YUNUSS. ( JONAS )
Paz esteja com ele
YUNUSS (JONAS) NO AL-QUR’ÁN E NA BÍBLIA
Yunuss em árabe, ou Jonas como é conhecido noutras escrituras sagradas, é o profeta que sobreviveu no ventre dum grande peixe. ALLAH diz no sagrado Al-Qur’án: «Tal foi o argumento que demos a Ibrahim (Abraão) contra o seu povo; Nós elevamos em graus a quem quisermos; o teu Senhor é Prudente e Sábio. E demos-lhe por fi lhos Iss-háq (Isaac) e Yakub (Jacob), aos quais Nós guiámos; e a Nuh (Noé) guiámo-lo antes. E da sua descendência (de Ibrahim), guiámos a Dawud (David), a Sulaiman (Salomão), a Ayub (Job), a Yussuf (José), a Mussa (Moisés) e a Harun (Aarão); é assim que recompensamos os que praticam o bem. E (guiámos também) a Zakariyah (Zacarias), a Yáhya (João Baptista), a Issa (Jesus) e a Ilyáss (Elias); todos eles pertenceram ao número dos justos. E (guiámos também) a Issmail (Ismael), a Al-Yassa’a (Eliseu), a Yunuss (Jonas) e a Lut (Lot), e a todos eles preferimos sobre os mundos (seus contemporâneos).» [Al-Qur’án 6:83-86] Destes versículos depreende-se que Jonas pertencia à descendência de Abraão, para além de que era também um profeta, tal como consta claramente no sagrado Al-Qur’án: «E por certo, Jonas era dos mensageiros.» [Al-Qur’án 37:139] É mencionado ainda o número de pessoas para as quais ele foi enviado: «E enviámo-lo para pregar a cem mil pessoas ou mais, e elas creram em ALLAH; e deixámo-las gozar a vida por algum tempo.» [Al-Qur’án 37:148-149] De salientar que todo o povo de Jonas aceitou a fé, razão pela qual ALLAH lhes salvou do castigo, tal como atesta o seguinte versículo: «Porque nunca houve uma cidade (povo) que cresse e tirasse proveito da sua fé, excepto a de Jonas; quando creram, salvámo-los do castigo ignominioso nesta vida, e deixámo-los gozar por um tempo.»
[Al-Qur’án 10:98]
O Antigo Testamento também relata sobre Jonas:
1. Vocação de Jonas, Sua Fuga e Castigo
«E veio a palavra do Senhor a Jonas, fi lho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à Minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis, e descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor. Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fezse no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se. Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu deus, e lançaram ao mar as cargas que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. E o mestre do navio chegou-se a ele e disse-lhe: Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim Ele se lembre de nós para que não pereçamos. E diziam cada um ao seu companheiro: Vinde e lancemos sortes, para que saibamos por que causa nos sobreveio este mal; e lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Então lhe disseram: Declara-nos tu agora, por causa de quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual é a tua terra? E de que povo és tu? E ele lhes disse: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca. Então estes homens se encheram de grande temor, e disseram-lhe: Por que f i zeste tu isto? Pois sabiam os homens que fugia da presença do Senhor, porque Ele lho tinha declarado. E disseram-lhe: Que te faremos nós, para que o mar se nos acalme? Porque o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso. E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará, porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade. Entretanto, os homens remavam para fazer voltar o navio à terra, mas não podiam, porquanto o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles. Então clamaram ao Senhor, e disseram: Ah, Senhor! Nós te rogamos, que não pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o sangue inocente, porque tu, Senhor, fi zeste como te aprouve.
E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifício ao Senhor, e fi zeram votos. Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.» [Jonas 1:1-17]
2. Jonas no Ventre do Grande Peixe, Sua Oração e Salvamento
«E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, e Ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e Tu ouviste a minha voz. Porque Tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as Tuas ondas e as Tuas vagas têm passado por cima de mim. E eu disse: Lançado estou de diante dos Teus olhos, todavia tornarei a ver o Teu santo templo. As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou, e as algas se enrolaram na minha cabeça. Eu desci até aos fundamentos dos montes; a terra me encerrou para sempre com os seus ferrolhos, mas Tu fi zeste subir a minha vida da perdição, ó Senhor meu Deus. Quando desfalecia em mim a minha alma, lembrei-me do Senhor; e entrou a ti a minha oração, no Teu santo templo. Os que observam as falsas vaidades deixam a sua misericórdia. Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação. Falou, pois, o senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca.» [Jonas 2:1-10]
3. Jonas Prega em Nínive; o Arrependimento dos Ninivitas
«E veio a palavra do Senhor, segunda vez, a Jonas, dizendo: Levanta-te e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que Eu te digo. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho. E começou Jonas a entrar pela cidade, caminho de um dia, e pregava, dizendo: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiramse de saco, desde o maior até ao menor.
Esta palavra chegou também ao rei de Nínive; e ele levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza. E fez uma proclamação que se divulgou em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água. Mas os homens e os animais sejam cobertos de sacos, e clamem fortemente a Deus, e convertam-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da Sua ira, de sorte que não pereçamos? E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.»
[Jonas 3:1-10]
4. O Descontentamento de Jonas e a Resposta do Senhor
«Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele fi cou irado. E orou ao Senhor, e disse: Ah, Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânime e grande em benignidade, e que te arrependes do mal; peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires? Então Jonas saiu da cidade, e sentou-se ao oriente dela; e ali fez uma cabana, e sentou-se debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fi zesse sombra sobre a sua cabeça, a fi m de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte, ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o Sol, Deus mandou um vento calmo oriental, e o Sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte. E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fi zeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu? E não
hei-de Eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?» [Jonas 4:1-11] Portanto, isto é o que consta na Bíblia sobre Jonas, o qual foi transcrito na íntegra a fi m de se ter uma ideia daquilo que se passou com ele e com os habitantes de Nínive. Nesses relatos, pode-se facilmente reparar partes de versículos onde consta que «Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado» e que «sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânime e grande em benignidade, e que te arrependes do mal». Nunca se pode afi rmar que Deus se arrepende, pois essa não é uma qualidade Divina. Ele tem sim a capacidade de perdoar e aceitar o arrependimento dos Seus servos.
ESTATUTO DE YUNUSS
No sagrado Al-Qur’án, Yunuss foi mencionado em seis capítulos, em dois dos quais referido como “Zhun-Nun” e “Sáhibul-Hut”, ou seja, “homem do peixe”, por ter sido engolido por um grande peixe e posteriormente sido lançado para terra fi rme. É relatado no Sahih Bukhari de que Abu Zhar narra que perguntou ao profeta Muhammad sobre o número total de profetas enviados por ALLAH, ao que respondeu: «Cento e vinte e quatro mil, dos quais trezentos e treze foram mensageiros». Consta ainda no mesmo livro autêntico de que o Profeta disse: «Ninguém de vós deve afi rmar que eu sou melhor do que Yunuss». Com isso, o Profeta quis ensinar aos seus seguidores o respeito que deveriam ter com Yunuss , pois o Satanás pode muito bem murmurá-los dizendo: Como é que ele fugiu da sua gente antes de ALLAH permitir que saísse? E será que um profeta honrado por ALLAH com essa nobre missão poderia fazer uma coisa dessas? De salientar que os murmúrios provenientes do Satanás são muito perigosos e podem desviar as pessoas do caminho recto, mesmo que seja através da língua.
SEU CHAMAMENTO E A ACEITAÇÃO DO POVO
Jonas tinha apenas vinte e oito anos quando lhe foi concedida a profecia, tendo sido enviado aos israelitas, que acendeu a luz da fé em Nínive, uma localidade próxima da actual Kufá (em Iraque). Sob as trevas da idolatria e na ignorância do politeísmo, Jonas elevou a bandeira do monoteísmo e apelou ao seu povo a abandonar a idolatria e a adorar somente um único Deus – Criador de tudo e de todos. Disse-lhes ainda que fora enviado como mensageiro a fi m de lhes indicar o caminho recto, uma vez que a ignorância já lhes tinha corroído os corações e que já não sabiam distinguir a verdade da falsidade. As pessoas a quem ele pregava estranhavam as coisas que ouviam dele e que não estavam habituadas, pois era lhes difícil aceitar um homem de entre o seu povo que afi rmava ser mensageiro de Deus e que viera para lhes guiar e falar de um único Criador que desconheciam. O povo disse: «Que palavras são essas que proferes e que acusação estás a fazer? Os deuses que adoramos já encontrámos nossos pais a fazê-lo; nós não podemos deixar aquilo que os nossos antepassados já adoravam e adoptar uma nova religião trazida por ti!» Portanto, apesar do chamamento de Yunuss , o povo insistia na descrença e rebeldia e zombava dos seus ensinamentos, tal como acontecia com muitos outros povos que vieram anteriormente. Jonas disse: «Ó minha gente! Afastai a cortina dos vossos olhos e meditai: Será que esses ídolos aos quais vós dirigis de manhã e à noite e confi ais neles para o preenchimento das vossas necessidades e para vos proteger do mal, podem realmente vos benefi ciar ou afastar do mal? Será que de facto eles têm poder de criar ou ressuscitar algo, curar doentes ou guiar os perdidos? Será que podem se defender caso alguém procure destruí-los? Porque é que rejeitais esta religião para a qual vos chamo, na qual reside o vosso bem, corrige a vossa situação, ordena o que é bom e proíbe o que é mau, incentiva a justiça e condena a iniquidade, propaga a segurança e tranquilidade entre vós, encoraja a assistência aos pobres e necessitados?» O povo não teve outra resposta senão: «Tu não passas de um homem como nós; não estamos interessados em seguir a ti nem o teu caminho».
Então Jonas disse: «Eu vos chamei de boas maneiras e com argumentos claros e lógicos, se aceitardes o meu chamamento, isso é o que espero de vós; porém, se rejeitardes, então vos advirto da vinda dum castigo próximo, que trará destruição para vós». Eles responderam: «Ó Jonas! Nós não aceitamos o teu chamamento nem temos medo das tuas ameaças; se falas a verdade, traga-nos isso com o que nos ameaças constantemente». Jonas fi cou desesperado, não insistiu mais e foi-se embora zangado para um outro local, pois havia muitas outras cidades e comunidades nas redondezas; havia-lhes convidado de boas maneiras mas eles, sendo teimosos, recusaram trazer a fé. Julgando que a tarefa dum mensageiro era apenas de transmitir a mensagem Divina e, achando que já era sufi ciente o que fi zera, não persistiu com eles e saiu na esperança de encontrar um outro povo na imensidão da terra, a fi m de lhe pregar a sua mensagem. Se tivesse continuado na propagação e tolerasse por mais tempo, talvez poderia vir a convencer alguns a aceitar a sua religião e crer na sua fé; contudo, ele se precipitou, abandonou o local sem ordem Divina e não receou que Deus pudesse repreendê-lo por isso. E este é o signifi cado do versículo: «...pensando que Nós jamais o forçaríamos para uma situação apertada». Como tinha advertido ao povo sobre um castigo iminente caso não cressem, e uma vez que foi isto que aconteceu mas o dito castigo não aparecia, então Jonas receou que lhe chamassem de mentiroso; consequentemente, não quis estar entre eles pois temia a vergonha. Ele não estava muito distante de Nínive quando começaram os indícios do castigo. O clima mudou drasticamente e começaram a surgir nuvens; as caras dos seus habitantes começaram a se alterar, mostravam-se afl itos e envoltos de medo. Concluíram então que o chamamento de Jonas era verdadeiro, que a sua advertência era real e que certamente o castigo cairia sobre eles, tal como acontecera com os povos antepassados de Ád, de Samud e de Nuh. Foi então que pensaram em recorrer e crer no Deus de Jonas, arrependendose e voltando somente para Ele. Saíram todos para as montanhas e choraram e lamentaram humildemente.
Então, ALLAH teve compaixão sobre eles e estendeu-lhes a Sua misericórdia; afastou o Seu iminente castigo e aceitou o arrependimento deles, pois estavam a ser sinceros e verdadeiros na fé. Assim, todos regressaram para as suas casas, crentes e seguros, e começaram a desejar que Yunuss regressasse, a fi m de conviverem com ele e tê-lo como mensageiro, profeta, professor e líder.
YUNUSS NO MAR
Entretanto, ele já havia abandonado o local, tendo chegado numa zona junta ao mar, onde encontrou um barco carregado juntamente com um grupo de pessoas que pretendiam atravessá-lo. Pediu-lhes então que o levassem junto, transportando-o a bordo com eles; o pedido foi aceite e cederam-lhe um lugar privilegiado, pois Yunuss mostrava-se alguém nobre e piedoso. Assim que o barco partiu e começou a navegar no alto-mar, não estando muito distantes da costa, surgiu uma tremenda tempestade e o mar se tornava bastante violento, com ondas bem altas. Logo os viajantes começaram a fi car preocupados e a prever um mau fi m. Na tentativa de minimizar o problema, concluíram em se livrar do excesso de peso, pois o barco estava bastante carregado e superlotado; então, começaram a lançar a bagagem e outras cargas, só que isso não se mostrou sufi ciente. Logo, viram que a saída que restava era reduzir ainda mais o peso; então, o capitão decidiu que um dos passageiros deveria ser lançado do barco, sacrifi cando-se de modo a haver esperança para que as restantes vidas pudessem se salvar. Segundo as suas crenças, disseram: «Parece que neste barco há um servo fugitivo do seu Senhor; enquanto não o afastarmos, não estaremos salvos», e começaram a se consultar mutuamente o que deveriam fazer. Quando Yunuss se deparou com a situação, apercebeu-se do erro que tinha cometido ao sair de Nínive sem a instrução do seu Senhor. Então, ofereceuse dizendo: «Eu sou o tal servo fugitivo; portanto lançai-me ao mar». Como os marinheiros tinham notado a sua piedade, não aceitaram lançá-lo e decidiram fazer sorteios. Só que o infortúnio caiu sobre Yunuss , mas
mesmo assim se recusaram a lançá-lo devido ao seu estatuto nobre e piedade. Repetiram esse processo três vezes, mas sempre saía o seu nome. Então, ele viu que nisso havia algum sinal, apercebeu-se do seu erro e concluiu que era ALLAH Quem lhe escolhera para ser lançado ao mar, como penitência por ter abandonado Nínive e deixado o seu povo antes da autorização ou instrução Divina. Temendo a fúria Divina, ele próprio se entregou em nome de ALLAH e se lançou ao mar, desaparecendo nas profundezas das águas.
INTERACÇÃO COM O GRANDE PEIXE
Entretanto, surgiu um grande peixe que, cumprindo ordens do seu Criador, ingeriu Yunuss e levou-o para as profundezas do oceano. Quando ele despertou, reparou que estava deitado sobre algo húmido e esponjoso e que tudo ao seu redor era como uma cave, coberta numa escuridão total. Logo depois sentiu algumas sacudidelas, tal como acontece com os barcos quando são apanhados pelas ondas. Foi então que ele concluiu que de facto estava no interior dum peixe enorme, que fora inspirado por ALLAH para lhe engolir; imediatamente virou-se para o seu Senhor – o Misericordioso e Perdoador, arrependeu-se e rogou pelo perdão com toda a sinceridade: «Então, declarou no seio das trevas: Não há outra divindade excepto Tu, glorifi cado sejas! Certamente, eu fui um dos injustos.» [Al-Qur’án 21:87] Então, ALLAH aceitou a súplica de Yunuss e inspirou ao peixe para que deixasse o seu hóspede em terra, pois já tinha aprendido a lição e já havia sido admoestado. Depois, ALLAH ordenou a Yunuss que voltasse à sua terra, para junto da sua família e povo, pois todos eles já tinham acreditado na religião que pregara e aguardavam pela sua chegada. Assim, ele regressou e encontrou todo o seu povo disposto a seguir orientações Divinas: «Na verdade, Yunuss era um dos profetas, quando fugiu para o navio carregado. Então, ele tirou as sortes e foi um dos perdedores (a ser lançado ao mar). Um grande peixe o engoliu (fi cando preso numa jaula ambulante), pois ele tinha praticado um acto merecedor de censura.
E se, na verdade, ele não tivesse sido um dos que glorifi cam ALLAH (antes e depois de ser engolido), teria permanecido no ventre do grande peixe até ao Dia da Ressurreição. Então, Nós o lançámos numa praia nua (deserta) enquanto estava doente; e f i zemos brotar sobre ele uma planta de abóbora (aboboreira). E enviámo-lo para pregar a um povo ou a uma cidade de cem mil pessoas ou mais; e eles creram (em ALLAH) e, por conseguinte, deixámo-las gozar a vida por algum tempo.» [Al-Qur’án 37:139-148] Realmente, foi um grande milagre por parte de ALLAH o facto dum grande peixe engolir um ser humano e não lhe causar mal. Como ele se alimentava lá dentro, qual a sua situação durante aqueles dias, todas essas são questões impertinentes; mas uma vez tratando-se dum milagre Divino, tudo é fácil para Ele. Nas várias camadas das trevas, uma no ventre do peixe, outra nas profundezas do oceano e outra ainda durante a noite, adorava, recordava e invocava constantemente o seu Senhor. Segundo os comentadores, Yunuss era uma pessoa bastante piedosa, glorifi cava a ALLAH frequentemente e despendia uma boa parte do seu tempo na adoração, sendo essa a razão da sua salvação. É relatado por Ibn Abi Shaiba de que Dahák Ibn Qaiss narra: Recordai ALLAH na felicidade e Ele recordará de vós na difi culdade; Yunuss era um servo piedoso que sempre recordava ALLAH, por isso quando foi engolido pelo peixe, ALLAH disse: «E se, na verdade, ele não tivesse sido um dos que glorifi cam ALLAH, teria permanecido no ventre do grande peixe até ao Dia da Ressurreição». Por outro lado, o Fir’aun (Faraó) era um servo rebelde e que não recordava ALLAH, por isso quando estava a se afogar disse: «Creio que não há divindade senão Aquele em Quem crêem os Filhos de Israel, e sou um dos submissos. (Então foi-lhe dito) só agora! Enquanto que anteriormente desobedecestes e fostes um dos corruptos». [Al-Qur’án 10:90-91] ALLAH diz ainda no sagrado Al-Qur’án: «E (recorda) de Zhun-Nun (homem do peixe), quando se enfureceu com sua gente, pensando que Nós jamais o forçaríamos para uma situação apertada.
Então, declarou no seio das trevas: Não há outra divindade excepto Tu, glorifi cado sejas! Certamente, eu fui um dos injustos. Então, atendemo-lo e salvámo-lo da afl ição; é assim que Nós salvamos os crentes.» [Al-Qur’án 21:87-88]
A FALHA DE YUNUSS E O SEU PERDÃO
A ligação entre ALLAH e Seus profetas é diferente da relação entre Ele e outros crentes. Os profetas recebem ordens directamente de ALLAH, razão pela qual a responsabilidade no cumprimento das mesmas também seja diferente da dos outros. Portanto, quando os profetas ou mensageiros pretendem tomar algum passo ou realizar alguma acção, devem fazê-lo à luz da revelação e orientação Divinas, especialmente no que concerne aos assuntos ligados à propagação da fé e mensagem Divinas. Quando eles se precipitam nalguma promessa, decisão ou pronunciamento e actuam sem esperar a orientação de ALLAH, mesmo que à priori isso possa parecer algo insignifi cante, a Sua repreensão é muito rigorosa para eles. Por vezes, essa admoestação é tão severa que leva pessoas menos entendidas a achar que se trata dalgum crime bastante grave cometido por esse profeta ou mensageiro. Só que logo de seguida, eles voltam-se para o seu Senhor, reconhecem a falha e imploram-No pelo perdão, o qual sempre foi aceite. Este facto tem uma grande importância no estilo da expressão do sagrado Al-Qur’án, pois quem não se apercebe disso pode fi car bastante baralhado, chegando a questionar como uma personalidade escolhida e enviada por ALLAH e que é por Si elogiada, é digna de cometer crimes dessa natureza. A passagem de Yunuss é também um bom exemplo disso pois, no seu caso, um profeta não se pode preocupar apenas consigo mas sim a sua preocupação deve abranger também o bem-estar e a salvação do seu povo. A censura por parte de ALLAH foi devido ao facto de Yunuss se ter precipitado em abandonar a sua gente sem ter recebido orientação Divina, dando prioridade apenas à sua própria salvação do castigo iminente, deixando para trás
mais de cem mil pessoas. Ele largou a sua missão e fugiu da cidade sem consultar a ALLAH, sendo esse o descontentamento Divino e motivo de repreensão. Quando o castigo estava próximo, os descrentes oraram a ALLAH invocando o Seu perdão e misericórdia; Ele ouviu as suas súplicas e libertou-lhes do castigo, deixando-lhes viver novamente já como crentes. Foi o mesmo que sucedeu com o profeta Yunuss : ALLAH fez-lhe experimentar um evento estranho e pavoroso, mas quando confessou a sua falha e orou com sinceridade, Ele salvou-lhe e teve misericórdia sobre si. De facto, esta é uma promessa de ALLAH para aqueles que O recordam frequentemente. Consta que certa vez quando o profeta Muhammad desejou orar contra um povo que o havia incomodado e maltratado quando ele se dirigia às tribos de Makkah a fi m de convidá-las para o Isslam, então ALLAH revelou-lhe os seguintes versículos: «Espera pois com paciência o julgamento do teu Senhor, e não sejas como o companheiro do grande peixe, (que se precipitou) ao Nos chamar enquanto estava (profundamente) angustiado. Se a graça do teu Senhor não o tivesse alcançado, ele teria sido lançado para a margem nua (ou seja, sem árvores), (e continuaria ali) enquanto culpado. Mas o seu Senhor o escolheu e o colocou entre os justos.» [Al-Qur’án 68:48-50]
LIÇÕES COLHIDAS
Da história do profeta Yunuss (Jonas), surgem alguns aspectos signifi cantes sobre os quais devemos refl ectir. Os pregadores (defensores) da verdade devem estar preparados para suportar o fardo ou peso que possa advir durante a sua missão e se manter pacientes face à rejeição e oposição viciosas. Os que advogam a verdade e são encarregues de transmitir a mensagem, devem ser perseverantes mediante as difi culdades que possam vir a enfrentar e não desistir da sua missão, apresentando incessantemente a sua mensagem às pessoas, chamando-as a crer nela.
Quando se tem a certeza da veracidade da mensagem que advoga, difi cilmente encontrará pessoas que o acusarão de inventar falsidades e de mentir deliberadamente. Mesmo que isso aconteça, não se deve perder esperança nas pessoas pensando que nunca acreditarão na verdade, independentemente da oposição que elas possam causar. O insucesso acontece e é normal, o importante é saber como proceder depois dele. Se as inúmeras e constantes tentativas falharem em tocar o coração das pessoas, então pense que talvez a próxima poderá resultar em sucesso, pois muitos resultados vêm depois de mil e uma tentativas. Portanto, se já tiver tentado por mil vezes e não tiver obtido sucesso, então que tente mais uma vez na esperança de que, com a graça de ALLAH, a próxima poderá ser efi caz. Muitas vezes fi camos surpreendidos ao ver várias tentativas serem dispendidas numa única pessoa, só que sem êxito, mas um gesto casual vindo no momento certo toca a “corda correcta”, e a tal pessoa passa por uma transformação completa sem muitas difi culdades. Pode-se comparar isto quando tentamos sintonizar uma determinada estação radiofónica através de rádios analógicos. Giramos várias vezes o sintonizador dum lado para outro na tentativa de achar a frequência correcta, fazendo isso delicada e cuidadosamente na busca da emissora, quando de repente, um simples toque acerta na frequência desejada e se consegue uma boa recepção do sinal. O coração humano também é semelhante a um rádio, razão pela qual os pregadores devem se esforçar arduamente para encontrar o “ponto certo” que possa iluminar as pessoas a receberem a mensagem Divina. Deve-se procurar “tocar” em todos os sensores, a fi m de descobrir o nervo efectivo; com determinação, empenho e intenção pura, o toque certo será inevitavelmente feito e a transformação completa do destinatário poderá ser alcançada. A forma como a mensagem toca o coração das pessoas não é confortante nem fácil, e uma resposta positiva pode não ser tão próxima. Inúmeras crenças falsas, práticas erradas, práticas e tradições pesam fortemente na mente e coração humanos, que deverão ser removidas de modo a que a parte espiritual da pessoa possa ser reavivada em todas as vertentes. Um pregador é meramente um instrumento nas mãos de ALLAH. É ALLAH que preserva a Sua mensagem e somente Ele Quem pode conceder a Luz de
Orientação. O ser humano deve ter isso em mente e cumprir as obrigações pelas quais foi ordenado, por mais dura que seja a oposição que venha a enfrentar.
O DUÁ (SÚPLICA) DE YUNUSS
Consta no Tirmizhi de que o profeta Muhammad afi rmou que sempre que o muçulmano estiver em afl ição e invocar a ALLAH usando as palavras de Zhun-Nun, certamente que a sua prece será atendida. A invocação de Yunuss tem um signifi cado bastante notável, pois ALLAH promete no sagrado Al-Qur’án que, da mesma maneira, Ele atenderá a prece doutros crentes que estejam em afl ição e que também O invoquem pronunciando as preciosas palavras e refl ectindo no seu profundo signifi cado: «Não há outra divindade excepto Tu, glorifi cado sejas! Certamente, eu fui um dos injustos.»