas. Associar-se com uma ou


algumas delas é como uma doença crónica incurável. Não beneficiamos


nem nesta vida, nem na próxima, se as temos como companhia, e perderemos


certamente, um ou ambos, o nosso din e o nosso meio de vida


por causa delas. Se a sua companhia nos domina e é instalada, então


esta se torna uma doença terrível e fatal.


Entre tais pessoas estão aquelas que não falam nenhum bem que


nos possa beneficiar, nem nos ouvem atentamente para que elas beneficiem


de nós. Elas não conhecem as próprias almas e, consequentemente,


põem os seus egos no lugar delas. Se elas falam, as suas palavras


caem nos corações dos seus ouvintes como chicotadas de um


bastão, enquanto durante o tempo todo elas estão cheias de admiração


e deleite pelas suas próprias palavras.


Elas causam angústia aos que estão na sua companhia, enquanto


acreditam que são o aroma doce da reunião. Se elas estão em


silêncio, são mais pesadas que uma pedra de moinho enorme - demasiado


pesada para carregar ou até arrastar pelo chão.31


Concluindo, conviver com quem é mau para a alma não durará,


mesmo sendo inevitável. Pode ser um dos aspectos mais angustiantes


da vida de um servo, ser atormentado por tais pessoas, com as quais


pode ser necessário associar-se. Em tal relação, um servo deve apoiarse


no bom comportamento, apresentando-se só com a sua aparência


exterior, enquanto disfarça a sua alma interior, até Allah lhe oferecer um


caminho para fora desta aflição e os meios de fuga para fora desta situação.


A quarta categoria é as pessoas cuja companhia é destruição por


si só. É como tomar veneno: ou a vítima encontra o antídoto ou morre.


Muitas pessoas pertencem a esta categoria. Elas são as pessoas de


inovação religiosa e desvio, aquelas que abandonam a sunnah do Mensageiro


de Allah صلى الله عليه وسلم e defendem outras crenças. Elas chamam o que é


sunnah de bid’ah e vice-versa. Uma pessoa com o mínimo de intelecto


31 É􀀁relatado que Ash-Shafi’, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Sempre que


uma pessoa aborrecedora se senta ao meu lado, o lado onde ele se senta parece


mais para baixo do que o outro lado.”


27


não deve sentar-se nas suas assembleias nem conviver com elas. O resultado


ao fazê-lo será ou a morte do seu coração ou, no mínimo, o


adoecimento sério deste.


O que dá Vida e Sustento ao Coração


Devemos saber que actos de obediência são essenciais para o


bem-estar do coração do servo, da mesma maneira que comida e bebida


são para o bem-estar do corpo. Todas as más acções são o


mesmo que comidas venenosas, e elas prejudicam o coração inevitavelmente.


O servo sente a necessidade de adorar o seu Senhor, Glorioso e


Todo-Poderoso, pois ele está naturalmente em constante necessidade


da Sua ajuda e auxílio.


Para manter o bem-estar do seu corpo, o servo segue uma dieta


estrita cuidadosamente. Ele, habitualmente e constantemente, ingere comida


boa em intervalos regulares, e apressa-se a libertar o seu estômago


de elementos prejudiciais se ele come algo mau por erro.


O bem-estar do coração do servo, no entanto, é muito mais importante


do que o bem-estar do seu corpo, pois, enquanto o bem estar


do seu corpo lhe permite ter uma vida livre de doença neste mundo, o


bem estar do coração garante-lhe não só uma vida afortunada neste


mundo, mas também felicidade eterna no próximo. Da mesma forma,


enquanto a morte do corpo corta o servo deste mundo, a morte do seu


coração resulta em angústia eterna.


Um homem virtuoso disse uma vez: “Quão estranho é que algumas


pessoas lamentam por aquele cujo corpo morreu, mas nunca lamentam


por aquele cujo coração morreu - e, no entanto, a morte do coração


é bem mais séria!”


Logo, actos de obediência são indispensáveis para o bem-estar


do coração. Vale a pena mencionar os seguintes actos de obediência,


visto que são necessários e essenciais para o coração do servo: Dhikr


de Allah ta’ala, recitação do Nobre Qur’an, procurar pelo perdão de Allah,


fazer du’a, invocar a paz e bênçãos de Allah sobre o Profeta صلى الله عليه وسلم, e orar à


noite.


28


SEIS


LEMBRANÇA DE ALLAH E RECITAÇÃO DO


QUR’AN


Ibn Taymiyah escreveu: “A lembrança de Allah é para o coração


como água é para o peixe. O que acontece a um peixe quando este é


tirado para fora da água?”.


O Imam Shams ad-Din Ibn Al-Qayyim escreveu cerca de oitenta


benefícios que se obtém através de dhikrullah no seu livro Al-Wabil Al-


Sayyib. Nós citaremos alguns deles aqui, no entanto, recomendamos a


leitura deste mesmo livro por causa do seu grande valor.


A lembrança de Allah é sustento para ambos o coração e o espírito.


Se o servo é privado dela, ele torna-se como um corpo privado de


comida.


A lembrança de Allah também afasta o shaytan, suprimindo-o e


quebrando-o; é agradável ao Misericordioso, Glorioso e Todo-Poderoso,


dissipa preocupações e melancolia do coração, adorna-o com deleite e


felicidade, enche o coração e rosto com luz, e cobre aquele que se lembra


de Allah com dignidade, gentileza e frescura. Incute amor a Allah, temor


a Ele, e o acto de deixar todos os assuntos para Ele. Também aumenta


a possibilidade de Allah lembrar-se do Seu servo, como Allah diz:


“Então, lembrai-vos de Mim, Eu Me lembrarei de


vós.” [2:152]


Mesmo que esta fosse a única recompensa para a lembrança de


Allah, seria misericórdia e honra suficientes, pois tal coração está sempre


alerta e livre de más acções.


Mesmo que a lembrança de Allah seja uma das formas mais fáceis


de adoração, a misericórdia e honra que esta traz não podem ser


alcançadas por quaisquer outros meios.


Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Quem recitar as palavras


‘Não há divindade além de Allah, O Único, Ele não tem parceiro algum.


A soberania pertence-Lhe e todos os louvores são para Ele, e Ele é


Poderoso acima de todas as coisas’, cem vezes todos os dias, há uma


recompensa igual à emancipação de dez escravos, e cem boas acções


29


são registadas para ele, e cem más acções são removidas do seu registo.


E isso é uma protecção para ele contra o shaytan nesse dia até à


noite, e ninguém poderá fazer algo melhor que isto, excepto aquele que


fizer mais do que isto (ou seja, aquele que recitar estas palavras mais do


que cem vezes)”.32


Jabir relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Quem recitar as palavras


‘Glória a Allah e para Ele são todos os louvores’, terá uma palmeira plantada


para ele no Jardim”.33


Ibn Mas’ud (! ضي لله عن ') disse: “Louvar a Allah, Exaltado seja, é-me


mais querido do que gastar o mesmo número de dinars (quanto o número


de louvores) pela causa de Allah.”


A lembrança de Allah é um remédio para os corações duros. Um


homem disse uma vez a Al-Hassan: “Ó Abu Sa’id, eu queixo-me da dureza


do meu coração”. Ele disse: “Amacia-o com a lembrança de Allah”.


Makhul disse: “A lembrança de Allah é (um sinal de) saúde, enquanto


que a lembrança de pessoas é como uma doença”.


Um homem uma vez perguntou a Salman: “Quais são as melhores


acções?”. Ele disse “Não leste no Qur’an:


‘…a lembrança de Allah é maior’ [29:45]?”


Abu Musa uma vez relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “A diferença


entre aquele que se lembra do seu Senhor e aquele que não o faz é


como a diferença entre os vivos e os mortos”.34


Abdulalh Ibn Busr relatou que um homem uma vez disse ao Profeta


صلى الله عليه وسلم: “Os caminhos para o bem são muitos e eu sou incapaz de seguir


a todos, então, por favor, diga-me algo ao qual me possa apegar,


mas não me sobrecarregue, para que eu não me esqueça”. Ele disse


“Certifica-te de que a tua língua está úmida e flexível com a lembrança de


Allah, O Glorioso.”35


A lembrança de Allah contínua aumenta as boas testemunhas do


servo no Dia da Ressurreição. É um meio que o impede de falar de


32 Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/201; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/16.


33 Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/433.


34 Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/208; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/495.


35 At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/314.


30


forma errada, tal como criar rumores propagar estórias e coisas semelhantes.


Ou a língua está a mencionar Allah e a lembrá-Lo, ou ela está a


falar de forma incorrecta.


Quem tem as portas da lembrança abertas para Ele tem uma


abertura para o seu Senhor, Glorioso e Todo-Poderoso, através da qual


ele encontrará aquilo que procura. Se ele encontrar Allah, ele encontrou


tudo. Se ele perde a oportunidade, ele perdeu tudo.


Há vários tipos de lembrança. A lembrança dos Nomes de Allah,


Glorioso e Todo-Poderoso, a lembrança dos Seus Atributos, e louvando-


O e agradecendo-Lhe. Todas estas lembranças podem assumir a forma


de dizer, por exemplo, “Glória a Allah”, “Louvado seja Allah”, “Não há divindade


para além de Allah”. Um servo pode também lembrar-se de Allah


referindo-se aos seus Nomes e Atributos, dizendo, por exemplo, “Allah,


Glorioso e Todo-Poderoso, ouve tudo o que os Seus servos dizem e


fazem”; ou mencionando o que Ele ordenou e o que Ele proibiu, como


dizer “Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, ordena isto e isto, ou proíbe isto


e isto”.


Um servo pode também lembrar-se de Allah falando sobre as


Suas bênçãos. No entanto, o melhor tipo de lembrança é a recitação do


Qur’an, porque este contém remédios para curar o coração de todas as


doenças. Allah, O Exaltado, diz:


“Ó humanos! Com efeito, uma exortação de vosso


Senhor chegou-vos e cura para o que há nos peitos


e orientação e misericórdia para os crentes.”


[10:57]


E também:


“E fazemos descer, do Qur’an, o que é cura e misericórdia


para os crentes.” [17:82]


Todas as doenças do coração resultam dos desejos e dúvidas, e


o Qur’an é uma cura para ambos. Este tem sinais e provas suficientes e


claros que distinguem entre a verdade e a falsidade e, então, este cura


as doenças da dúvida que arruinam o conhecimento, entendimento e


percepção, permitindo à pessoa ver as coisas como elas realmente são.


31


Quem estuda o Qur’an, e permite que ele seja absorvido pelo coração,


reconhecerá a verdade e a falsidade e será capaz de distinguir


entre elas, tal como ele consegue distinguir a noite do dia.


Quanto a curar as doenças que surgem dos desejos, é porque


este contém sabedoria e bons conselhos. Ele recomenda evitar ganhos


mundanos e inspira uma ânsia pela akhira.


O Profeta صلى الله عليه وسلم disse uma vez: “Quem quiser amar Allah e o Seu


Mensageiro deve ler o Qur’an”.36


O Qur’an é também o melhor meio para aproximar um servo ao


seu Senhor, Glorioso e Exaltado.


Khabbab Ibn Al-Arat disse a um homem: “Aproxima-te de Allah o


máximo que puderes, e lembra-te que não o podes fazer por nenhum


meio mais agradável a Ele, do que usando as Suas próprias palavras.”


Ibn Mas’ud disse: “Quem amar o Qur’an, ama Allah e o Seu Mensageiro”,


e Uthman Ibn Affan (! ضي لله عن ') disse: “Se os vossos corações


fossem realmente puros, eles nunca se cansariam de recitar as palavras


de Allah”.


Concluindo, a coisa mais benéfica para o servo é lembrar-se de


Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, constantemente:


“Ora, é com a lembrança de Allah que os corações


se tranquilizam.” [13:28]


O melhor tipo de lembrança é recitar o Livro de Allah, Glorioso e


Exaltado.


36 Da’if, munkar. Ver o comentário deste hadith no Tahdhib at-Tahdhib de Ibn Hajar,


2/222 e Lisan Al-Mizan, 2/185, e em Al-Jami’􀀁as-Saghir de as-Suyuti, 6/150.


32


SETE


PROCURAR O PERDÃO DE ALLAH


Perdão é ser protegido das consequências prejudiciais das más


acções, e tê-las cobertas. Pedir por perdão é mencionado várias vezes


no Qur’an, e em alguns sítios é uma ordem, como Allah disse, Glorificado


e Exaltado:


“E implorai perdão a Allah. Por certo, Allah é


Perdoador, Misericordiador.” [73:20]


Noutros sítios, Allah louva aqueles que pedem pelo Seu perdão, tal


como na ayah:


“…e os que imploram perdão, nas madrugadas.”


[3:17]


E noutros sítios, Allah diz-nos que Ele perdoa aqueles que pedem pelo


Seu perdão, como na ayah:


“E quem faz um mal ou é injusto consigo mesmo,


em seguida, implora perdão a Allah, encontrará


que Allah é Perdoador, Misericordiador.” [4:110]


Pedir por perdão é associado frequentemente com arrependimento


e, neste caso, este toma a forma de pedir por perdão com a língua.


O arrependimento é afastar-se de más acções com ambos o coração


e o corpo. Pedir por perdão é semelhante a suplicar que Allah, se


Ele assim quiser, responda e perdoe a pessoa que pede pelo Seu perdão.


Isto é especialmente verdadeiro se o du’a veio directamente de um


coração atribulado por más acções, ou se este foi pronunciado durante


os momentos mais favoráveis à Sua resposta, tal como nas primeiras


horas da manhã ou imediatamente depois da oração.


Foi relatado que Luqman uma vez disse ao seu filho: “Ó meu filho,


faz com que seja um hábito a tua língua dizer as palavras ‘Perdoa-me, ó


Allah’, pois há certos momentos nos quais Allah não decepciona um


servo que O chame”.


Al-Hassan disse: “Peçam pelo perdão de Allah frequentemente -


nas vossas casas, às vossas mesas, nas vossas estradas, nos vossos


33


mercados, nos vossos encontros, onde quer que estejam. Nunca se


sabe quando o Seu perdão será concedido”.


Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Juro por Allah que


suplico pelo perdão de Allah e volto-me para Ele arrependido mais do


que setenta vezes por dia”.37


Abu Hurairah disse: “Eu ouvi o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم dizer: ‘Um


servo cometeu um pecado e disse: ‘Ó Allah, eu cometi um pecado, então,


perdoa-me’. Allah disse: ‘O Meu servo sabe que ele tem um Senhor


que perdoa pecados e o ajuda? Eu perdoo o Meu servo’. Depois de um


tempo, o homem cometeu outro pecado, então ele disse: ‘Ó meu Senhor,


eu cometi outro pecado, então, perdoa-me’. O seu Senhor disse:


‘O Meu servo sabe que ele tem um Senhor que perdoa pecados e o


ajuda? Eu perdoo o Meu servo’. Depois de um tempo, o homem cometeu


ainda outro pecado, então ele disse: ‘Ó meu Senhor, eu cometi outro


pecado, então, perdoa-me’. O seu Senhor disse: ‘O Meu servo sabe


que ele tem um Senhor que perdoa pecados e o ajuda? Ó servo, faz


como quiseres. Eu concedi-te perdão’.”38


Ele, Exaltado seja, disse isto três vezes. Isto significa que o homem


foi perdoado porque ele continuou a pedir por perdão a Allah, cada


vez que cometia um pecado. É aparente que isto se aplicaria desde que


a sua procura por perdão não fosse acompanhada pela intenção de repetir


o mesmo pecado outra vez.


‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Uma pessoa


afortunada é aquela que (no Dia do Juízo) encontra no seu livro muitas


súplicas por perdão”.


Noutras palavras, pedir pelo perdão de Allah é uma cura para todas


as más acções.


Qatada disse: “Este Qur’an orienta-nos para o reconhecimento


das nossas doenças e para o seu remédio. As nossas doenças são os


nossos pecados e o nosso remédio é pedir por perdão a Allah”.


Ali Ibn Abi Talib (! ضي لله عن ') disse: “Allah não inspira a procura por


perdão a nenhum servo que Ele queira castigar”.


37 Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/101.


38 Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/466; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/75.


34


OITO


SÚPLICA


Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, ordenou-nos a suplicar-Lhe e


prometeu responder-nos quando o fizermos. Ele diz:


“Suplicai-Me, Eu vos atenderei.” [40:60]


Depois Ele segue dizendo:


“Por certo, os que se ensoberbecem diante da


Minha adoração entrarão no Inferno, humilhados.”


[40:60]


Louvor a Allah, Todo-Poderoso, que tem generosidade sem limites


e misericórdia sem fim. Ele fez da súplica do servo, um meio para a


realização das suas necessidades e o alcance dos seus esforços, um


acto recompensável de adoração que Ele lhe pediu para fazer, repreendendo-


o severamente, descrevendo-o como arrogante, se este a neglicencia.


Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Quem não suplica a


Allah, invoca a Sua ira”.39


Certo está aquele que disse:


Não peças ao filho de Adão para satisfazer uma necessidade,


Pede Àquele cujas portas nunca são ocultadas.


Allah enfurece-se quando não Lhe suplicas,


Enquanto o filho de Adão enfurece-se se lhe pedes [por algo].


Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, diz:


“Não é Ele Quem atende o infortunado, quando


este O invoca, e remove o mal e vos faz sucessores,


na terra?” [27:62]


E também:


39 Hasan, at-Tirmidhi, Kitab as-Da’awat, 9/313; Ibn Majah, Kitab ad-Du’a, 2/1258; Al-


Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/491.


35


“E, quando Meus servos te perguntarem por Mim,


por certo, estou próximo, atendo a súplica do suplicante,


quando Me suplica.” [2:186]


An-Nu’man Ibn Bashir disse: “O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse ‘A


súplica é adoração’. Depois ele recitou a ayah:


“E vosso Senhor disse: ‘Suplicai-Me, Eu vos


atenderei. Por certo, os que se ensoberbecem diante


de Minha adoração entrarão no Inferno, humilhados’.”


[40:60]40


De acordo com a ayah acima, qualquer súplica que cumpra os requerimentos


correctos será, quase de certeza, respondida por Allah. Isto


é confirmado pelos ahadith seguintes:


“Allah é O Eterno, Generosíssimo, e se um homem levanta as


suas mãos suplicando, Ele envergonha-Se de deixá-las descer vazias,


desapontando-o.”41


Anas relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Não abandonem a súplica,


pois ninguém que suplica é arruinado.”42


Abu Sa’id Al-Khudri relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Nenhum muçulmano


faz du’a a Allah, sem que Allah lhe conceda uma de três coisas:


rapidez na realização daquilo que ele pediu; ou isso [que foi pedido] é


guardado para o Dia do Juízo; ou esse [pedido] impedirá um problema


semelhante de lhe acontecer - a não ser que ele tenha pedido por algo


errado, ou algo que quebra os laços de família.”43


Umar Ibn Al-Khattab (! ضي لله عن ') disse: “Eu não tenho nenhuma


ansiedade para com a resposta, mas preocupo-me com o próprio du’a,


porque quem é inspirado por Allah a fazer du’a, invoca a Sua resposta


imediatamente quando o faz.”


40 At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/311; Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/491; an-Nawawi,


Al-Adhkar, p.525.


41 Hasan, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/544; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/497; Abu


Da’wud, Kitab ad-Du’a, 1/497.


42 Da’if, Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/493; Ibn Hibban, Al-Ad’iyya, p.596.


43 Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/923.


36


Boas Etiquetas ao Suplicar


Estas incluem escolher os momentos especiais para suplicar,


como no dia de Arafat, entre os dias do ano; o mês do Ramadan, entre


os meses do ano; Sexta-feira, entre os dias da semana; e as primeiras


horas da manhã, entre as horas do dia.


Estas também incluem escolher condições favoráveis, tal como


nos momentos de chuva, nos momentos em que exércitos que lutam


pela causa de Allah marcham [para o campo de batalha], e nos momentos


em que se faz sujud.


Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Um servo está mais


perto do seu Senhor enquanto está em prostração, então aumentem a


vossa súplica enquanto prostram.”44


O mesmo aplica-se ao momento entre o adhan e iqamah. O Mensageiro


de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “A súplica durante o momento entre o adhan


e iqamah nunca é feita em vão”.45


É bom ser firme ao suplicar e confiante na resposta de Allah. O


Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Ninguém, entre vocês, deve dizer ‘Ó Allah, perdoame,


se quiseres’ ou ‘Ó Allah, tem misericórdia de mim, se quiseres’; ele


deve ser sempre firme ao pedir a Allah, pois ninguém pode obrigar Allah


a fazer algo contra a Sua vontade”.46


É também algo benéfico estar com wudu’, em direcção a Makkah,


e repetir o du’a três vezes.47


A súplica deve começar por louvar a Allah, referindo-se aos Seus


Nomes e Atributos e as Suas bênçãos, seguida de invocação das Suas


bênçãos para o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم. Depois, o suplicante deve descrever


as suas necessidades e fazer o seu pedido e, finalmente, concluir


com mais súplicas para o Profeta صلى الله عليه وسلم e louvor a Allah, Glorioso e Todo-


Poderoso.


44 Muslim, Kitab as-Salah, 4/200.


45 Sahih, at-Tirmidhi, Kitab as-Salah, 1/624, e em Kitab ad-Da’awat, 10/53; Abu


Da’wud, Kitab as-Salah, 2/224.


46 Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/448, e em Kitab ad-Da’awat, 11/139; Muslim, Kitab


adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/7.


47 Muslim, Kitab Al-Jihad, 12/152. Isto faz parte de um longo hadith relatado por Abu


Su’ud (! .('ضي لله عن


37


É importante que a sua necessidade seja pura e não algo mais ou


algo que possa causar a quebra dos laços de família.


O suplicante não deve insistir na realização imediata dos seus pedidos,


nem deve dizer ‘Eu supliquei a Allah, mas Ele não respondeu ao


meu du’a’.


Abu Hurairah relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “A súplica de qualquer


um de vós será cumprida (por Allah), desde que ele não se torne


impaciente, dizendo ‘Eu pedi, mas o meu pedido não me foi concedido’.”


48


Ibn Battal disse: “O que é implicado aqui é que a pessoa desespera


e, por isso, abandona o acto de fazer du’a completamente - em tal


caso, é como se ele fosse o que se dignou a fazer du’a, ou que ele considera


o seu du’a o suficiente para exigir uma resposta, e então ele espera


por uma resposta imediata, sem qualquer atraso, do Senhor Generoso


- quando nem a Sua resposta ao du’a diminui o Seu poder absoluto,


nem os pedidos que Ele concede às suas criaturas diminuem o que


Ele tem, no mínimo que seja.”


Este hadith indica uma das cortesias excelentes ao fazer du’a, informando


que aquele que pede deve persistir e não desesperar pela


resposta positiva do seu du’a, pois isto demonstrará a sua submissão e


a sua confiança absoluta no auxílio de Allah.


48 Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/140; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/51.


38


NOVE


INVOCAR BÊNÇÃOS PARA O PROFETA صلى الله عليه وسلم


Há um hadith relatado por Abu Hurairah, no qual é relatado que o


Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Se alguém invocar bênçãos para mim uma vez, Allah


conceder-lhe-á dez bênçãos”.49 Isto é porque uma boa acção é registada


como dez boas acções, e invocar bênçãos para o Profeta صلى الله عليه وسلم é


uma das coisas excelentes que um muçulmano pode fazer.


Ibn Al-Arabi disse: “Se alguém perguntasse sobre o mérito das palavras


de Allah ‘Quem chega com uma boa acção terá dez vezes seu o


equivalente…’, nós diríamos ‘Têm grande mérito. O Qur’an mencionou


que uma boa acção é multiplicada dez vezes, e que invocar bênçãos


para o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم é, de acordo com o Qur’an, uma boa acção


que dá àquele que a faz dez níveis acima no Jardim. O Profeta صلى الله عليه وسلم


disse que Allah abençoa dez vezes aquele que invoca bênçãos para ele


uma só vez. A lembrança que Allah tem de um servo é bem superior à


multiplicação de boas acções. Isto é ainda apoiado pelo facto de que Allah,


Exaltado seja, concedeu ao servo que se lembra d’Ele a recompensa


dele próprio ser lembrado por Allah. Da mesma forma, o servo


que se lembrar do Seu Mensageiro صلى الله عليه وسلم, é recompensado por ser lembrado


por Ele também”.


Al-Iraqi disse: “As bênção de Allah para com o servo não é a sua


única recompensa, pois, como nos é dito no hadith seguinte, Ele também


regista dez boas acções no livro do servo e remove dez más acções


dele, e eleva-o por dez níveis”.


Anas Ibn Malik relatou que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Se sou mencionado


na presença de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim e se


alguém invoca bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez


bênçãos”. Noutra versão deste hadith, o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Se alguém invocar


bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez bênçãos,


removerá dez más acções e elevá-lo-á por dez níveis”.50


49 Muslim, Kitab as-Salah, 4/128.


50 Sahih, Ibn as-Sunni, ‘Amal Al-Yawm wa’l-Laylah, nº􀀁382. Ver também Muslim, Kitab


as-Salah, 4/127.


39


As palavras do Profeta صلى الله عليه وسلم “Se eu sou mencionado na presença


de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim” parecem fazer a invocação


das bênçãos para ele obrigatória nesta situação. Há ainda mais provas


disto no hadith “Avarento é aquele em cuja presença sou mencionado


e, no entanto, ele não invoca bênçãos para mim”.51


Ibn Mas’ud relatou que o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “Allah tem


anjos a vaguear que vêm e informam-me das bênçãos que a minha


Ummah invoca para mim”.52 Ibn Mas’ud também relatou que o Mensageiro


de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “Os mais próximos de Mim no Dia do Juízo serão


aqueles que invocam bênçãos para mim frequentemente”.53


A melhor altura para invocar bênçãos frequentemente para o Mensageiro


de Allah صلى الله عليه وسلم é à sexta-feira. Aws Ibn Aws relatou que o Mensageiro


de Allah صلى الله عليه وسلم disse: “Entre os vossos dias mais excelentes está a


sexta-feira porque, nesse dia, Adão foi criado, e nesse dia ele morreu, e


nesse dia a Trompa irá soar, e nesse dia virá a Hora. Então invoquem


bênçãos para mim frequentemente nesse dia, pois as vossas bênçãos


ser-me-ão trazidas”. Foi-lhe questionado “Ó Mensageiro de Allah, como


serão as nossas bênçãos transmitidas até si quando o seu corpo se tornará


parte da terra decadente?”. Ele respondeu “Allah proibiu a terra de


destruir os corpos dos profetas.”54


Quanto à forma como a invocação das bênçãos para o Profeta


صلى الله عليه وسلم deve ser feita, Abu Mas’ud Al-Ansari relatou: “Nós estávamos a sentar


na companhia de Sa’d Ibn Ubada, quando o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم


veio até nós. Bashir Ibn Sa’d disse: ‘Ó Mensageiro de Allah, Allah ordenou-


nos a pedir por bênçãos para si, mas como é que devemos fazêlo?’.


O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم permaneceu em silêncio. Nós estávamos


tão perturbados quanto ao seu silêncio que desejámos que ele não tivesse


perguntado sobre isto. Finalmente, o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم


disse: ‘Diz: ‘Ó Allah, abençoa Muhammad e a família de Muhammad


como abençoaste Ibrahim e a família de Ibrahim. Ó Allah dá baraka a


Muhammad e à família de Muhammad como deste baraka a Ibrahim e à


família de Ibrahim. Certamente, Tu és merecedor de Louvor e Glorioso”,


e depois diz o taslím como aprendeste’.”55


51 Sahih, an-Nisa’i, Fadha’il Al-Qur’an, nº􀀁125; at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/531;


Ahmad, Al-Musnad, 1/201; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/549.


52 Sahih, Ahmad, Al-Musnad, 1/387; an-Nisa’i, Kitab as-Sahw, 3/43. Ibn Al-Qayyim


disse: “A corrente de narração é􀀁sahih”. Ver Jalaa’􀀁ul Afhaam, p. 23.


53 Hasan, at-Tirmidhi, Kitab Al-Witr, 2/607; Ibn Hibban, Mawarid adh-Dham’an, p. 594.


54 Sahih, Ibn Ma’jah, Kitab Al-Jana’iz, 1/524; Abu Da’wud, Kitab as-Salah, 3/370; Ahmad,


Al-Fath ar-Rabbani, 6/9. Al-Hakim disse: “É􀀁sahih”, no seu Kitab Al-Jumu’ah,


1/278.


55 Muslim, Kitab as-Salat, 4/123.


40


DEZ


REZAR À NOITE


Allah diz:


“Por certo, teu Senhor sabe que te levantas para


orar, durante menos de dois terços da noite, ou durante


sua metade, ou seu terço…” [73:20]


E também:


“E os que passam a noite prosternando-se, diante


de seu Senhor, e orando de pé” [25:64]


O Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “A melhor oração, depois das orações obrigatórias,


é a oração da noite”.56


‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Entre as orações


de ‘isha e fajr, o Profeta صلى الله عليه وسلم costumava rezar onze rak’at e rezar um


rak’a de witr”.57


Ibn Mas’ud relatou que, perante o Profeta صلى الله عليه وسلم, foi mencionada uma


pessoa que dorme durante a noite até à alvorada (sem rezar). O Profeta


صلى الله عليه وسلم disse: “O shaytan urina nos ouvidos desse homem”.58


O Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Quando um de vocês dorme, o shaytan ata


três nós atrás da sua cabeça. Em cada nó ele repete e expira as seguintes


palavras: ‘A noite é longa, então continua a dormir’. Se vocês acordarem


e lembrarem-se de Allah, um nó é desfeito; e se fizerem wudu’, o


segundo nó é desfeito; e se rezarem, o terceiro nó é desfeito; e levantarse-


ão de manhã cheios de energia e com um coração limpo. Senão, levantar-


se-ão sentindo-se preguiçosos e com um coração confuso”.59


Ibn Mas’ud costumava levantar-se enquanto outros dormiam, e


um zumbido constante, como o zumbido das abelhas, podia ser ouvido


dele até ao nascer do dia.


56 Muslim, 8/54.


57 Al-Bukhari, Kitab Al-Witr, 2/478; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/16.


58 Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/28; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/63.


59 Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/24; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/65.


41


Al-Hasan foi uma vez questionado: “Como é que aqueles que ficam


acordados durante a noite têm os rostos mais atraentes?”. Ele respondeu:


“Porque eles estão em termos íntimos com O Misericordioso, e


Ele cobre-os com alguma da Sua luz”.


Ele também disse: “Um homem comete um pecado e então (por


causa deste) é-lhe privado levantar-se durante a noite.”


Um homem uma vez disse a um homem virtuoso: “Sou incapaz


de ficar acordado de forma constante durante a noite; dê-me uma solução”.


O homem virtuoso disse: “Não O desobedeças durante o dia e Ele


manter-te-á acordado, entre as Suas Mãos, durante a noite”.


Foi transmitido que Sufyan ath-Thawri disse: “Uma vez fui privado


de ficar acordado à noite por cinco meses por causa de um pecado que


cometi”.


Ibn Al-Mubarak disse:


Quando a noite está completamente escura,


encontra-os levantados durante ela.


Medo perseguiu o seu sono,


então eles ficam levantados,


enquanto os que se sentem seguros nesta vida,


dormem continua e silenciosamente.


Abu Sulaiman disse: “As pessoas da noite ficam mais contentes


ao ficarem acordadas durante a noite, do que as pessoas do recreio ficam


com o seu jogo. Se não fosse pela noite, eu não gostaria de continuar


a viver neste mundo”.


Ibn Al-Munkadir disse: “Só três prazeres permanecem nesta vida:


ficar acordado durante a noite, encontrar-se com o seu irmão, e fazer as


orações obrigatórias em congregação”.


42


ONZE


PASSAR SEM OS PRAZERES DESTE MUNDO


Abu’l-Abbas as-Sa’idi disse: “Um homem veio até ao Profeta صلى الله عليه وسلم e disse:


‘Ó Mensageiro de Allah! Guie-me para uma acção que, quando eu a fizer,


Allah me amará e as pessoas também me amarão’. Ele disse: ‘Sê


desapegado a este mundo e então Allah amar-te-á, e não sejas apegado


ao que as pessoas têm e as pessoas amar-te-ão’”.60


Este hadith mostra que Allah ama aqueles que vivem de maneira


simples nesta vida. Foi dito que ter amor a Allah é o melhor estado para


se estar, e viver de maneira simples é a melhor condição para se estar.


Viver de maneira simples significa abster-se do desejo por coisas


mundanas na esperança de receber algo melhor no seu lugar. Para alcançar


isto mais facilmente, devemos primeiro perceber que as coisas


pelas quais as pessoas anseiam neste mundo são, de facto, inúteis


quando comparadas com o que esperamos no próximo mundo.


Se soubermos que o que Allah tem permanecerá e que a próxima


vida é melhor e eterna, então percebemos que a vida deste mundo é realmente


um pedaço de gelo deixado ao sol - ele logo se derreterá e desaparecerá.


A akhira, no entanto, nunca desaparecerá essencialmente.


O desejo que temos de trocar esta vida pela que está para vir é reforçado


pela certeza de que não há comparação alguma entre esta vida e


a próxima.


No Qur’an encontramos que este mundo e o próximo descritos


nos seguintes termos:


“Mas vós dais preferência à vida terrena, enquanto


a Derradeira Vida é melhor e mais permanente”.


[88:16-17]


E também:


60 Hasan, Ibn Majah, Kitab az-Zuhud, 2/1373.


43


“Desejais os efêmeros bens da vida terrena, enquanto


Allah vos deseja a Derradeira Vida”.


[8:67]


E também:


“E eles jubilam com a vida terrena. E a vida terrena,


ao lado da Derradeira Vida, não é senão


gozo efêmero”. [13:26]


Os ahadith que desprezam os bens mundanos e descrevem o


quão inúteis estes são aos Olhos de Allah são muitos:


Jabir Ibn Abdullah relatou que o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم andava


pelo mercado. Algumas pessoas reuniram-se de ambos os lados dele.


Então ele deparou-se com um cabrito morto com orelhas muito curtas,


ele pegou-o e disse: “Quem entre vós quer isto por um dirham?”. Eles


disseram “Nós não gostaríamos de o ter nem que fosse de graça, porque


não nos é útil”. Ele disse “Gostariam de o ter de graça?”. Eles disseram


“Por Allah, mesmo se estivesse vivo, porque as suas orelhas são demasiado


curtas; e agora também está morto”. Então o Mensageiro de Allah


صلى الله عليه وسلم disse: “Por Allah, este mundo é mais insignificante aos Olhos de


Allah do que isto aos vossos olhos”.61


Foi relatado por Ibn Shaddad Al-Fahri que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse:


“Este mundo, em comparação com o próximo, é o mesmo que se um


de vocês pusesse um dedo no oceano. Considerem o quanto teriam ao


tirarem-no de lá.”62


Foi relatado por Ibn Sahl Ibn Sa’ad que o Profeta صلى الله عليه وسلم disse: “Se o


mundo valesse uma asa de um mosquito sequer a Allah, Ele não daria


nem sequer um golo de água deste a um kafir”.63


Viver de forma simples significa afastar-se das coisas deste


mundo por estas não terem valor algum. A pessoa não se importa com


elas e permanece desapegada delas.


Yunus Ibn Maisarah disse: “Ser desapegado deste mundo não


significa que se deva proibir o que Allah permitiu, nem que se deva desperdiçar


dinheiro. Pelo contrário, é um estado no qual se está mais certo


do que está na Mão de Allah do que se está certo quanto ao que se tem


61 Muslim, Kitab az-Zuhud, 18/93.


62 Muslim, Kitab az-Zuhud, 17/191.


63 Sahih gharib, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/611.


44


nas próprias mãos: o seu estado de infortúnio é o mesmo que o seu estado


geral; a sua atitude para com aqueles que o criticam com razão e


aqueles que o elogiam com razão é a mesma”.


Ele explicou isto em três fases, ou níveis, que dizem respeito ao


coração e não à acção física. Esta é a razão pela qual Abu Sulaiman


costumava dizer que não se deve chamar ninguém de zahid.64


O primeiro nível é o de um servo que está mais certo do que está


na Mão de Allah do que o que está nas suas próprias mãos. Este nível


surge de uma convicção forte e saudável.


Abu Hazim az-Zahid foi questionado: “Qual é a tua riqueza?”. Ele


disse: “Dois tipos de riqueza dissipam todo o medo de pobreza: confiança


em Allah e não ser apegado ao que as pessoas têm”. Foi-lhe perguntado:


“Não temes ser pobre?”. Ele disse: “Como posso temer a pobreza


quando o meu Senhor é Dono de tudo o que está nos céus e na


terra e o que está entre eles e o que está por baixo do solo?”.


Al-Fudayl disse: “A essência de viver de forma simples é estar


contente com Allah, Exaltado e Todo-Poderoso”.


Ele também disse: “Aquele que está contente é aquele que vive


simples, e é ele que é rico. Aquele que alcançou a fé verdadeira, que


confia em Allah sobre todos os seus assuntos, e está contente com o


que Ele lhe dá, e permanece desapegado à criação, com medo e esperança


– e, fazendo-o, encontra que perseguir ganhos mundanos não


vale a pena - alcançou os benefícios da simplicidade. Ele é o mais rico


das pessoas, mesmo que ele não possua uma única coisa no mundo”.


Como Ammar disse: “A morte é professora suficiente, a verdadeira


fé é riqueza suficiente, e adoração é acção suficiente”.


Ibn Mas’ud disse: “A verdadeira crença é não tentar agradar as


pessoas, fazendo coisas que trarão o desagrado de Allah para ti; não invejar


ninguém pelo que Allah lhe deu; e não culpar ninguém pelo que Allah


não te deu. Pois a provisão de Allah não é atraída simplesmente pelo


acto cuidadoso de um homem, nem é desviada pela malícia de outro


homem. Allah, na Sua Justiça, Omnisciência e Sabedoria, fez do deleite


e felicidade companheiros da fé e contentamento, e do desespero e tristeza


companheiros da desconfiança e insatisfação”.


64 Uma pessoa desapegada da vida mundana.


45


O segundo nível é o de um servo que, quando é afligido por algum


infortúnio - como a morte de um filho, ou a perda de riqueza ou


bens - deseja a recompensa pela sua aceitação da perda mais do que


recuperar o que foi perdido. Isto é também uma consequência de ter


completa confiança [em Allah].


‘Ali, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Quem vive de


forma simples neste mundo, sabe que os infortúnios são fáceis de ultrapassar”.


Alguns dos nossos antepassados costumavam dizer: “Se não


fosse pelos infortúnios deste mundo, nós chegaríamos ao próximo


mundo sem nada”.


O terceiro nível é o de um servo que toma o elogio e a crítica


igualmente. Se o mundo ocupasse um lugar de importância no seu coração,


então ele preferiria o elogio à culpa, o que em troca poderia fazêlo


abandonar muito benefício por medo de ser censurado, e faria muito


mal na sua procura por elogio. Isto significa que no seu coração as opiniões


das outras pessoas quanto a ele não lhe são importantes - de facto,


o que é importante para ele é o seu amor pela Verdade e a sua ânsia


pelo agrado de Allah.


Ibn Mas’ud disse: “A verdadeira fé não é tentar agradar outras


pessoas fazendo coisas que desagradam a Allah”.


Allah elogiou aqueles que lutam na Sua causa, sem se preocuparem


sobre as opiniões dos outros. Al-Hasan disse: “A pessoa que vive


de forma simples é a pessoa que tem [coragem] no seu coração para dizer


que outra pessoa fez melhor”. O Imam Ahmad, creio, foi questionado


uma vez sobre se um homem rico poderia viver de forma simples. Ele


disse: “Sim, se não se alegrar quando a sua riqueza aumenta, nem entristecer


quando ela diminui, assim ele pode.”


Ibrahim Ibn Adham disse: “Há três tipos de zuhud, ou ‘passar


sem’: o primeiro é o resultado de ter de o fazer, o segundo é o de fazer


uma acção notável e o terceiro é o de ter cuidado. Evitar as coisas haram


é obrigatório, evitar coisas que são halal pode ser notável, e evitar


coisas que são duvidosas é prudente”.l


Uma pessoa que troca as coisas deste mundo pelo próximo está


a passar sem alguma coisa nesta vida e então podemos chamá-lo de


46


zahid, mas ‘passar sem’ pode também envolver desfrutar de algo neste


mundo em detrimento do próximo mundo; neste caso, a pessoa está a


passar sem algo da akhira.


Foi dito a um homem virtuoso uma vez: “Você vive sem muito


mais do que eu”. O homem respondeu “É você que é mais extremo


nisso, pois eu abstenho-me de coisas numa vida que não permanecerá


e cujas recompensas são incertas, enquanto você abstém-se da akhira.


Ninguém poderia ser mais extremo em ‘passar sem’ do que isto”.


Normalmente, no entanto, quando falamos de zuhud, queremos


dizer que negamos a nós próprios alguns dos prazeres deste mundo em


vez dos prazeres do próximo. No entanto, só é possível abster-nos de


coisas às quais temos acesso. Isto é a razão pela qual Ibn Al-Mubarak


disse, quando uma pessoa lhe chamou “Ó Zahid!”: “O verdadeiro zahid é


‘Umar Ibn Abdal-Aziz, pois ele rejeitou os prazeres e riquezas tremendos


deste mundo que foram postos aos seus pés, enquanto que eu não tenho


muito para deixar”.


Al-Hasan Al-Basri disse: “Eu conheci pessoas e mantive companhia


com grupos que não regozijaram quando coisas deste mundo lhes


foram entregues, nem lamentaram quando perderam qualquer coisa


neste mundo. A vida neste mundo era mais insignificante para eles do


que poeira. Um deles podia viver por um ano ou por sessenta anos sem


ter uma vestimenta que o cubra inteiramente, e sem ter qualquer coisa


que o separe do chão, e sem ter qualquer comida que ele peça para lhe


ser preparada na sua própria casa.


Quando a noite chegava, eles estariam acordados, com as suas


testas lisas contra a terra, lágrimas a correr pelas suas faces, invocando


a Allah secretamente para os salvar no Dia do Juízo. Se eles fizessem


algo bom, nunca parariam de ser gratos por isso, e sempre pediam a Allah


para aceitá-lo. Se eles fizessem algo mau, ficavam tristes por isso, e


continuavam a pedir a Allah para os perdoar por isso. Por Allah, eles não


estavam salvos de más acções, e foram salvos só pelo seu arrependimento


constante. Que Allah esteja satisfeito com eles e lhes conceda da


Sua misericórdia.”


Há três estações de zuhud:


A primeira etapa é retirar-se da vida deste mundo, mesmo se tiver


ainda um grande desejo por ela e o coração for ainda atraído por ela. O


ego ainda está preocupado com o mundo, mesmo ao esforçar-se com


ele e ao restringi-lo.


47


A segunda etapa é adquirir desapego deste mundo e ‘passar


sem’ nele, para obter a recompensa por evitá-lo. Aqui é o ‘passar sem’


que preocupa a pessoa. Este é o estado da pessoa que oferece um


dirham para obter dois.


A terceira etapa é a de deixar o mundo de lado voluntariamente


sem pensar duas vezes pelo que abandonou. É aquele que trocou um


fragmento de um vaso partido por uma jóia.


Ou é como alguém que, procurando entrar para ver o Rei, pode


ser impedido por um cão no portão. Atirando uma migalha ao cão, distraio,


e isso possibilita a sua entrada para a câmara de audiência do Rei.


O Shaytan é como esse cão, esperando nos portões de Allah. Ele tenta


impedir as pessoas de entrar, mesmo que os portões estejam bem


abertos e o mundo seja só uma migalha que pode ser atirada de lado


sem pensar duas vezes.


48


DOZE


OS ESTADOS DO EGO


Há acordo entre os que procuram por Allah, apesar das suas diferentes


escolas de pensamento e práticas, de que o ego fica entre o coração


e o alcance d’Ele. Só silenciando o ego - evitando-o, ignorando os


seus desejos e ultrapassando-o - poderá levar a pessoa para o domínio


de Allah, sendo possível alcançá-Lo.


Há dois tipos de pessoas: um deles é aqueles cuja nafs as derrotou


e as levou à ruína porque se renderam e obedeceram aos seus impulsos;


o outro tipo é aqueles que superaram a sua nafs e a fizeram


obedecer às suas ordens.


Alguns dos que têm conhecimento disseram: “O caminho daqueles


que procuram por Allah termina quando eles superam os seus egos,


porque quem triunfa acima do seu ego tem sucesso e ganha, e quem


cujo ego triunfa acima dele perde.”


Allah, O Exaltado, diz:


“Então, quanto a quem cometeu transgressão e deu


preferência à vida terrena, por certo, o Inferno lhe


será morada. E quanto a quem temeu a preeminência


de seu Senhor e coibiu a alma das paixões, por


certo, o Paraíso lhe será a morada.” [79:37-41]


O ego incita às más acções, e à preferência desta vida acima da


próxima; enquanto que Allah diz aos Seus servos para O temerem, e


para restringirem o ego de seguir os seus impulsos. O coração é dividido


entre estes dois. Este ouve um lado por um momento e o outro no momento


seguinte. Aqui reside a fonte de aflição, e um desafio.


No Qur’an, Allah descreveu três estados do ego: o ego em paz, o


ego censurador de si mesmo, e o ego que incita ao mal. De acordo,


muitas pessoas variaram nas suas opiniões quanto a se um servo tem


um ego, do qual estes três estados são atributos, ou três egos.


A primeira opinião é das pessoas de conhecimento e explicação,


enquanto que a segunda foi atribuída aos sufis. A verdade é que não há


contradição entre as duas. O ego é uma entidade singular em relação à


49


sua essência, e é um dos três tipos principais, dependendo dos atributos


que tem.􀀁


􀀁


O Ego em Paz


Quando o ego consegue descansar na Presença de Allah, e fica


tranquilo quando o Seu Nome é invocado, e sempre deixa todos os assuntos


para Ele, e volta-se para Ele frequentemente, e fica impaciente


para O encontrar, e experiencia a intimidade da Sua proximidade, então


é uma alma em paz. É a alma à qual será dito no momento da morte:


“Ó alma tranquila! Retorna a teu Senhor,


agradada e agradável; Então, entra para junto de


Meus servos, e entra em Meu Paraíso.” [89:27-30]


Ibn Al-Abbas (! ضي لله عن ') disse: “É a alma crente e tranquila.”


Qatada disse: “É a alma do crente, acalmada pelo que Allah prometeu.


O seu dono está em completo descanso e contente com o seu


conhecimento dos Nomes e Atributos de Allah, e com o que Ele disse


sobre Ele Próprio e o Seu Mensageiro صلى الله عليه وسلم, e com o que Ele disse sobre


o que espera a alma depois da morte - sobre a partida da alma, a vida


no barzakh, e os eventos do Dia da Ressurreição que seguirão - tanto


que um crente assim poderia quase ver com os seus próprios olhos. Então


ele submete-se à vontade de Allah e rende-se a Ele contentamente,


nunca insatisfeito ou queixoso, e com a sua fé nunca abalada. Ele não


se regozija com os seus ganhos, nem as suas aflições o fazem desesperar,


pois ele sabe que estes foram decretados bem antes de lhe acontecerem,


mesmo antes de ele ser criado, visto que Allah diz:


‘Nenhuma desgraça ocorre sem que seja com a permissão


de Allah, E quem crê em Allah, Ele lhe


guiará o coração. E Allah, de todas as cousas, é


Onisciente.’ [64:11]”


Muitos dos nossos antepassados disseram que tal alma pertence


ao servo que, quando afligido por infortúnio, sabe que este vem de Allah


e aceita-o e submete-se à Sua vontade.


A paz que vem com ihssan brota de uma familiaridade tranquilizadora


com o decreto de Allah, que é refletido na submissão, sinceridade


e adoração. Nenhum desejo, ou vontade, ou força de hábito, podem ter



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