A CRISE ECONOMICA
Recessão, dívidas, bancarrota, inflação, alta de preços, crise económica,
etc., são termos que se tornaram comuns, fazendo parte da conversação diária
tanto de políticos como de economistas e até mesmo do cidadão comum.
Vive-se por todo o lado um ambiente de desânimo e desespero. Mas é
necessário que paremos por um momento para reflectirmos sobre as razões que
concorrem para as dificuldades por que passamos, por forma a que encontremos
formas de ultrapassá-las.
Antes de tudo o mais, devemos reafirmar a nossa fé no facto de que
somente Deus é o Provedor, é o Sustentador. Os seus tesouros são infinitos e
inesgotáves. Qual então a razão para a ocorrência de tantas dificuldades?
De acordo com o Alcorão, a obediência completa a Deus trará prosperidade,
e a rejeição ou indiferença trará miséria e dificuldades.
Observar as cinco orações diárias (Salat), especialmente em congregação,
também facilita a aquisição da provisão, pois Deus diz no Cap. 20, Vers. 132 do
Alcorão: “E ordena (ó Muhammad) à tua família a oração, e sê constante, tu
também. Nós não te pedimos sustento. Nós é que te sustentamos”.
Pedir perdão com sinceridade, e arrepender-se dos pecados cometidos,
também atrai a misericórdia de Deus, assim como consta no Cap. 71, Vers. 132 do
Alcorão: “E Noé disse-lhes: implorai perdão a vosso Senhor, por certo Ele é
Perdoador. Ele enviar-vos-á do céu chuvas abundantes, e aumentar-vos-á em
riquezas e filhos”.
Hoje, a ira de Deus abateu-se sobre nós devido às nossas más acções, sendo
por isso que sofremos as consequências. O Profeta Muhammad S.A.W. diz que “A
caridade apaga a ira de Deus”.
Portanto, as condições económicas adversas, não devem constituir óbice à
prática regular de caridade, pois um sorriso de simpatia, uma carícia afectuosa a
um órfão ou a uma criança, o plantio de uma árvore de sombra ou de fruta, são
também formas de caridade.
Uma quantia aparentemente magra, dada com sinceridade, é
extremamente valiosa perante Deus. A prática de caridade nunca diminui a nossa
riqueza, antes pelo contrário, só a aumenta, assim como Deus prometeu.
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Enquanto o Profeta enfatizou estes aspectos, deu-nos também alguns
conselhos práticos no que respeita ao maneio financeiro, dizendo: “A moderação
nos gastos é uma metade da subsistência”.
A manutenção de um estilo de vida para além daquilo que as condições
financeiras permitem, é uma grande incoerência. Não se deve continuar levando
uma vida de “lord” quando os negócios estão em queda e a recessão afecta a
todos.
Moderação e simplicidade devem ser uma constante na vida de cada um,
não nos devendo preocupar com a aparência. É mais respeitável e mais honrado,
tanto neste como no outro mundo vender a mansão e viver num pequeno
apartamento alugado, ou vender o carro luxuoso para usar um outro mais
modesto, do que tentar manter a aparência que só nos leva à bancarrota, em
prejuízo dos nossos credores.
Também é incoerente tentar viver tomando como padrão o nível de vida
dos abastados. É preferível olhar para aqueles que têm menos sorte para assim
estar-se contente com o que se tem, do que pretender ombrear com os grandes
magnatas da praça.
Muita gente com dificuldades financeiras tenta resolvê-las recorrendo a
empréstimos com juros. Esta não é a melhor solução do problema, mas sim o seu
agravamento. Muita gente assistiu ao desmoronamento dos seus “impérios”
devido à prática de juros. O Profeta Muhammad S.A.W. disse: “Deus amaldiçoou
esse que consome o juro, esse que paga o juro, o que serve de testemunha na
transacção com juros, e ao escrivão que o regista”.
Os juros provocam a ira de Deus, e por isso quem a eles recorre, agrava o
seu problema devido à maldição de Deus.
Nestes tempos de recessão e crise, muita gente não consegue honrar os
seus compromissos pagando a tempo aos seus credores. Em tais casos o devedor
com os pagamentos em atraso deve enfrentar o credor evitando entrar no jogo
das “escondidas”. Deve igualmente abster-se de promessas falsas, pois isto
normalmente faz com que ele invente muitas outras mentiras para encobrir as
anteriores. A franqueza sempre é preferível quando se enfrentam os credores, e a
eles devem-se colocar as dificuldades que se enfrentam, tentando chegar a um
acordo sobre o pagamento, mesmo nos casos em que se tenha entrado em
falência.
Abrir falência não significa isenção de pagamento das dívidas. Cada centavo
deve ser pago ao credor, salvo se este optar pelo perdão da dívida. Consta no Cap.
2, Vers. 280 do Alcorão: “E se um devedor está em dificuldades e não consegue
pagar as suas dívidas, concedei-lhe uma moratória até que se recupere, mas se lhe
perdoardes, será melhor para vós. Se soubésseis”.
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Por isso, nestes casos o pagamento da dívida deve ser a nossa maior
prioridade, devendo igualmente eliminar tudo o que constitua luxo, limitando-nos
ao mínimo para suprir as necessidades básicas.
Se a dívida não for paga aqui no mundo, no dia do Juízo Final as boas acções
do devedor serão creditadas na folha do credor para compensá-lo. Caso estas
acções se esgotem, então as más acções do credor são debitadas na folha do
devedor.
O Profeta disse: “Todos os pecados de um mártir são perdoados, excepto as
dívidas”.
Ele não performava o Salatul Janaza (oração fúnebre) ao defunto cujas
dívidas ainda estivessem por liquidar e o seu espólio não fosse suficiente para tal.
Diz ainda o Profeta: “Quem deseja ser abençoado com a sombra da
misericórdia de Deus no Dia em que não haverá outra sombra, então esse que seja
generoso para com o devedor que está em dificuldades ou então que lhe perdoe”.
E acrescenta: “Quem deseja que as suas súplicas sejam atendidas, ou que as suas
dificuldades sejam afastadas, então esse deve ser bondoso, concedendo moratória
ao devedor em dificuldades”.
Melhor ainda do que a moratória é perdoar a dívida desse seu irmão, pois
Deus recompensá-lo-á como se tivesse praticado um acto de caridade.
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