VESTÍGIOS QUE TRANSPÕEM TEMPOS E LOCAIS
AMINUDDIN MUHAMMMAD
Todo o Ser Humano vive o tempo que Deus lhe predestinou, e depois morre. Contudo, há entre
as pessoas, aquelas que morrem, morrendo também a sua menção, como se nunca tivessem
existido, não obstante terem sido em vida, detentoras de grandes riquezas, de títulos
académicos, de honra, de força, de fama, de poder, etc.
Todavia, depois de terem deixado esta vida, não resta delas nenhum vestígio que possa ser
mencionado, e assim o seu nome fica para sempre apagado. E não é difícil comprovar esta
asserção, pois caso alguém o queira, que visite qualquer cemitério urbano antigo, e lá verá
luxuosos jazigos de pessoas que morreram há largas décadas, mas que caíram no anonimato.
Por outro lado, há gente que morre, o seu corpo se decompõe e se desintegra, mas o seu nome
eterniza-se entre as pessoas e povos, sendo orgulhosa e saudosamente mencionada de forma
frequente. A morte é uma verdade, assim como a ressurreição e o Mundo também o são. Mas
felizardo é aquele que trabalha para aquilo que merece a eternidade e subjuga o seu mundo à
vida depois da morte.
O Profeta Muhammad (S) exorta cada um de nós a deixar um legado valioso para depois da sua
morte, e de cuja recompensa ele se possa beneficiar no dia em que se encontrará com o seu
Senhor. E é tão bom e tão desejável que esse vestígio seja algo de valor perante as pessoas, para
que a recompensa que vier a obter possa ser engrandecida.
O Profeta Muhammad (S) diz: “Quando o Ser Humano morre, cessam as suas acções, excepto
em três casos: se tiver praticado uma caridade contínua; se tiver deixado como legado algum
conhecimento que continue beneficiando a sociedade; e se tiver deixado um/a filho/a piedoso/a
que ore sempre a seu favor”. (Relato de Musslim)
O Profeta Muhammad (S) morreu, mas deixou inúmeros e incontáveis vestígios que se traduzem
na orientação das pessoas, e na mudança do estado de ignorância e superstição em que viviam,
para a luz. Tirou-as da situação de comunidade esquecida, que vivia permanentemente em
conflitos internos, para passarem a ser a melhor comunidade alguma vez surgida na Terra.
Depois do Profeta (S), passaram por esta vida muitas outras figuras ilustres, que deixaram um
legado que até hoje testemunha a sua passagem pela Terra. Gente abençoada cuja contribuição
em prol da Humanidade se traduz por exemplo, na construção de escolas, hospitais, orfanatos,
etc.
Cada um de nós deve esforçar-se por conseguir ter uma boa morte, devendo perguntar-se a si
próprio sobre qual será o seu destino e fim depois de fechar os olhos para sempre.
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A resposta a isso está no Al-Qur’án, Cap. 11, Vers. 105 – 108:
“Quando tal dia chegar, ninguém se atreverá sequer a falar, senão com Sua permissão; E entre
eles haverá alguns desgraçados, e outros venturosos.
Quanto aos desventurados, estarão no fogo onde haverá para eles gritos (violentos) e suspiros;
Onde permanecerão eternamente, enquanto existirem os Céus e a Terra, excepto se o seu
Senhor desejar (outra coisa). Certamente, o teu Senhor faz tudo o que Lhe apraz.
E quanto aos que forem (destinados a serem) felizes, estarão no Paraíso onde permanecerão
eternamente, enquanto existirem os Céus e a Terra, excepto se o teu Senhor desejar (outra
coisa).
Uma dádiva sem interrupção”.
Portanto, existem dois grupos, dois vestígios e dois destinos, havendo uma enorme diferença
entre os dois grupos, seu comportamento e seu vestígio.
O outro grupo é o dos desgraçados que semeiam o mal na Terra, sendo gente de baixo carácter.
São maldosos, arrogantes e perversos, do tipo Faraó, e dos seguidores de Satanás, que deixam
atrás vestígios maus. As suas acções não são boas, sendo por isso que ninguém tem saudades
deles, de tal forma que as criaturas chegam a sentir um profundo alívio pela sua morte. É
evidente que estes não são positivamente recordados.
Tempo é vida, pelo que devemos dar-lhe grande importância, organizando-o e aproveitando-o,
ao fazer algo de útil a nosso favor, para que fique como vestígio, servindo aos que vierem depois
da nossa partida para a vida eterna, e não desperdiçá-lo em passatempos e divertimentos fúteis.
O tempo é também o nosso capital e ao mesmo tempo o nosso lucro. Se o não usarmos no bem,
ele nos usará no mal, pois por cada dia que passa, por cada dia que vai, vai-se também uma
parte de nós.
[Shk. Aminuddin Muhammad, aos 11 de Fevereiro de 2016]
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