artigos

Minha descrença antes do Islã





Quando me casei com minha esposa portuguesa, Anabela, tinha uma filosofia que, embora acreditasse em Deus como o Criador e o Poder que impulsionou o universo, não reconhecia que estava obrigado a adorá-Lo (concebia o Poder como não tendo gênero).





Nasci católico romano e cresci acreditando em Jesus como meu Deus e Maria como mãe de Deus - mas isso não se enquadrava bem para mim. Ao contrário, via Jesus e Maria como meiospara alcançar Deus, que era o Deus do Velho Testamento.





À medida que cresci, comecei a me desesperar ao compreender vastos trechos do Velho Testamento. O material era denso e as supostas passagens "proféticas" pareciam estar no tempo presente - dirigidas àquelas pessoas de milhares de anos atrás, como se acontecendo com elas ou durante os seus períodos de vida. A confusão aumentou porque abordagens ou ações pessoais às vezes pareciam ser atribuídas ou direcionadas não para as pessoas, mas para cidades e nações.  Deus, por exemplo, parecia considerar Jerusalém como sua esposa e as ações do povo dela como congruente com suas ações.  Deus a chamava de prostituta e apelava frequentemente para que ela se arrependesse e voltasse, tornando-se novamente Sua rainha. O mesmo era verdadeiro para as pessoas, como Jacó, que assumiu o nome de uma nação e as passagens dirigidas a Israel às vezes significavam Jacó.  Jacó com frequência simbolizava seus descendentes, que estavam divididos em dois campos: o campo de Efraim e o de Judá.  Mais uma vez, os nomes desses descendentes de Jacó refletiam a divisão dos filhos de Israel, entre a cidade-estado de Sião e Samaria.





Outras passagens pareciam se referir a eventos e encontros sobrenaturais. A educação de Elias e a aparição de Deus perante Israel pareciam descrever eventos que podem ser explicados como encontros entre raças de tecnologias avançadas e homens simples, não tecnológicos. Dado que muitas outras religiões descrevem os mesmos tipos de encontros com seus "deuses", comecei a suspeitar que essas histórias da Bíblia fossem apenas lendas reunidas e tornadas coerentes em nome de uma hierarquia construída, a Igreja.





Além dessa visão desconfiada que tinha passado a manter, também aprendi sobre perseguições históricas que ocorreram durante e desde os tempos medievais, particularmente os eventos das cruzadas e a inquisição, que se seguiram. De fato, o etos da inquisição foi exportado para o Novo Mundo pelos "conquistadores" espanhóis e portugueses e os papas romanos manobraram para estabelecer riqueza e poder na Europa, através de um reinado de terror maquiavélico. A Família dos Bórgia[1] eram figuras particularmente exemplares nesse respeito.





Finalmente, aprendi sobre a tentativa da Igreja de sufocar e negar o avanço científico até a reforma e a mudança só conseguiu se estabelecer durante a renascença, em período posterior.





Todos esses fatores me levaram a acreditar que o Deus da Bíblia e as descrições do paraíso e inferno ensinadas pela Igreja eram falsificações, designadas para subjugar e pacificar a vasta maioria da população sob o governo de uma elite minoritária.





Confusão Tortuosa





Existe um impulso primordial nos homens em adorar o que os criou e se voltar para Ele quando em necessidade, e não se pode apelar para nada além Dele para eliminar perigos ou confusão.  Ouvia as pessoas exclamarem em situações extremas "pelo amor de Deus", "Ó Deus!", e coisas semelhantes, apelando por socorro.  Ainda assim, quando a ajuda chega e se sentem seguras novamente, agradecem os agentes vivos que as ajudaram nesse mundo ou suas divindades favoritas no mundo do oculto. Em minha própria desorientação, me refugiei no conceito de Força ou Poder que descrevi anteriormente - o Criador único e não material, com quem os homens (individualmente) interagiam em um nível pessoal, sem qualquer mediação de agentes ocultos ou ajuda de outros seres humanos.





A rota adotada até essa conclusão foi longa e tortuosa, com os conceitos sendo elaborados um após outro, a partir de minhas leituras de ficção científica e teorias de conspiração primitivas.  Li, por exemplo, "Carruagens dos Deuses" de Erich Von Däniken[2] e "O Experimento Filadélfia" [3]de Charles Berlitz e William Moore, o primeiro deu credibilidade a ideia de a religião ser "fabricada" e o segundo abriu meus olhos para o que pode ser encoberto pela elite da sociedade e os governos nesse mundo. Entretanto, nem toda nação e governo pode estar na grande conspiração, se tal coisa existir, e o lugar natural para buscar confirmação ou contradição era outras religiões. Para mim, as "outras religiões" eram o Hinduísmo e suas ramificações, em particular o Budismo. Então, procurei saber mais a respeito delas de dentro.





Os ramos mais visíveis do Hinduísmo em Londres, onde morava, eram os monges coloridos de laranja do templo de Krishna [4] e me vi recrutado para sua seita. A meditação ritual fazia bem e seu uso amplo definitivamente fornecia um efeito calmante sobre os devotos - confirmando que pregava um tipo de pacificação das pessoas. Sua história da criação também era repulsiva. Quem quer admitir a origem do mundo como sendo uma vaca cósmica vasta, mas morta, ou que evoluiu dos excrementos dela?  Logo deixei a seita tão abruptamente quanto entrei e fui para o Budismo.  Sabia que o anterior era uma ramificação da mãe do outro, então não estava tentado a tentar e praticar o Budismo.  Ao invés disso, tentei descobrir seu conceito chave de vida e vida após a morte.  Logo descobri que, como o Hinduísmo, a outra vida era concebida como uma série de reencarnações e que estávamos presos às nossas vidas na roda do destino. Entretanto, ao invés de buscar unidade com a mente cósmica de Deus, a perfeição do Nirvana, os budistas buscam alcançar iluminação e liberdade do ciclo de nascimento e morte. Essa iluminação nega o ego, porque ele deve submeter sua jurisdição para alcançá-la e deixar o infinito e o incognoscível tomar conta.  Falando de maneira estrita, o Budismo é uma filosofia religiosa que adota o ego humano como o único deus que domina a vida, cujo caminho é para um objetivo sem Deus na outra vida.





Na busca de eliminar a orientação do ego, o Budismo pode ser visto como o conceito marxista de "ópio do povo" [5]. Torna-as tratáveis e controláveis pela elite em sociedade, mas e maneiras de "enfrentar o sistema"?  E sobre religiões pré-históricas ou religiões que tinham deixado de existir? Uma das primeiras formas de religião que aprendi a respeito foi o totemismo[6]. O totemismo postula a existência de um espírito equivalente a um sinal no mundo real, geralmente um animal. Uma tribo inteira pode ter um totem coletivo, como um urso da caverna, enquanto indivíduos podem possuir um totem individual, como o lobo cinzento. Além disso, se alguém procura ajuda em um empreendimento particular, como uma caça, o totem do animal caçado pode ser consultado para obtenção de sinais de onde ele pode estar.





Há uma conexão clara a oráculos mágicos no uso de rituais totemísticos, apontando para a existência de forças ocultas no mundo. Também há outros caminhos para essas forças, como astrologia e adoração da natureza. Um dos meios de adoração pertencentes a última categoria concebe a terra como Gaia[7], a mãe de tudo na natureza e os padrões de interação entre as criaturas do sistema ecológico. Gostei muito dessa ideia de que a terra era um indivíduo viável que deve ser respeitado e capaz de nos guiar e proteger os guiados, enquanto pune aqueles que trabalham contra ela e não receberão orientação. Não muito tempo atrás, um homem chamado James Lovelock foi capaz de expressar como me sentia no livro chamado "The Revenge of Gaia"[8], publicado em 2006. 





Entretanto, a terra é uma tela muito estreita para um criador universal e o segundo caminho era ainda mais atraente para mim. Pertence aos céus e os céus são muito mais amplos. A Astrologia [9] atribui significados e influências aos corpos celestes e suas posições nos céus na hora do nascimento determinam o destino de um indivíduo. Também se apoiam na posição da esfera celestial em um dado ponto no tempo e espaço na superfície da terra para arriscar previsões do que pode ocorrer no caminho do destino e, assim, dar conselho sobre decisões das pessoas dentro da esfera de influência daqueles que preveem eventos. Por um tempo tornei-me um astrólogo amador, porque sentia que estava em contato com uma força universal, ao contrário de uma força local. 





Então encontrei um homem que me levou de volta para minha religião de nascimento, para buscar respostas universais. Não consigo lembrar o nome dele, infelizmente, mas era da Irlanda e sua religião era a católica romana, como a minha tinha sido. Sua perspectiva, entretanto, não era tão inflexível como as de alguns católicos convictos que encontraria depois. Aconteceu de ele me encontrar enquanto eu lia um livro chamado Ômega de Stewart Farrar[10], que me deu uma perspectiva em bruxaria e na religião Wicca. Tivemos uma enorme discussão que durou quase um dia, enquanto sentávamos em uma praia em Algarve, Portugal. Ele estava tentando descrever o conceito de Deus e prontamente concordou comigo que Jesus não era Deus. Deus era algo imaterial, poder invisível e que reinava sobre tudo. Com a informação que tive de Stewart Farrar, descrevi que o que sentia era a essência da Divindade e minha relação, ou a relação do mundo, com ela. Sentia que "Deus" era o iniciador divino, cujo "caminho" eram as Leis do mundo natural. Disse que acreditava que cada mundo era diferente e se comportava de acordo com suas próprias leis, mas havia uma lei geral orientadora do universo, que era Deus e Sua Orientação: trabalhar "com o fluxo" significava "bem" enquanto trabalhar contra o fluxo significava o mal. Exemplos de trabalhar "com o fluxo" é usar as medicinas da natureza para cura, enquanto "contra o fluxo" é fabricar agentes químicos que imitam os efeitos da medicina da natureza; trabalhar com o fluxo seria ecologicamente correto, enquanto que contra o fluxo causaria poluição, etc.





Esse era meu estado quando me casei com minha esposa portuguesa. Ela era católica romana, mas em grande parte não praticante.  Logo ela ficou grávida e meu primeiro filho veio ao mundo.





Durante os primeiros anos de casamento, era amigo de um homem que amava caminhar nas montanhas e ficar nu em seclusão.  Era tanto um naturalista [1] quanto naturista[2] em termos de perspectiva e levou a mim e minha esposa naquela direção.  Naturalmente, quando Andrei Micael nasceu, eu advogava um batismo mais natural que um com "água benta" de um recipiente em pedra fria sendo jogada em sua cabeça por um padre católico.  Ao invés disso, queria subir as montanhas e mergulhá-lo em um córrego, assim como João Batista [3] batizou os judeus arrependidos no rio Jordão.  Claro, não me dei conta de que o batismo era algo que se devia fazer quando adulto, ao contrário de quando criança. O quanto uma criança pode se arrepender? Não fizeram nada do que se arrepender.  Meu verdadeiro batismo eu mesmo fiz, quando eliminei meu estado anterior em purificação ritual ao me tornar muçulmano. 





A mãe de minha esposa começou a nos visitar no verão, a primeira vez apenas para ver Andrei, acho eu.  Como minha esposa, ela era católica romana.  Ao contrário de minha esposa, entretanto, era uma crente ávida na mediação de Maria, a mãe de "Deus", nos santos em seus túmulos e no menino Jesus.  Com esse fim usava um crucifixo no pescoço e visitava assiduamente os santuários de Maria (incluindo o Santuário de Fátima[4]  e Nossa Senhora de Lurdes[5]) pelo menos uma vez ao ano, e fazia peregrinação ao Santuário de São Benedito[6]toda vez que vinha a Braga, onde minha esposa e eu vivíamos.  Ela tinha uma pequena estátua de Maria com uma criança que ela costumava colocar em sua própria mesa especial (como um altar) no canto do quarto dela e mantinha uma fotografia antiga de uma pintura de Maria (a mãe de Jesus) segurando uma taça com um coração sangrando em sua carteira.  Costumava se ajoelhar em frente à pequena estátua antes de dormir todas as noites e a foto mantinha quando viajava, tirando-a da carteira para beijar quando queria rezar.





Para mim todas essas ações eram abomináveis, totalmente contra meu conceito primitivo de Força universal ou Poder, um Criador e Sustenedor único que permeava o universo e também de Deus como Ele é descrito na Bíblia.  Tornei-me determinado a convencer minha sogra a parar sua adoração idólatra de seres humanos (mortos) como mediadores com Aquele que ouve.  Mas como?





De volta à Bíblia





Primeiro tentei usar a lógica.  Como homens mortos podem ouvir? Como conhecemos a devoção deles? Não foram homens que os transformaram em "santos"? E com a autoridade de quem foram feitos santos? Não eram homens, como nós? Mas não teve jeito.  Finalmente decidi usar a arma da própria escritura dela, porque sabia que o primeiro mandamento [7] na Bíblia era





"Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão. Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, ne­nhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto." (Êxodos 20:2-5[8])





Se era esse o caso, então haveria mais evidência de que Deus é Único e imaterial e somente Ele pode nos ouvir.





Ao longo dos anos que mantive minha persuasão regular (de verão) com ela, comecei a apreciar que a Bíblia de fato contradizia o que a Igreja ensinava sobre a "divindade" de Jesus e afirmava claramente que Deus é Único.  Negava completamente a licença [9] que tomamos de adorar ídolos[10] ou usá-los como foco de nossa oração.  Então, minha crença no Deus de Abraão lentamente aumentou até que meu único medo era que pudesse estar errado.  E se, apesar de minha forte crença de que não era verdade, fosse Jesus quem sentasse no Trono do Juízo no Último Dia? Estaria em apuros.  A evidência na Bíblia era ambígua sobre esse ponto, uma vez que o Apocalipse de João [11] parecia indicar que seria ele.





Dívidas





Essa era minha situação quando constatei a necessidade de procurar um emprego que me ajudasse a escapar de minhas dívidas pesadas em casa.  Durante esse período, decidi abrir mão de meu emprego no British Council em Portugal e arriscar uma escola de idiomas própria em Braga.  Queria estar por perto para a educação de meu filho.  Ao mesmo tempo decidi comprar uma casa, que seria como alugar um apartamento, exceto que seria proprietário no final do processo.  Minha escola, entretanto, não deu certo e terminei não só devendo muito dinheiro ao banco pela minha casa, mas também pelo capital inicial que tinha tomado emprestado.  Quando fechei minha escola dois anos depois de tê-la aberto, tolamente não declarei falência e, ao invés disso, usei meu "cartão de visitas" para me tornar um professor freelance de inglês.  Embora isso me ajudasse a sentir que podia ser capaz de sobreviver, o capital que devia não diminuiu apreciavelmente.  Precisa de algum plano alternativo.  Minha esposa então sugeriu que procurasse por um emprego bem remunerado no exterior para lidar com o problema, destacando que muitas conhecidas tinham maridos no exterior que tinham conseguido dinheiro suficiente para construir casas para as famílias no país natal. 





O dia que decidi que precisava conseguir um emprego lucrativo no exterior foi, de fato, um dia terrível.  Estava em profunda tristeza porque as coisas estavam se intensificando.  Era incapaz de acompanhar os juros dos repagamentos dos empréstimos dos eletrodomésticos, da hipoteca, dos nossos carros e das dívidas que tinha acumulado gerindo a escola de idiomas por três anos com perdas. Via escuridão à minha frente - e nenhum meio local de sair do buraco de dívidas no qual estava.  Sentia-me quase suicida, pensando que a morte me permitiria escapar das dívidas.  Não sabia, na época, que a dívida era uma das coisas que podia impedir uma pessoa de entrar no paraíso e que a morte não significava que tinha escapado de suas obrigações.





 Uma noite me ajoelhei ao lado de minha cama, olhando para o oeste, e extravasei meus problemas com Deus.  Disse a Ele que estava desesperado, no fim de minhas forças e não conseguia me ver capaz de sustentar minha esposa e filho e nem a mim mesmo.  Implorei a Ele que me desse uma saída, um caminho para uma vida boa para todos nós.  De algum modo sabia que Ele estava ouvindo e meu coração se aliviou enquanto supliquei.  No fim, me senti confortável o suficiente para apoiar minha cabeça novamente e voltar a dormir. 





 Os eventos seguintes provaram que Ele havia respondido minha oração.  No dia seguinte estava procurando no EFL Gazette e encontrei vários anúncios para vagas no exterior no British Council.  Quando os mostrei, minha esposa me aconselhou a procurar trabalho no Oriente Médio ou no Extremo Oriente, onde os salários eram relativamente altos.  Então me inscrevi para instituições em Omã, Arábia Saudita, Brunei, Taiwan, Japão e Coreia.  O British Council fez uma entrevista comigo, mas não fui escolhido para nenhum de seus locais.  Um funcionário em Taiwan me escolheu e ofereceu um emprego, mas quando aceitei o processo nunca era acompanhado por eles.  Quando comecei a sentir que todas as portas estavam se fechando na minha cara, uma das minhas últimas opções, uma universidade na Arábia Saudita, me ofereceu uma posição como professor de inglês, e eu a aceitei.  Louvado seja Deus!  Pensei que ele tinha Me respondido financeiramente, mas a dádiva real estava por vir de uma direção inesperada.





Quando meus amigos souberam que estava indo para o Golfo, fui inundado com avisos.  Disseram que não teria nada para fazer na Arábia Saudita e me sentiria restrito.  Fui avisado que poderia ser enganado e tratado como um escravo.  A cultura não era produtiva e eu choraria de tédio.  Entretanto, sabia que era minha saída e, como sempre faço quando vou para um lugar ou cultura diferente do meu, tentei abandonar meus preconceitos culturais e planejei testar a sociedade da qual faria parte por seus méritos. 





Fui agradavelmente surpreendido na chegada ao notar a amabilidade geral que recebi dos sauditas.  Ao invés da distância arrogante, ética questionável e honra sensível que esperava, fui saudado com afabilidade, curiosidade e portas abertas.  Meus hóspedes fizeram de tudo para me agradar, um estranho em sua terra.  Não que não tenha encontrado uma parcela justa de hipocrisia.  Os estrangeiros do Paquistão, Bangladesh e outros países do Extremo Oriente eram seriamente explorados e tratados injustamente, aos meus olhos, pela maioria árabe.  Mas não vi nenhuma dessas condescendências quando aplicaram sua sociedade a mim.  Entretanto, não foi sua cultura ou sociedade que me atraíram ao Islã.  De fato, se fosse julgar o Islã pela cultura, teria ido na direção oposta, acho.  Foi outra coisa.





A Motivação





O ímpeto ou catalisador que me modificou de vagamente religioso a totalmente submisso a Deus começou com um evento aparentemente inócuo.  Ao descer em solo saudita cedo pela manhã pela segunda vez (em 24 horas) no Aeroporto Ha’il, um aeródromo pequeno e provinciano, ao invés de um terminal de passageiros plenamente equipado, fui confrontado com uma grande placa verde com as palavras "Escritório de Orientação e Propagação Islâmica Ha’il", seguido de um número de telefone em inglês.  Lembro-me de ter ficado surpreso que a placa estivesse em inglês, mas não prestei muita atenção.





A picape da universidade chegou e me levou a universidade, onde meu passaporte foi checado e preenchi um formulário de chegada.  Então fui enviado para o chefe do departamento de Inglês.  Quando entrei no escritório dele, fui confrontado com um homem em vestimentas sauditas.  Mas não parecia um árabe, para meu olho não treinado.  Ele deve ter se sentido um pouco desconfortável por eu estar olhando fixo para ele, tentando entender suas origens, mas ele lidou bem com a situação.  Mais tarde descobri que ele era britânico e tinha se convertido em Brunei, antes de vir para a Arábia Saudita.  Disse-me que eu tinha o resto da semana para me acomodar, o que significava que tinha cinco dias antes de começar oficialmente a ensinar.  Fui enviado de volta para o homem encarregado da recepção de pessoal e alojamento, que me levou na picape para escolher meu espaço.  Logo que me acomodei, constatei que não tinha nada para fazer e quatro dias pela frente.  Então, com a memória da aparência estranha do "não saudita" ainda em minha mente, lembrei da placa em inglês e comecei a pensar na religião do país. 





Agora sabia que a Bíblia[1] e o Torá[2] eram parte dela.  Tinha lido alguns dos livros dos hindus, o Bhagwad Gita[3], e também li livros práticos de outras teorias religiosas e não religiosas sobre religião.  Entretanto, nunca tinha lido o Talmude[4] e nem qualquer dos livros dos muçulmanos, que sabia que chamavam de Alcorão[5].  De alguma forma tinha sempre tido a impressão que esses dois livros estavam "fora do alcance" de não judeus e não muçulmanos.  E tinha pensado que eram exclusivamente em idiomas semitas, que não conhecia.  Entretanto, a placa em inglês me fez pensar que talvez pudesse encontrar uma tradução em inglês do Alcorão em árabe no instituto.  Talvez fosse uma oportunidade de lê-lo e julgar a fonte da religião por mim mesmo.





Imediatamente parti para o centro da cidade para procurar o local.  O centro de Ha’il tinha um bloco de escritórios de seis andares que chamavam de Al-Bourj, que significa "a torre", o único edifício alto na cidade.  A estrada que caminhei passava logo atrás dele, à esquerda, terminando no shopping.  Do lado direito do lado oposto da estrada o bourj era o mercado de legumes, que depois vim a saber também servia como local de execução.  Onde minha estrada e a via principal se cruzavam no bourj, encontrei a mesma placa que tinha visto no aeroporto.   Estava convenientemente escrita em uma placa de sinalização que apontava na direção diagonal do outro lado da rua, mas olhando para as fachadas das lojas, todas em letras árabes que era incapaz de ler, não consegui identificar o local.  As lojas estavam todas fechadas por ser de tarde e não pude fazer perguntas.  Não tinha ideia de quando as lojas abririam novamente e decidi ir para meu novo lar, comprar alguns suprimentos, descansar e tentar novamente pela manhã. 





O dia seguinte era terça-feira e fui novamente para a cidade assim que tomei o café da manhã.  No caminho passei por várias livrarias e ciente de como tinha sido difícil achar o escritório de propagação, parei em todas.  Nenhuma delas tinha livros em inglês, muito menos o Alcorão e, tanto quanto pude entender, me direcionaram para o bourj.  Dessa vez fiquei logo abaixo da placa e esperei até que um policial viesse na motocicleta.  Quando ele passou do outro lado da estrada, acenei para ele como um louco.  Ele cruzou a estrada e parou sua motocicleta no começo do mercado de legumes.  Eu o chamei e usando gestos consegui transmitir o que queria saber.  Ele apontou para o outro lado da estrada e, quando ainda assim não conseguia ver, para o telhado de uma casa onde havia uma cópia da placa que tinha visto no aeroporto.  Como me senti estúpido.  Fixei meus olhos nas placas acima das fachadas das lojas e o lugar estava bem na minha cara! Finalmente encontrei meu alvo e fui para as lojas abaixo dele, encontrando uma livraria cheia de pessoas de todo o sudeste da Ásia e Oceania.  Considerei que a livraria pertencesse ao centro.





O Encontro





Como disse antes, a livraria estava cheia de gente e os livros eram em muitos idiomas diferentes, mas era muito tímido para perguntar algo e ser mal compreendido. Não conseguia falar nenhuma daquelas línguas.  Olhando pelas prateleiras não vi edições volumosas e todos os títulos em inglês pareciam ser sobre Jesus ou explicações de áreas religiosas particulares.  Notei que havia algumas escadas nos fundos próximo à caixa registradora da loja, levando ao próximo andar.  O policial tinha me indicado que os escritórios do Centro de Orientação eram no andar de cima e, então, na vaga esperança de que pudesse encontrar uma sala de leitura ou algo assim, subi as escadas nos fundos da livraria, sorrindo para as pessoas por estar consciente de minhas limitações com a língua.





No topo das escadas havia uma enorme sala vazia que parecia uma sala de reunião.  Junto a ela encontrei uma sala que tinha uma mesa enorme em seu centro e prateleiras em todo o redor, mas apenas pouquíssimos livros desgastados - talvez aquela sala de leitura pela qual tinha ansiado.  Infelizmente os livros eram todos em idiomas estrangeiros - letras estrangeiras que não conseguia ler.  Comecei a me desesperar em encontrar algo que queria por conta própria ou obter o que queria em uma terra que não falava minha língua.   Felizmente um dos funcionários do escritório me perguntou o que eu queria ou que estava fazendo lá, ou algo dessa natureza (ele falou em seu idioma, que não pude entender).  Respondi em inglês, dizendo que estava procurando por uma cópia do Alcorão para ler.  Ele indicou que eu devia esperar, porque traria alguém.  Então, esperei. Talvez uma solução estivesse a caminho.





Um homem alto e de barba entrou na sala em que eu aguardava.  Passei a conhecê-lo depois como irmão Abu Abdurrahman, meu professor e mentor, mas na época, era apenas outro "saudita" que podia ser capaz de me ajudar a obter o que queria.  Perguntou-me em inglês o que eu queria e disse a ele que queria ler o Alcorão.





"Por que você quer fazer isso?", me perguntou ele.





"Quero compará-lo com a Bíblia." Respondi.





"Por quê?"





"Você sabe, ver se é parecido."





"Você quer conhecer o Islã?"





"Bem, sim, suponho."





"Por que não lê esse panfleto?" Disse ele, me mostrando um panfleto que dizia "Quem é Deus?" Não queria saber a visão islâmica de teologia ou religião.  Não era atrás disso que estava.  Queria olhar a escritura, compará-la com o que estava na Bíblia.





"Não. Mas quero de fato ler sobre o Islã. Quero o livro," disse.





"Sério? É melhor se ler mais sobre a religião antes", insistiu.





"Não estou interessado na religião em si" disse, tentando não ofender. "Só quero ler o livro."





"O livro não é um jogo", disse ele.





"Não estou jogando", disse.  "Estou seriamente interessado no que ele diz."





"Ok. Verei o que posso fazer", disse ele, concordando.  Agradeci e ele saiu da sala. 



publicações recentes

Três razões racionai ...

Três razões racionais para acreditar em um criador

As consequências de s ...

As consequências de se afastar de Deus A importância da crença na Vida Após a Morte

Uma mensagem de um pr ...

Uma mensagem de um pregador muçulmano para um cristão

O CASAMENTO ENTRE MUH ...

O CASAMENTO ENTRE MUHAMMAD E AISHA