Vitor de Tununa, um bispo africano do século seis relatou em sua Crônica (566 AD) que quando Messala foi cônsul em Constantinopla (506 AD), ele “censurou e corrigiu” os Evangelhos gentílicos escritos por pessoas consideradas analfabetas pelo imperador Anastácio. A implicação foi que foram alterados para se adequarem ao Cristianismo do século seis que diferia do Cristianismo dos séculos anteriores.[1]
Essas “correções” não estavam de forma alguma confinadas aos primeiros séculos depois de Cristo. Sir Higgins diz:
“É impossível negar que os monges beneditinos de Saint Maur, com relação às línguas latina e grega, eram muito letrados e talentosos, assim como muitos grupos de homens. Em ‘Life of Lanfranc, Archbishop of Canterbury’ (Vida de Lanfranc, Arcebispo de Canterbury, em tradução livre) de Cleland, existe a seguinte passagem: ‘Lanfranc, um monge beneditino, Arcebispo de Canterbury, ao constatar as escrituras muito corrompidas por copistas, se aplicou para corrigi-las, assim como os escritos dos patriarcas, em conformidade com a fé ortodoxa, secundum fidem orthodoxam.”[2]
Em outras palavras, as escrituras cristãs foram reescritas para se adequarem às doutrinas dos séculos onze e doze, e até os escritos dos fundadores da igreja primitiva foram “corrigidos” para que as mudanças não fossem descobertas. Sir Higgins prossegue dizendo: “O mesmo divino Protestante tem essa passagem notável: ‘A imparcialidade exige de mim a confissão, de que os ortodoxos alteraram os Evangelhos em alguns lugares’”.
O autor então prossegue demonstrando como um esforço maciço foi empreendido em Constantinopla, Roma, Canterbury e no mundo cristão em geral para “corrigir” os Evangelhos e destruir todos os manuscritos anteriores a esse período.
Teodoro Zahan, ilustrou os profundos conflitos dentro das igrejas estabelecidas nos Artigos do Credo Apostólico. Ele destaca que os católicos romanos acusam a Igreja Ortodoxa grega de remodelar o texto das escrituras sagradas por adições e omissões, com boas e más intenções. Os ortodoxos gregos, por outro lado, acusam os católicos romanos de se desviarem em muitos lugares do texto original. Apesar de suas diferenças, ambos unem forças para condenar os cristãos não-conformistas de desvio do “caminho verdadeiro” e condená-los como hereges. Os hereges por sua vez condenam os católicos por terem “cunhado novamente a verdade como ferreiros.” O autor conclui “Fatos não suportam essas acusações?”
14. “E também aceitamos a promessa daqueles que disseram: Somos cristãos! Porém, esqueceram-se de grande parte do que lhes foi recomendado, pelo que disseminamos a inimizade e o ódio entre eles, até ao Dia da Ressurreição. Deus os inteirará, então, do que cometeram.
15. Ó adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro para mostrar-vos muito do que ocultáveis do Livro e perdoar-vos em muito. Já vos chegou de Deus uma Luz e um Livro lúcido,
16. Pelo qual Deus conduzirá aos caminhos da salvação aqueles que procurarem a Sua complacência e, por Sua vontade, tirá-los-á das trevas e os levará para a luz, encaminhando-os para a senda reta.
17. São blasfemos aqueles que dizem: Deus é o Messias, filho de Maria. Dize-lhes: Quem possuiria o mínimo poder para impedir que Deus, assim querendo, aniquilasse o Messias, filho de Maria, sua mãe e todos os que estão na terra? Só a Deus pertence o reino dos céus e da terra, e tudo quanto há entre ambos. Ele cria o que Lhe apraz, porque é Onipotente.
18. Os judeus e os cristãos dizem: Somos os filhos de Deus e os Seus prediletos. Dize-lhes: Por que, então, Ele vos castiga por vossos pecados? Qual! Sois tão-somente seres humanos como os outros! Ele perdoa a quem Lhe apraz e castiga quem quer. Só a Deus pertence o reino dos céus e da terra e tudo quanto há entre ambos, e para Ele será o retorno.
19. Ó adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro, para preencher a lacuna (na série) dos mensageiros,a fim de que não digais. Não nos chegou alvissareiro nem admoestador algum! Sim, já vos chegou um alvissareiro e admoestador, porque Deus é Onipotente.” (Alcorão 5:14-19)
O próprio Santo Agostinho, um homem reconhecido e consultado tanto por protestantes quanto por católicos, professou que existiam doutrinas secretas na religião cristã e que:
“... existiam muitas coisas verdadeiras na religião cristã que não era conveniente para o vulgar [pessoa comum] saber, e algumas coisas eram falsas, mas era conveniente para o vulgar acreditar nelas.”
Sir Higgins admite:
“Não é injusto supor que nessas verdades ocultadas temos parte dos mistérios cristãos modernos, e penso que dificilmente será negado que a igreja, cujas autoridades mais altas mantiveram essas doutrinas, não teve escrúpulos em retocar as escrituras sagradas.”[3]
Mesmo as epístolas atribuídas a Paulo não foram escritas por ele. Após anos de pesquisa, católicos e protestantes concordam que das treze epístolas atribuídas a Paulo apenas sete são genuinamente dele. São elas: Romanos 1, Coríntios 2, Gálatas, Filipenses, Filemom e Tessalonicenses 1.
Denominações cristãs não concordam nem mesmo sobre a definição do que é exatamente um livro “inspirado” de Deus. Os protestantes são ensinados que existem 66 livros verdadeiramente “inspirados” na Bíblia, enquanto que os católicos são ensinados que existem 73 livros verdadeiramente “inspirados”, sem mencionar muitas outras denominações e seus livros “mais novos”, como os mórmons, etc. Como veremos brevemente, os primeiros cristãos, por muitas gerações, não seguiram nem os 66 livros dos protestantes nem os 73 livros dos católicos. Muito pelo contrário, eles acreditavam nos livros que, muitas gerações depois, foram “reconhecidos” como fabricações e apócrifos por uma época mais iluminada do que a dos apóstolos.
Bem, de onde todas essas Bíblias vêm e por que a dificuldade em definir qual é realmente a palavra “inspirada” de Deus? Elas vêm de “manuscritos antigos” (também conhecidos como MSS). O mundo cristão hoje apresenta um excesso de 24.000 “manuscritos antigos” da Bíblia todos datando do século quatro depois de Cristo (mas não da época de Cristo ou dos apóstolos). Em outras palavras, temos conosco evangelhos que datam do século em que os trinitaristas assumiram o controle da Igreja Cristã. Todos os manuscritos anteriores a esse período estranhamente pereceram. Todas as Bíblias em existência hoje são compiladas desses “manuscritos antigos”. Qualquer estudioso da Bíblia nos dirá que não existem dois manuscritos exatamente idênticos.
As pessoas hoje geralmente acreditam de só existe UMA Bíblia e UMA versão de qualquer verso da Bíblia. Isso está longe de ser verdade. Todas as Bíblias em nossas mãos hoje (como a do Rei Jaime, NVI, etc.) são o resultado de um extenso recortar e colar desses vários manuscritos sem nenhum deles atuando como a referência definitiva. São casos incontáveis em que um parágrafo aparece em um “manuscrito antigo”, mas não aparece em muitos outros. Por exemplo, Marcos 16: 8-20 (doze versos inteiros) não aparece nos manuscritos mais antigos disponíveis hoje (como o manuscrito sinaítico, o Vaticano 1209 e a versão armênia), mas aparece em “manuscritos antigos” mais recentes. Também existem muitos casos documentados em que até as localizações geográficas são completamente diferentes de um manuscrito antigo para outro. Por exemplo, no “manuscrito pentateuco samaritano”, o Deuteronômio 27:4 fala de “monte Gerizim”, enquanto que o “manuscrito hebreu” o mesmo verso fala de “monte Ebal.” De Deuteronômio 27: 12-13 podemos ver que esses são dois locais totalmente diferentes. Da mesma forma, Lucas 4:44 em alguns “manuscritos antigos” menciona “sinagogas da Judéia”, enquanto que em outros menciona “sinagogas da Galiléia.” Essas são apenas amostras. Seria necessário um livro para uma lista abrangente.
Existem inúmeros exemplos na Bíblia em que versos de natureza questionável são incluídos no texto sem qualquer aviso ao leitor de que muitos estudiosos e tradutores fazem sérias reservas em relação às suas autenticidades. A Bíblia do Rei Jaime (também conhecida como “Versão Autorizada”), a única nas mãos da maioria da Cristandade hoje, é uma das mais notórias a esse respeito. Não dá ao leitor nenhuma pista quanto à natureza questionável desses versos. Entretanto, traduções mais recentes da Bíblia estão agora começando a ser um pouco mais honestas e acessíveis a esse respeito. Por exemplo, a Nova Versão Revisada da Bíblia, da Oxford Press, adotou um sistema extremamente sutil de colocação de parênteses duplos ([[ ]]) nos exemplos mais evidentes desses versos questionáveis. É altamente improvável que o leitor casual perceba a verdadeira função desses parênteses. Estão lá para dizer ao leitor informado que os versos marcados são de uma natureza altamente questionável. Alguns exemplos são a história da “mulher tomada em adultério” em João 8:1-11, Marcos 16:9-20 (ressurreição e retorno de Jesus) e Lucas 23:34 (que, muito interessantemente, está lá para confirmar a profecia de Isaías 53:12)... e assim por diante.
Por exemplo, com relação a João 8:1-11, os comentadores dessa Bíblia dizem em letras muito pequenas no rodapé:
“As autoridades mais antigas não têm 7.53-8.11; outras autoridades acrescentam a passagem depois de 7.36 ou depois de 21.25 ou depois de Lucas 21.38 com variações de texto; algumas marcam o texto como duvidoso.”
Com relação a Marcos 16:9-20, nos é dada, estranhamente, a escolha de como gostaríamos que o Evangelho de Marcos terminasse. Os comentadores forneceram um “final curto” e um “final longo”. Então, nos é dada uma escolha do que preferimos que seja a “palavra inspirada de Deus.” Mais uma vez, no fim desse evangelho em letras muito pequenas, os comentadores dizem:
“Algumas das autoridades mais antigas terminam o livro no fim do verso 8. Uma autoridade conclui o livro com um final mais curto; outras incluem o final mais curto e então continuam com os versos 9-20. Na maioria das autoridades, os versos 9-20 seguem imediatamente o verso 8, embora em algumas dessas autoridades a passagem esteja marcada como duvidosa.”
O Comentário de Peake sobre a Bíblia registra:
“Agora é geralmente aceito que 9-20 não são uma parte original de Marcos. Não são encontrados nos MSS mais antigos e, de fato, aparentemente não estavam nas cópias usadas por Mateus e Lucas. Um manuscrito armênio do século 10 atribui a passagem a Aristion, o presbítero mencionado por Papias (ap. Eus. HE III, xxxix, 15).
“De fato, uma tradução armênia de São Marcos foi descoberta muito recentemente, na qual os últimos doze versos de São Marcos são atribuídos a Aristion, conhecido como um dos primeiros dos fundadores da Igreja Cristã; e é muito possível que essa tradição esteja correta.”
“Our Bible and the Ancient Manuscripts,” (“Nossa Bíblia e os Manuscritos Antigos”), F. Kenyon, Eyre and Spottiswoode, pp. 7-8
Nesse ponto esses versos estão destacados como tendo sido narrados de forma diferente em diferentes “autoridades”. Por exemplo, é dito pelos comentadores que o verso 14 teve as seguintes palavras acrescentadas em algumas “autoridades antigas”:
“e se justificaram dizendo ‘Essa época sem lei e descrente está sob Satanás, que não permite que a verdade e o poder de Deus prevaleçam sobre as coisas impuras dos espíritos. Assim, revelem sua retidão agora” falaram para Cristo e Cristo lhes respondeu “O termo dos anos do poder de Satanás foi cumprido, mas outras coisas terríveis se aproximam. E por aqueles que pecaram fui entregue para a morte, para que possam retornar à verdade e não pequem mais, para que possam herdar a glória espiritual e imperecível da virtude que está no paraíso.”
O Dr. Lobegott Friedrich Konstantin Von Tischendorf foi um dos estudiosos cristãos conservadores mais eminentes do século dezenove. Também foi um dos defensores mais leais e inflexíveis da Trindade que a história conheceu. Uma das suas grandes realizações foi a descoberta do manuscrito bíblico conhecido pela humanidade mais antigo, o “Codex Sinaiticus”, do monastério de Santa Catarina no Monte Sinai. Uma das descobertas mais devastantes feitas a partir do estudo desse manuscrito do século quatro foi que o Evangelho de Marco terminava originalmente nos versos 16:8 e não no verso 16:20 como acontece hoje. Em outras palavras, os últimos 12 versos (Marcos 16:9 a Marcos 16:20) foram “injetados” pela igreja na Bíblia em algum momento depois do século 4. Clemente de Alexandria e Orígenes nunca citaram esses versos. Posteriormente também foi descoberto que os ditos 12 versos, onde consta o relato da “ressurreição de Jesus”, não aparecem nos códigos Siríaco, Vaticano e Bobiensis. Originalmente o “Evangelho de Marcos” não continha menção da “ressurreição de Jesus” (Marcos 16: 9-20). Pelo menos quatrocentos anos (se não mais) depois da partida de Jesus a Igreja recebeu a “inspiração” divina para adicionar a história da ressurreição ao final desse evangelho.
O autor do “Codex Sinaiticus” não tinha dúvida de que o Evangelho de Marcos terminava em Marcos 16:8. Para enfatizar esse ponto encontramos que imediatamente a seguir desse verso ele termina o texto com um til artístico e as palavras “O Evangelho de acordo com Marcos”. Tischendorf foi um cristão conservador inflexível e como tal conseguiu deixar de lado essa discrepância, uma vez que em sua estimativa o fato de Marcos não ser um apóstolo nem uma testemunha ocular do ministério de Jesus, tornava o seu relato secundário em relação aos dos apóstolos Mateus e João. Entretanto, como visto várias vezes nesse livro, a maioria dos estudiosos cristãos reconhece os escritos de Paulo como os mais antigos da Bíblia. Eles são seguidos de perto pelo “Evangelho de Marcos”, e os “Evangelhos de Mateus e Lucas” são quase que universalmente reconhecidos como sendo baseados no “Evangelho de Marcos.” Essa descoberta foi o resultado de séculos de estudos detalhados e esmerados por esses estudiosos cristãos e os detalhes não podem ser repetidos aqui. É suficiente dizer que os estudiosos cristãos de maior reputação hoje reconhecem isso como um fato básico indisputável.
Hoje, os tradutores e editores de nossas Bíblias modernas estão começando a ser um pouco mais acessíveis e honestos com seus leitores. Embora não admitam abertamente que esses doze versos sejam fraudes da Igreja e não a palavra de Deus, pelo menos estão começando a chamar a atenção do leitor para o fato de que existem duas “versões” do “Evangelho de Marcos” e então deixam que o leitor decida o que fazer com essas duas “versões”.
Agora a pergunta passa a ser “se a Igreja adulterou o Evangelho de Marcos, parou por aí ou tem mais nessa história?” Tischendorf também descobriu que o “Evangelho de João” tinha sido fortemente retrabalhado pela Igreja ao longo dos séculos. Por exemplo:
1. Foi descoberto que os versos começando de João 7:53 a 8:11 (a história da mulher tomada em adultério) não são encontrados nas cópias mais antigas da Bíblia disponíveis para o Cristianismo hoje, especificamente os códigos Sinaiticus ou Vaticano.
2. Também foi encontrado que João 21:25 foi uma inserção posterior e que um verso do evangelho de Lucas (24:12) que fala de Pedro descobrindo o túmulo vazio de Jesus não é encontrado nos manuscritos antigos.
(Para mais sobre esse tópico por favor leia “Secrets of Mount Sinai” (Segredos do Monte Sinai) de James Bentley, Doubleday, Nova Iorque, 1985).
Muitas das descobertas do Dr. Tischendorf em relação à adulteração contínua e impiedosa do texto da Bíblia ao longo dos tempos foi verificada pela ciência do século vinte. Por exemplo, um estudo do Codex Sinaiticus sob luz ultravioleta revelou que o “Evangelho de João” terminava originalmente no verso 21:24 e foi seguido por um pequeno til e então pelas palavras “O Evangelho de acordo com João.” Entretanto, algum tempo depois, um indivíduo “inspirado” diferente pegou a pena, apagou o texto que se seguia ao verso 24 e então adicionou o texto “inspirado” de João 21:25 que encontramos em nossas Bíblias hoje.
A evidência de adulteração prossegue. Por exemplo, no Codex Sinaiticus o Pai-Nosso de Lucas difere substancialmente da versão que chegou até nós através da atuação de séculos de correção “inspirada”. Lucas 11: 2-4 nesse manuscrito mais antigo de todos diz:
“Pai, Santificado pelo teu nome, Teu reino vem. Seja feito, como nos céus, na terra. Dê-nos nosso pão de cada dia. E perdoe nossos pecados como perdoamos todos que nos estão em dívida. E não nos deixe cair em tentação.”
Além disso, o “Codex Vaticanus” é outro manuscrito antigo mantido pelos estudiosos do Cristianismo na mesma posição reverencial do Codex Sinaiticus. Esses códigos do século quatro juntos são considerados as cópias mais antigas da Bíblia disponíveis hoje. No codex Vaticanus encontramos uma versão de Lucas 11:2-4 ainda mais curta que a do Codex Sinaiticus. Nessa versão até as palavras “Seja feito, como nos céus, na terra” não são encontradas.
Qual tem sido a posição oficial da Igreja em relação a essas “discrepâncias”? Como a Igreja decidiu lidar com essa situação? Conclamaram os estudiosos mais destacados da literatura cristã para se reunirem em uma conferência, para juntos estudarem os manuscritos cristãos mais antigos disponíveis para a Igreja e chegarem a um acordo em relação à verdadeira palavra original de Deus? Não!
Imediatamente dedicaram todos os esforços para fazer cópias em massa dos manuscritos originais e enviá-los para o mundo cristão para que pudessem tomar suas próprias decisões sobre qual era a verdadeira palavra imutável de Deus? Mais uma vez, não!
O que eles fizeram? Perguntemos ao reverendo Dr. George L. Robertson. Em seu livro “Where did we get our Bible?” (Onde Conseguimos nossa Bíblia?) ele escreve:
“Dos MSS da Escritura Sagrada em grego que continuam a existir lá se diz existirem vários milhares de variantes significativas... Três ou quatro em particular desses documentos antigos, desbotados e sem atrativos constituem os tesouros mais antigos e mais preciosos da Igreja Cristã e são, dessa forma, de interesse especial.” Em primeiro na lista do reverendo Richardson está o “Codex Vaticanus” do qual ele diz: “Esse é provavelmente o mais antigo de todos os MSS gregos que se tem conhecimento. É designado como Codex “B”. Em 1448 o Papa Nicolau V o trouxe para Roma onde tem estado desde então, sendo guardado diligentemente por oficiais papais na biblioteca do Vaticano. Sua história é breve: Erasmus em 1533 sabia de sua existência, mas nem ele nem nenhum de seus sucessores receberam permissão para estudá-lo... se tornando muito inacessível para os estudiosos, até que Tischendorf em 1843, depois de meses de adiamentos, teve permissão de vê-lo por seis horas. Outro especialista, chamado de Muralt em 1844 também recebeu permissão para vê-lo por nove horas. A história de como o Dr. Tregelles em 1845 recebeu permissão das autoridades para segurá-lo página por página enquanto memorizava o texto é fascinante. O Dr. Tregelles o fez. Recebeu permissão para estudar o MS continuamente por um longo tempo, mas não para tocá-lo ou fazer anotações. De fato, todos os dias quando entrava na sala em que documentos preciosos estavam guardados, seus bolsos eram revistados e caneta, papel e tinta eram tirados dele, se carregasse esses acessórios com ele. A permissão para entrar, entretanto, foi repetida até que ele finalmente levou e anotou em seu quarto a maioria das principais variantes de leitura desse texto mais antigo. Entretanto, no processo, com frequência as autoridades papais retiravam o MS dele se observassem que ele estava muito absorvido em uma seção, e dirigiam sua atenção para outra folha. Finalmente descobriram que Tregelles tinha praticamente roubado o texto e que o mundo bíblico sabia os segredos de seu MS histórico. O Papa Pio IX ordenou que devia ser fotografado e publicado e foi, em cinco volumes que apareceram em 1857. Mas o trabalho foi feito de maneira insatisfatória. Por volta da mesma época Tischendorf fez uma terceira tentativa de ganhar acesso ao manuscrito e examiná-lo. Teve sucesso e posteriormente pôs em circulação o texto das primeiras vinte páginas. Finalmente em 1889-90, com permissão papal, o texto inteiro foi fotografado, distribuído em fac-símile e publicado para que uma cópia do caro livro fosse obtida, e está agora em posse de todas as principais bibliotecas do mundo bíblico.”[1]
O que todos os Papas temiam? O que todo o Vaticano temia? Por que o conceito de liberar o texto da cópia mais antiga da Bíblia para o público em geral era tão terrível para eles? Por que acharam necessário enterrar as cópias mais antigas da palavra de Deus em um canto escuro do Vaticano para não ser vista por olhos de fora? Por quê? E os milhares e milhares de outros manuscritos que até hoje permanecem enterrados nas profundezas escuras dos escaninhos do Vaticano para nunca serem vistos ou estudados pelas massas em geral da Cristandade?
“Recorda-te de quando Deus obteve a promessa dos adeptos do Livro, (comprometendo-se a) evidenciá-lo (o Livro) aos homens, e a não ocultá-lo. Mas eles jogaram às costas, negociando-o a vil preço. Que detestável transação a deles!” (Alcorão 3:187)
“Dize: Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião, profanado a verdade, nem sigais o capricho daqueles que se extraviaram anteriormente, desviaram muitos outros e se desviaram da verdadeira senda!” (Alcorão 5:77)
Retornando ao nosso estudo de algumas das “discrepâncias” encontradas em nossas Bíblias modernas e entre as cópias mais antigas da Bíblia disponíveis para uns poucos escolhidos, descobrimos que o verso de Lucas 24:51 contém o alegado relato de Lucas da partida final de Jesus, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e como ele foi “elevado aos céus”. Entretanto, como visto nas páginas anteriores, no Codex Sinaiticus e outros manuscritos antigos as palavras “e foi elevado aos céus” estão totalmente ausentes. O verso só diz:
“E aconteceu que, enquanto os abençoava, apartou-se deles.”
C.S.C Williams observou, se essa omissão fosse correta, “não há nenhuma referência à Ascensão no texto original do Evangelho.”
Algumas outras modificações “inspiradas” da Igreja para o Codex Sinaiticus e nossas Bíblias modernas:
· Mateus 17:21 está faltando no Codex Sinaiticus.
· Em nossas Bíblias modernas, em Marcos 1:1 se lê “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Entretanto, nos manuscritos cristãos mais antigos esse verso somente diz “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo”. Estranhamente, as mesmas palavras que são mais discordantes para o Alcorão dos muçulmanos, “o filho de Deus”, estão totalmente ausentes. Não é interessante?
· As palavras de Jesus em Lucas 9:55-56 estão faltando.
· O texto original de Mateus 8:2 como encontrado no Codex Sinaiticus nos diz que um leproso pediu a Jesus para curá-lo e Jesus “de forma zangada, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo!” Em nossas Bíblias modernas, as palavras “de forma zangada” estranhamente estão ausentes.
· Lucas 22:44 no Codex Sinaiticus e nossas Bíblias modernas alegam que um anjo apareceu diante de Jesus, fortalecendo-o. No Codex Vaticanus esse anjo estranhamente está ausente. Se Jesus era o “Filho de Deus” então obviamente seria muito inapropriado que necessitasse de um anjo para fortalecê-lo. Esse verso, então, deve ter sido um erro do escriba. Certo?
· As alegadas palavras de Jesus na cruz “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”(Lucas 23:34) estavam originalmente presentes no Codex Sinaiticus, mas foram apagadas posteriormente do texto por outro editor. Tendo em mente como a Igreja considerava e tratava os judeus na Idade Média, podemos pensar em alguma razão para esse verso ter sido um obstáculo para a política oficial da Igreja e suas “inquisições”?
· João 5:4 está faltando no Codex Sinaiticus.
· Em Marcos capítulo 9 as palavras “Onde seus vermes não morrem e o fogo não se extingue” novamente estão ausentes.
· Em Mateus 5:22 as palavras “sem causa” estão faltando tanto no Vaticanus quanto no Sinaiticus.
· Em Mateus 21:7 em nossas Bíblias modernas se lê “E [os discípulos] trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos e fizeram-no [Jesus] assentar em cima.” Nos manuscritos originais esse verso se lê “e fizeram-no [Jesus] assentar em cima dele” (“dele” quem?) Logo depois a tradução para o inglês evitou completamente esse problema ao traduzir como “nisso”.
· Em Mateus 10:15 nossas Bíblias modernas contem as palavras “Em verdade vos digo que menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade.”Entretanto, essas palavras não são encontradas em nenhum dos dois manuscritos bíblicos cristãos mais antigos, tendo sido introduzidas no texto séculos depois.
· As palavras de Mateus 6:13 “pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre” Não são encontradas nesses dois manuscritos mais antigos e em muitos outros. As passagens paralelas em Lucas também são incompletas.
· Mateus 27:35 em nossas Bíblias modernas contém as palavras “Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte.” Essa passagem, mais uma vez, não é encontrada de acordo com o reverendo Merrill em nenhum manuscrito uncial bíblico datando de antes do século nove.
· Em 1 Timóteo 3:16 originalmente se lê “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: que foi manifestado na carne.” Isso foi então modificado (como visto anteriormente) alterado sutilmente para “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne...” Assim nasceu a doutrina da “encarnação”.