Dr Ragheb Elsergany
Tradução: Sh Ahmad Mazloum
Ao avaliar um trabalho a partir do ponto de vista estético, o valor da obra em si não é muito importante, como é a dimensão estética da obra que seria o foco de atenção. Pode-se encontrar em alguns produtos simples provas dos detalhes mais sutis da vida popular, indicando as altas habilidades técnicas dos seus fabricantes, bem como as necessidades de seus inventores e de seus proprietários.
Gustav Lobon menciona que o senso artístico é difundido evidente entre os árabes em toda parte, e as coisas produzidas pelos árabes foram produzidas de maneira maravilhosa, que indica a caracterização das produções mais comuns com o bom gosto artístico.[1]
A criatividade nos artigos islâmicos
Os formatos de infinito que constituem a decoração nas artes islâmicas podem ser vistas por toda parte. Isso é evidente não apenas nas páginas do Alcorão decoradas com maravilhosos modelos de escrita “Al Muasha”, mas qualquer coleção de histórias ou poemas dada a um califa ou emir também é ornamentada de forma similar. Essa decoração que reflete alteza não se resume só às mesquitas, mas também se destacam em hotéis, escolas e casas. Os formatos infinitos não estão somente nas capas de cadeiras sobre as quais se apóia uma cópia do Alcorão na mesquita, mas existe até mesmo no prato em que o muçulmano come, na proteção do soldado, na espada, bem como no lenço que cobre a cabeça, tudo isso é decorado de maneira similar. Portanto, a arte islâmica pode ser considerada como abrangente de forma singular, abrangendo todos os tipos de decoração, assim como todas as coisas enfeitadas independentemente do uso a que foram projetadas.[2]
A propagação da decoração em produtos islâmicos, não importa o quão importante eles são, é um dos fatos que são claros e não precisam de apresentação na civilização islâmica. Isso teve início muito cedo. É relatado que a espada que o Profeta Muhammad (a paz esteja com ele) deu ao seu companheiro Abu Dujana na Batalha de Uhud tinha uma escrita em um dos seus lados:
A covardia é uma vergonha, e a iniciativa é uma honra
E com a covardia, o indivíduo não escapa do destino (da morte).[3]
A poesia era, certamente a arte que particularmente satisfazia o árabe.
Os produtos islâmicos, então, se desenvolveram juntamente com a propagação civilizada do Estado islâmico, até que se atingiu esse nível magnífico. Lobon, que aparentemente se surpreendeu ao monitorar a arte islâmica, fala sobre jóias, ourives e encraves e diz: “Os árabes chegaram a um alto nível de domínio que dificilmente poderia ser alcançado em nosso tempo”.[4]
Todos os artigos islâmicos se transformaram em objeto de arte, as espadas, escudos, lanças, punhais, capacetes, cilindros de transmissão de mensagem, o mobiliário, incluindo cadeiras, mesas, caixas de jóias, caixas para guardar objetos variados, pratos, jarras, copos, bandejas, tinteiros, portas e janelas, roupas, têxteis, tapetes, selas, lâmpadas das mesquitas, púlpitos, castiçais, pratos de balança, chaves, fechaduras, anéis das portas, machados, artigos de papelaria, instrumentos médicos e até os canos de água, além de obras em que a decoração é um elemento essencial, como brincos, colares, anéis, tornozeleiras, turbantes, pedras preciosas e muitos outros acessórios.
Will Durant testemunha que os árabes não imitaram a arte de seus antecessores, mas a absorveram e produziram coisas novas e originais. Ele diz: “era uma brilhante combinação de diferentes formas, o que os muçulmanos aprenderam com outras nações não a desvaloriza. A arte Islâmica, que se espalhou por toda parte, desde Alhambra, na Espanha, até o Taj Mahal, na Índia, ultrapassou todos os limites de tempo e lugar. A arte islâmica zombava da discriminação racial, produziu um estilo único, porém diversificado, e representou o espírito humano de maneira rica e educada, de uma forma que jamais alguém superou até aquele tempo.[5]
Os autores do livro “O Atlas da Civilização Islâmica” crêem que o ornamento islâmico, através de seus padrões infinitos, reflete o monoteísmo. E sua difusão em todas as coisas reflete a idéia islâmica, que obriga o muçulmano a adotar a ideologia islâmica em todas as suas atividades.
Por isso, o artista muçulmano – por exemplo – ao decorar uma caixa de madeira simples, para guardar seus materiais de escrita, com peças de marfim, conchas e pedaços de madeira colorida de uma forma que o material de madeira original tornou-se irrelevante ou mesmo desconhecido, sem se saber se a madeira é carvalho, teca ou mogno. A mesma coisa se aplica a grandes palácios cujos materiais de construção foram totalmente escondidos sob a superfície da ornamentação. Isto incorpora a idéia de que não importa o valor real dos materiais originais, o que torna a beleza independente do valor material. Esta é a essência do conceito islâmico simples e ascético no valor material, que faz o encanto conferir beleza nas coisas simples e de menor valor. Tudo isso dá à beleza primeiramente o valor mais alto na consciência humana.[6]
Essa visão, que reflete a filosofia artística do Islam, é em si uma contribuição que deve ser cuidadosamente considerada e devem ser estudados os seus efeitos profundos sobre a formação da consciência islâmica, bem como a visão humana do universo, da vida, da natureza e da divindade.
As imagens seguintes mostram como a beleza era um elemento básico, que se espalhou em todas as obras islâmicas, qualquer que seja sua importância:
[1] Gustav Le Bon: A civilização dos árabes p 507.
[2] Ismaeil Ragi Al-Farouqi e Luse Lamia Al-Farouqi: Atlas Al-Hadarah Al-Islamiya (Atlas da Civilização Islâmica) p 539.
[3] Al-Sira Al-Halabiya (Biografia de Halab) 2 / 497.
[4] Gustav Le Bon: A civilização dos árabes p 511.
[5] Will Durant: História da Civilização 13/240.
[6] Ismail Raji al Faruqi e Lois Lamya al Faruqi: O Atlas Cultural do Islam P 540.