Rafaela Maximiano - Da Redação
O impacto provocado pela pandemia do novo coronavírus não escolhe cor, gênero, classe social ou religião. E, é fato que essa nova doença coloca a inteligência humana diante do desafio de descobrir como enfrentá-la. Essa descoberta não se restringe ao campo técnico científico, coloca-se também os desafios socioculturais, o que admite uma reflexão sobre como as religiões estão aprendendo a lidar com a “nova” situação.
A crise na saúde era fato previsto e requer bem mais do que distanciamento social recomendado pelas autoridades sanitárias. O ano atípico de 2020, exige da sociedade reflexões e disposição para mudanças.
Como os líderes religiosos estão avaliando esse momento de pandemia? O FocoCidade ouviu cinco deles, que falam que o momento vivido somado às comemorações de Natal e de virada de ano, ensinam a valorizar o que há de mais imprescindível: o amor e a solidariedade.
Dos Cristãos, protestantes, muçulmanos às religiões afro-brasileiras, há uma compreensão de que ao mesmo tempo em que o momento atual provoca sofrimento, também contribui para a evolução das pessoas.
Confira na Entrevista da Semana especial a compreensão de líderes religiosos sobre o momento atual, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito; e, o que esperam para 2021.
Padre Deusdédit Monge - Padre diocesano da Arquidiocese de Cuiabá - Vigário Geral da Arquidiocese de Cuiabá e Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria.
- Tendo em vista essa nova doença que se transformou em pandemia mundial, a Covid-19, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito?
Nós estamos vivendo este tempo de pandemia, 2020 foi um ano muito difícil, todos nós aprendemos com esta nova realidade, mas temos que redobrar a atenção nos protocolos de biossegurança que já foram assimilados por toda nossa sociedade e população e devemos cuidar sempre porque por enquanto a única vacina segura que temos é a prevenção, com máscaras, com o distanciamento social e com a higienização frequente das mãos. É mais barato prevenir do que remediar, então penso que é importante continuarmos nessa batalha, nessa conscientização da prevenção, sai mais barato do que remediar a cura.
E, para mantermos a paz de espírito nesse momento, vejo a necessidade desse encontro com Deus. Essa pandemia trouxe uma grande interrogação para todos, as pessoas puderam buscar a vida interior, a reflexão, a oração porque a verdadeira paz e alegria nós não encontramos em nenhum lugar a não ser no encontro com Deus e Jesus Cristo.
Jesus Cristo é a fonte da verdadeira paz e da verdadeira alegria. Só quem vive na companhia de Deus e de Jesus Cristo, vive esta serenidade pessoal, esta paz de espírito.
- Qual sua mensagem à população para as festas de final de ano e o que podemos esperar de 2021?
Penso que este foi o Natal de silêncio, mais dentro da família, com poucas pessoas sem aglomerações. Mas isto não tirou o brilho e o esplendor deste mistério de fé. Mesmo que no aconchego familiar com poucas pessoas, nós estamos unidos à toda humanidade, a todos os amigos e amigas, a todas as pessoas que amamos. Apesar do isolamento, do distanciamento, nós podemos dar um abraço imaginário em todas as pessoas que amamos. Também devemos lembrar daquelas pessoas que não amamos tanto, que são os nossos desafetos, nós temos que orar por essas pessoas, perdoar essas pessoas e viver o Natal e a virada de ano com o coração reconciliado. Então espero que esse este final de ano traga esperança na vida sobretudo com o advento das vacinas, que nós esperamos que sejam para todas as pessoas, e, que ninguém fique excluído.
Esperamos que em 2021, essa cobertura da vacina contra a Covid-19 atinja todos os grupos principalmente os mais vulneráveis. Que não haja privilegiados e privilegiadas. Também desejamos que 2021 possa ser melhor, possa trazer a vida à normalidade e possamos voltar a celebrar a alegria na companhia das pessoas que amamos. Desejamos a todos um feliz, santo e renovador ano de 2021. Que Deus abençoe a todos.
Sheikh Abdusalam Almansori, - o sheikh da mesquita de Cuiabá.
- Tendo em vista essa nova doença que se transformou em pandemia mundial, a Covid-19, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito?
Do nosso ponto de vista, e com base nos ensinamentos islâmicos, quero confirmar três obrigações para podermos enfrentar covid19: O primeiro dever da sociedade em geral é entregar o assunto aos especialistas, pesquisadores médicos, sejam eles indivíduos ou instituições, "Perguntai aos adeptos da sabedoria, se vocês não sabem!"(O Sagrado Alcorão, 21:7), acreditamos que a pandemia da Covid-19 é em si um problema emergente difícil, mas a intervenção de não especialistas fez dele ainda mais complicado, pois nos ensinamentos do Islã há total respeito pelas especializações, e os assuntos devem ser devolvidas àqueles que têm conhecimento, profundo no assunto. Muitas pessoas os discutem sem conhecimento, e ninguém tem direito de tomar decisões sem retornar para consultar os homens de especialização.
Segundo e o terceiro: a fé e a confiança em Deus, enquanto tomar todas as medidas e precauções necessárias para prevenir e proteger contra doenças, pois no Sagrado Alcorão, no capítulo de Maria diz – que a paz de Deus esteja com ela - ao nascimento de Jesus, que a paz esteja com ele, Deus ordenou que ela pegasse as razões, motivos para obter os frutos da árvore, dizendo: 25. "E sacode o tronco da tamareira, de onde cairão sobre ti tâmaras maduras e frescas." (Alcorão Sagrado, 19:25), embora que ela estava no momento de parto, e normalmente a mulher fica muito debilitada, mas Deus guiou a ela a tomar as razões. Com certeza Deus nos guiará neste momento difícil também.
Qual sua mensagem à população para as festas de final de ano e o que podemos esperar de 2021?
Nossa mensagem ao receber o novo ano é aprender com nossos erros, reorganizar nossa vida, consertar nossa relação com Deus e investir nosso tempo em fazer o bem, porque o tempo não para, mas nossa vida pode parar a qualquer momento.
Pastor Silas Paulo de Souza, presidente da Assembleia de Deus em Cuiabá e Região e vice-presidente da Comademat - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de Mato Grosso.
- Tendo em vista essa nova doença que se transformou em pandemia mundial, a Covid-19, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito?
Estamos chegando ao final de um ano difícil e doloroso, em virtude dos significativos impactos provocados pela pandemia do Covid-19. Até este momento, o mundo ainda está tentando lidar com essa doença que tem provocado mortes, medo e ansiedade, assim como demonstrando a fragilidade do ser humano. A dor suportada por muitos de nós pela perda de amigos e entes queridos ainda nos espreita e aperta o nosso coração. Nesse momento, quando caminhamos para o final do ano, é tempo de recordar duas mensagens importantes da fé cristã: responsabilidade e esperança.
A fé cristã, em primeiro lugar, nos conclama à responsabilidade para cuidar de nós e do outro. Esse cuidado está fundamentado no segundo mandamento de Jesus Cristo: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22.39). É por causa desse amor responsável que ao longo da história os cristãos têm dado um testemunho vibrante e compassivo de ajuda e apoio em época de dor e sofrimento.
Em nossos dias, esse testemunho envolve a necessidade de observância das medidas de higiene, proteção e segurança sanitária, necessárias para a preservação da saúde e da vida das pessoas.
Em segundo lugar, em especial, precisamos recordar da verdadeira esperança que se encontra no cerne do Evangelho de Cristo. Em tempos de pandemia, quando o medo, a ansiedade e a desesperança tomam conta da vida das pessoas, é tempo de reacender a chama da esperança cristã. Não o mero otimismo humano, mas a legítima confiança que se firma na fé em Deus (Hebreus 11.1) e na força do seu poder.
Somente a verdadeira esperança é capaz de dar paz ao espírito quando as coisas não vão bem; acalmar o coração quando as adversidades chegam. Lembro do conselho do apóstolo Paulo: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4.6,7).
Qual sua mensagem à população para as festas de final de ano e o que podemos esperar de 2021?
Portanto, ao nos encaminharmos para o final de 2020 e início de 2021, é tempo de buscarmos a Deus em oração e súplica. É tempo de agradecê-lo por tudo, afinal, nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28), e nada acontece fora do seu propósito. Mas, também é tempo de arrependimento e contrição, para que o ser humano reconheça sua condição pecadora, suas limitações e dependência divina. É tempo de nos voltamos para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12.2).
Iyalorixá Edna T’Oxum, conhecida como Mãe Edna de oxum, presidente da Casa de Axé da Sociedade Espiritual de Oxogbô da Orixá Oxum.
Tendo em vista essa nova doença que se transformou em pandemia mundial, a Covid-19, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito?
Vejo essa pandemia mundial como uma grande peste. Uma das pestes que foi ditada no começo do mundo, isso veio para que as pessoas se tornem mais humildes, para que as pessoas tenham mais amor ao próximo, também veio para unir as famílias.
Qual sua mensagem à população para as festas de final de ano e o que podemos esperar de 2021?
Para este final de ano, que cada um curta sua família, amigos, nunca deixe de falar eu te amo, porque o amor é o que vai vencer tudo nesta vida. Só o amor vence a doença, qualquer coisa na vida: amor. A palavra para este final de ano é amor.
Diga à pessoa mais próxima, seja amigo ou família, enquanto ela pode ouvir: eu te amo. Por que assim em um dia, numa hora, num minuto ela pode não mais ouvir. Diga enquanto ela possa ouvir, sorrir e chorar com o seu: eu te amo.
Pastor Teobaldo Witter da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
Tendo em vista essa nova doença que se transformou em pandemia mundial, a Covid-19, como manter a atenção total às medidas de segurança e, ao mesmo tempo, preservar a paz de espírito?
As medidas de segurança são necessárias, importantes e fundamentais, não tem como ficar de fora. Não existe questão econômica mais sensata, sábia do que preservar as medidas de segurança. São elas que irão garantir a nossa vida. Devemos usar as máscaras, álcool em gel ao sair não provocar aglomerações. Temos que cuidar da alimentação nossa e das pessoas que amamos.
Na igreja, por exemplo, levamos as celebrações para os bairros, visitamos cada pessoa e abençoamos as pessoas do portão da casa onde residem, à distância com toda segurança. E, estamos celebrando cultos com números de pessoas pré-definidas, entendemos que esta é a forma mais sabia para ter uma vida saudável.
Temos que lembrar que quando Jesus nasceu, Deus mandou o anjo dizer para Maria e José que fugissem para o Egito que o rei queria matá-los. Então era para se esconder, se cuidar. Cuidado hoje é o principal fator da nossa vida, nada de dizer que nós somos grandes e Deus não vai permitir que fiquemos doente. Deus manda nos dizer através da ciência, dos cientistas, sejamos ricos ou pobres, para nos cuidarmos e passarmos por este período com dignidade. Esta é uma questão teológica de fé e também de comunhão.
E, a paz de espírito não depende das coisas grandes ou pequenas que a gente tem ou ganha, ela é consequência daquilo que a gente percebe e entende como vida digna, vida de fé, de esperança e amor, Que possamos fazer nossos encontros na família, podemos ler a bíblia, mensagens na internet ou textos de reflexão, àquelas mensagens que nos valorizam enquanto seres humanos. A paz de espírito vem de Deus.
Qual sua mensagem à população para as festas de final de ano e o que podemos esperar de 2021?
Devemos celebrar as festas de final de ano jogando fora a arrogância, o poder do dinheiro, e depositar toda nossa confiança em Deus. Precisamos nos amar e ter comunhão com as pessoas que mais precisam como: imigrantes, pessoas em situação de rua, as com liberdade privada; precisamos de mudança de postura, de visão de vida.
Para 2021 é importante que nos esforcemos para tratar da saúde, tomar a vacina, importante processo de cura. Queremos nos encontrar, nos abraçar, celebrar em comunhão, ter refeições juntos, mas vamos esperar que o tempo traga a cura. A covid deixou marcas no corpo e na alma das pessoas. Familiares faleceram, as estatísticas mostram muitos números mas atrás desses números existem vidas, pessoas sofrendo. Que 2021 possa nos libertar desse sofrimento e nos ajudar a sermos pessoas melhores e mais felizes, são os nossos votos.