Na parte 1 de Felicidade no Islã discutimos a evolução da felicidade no pensamento ocidental e seus efeitos na cultura ocidental. Na parte 2 reexaminamos as definições de felicidade e tentamos entender a relação entre ciência e felicidade. Agora, na parte 3, aprenderemos sobre a felicidade nos ensinamentos do Islã.
O Islã é a religião que é mais que uma religião, é um modo de vida completo. Nada é tão pequeno ou tão grande para ser coberto pelos ensinamentos do Islã. Alegre-se e seja feliz, permaneça positivo e em paz.[1] Isso é o que o Islã nos ensina, através do Alcorão e das tradições autênticas do profeta Muhammad, que Deus o louve. Cada um dos mandamentos de Deus tem como objetivo trazer felicidade para o indivíduo. Isso se aplica em todos os aspectos da vida, adoração, economia e sociedade.
“A quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for crente, concederemos uma vida agradável e premiaremos com uma recompensa, de acordo com a melhor das ações.” (Alcorão 16:97)
Como a maioria de nós pode perceber, a felicidade é aquela qualidade etérea que abrange contentamento e paz, é a alegria suave que faz com que nossos lábios, rostos e corações sorriam. É determinada pela fé em Deus e obediência a Ele. Assim, felicidade abrange a paz, segurança e submissão que é o Islã. As injunções e regulamentações do Islã reforçam a felicidade que resulta de conhecer Deus e que ajuda a garantir a felicidade da humanidade durante a vida nesse mundo. Entretanto, o Islã também enfatiza que a vida desse mundo não é nada mais que um meio de alcançar a Vida Futura. Ao seguir as orientações do Islã é possível ser feliz, enquanto esperamos por nossa felicidade eterna.
Às vezes, para alcançar a felicidade, as pessoas tentam seguir caminhos complicados e não conseguem ver o caminho mais fácil, que é o Islã. A felicidade pode ser encontrada no conforto que vem de estar com a verdade. Pode ser alcançada pela adoração sincera, apressando-se para fazer ações virtuosas, nobres e belas e pela realização de atos de gentileza ou caridade. Todas essas coisas têm o potencial de nos fazer felizes, todos os dias, sob quaisquer circunstâncias. Mesmo a menor das caridades, para agradar a Deus, pode colocar um sorriso em seu rosto e levar um sentimento de alegria ao seu coração.
“Por outra, o exemplo de quem gasta os seus bens espontaneamente, aspirando à complacência de Deus para fortalecer a sua alma, é como um pomar em uma colina que, ao cair a chuva, tem os seus frutos duplicados; quando a chuva não o atinge, basta-lhe o orvalho. E Deus bem vê tudo quanto fazeis.” (Alcorão 2:265)
O profeta Muhammad disse: “De fato os assuntos de um crente são surpreendentes! Todos são para seu benefício. Se lhe for concedida facilidade é agradecido e é bom para ele. E se for afligido com dificuldade e persevera, é bom para ele.” [2] A natureza da condição humana significa que entre a felicidade pode haver grande tristeza e dentro da dor e desespero pode haver grande alegria. Um crente aceitará o decreto de Deus para ele e levará uma vida feliz livre de desespero total ou dor insuportável.
O Islã tem a resposta para todos os problemas que afligem a humanidade e saber isso leva à felicidade, porque nos permite ver além da necessidade por autogratificação e da necessidade de adquirir bens. Seguir o ensinamento do Islã e se empenhar para agradar a Deus nos lembra de que essa vida é apenas uma pausa transitória no caminho da vida eterna.
“Em troca, quem desdenhar a Minha Mensagem, levará uma mísera vida, e, cego, congregá-lo-emos no Dia da Ressurreição.” (Alcorão 20:124)
Deus diz no Alcorão: “Verdadeiramente! Sou Allah! Não existe deus a ser adorado exceto Eu, adorai-Me.” (Alcorão 20:14) A chave para a felicidade é conhecer e adorar Deus. Quando alguém adora e lembra-se do Criador como Ele deve ser adorado e lembrado, a felicidade pode ser observada ao nosso redor a qualquer momento e mesmo na noite mais escura. Está no sorriso de uma criança, no toque de uma mão que nos conforta, na chuva que encharca a terra ou no cheiro da primavera. Essas coisas podem fazer nossos corações verdadeiramente felizes, porque são manifestações da misericórdia e amor de Deus. A felicidade pode ser encontrada na adoração.
Para encontra a verdadeira felicidade devemos buscar conhecer Deus, especialmente por meio de Seus nomes e atributos. Buscar conhecimento benéfico traz felicidade. Os anjos batem suas asas e mantêm registros dos que buscam conhecimento e o mero pensamento disso coloca um sorriso de felicidade no rosto de um crente. Nossos predecessores virtuosos compreendiam a felicidade e a alegria inerentes no empenho de ficar próximo de Deus.
O notável sábio muçulmano Ibn Taymiyyah, que Deus tenha misericórdia dele, disse uma vez: “Fiquei doente uma vez e o médico me disse que ler e dar palestras sobre conhecimento só piorariam minha condição. Disse a ele que não podia abandonar esses interesses. Perguntei a ele se o corpo se tornava mais forte e a doença era repelida se a alma se sentisse feliz e alegre. Ele respondeu afirmativamente e, então, eu disse que minha alma encontrava alegria, conforto e força no conhecimento”.
A felicidade perfeita só estará disponível para nós se passarmos a vida futura no Paraíso. Somente lá encontraremos paz, tranquilidade e segurança totais. Somente lá estaremos livres do medo, ansiedade e dor que são partes da condição humana. Entretanto, as orientações fornecidas pelo Islã permitem a nós, humanos imperfeitos, buscar a felicidade nesse mundo. A chave para ser feliz nesse mundo e no outro é buscar a satisfação de Deus e adorá-Lo, sem associar parceiros a Ele.
“Outros dizem: "Ó Senhor nosso, concede-nos a graça deste mundo e do futuro, e preserva-nos do tormento infernal!"” (Alcorão 2:201)
Temos que ter em mente que as pessoas não levarão nada desse mundo exceto o que Deus já escreveu para elas. Depois de toda a correria, de ficar acordado até tarde da noite, ser um viciado em trabalho, uma pessoa só terá o que Deus já destinou para ela. O Profeta, que Deus eleve seu nome, disse:
Quem estabelecer a Outra Vida como seu objetivo, Deus tratará de seus assuntos, dará riqueza (de fé) no coração e o mundo virá para ele de forma relutante e submissa.” (Ibn Maajah, Ibn Hibbaan)
Essa pessoa alcança a riqueza do coração. A riqueza não se trata de ter muitos bens, mas ter prosperidade do coração e o que é prosperidade do coração? É contentamento, e é dele que vem a paz, quando uma pessoa se submete a Deus e isso é Islã.
A paz interior é aceitar o Islã em nossos corações e viver pelos princípios do Islã. Então Deus colocará prosperidade no coração de uma pessoa e esse mundo virá a ela de forma submissa, de joelhos e humilhado. A pessoa não terá que persegui-lo.
Essa é a Promessa do Profeta se uma pessoa colocar “as primeiras coisas primeiro” e isso é a Outra Vida. Se for o Paraíso que queremos então isso deve se manifestar em nossas vidas, deve ser o ponto de nosso foco, o que mantemos em primeiro plano.
Então como sabemos quando o Paraíso é nosso foco? Se sentarmos com uma pessoa e tudo que conversarmos a respeito for os últimos modelos de carros, casas caras, viagens e feriados e dinheiro, se a maioria de nossas conversas é sobre coisas materiais ou é fofoca, falar sobre essa ou aquela pessoa, então significa que o Paraíso não é nosso foco. Se o Paraíso for nosso foco então ele se refletiria em nossa conversa. Esse é um nível muito básico através do qual podemos nos avaliar, então devemos parar e nos perguntar: “Falando sobre o quê gastamos a maior parte do nosso tempo”?
Se descobrirmos que nossa prioridade é esse mundo, então precisamos focar novamente, precisamos colocar “as primeiras coisas primeiro”, o que significa que o Paraíso antes da vida desse mundo, e se fizermos isso poderemos alcançar a paz interior. Deus nos informou disso no Alcorão, um passo preciso para atingir a paz interior e Deus diz:
“De fato, é na recordação de Deus que o coração encontra tranquilidade.” (Alcorão 13:28)
Então, apenas através da recordação de Deus o coração encontra tranquilidade. Essa é a paz interior. A recordação de Deus está em tudo que fazemos como muçulmanos. O Islã é viver uma vida de recordação de Deus e Deus diz:
“Realize a oração para celebrar Meu nome...” (Alcorão 20:14)
Tudo que fazemos (no Islã), como muçulmanos, envolve a recordação de Deus. Deus diz:
“Dize: Minhas orações, minhas devoções, minha vida e minha morte pertencem a Deus, Senhor do Universo.” (Alcorão 6:162)
Então, aqui está a forma de alcançar a paz interior, recordar de Deus em todos os aspectos de nossas vidas.
Essa recordação (dhikr) não é o que algumas pessoas pensam, ou seja, sentar no canto de um quarto escuro repetindo constantemente “Allah, Allah, Allah...”. Não é assim que nos recordamos de Deus. Sim, essa pessoa está dizendo o no me de Deus, mas se pensarmos sobre isso, se alguém vier a você (e, por exemplo, seu nome for Muhammad) e continuar dizendo “Muhammad, Muhammad, Muhammad...” você se perguntaria o que há de errado com essa pessoa. Ela quer alguma coisa? Há algo que ela precisa? Qual o propósito de repetir meu nome sem falar mais nada?
Essa não é a forma de recordar de Deus porque não era assim que o Profeta recordava de Deus e não existe registro dele fazer isso. Algumas pessoas dizem que devemos recordar de Deus dançando ou balançando de um lado para outro. Essa não é a forma de recordar de Deus, porque não era assim que o Profeta recordava de Deus e não existe registro dele fazer isso.
O Profeta se recordou de Deus em sua vida. Sua vida foi uma vida de recordação de Deus, ele viveu uma vida na recordação de Deus e essa é a verdadeira recordação, em nossas orações e nossa vida e nossa morte.
Em resumo, a busca por paz interior envolve reconhecer os problemas que temos em nossas vidas, reconhecer nossos obstáculos, reconhecer que a paz interior virá somente quando identificarmos aqueles obstáculos e compreender quais deles podemos mudar, e que focando naqueles obstáculos podemos mudar os que são relacionados ao nosso eu.
Se mudarmos o nosso eu, então Deus mudará o mundo à nossa volta e nos dará os meios para lidar com ele. Mesmo que o mundo esteja em desordem, Deus nos dará paz interior.
O que quer que aconteça sabemos que é o destino de Deus, que são os testes de Deus e que, em última instância, são para o nosso bem e existe um bem nisso. Deus nos criou nesse mundo e o mundo é um meio de alcançar o Paraíso. Os testes desse mundo são nosso crescimento espiritual. Se pudermos aceitar tudo isso, aceitar Deus em nossos corações, então podemos alcançar paz interior.