Divindade de Jesus? Uma Investigação
O homem é feito para adorar e obedecer, mas se não lhe der ordens, se não lhe der nada para adorar, ele fabricará as suas próprias divindades, e encontrará um chefe entre as suas próprias paixões.
- Benjamin
Disraeli, Coningsby
A diferença fundamental entre os ensinamentos de Jesus e a fórmula trinitária encontra-se no ato de elevar Jesus ao estatuto divino
– um estatuto que Jesus nega nos evangelhos:
“Por que me chamas bom?
Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus!” (Mateus 19:17, Marcos 10:18 e Lucas 18:19)
“O Pai é maior do que eu” (João 14:28) “…nada faço de mim mesmo, mas transmito tudo conforme o meu Pai me ensinou.” (João 8:28) “Em verdade, em verdade vos asseguro, que o Filho nada pode fazer de si mesmo…”
(João 5:19) “Mas Eu O conheço, porque venho d‟Ele e por Ele fui enviado.”
(João 7:29) e “…quem me rejeitar, rejeita Aquele que me enviou.” (Lucas 10:16) “Agora, porém, Eu vou para junto d‟Aquele que me enviou…”
(João 16:5) “Respondeu-lhes Jesus: „A minha doutrina não é minha, e sim, d'Aquele
que me enviou.‟”
(João 7:16) “Pois Eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me deu ordens sobre o que eu deveria dizer e o que proclamar.” (João 12:49) (NE)
O que é que a teologia paulina diz? Que Jesus é um parceiro na divindade, Deus encarnado. Então, em quem deve uma pessoa acreditar? Se em Jesus, então vamos ouvir o que mais ele poderia dizer:
“O mais importante de todos os mandamentos é este: „Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor‟.” (Marcos 12:29) “Todavia, a respeito daquele dia ou hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho do homem, senão apenas o Pai.” (Marcos 13:32) “„Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele darás culto.‟” (Lucas 4:8) “A minha comida consiste em fazer a vontade d'Aquele que me enviou…” (João 4:34) “Por mim mesmo, nada posso fazer (…) não busco agradar a meu próprio desejo, mas satisfazer a vontade do Pai que me enviou.” (João 5:30) “Pois Eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade d‟Aquele que me enviou.” (João 6:38) “A minha doutrina não é minha, e sim, d‟Aquele que me enviou.”
(João 7:16) “...estou ascendendo ao meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.” (João 20:17)
O meu itálico nos versículos acima não implica que Jesus falou com essa ênfase, embora ninguém possa afirmar com certeza que ele não o tenha feito. Em vez disso, o itálico salienta o fato de que Jesus não só nunca reivindicou divindade, mas seria o primeiro a negá-la. Nas palavras de Joel Carmichael, “A ideia desta nova religião, com ele mesmo
como sua divindade, é algo que ele [Jesus Cristo] nunca poderia ter tido a menor ideia. Como Charles Guignebert coloca, „Nunca sequer passou pela sua mente.‟” 169 Então, se Jesus nunca reivindicou divindade, o que era ele exatamente? Ele mesmo respondeu a essa pergunta: “Somente em sua própria terra, junto aos seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não é devidamente honrado.” (Marcos 6:4) “Jesus lhes afirmou: „Não há profeta sem honra, a não ser em sua própria terra, e em sua própria casa‟”.
(Mateus 13:57) “Afinal, nenhum profeta deve morrer fora de Jerusalém!”
(Lucas 13:33) Aqueles que o conheciam reconheceram: “Este é o profeta Jesus, vindo de Nazaré da Galileia!” (Mateus 21:11), e “Grande profeta foi levantado entre nós...” (Lucas 7:16). Os discípulos reconheceram Jesus como “varão profeta, poderoso em obras…”
(Lucas 24:19. Veja também Mateus 14:5, 21:46, e João 6:14). Se estas declarações foram imprecisas, porque é que Jesus não as corrigiu? Por que é que ele não definiu a sua
divindade, se, isto é, ele realmente era divino? Quando a mulher no poço declarou: “„Senhor, eu percebo que tu és um profeta!‟” (João 4:19), por que é que ele não lhe agradeceu pela sua impressão humilde, explicando que havia mais na sua essência do que profecia? Ou havia? Jesus Cristo, um simples homem? Poderia ser? Uma boa parte do mundo religiosamente introspetivo pergunta, “Por que não?”. Atos 2:22 registra Jesus como “Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus diante de vós por meio de milagres, feitos portentosos e muitos sinais, que Deus por meio dele realizou entre vós, como vós mesmos bem sabeis...” O próprio Jesus é registrado como tendo dito: “Mas, ao contrário, agora procurais matar a mim, um homem que vos tem declarado a verdade, a qual ouviu de Deus.” (João 8:40). Surpreendentemente, uma citação semelhante é encontrada no Alcorão Sagrado: “O bebé [Jesus] disse: „Por certo, sou o servo de Allah. Ele me concederá o Livro, e me fará Profeta…‟” (OSA 19:30). Então foi Jesus um “servo de Allah (isto é, servo de Deus)”? De acordo com a Bíblia, sim. Ou, pelo menos, isto é o que nós entendemos de Mateus 12:18: “Eis o meu Servo, que escolhi...” Além disso, Atos dos Apóstolos traça o crescimento da Igreja primitiva durante os primeiros trinta anos após o
ministério de Jesus, mas em nenhum lugar nos Atos os discípulos de Jesus chamaram Jesus de “Deus”. Em vez disso, eles referiram-se a Jesus como um homem e servo de Deus. Na verdade, o único versículo do Novo Testamento que apoia a doutrina da Encarnação é 1 Timóteo 3:16. (NE) No entanto, no que diz respeito a este versículo (que afirma que “Deus foi manifestado em carne”), Gibbon observa que “Esta forte expressão pode ser justificada pela linguagem de São Paulo (I Tim. iii. 16), mas nós somos iludidos pelas nossas bíblias modernas. A palavra (que) foi alterada para (Deus) em Constantinopla no começo do século VI: a verdadeira leitura, que é visível nas versões em latim e siríaco, ainda existe no raciocínio do grego, bem como dos padres latinos; e esta fraude, com a das três testemunhas de São João, é admiravelmente detetada pelo senhor Isaac Newton.” Fraude? Agora aí está uma palavra forte. Mas se olharmos para a escolaridade mais moderna, é uma palavra bem aplicada, pois “algumas passagens do Novo Testamento foram modificadas para dar uma ênfase mais precisa de que Jesus era, ele mesmo, divino.”
A Bíblia foi modificada? Por razões doutrinais? Difícil de encontrar uma palavra mais adequada do que “fraude”, dadas as circunstâncias. Num capítulo intitulado “Alterações do Texto
Teologicamente Motivadas” no seu livro,Citando Jesus Erradamente
[Misquoting Jesus], o Professor Ehrman elabora sobre a corrupção de
1 Timóteo 3:16, que foi detetada não só pelo senhor Isaac Newton, mas também pelo erudito do século XVIII, Johann J. Wettstein. Nas palavras de Ehrman, “Um escriba mais recente alterou a leitura original, de modo que já não se lia “que”, mas “Deus”
(manifestado em carne). Noutras palavras, este corretor mais recente mudou o texto de tal forma para enfatizar a divindade de Cristo... O nossos manuscritos mais antigos e melhores, no entanto, falam de Cristo “que” foi manifestado em carne, sem chamar Jesus, explicitamente, de Deus.” Ehrman salienta que esta corrupção é evidente em cinco manuscritos gregos. Mas mesmo assim foi corrompida, e não foram os “mais antigos e melhores” manuscritos bíblicos que vieram a dominar ambos os manuscritos medievais e as primeiras traduções para o inglês. Consequentemente, desde os tempos medievais em diante, os dogmas da fé cristã sofreram a influência corruptora de uma Igreja dedicada mais à teologia do que à realidade. Ehrman acrescenta: “Ao continuar as suas investigações, Wettstein descobriu outras passagens tipicamente utilizadas para afirmar a doutrina da divindade de Cristo que, na verdade, representavam problemas textuais;
quando estes problemas são resolvidos por motivos de crítica de texto, na maioria dos casos, as referências à divindade de Jesus desaparecem.” Face ao exposto acima, deve haver pouca surpresa que no século XX o Cristianismo se expandiu para incluir aqueles que negam a suposta divindade de Jesus. Um sinal significativo desta realização é o seguinte relatório do Daily News de Londres: “Mais de metade dosbispos anglicanos da Inglaterra dizem que os cristãos não são obrigados a acreditar que Jesus Cristo era Deus, de acordo com uma pesquisa publicada hoje.” É interessante notar que não foi o mero clero que foi consultado, mas sim bispos, sem dúvida deixando muitos paroquianos a coçar as suas cabeças e a perguntar em quem acreditar, se não nos seus bispos! Independentemente da visão romântica de qualquer devoto quanto às origens religiosas, a dura realidade é que todos os profetas, exceto Adão, nasceram no banho de líquido amniótico que libera todas e cada criança do ventre – Jesus Cristo incluído. Sem dúvida, a mãe de Jesus amamentou-o pelo seu peito no ato natural de nutrir uma criança humana, mas no que seria um ato estranhamente incongruente para Deus, assim como a relação implicaria dependência de Deus da Sua própria criação. Uma pessoa suspeitaria que Jesus gatinhou num chão de terra e cresceu de forma humana,
completa com o comer e beber mundano (certamente seguido pela viagem ocasional a uma casa-de-banho mundana). A sua fome, sede, raiva, dor, fadiga, tristeza, ansiedade, e frustração humanas estão todas bem descritas na Bíblia. Deus é omnisciente, mas em Marcos 5:30, Jesus nem sequer sabia quem tinha tocado nas suas roupas. Deus é todopoderoso, mas Marcos 6:5 diz-nos que Jesus não conseguia realizar nenhum milagre (ou, conforme algumas traduções, “nenhuma obra poderosa”) no seu próprio país. Além disso, em Marcos 8:22-25 Jesus falhou ao curar um cego na sua primeira tentativa. Deus nunca enfraquece e ainda, quando Jesus precisava de reforço, os anjos serviram-no (Marcos 1:13, Lucas 22:43). Jesus dormia, mas Deus nunca dorme (Salmos 121:4). Jesus foi tentado por Satanás (Lucas 4:1-13), e ainda Tiago 1:13 diz à humanidade: “Deus não pode ser tentado pelo mal…” Jesus orou e deu graças (a quem?), jejuou (por quem?), carregou os ensinamentos de Deus, e, no final, sem poder fazer nada, sofreu humilhação e tortura nas mãos de tiranos desviados. Um homem oprimido por tiranos ou um deus oprimido pela própria criação que Ele próprio condenará no Dia do Juízo? Muitos (e não apenas os muçulmanos) argumentam que a visão islâmica é mais nobre e complementar a Deus como um ser supremo e transcendente, e
é mais realista quanto a Jesus como um profeta e um homem. A questão pede uma resposta, “Por que é que Jesus deve ser Deus? Porque é que ele não pode simplesmente ser humano?” A maioria dos cristãos afirmam que a humanidade precisava de um sacrifício para a redimir dos seus pecados, mas um sacrifício humano comum não o faria; apenas um sacrifício divino seria suficiente. Monoteístas rigorosos – sejam eles judeus ortodoxos, cristãos unitários, ou muçulmanos - poderão opor-se, como neste intercâmbio típico: Monoteísta: Ó! Então acredita que Deus morreu? Trinitário: Não, não, pereça o pensamento. Só o homem morreu. Monoteísta: Nesse caso, o sacrifício não precisou de ser divino, se só a parte-homem morreu. Trinitário: Não, não, não. A partehomem morreu, mas Jesus/Deus teve de sofrer na cruz para expiar os nossos pecados. Monoteísta: O que quer dizer “teve de”?
Deus não “tem de” fazer nada. Trinitário: Deus precisava de um
sacrifício e um ser humano não bastaria. Deus precisava de um sacrifício grande o suficiente para expiar os pecados da humanidade, então Ele enviou o Seu Filho Unigénito. Monoteísta: Então nós temos um conceito diferente de Deus. O Deus em que eu creio não tem necessidades. O meu Deus nunca quer fazer alguma coisa sem a poder fazer porque Ele precisa de algo para tornála possível. O meu Deus nunca diz: “Aff, Eu quero fazer isto, mas não posso. Primeiro preciso desta certa coisa. Vamos ver, onde posso encontrá-la?” Nesse cenário, Deus seria dependente de qualquer entidade que pudesse satisfazer as Suas necessidades. Noutras palavras, Deus teria que ter um deus superior. Para um monoteísta estrito, isso simplesmente não é possível, pois Deus é Um, supremo, auto-suficiente,
a fonte de toda a criação. A humanidade tem necessidades, Deus não. Nós precisamos da Sua orientação, misericórdia e perdão, mas Ele não precisa de nada em troca. Ele poderá desejar servidão e adoração, mas Ele não precisa dela. Trinitário: Mas é isso mesmo; Deus diz-nos para O adorar, e fazemos isso através da oração. Mas Deus é puro e santo, e os homens são pecadores. Nós não podemos aproximar-nos de Deus diretamente por causa da impureza dos nossos pecados. Por isso, precisamos de um intercessor para orar através dele. Monoteísta: Pergunta – Jesus pecou? Trinitário: Não, ele não tinha pecado. Monotheist: Quão puro era ele?
Trinitário: Jesus?
100% puro. Ele era Deus/Filho de Deus, então ele era 100% santo. Monoteísta: Mas, então, não podemos
aproximar-nos de Jesus mais do que a Deus, pelo seu critério. A sua premissa é que a humanidade não pode orar diretamente a Deus por causa da incompatibilidade do homem pecador e a pureza de qualquer ser/coisa 100% santo. Se Jesus era 100% santo, então ele não é mais acessível do que Deus. Por outro lado, se Jesus não era 100% santo, então ele próprio estava contaminado e não poderia aproximar-se de Deus diretamente, e muito menos ser Deus, o Filho de Deus, ou parceiro com Deus.
Uma analogia justa poderia ser a de ir ao encontro de um homem supremamente piedoso – a pessoa mais sagrada viva, a santidade a irradiar do seu ser, escorrendo dos seus poros. Então, nós vamos vê-lo, mas dizem-nos que o “santo” não concordará com o encontro. Na verdade, ele não consegue ficar na mesma sala com um mortal manchado pelo pecado. Podemos falar com a sua rececionista, mas o próprio santo? Sem hipótese alguma! Ele é santo demais para se sentar
connosco, seres inferiores. Então, o que pensamos agora? Será que ele soa santo, ou louco? O senso comum diz-nos que pessoas santas são acessíveis – quanto mais santo, mais acessível. Então, por que precisaríamos de um intermediário entre nós e Deus? A frustração alcança um nível crítico para qualquer pessoa que tente argumentar tais questões, pois discussão racional dá lugar a justificações emocionalmente carregadas. Por exemplo, quando a evidência bíblica falha, aqueles que argumentam com base numa doutrina não-bíblica são forçados a fechar o livro a partir do qual eles afirmam derivar orientação (isto é, a Bíblia) e a trocar as marchas para o místico. Quem poderá argumentar com tais questões condescendentes como, “Nunca sentiu o poder de Jesus na sua vida?” Se uma pessoa (incluindo a que perguntou) entende que a questão é um assunto separado. Os monoteístas estritos podem ser rápidos em responder afirmativamente, mas com a alteração de que a verdade que Jesus ensinou é mais poderosa do que as blasfémias que, posteriormente, cresceram para dominar o Cristianismo. O monoteísta estrito, seja ele um judeu ortodoxo, cristão unitário ou muçulmano, também se pode questionar sobre como se sentiria no caso de um engano de Satanás. Muito escorregadio e persuasivo, poderíamos
pensar, pois quantas almas poderia ganhar Satanás, se ele não aparecesse num manto de piedade? Então, como podemos saber a diferença entre a verdade de Deus e o engano de Satanás? Se escolhermos religião baseando-nos em emoções e não no pensamento racional, como podemos ter a certeza de que estamos no caminho certo? A dádiva de Deus da faculdade de julgamento é baseada em razão cognitiva; pensar o contrário é supor que foi dada a uma criação racional uma lei irracional. Deus orienta a humanidade em Isaías 1:18, “Então, sim, vinde e arrazoemos...” Em nenhum lugar Deus ensina, “Sinta o seu caminho por aí”. A porta de Satanás – fissuras da fraqueza humana através das quais ele ganha posse – consiste em emoções básicas, nos desejos mais baixos. Ninguém, alguma vez, se senta com uma chávena de chá quente no crepúsculo em desvanecimento de um pôr do sol cor pastel e tabula os prós e contras do adultério, roubo ou avareza. Ninguém alguma vez chega ao pecado através de raciocínio dedutivo - isso simplesmente não acontece. A humanidade chega ao pecado através do seguimento de desejos básicos em detrimento de melhor julgamento - isto é, raciocínio. Os pecados da carne são bastante perigosos, nas perspectivas tanto mundanas como pós-mundanas. Quão mais perigosos são os erros de religião com base no apelo emocional de propostas de exclusividade
espiritual?
No passado, tais
reivindicações de exclusividade espiritual eram maioritariamente limitadas ao domínio dos gnósticos, que foram queimados na fogueira como hereges até ao tempo (ou pelo menos assim parece) em que a doutrina trinitária se encontrava nua e indefesa na floresta de debate teológico. A dependência das defesas religiosas místicas do “espírito santo” e da “luz guia”, embora anteriormente considerada uma heresia gnóstica, tornou-se a marca registrada da ortodoxia cristã. E tem-lhes servido bem. A alegação de que uma pessoa não tem o “espírito santo” se não aceitar uma determinada ideologia serve como a última barreira na discussão religiosa, desviando o impulso do argumento racional longe daqueles que preferem o desaparecimento da evidência do que serem confrontados pela sua inconveniência. A alegação de que uma pessoa entenderá Jesus se apenas aceitasse o “Espírito Santo” nas suas vidas encontra a resistência daqueles que procuram evitar tal ideologia gnóstica – uma ideologia que implica uma natureza arbitrária de Deus, que concede compreensão mística a alguns enquanto a impede a outros. Monoteístas estritos podem tentar redirecionar a discussão de volta para o ponto principal. Por exemplo, muitos grupos religiosos (muçulmanos incluídos) aceitam Jesus, mas
como um profeta de Deus. Eles acreditam que ele ensinou, incluindo a sua declaração frequentemente repetida de si mesmo como sendo nada mais do que um profeta e um homem. Em contraste, muitos não acreditam no que os teólogos paulinos ensinaram, preferindo confiar na verdade clara dos profetas em preferência às contradições turbulentas daqueles que seguiram visões. Não importa quão sincero Paulo possa parecer ter sido, ele não era um discípulo, nunca conheceu Jesus, e de fato perseguiu, prendeu, e matou os seus seguidores (Atos 22:19 e 26:9-11), consentiu com o apedrejamento de Estevão
(Atos 7:58-60 e 22:20), e assolou a Igreja
(Atos 8:3). Muitos admitem que Paulo pode ter tido uma visão ou sonho vívidos, mas que o engenheiro por trás da cortina-deilusão nessa estrada de tijolos amarelos para Damasco não poderia ser divino, visto que a alegada inspiração contradiz a revelação. No credo dos cristãos unitários e dos muçulmanos, Deus não é nem inconstante, nem incoerente. Além disso, devemos lembrar-nos de que Jesus advertiu os seus discípulos, ““Cuidado, que ninguém vos seduza. Pois muitos são os que virão em meu nome, proclamando: „Eu sou o Cristo!‟, e desencaminharão muitas pessoas.”
(Mateus 24:4-5. Veja também Lucas 21:8)
. Apesar desta cautela, Paulo baseou a sua inspiração numa voz etérea que lhe disse: “Eu sou Jesus.”
(Atos 9:5, 22:8, 26:15). O ponto de vista “em poucas palavras” é que Jesus advertiu os seus discípulos a não se deixarem enganar por aqueles que afirmariam ser ele, mas Paulo tomou a sua inspiração de uma voz que reivindicou...
não perca a cadeia de raciocínio...
ser Jesus. Hmm. Aqueles que negam a alegação de Paulo sobre a inspiração divina especulam que, na sequência da sua alegada visão, ele continuou a fazer estragos na Igreja, mas desta vez de dentro. Alguns chamariam isso de subterfúgio. Outros, aparentemente, consideram as suas ações suficientes para a santidade. E não apenas qualquer santidade vulgar, de pé de chinelo, mas santidade de primeira ordem. Tal tipo de troca de ideias geralmente termina abruptamente, porque o desacordo entre emocionalismo ardente e racionalidade calma está condenado a frustrar ambas as partes. Um lado especula sobre um imaginado “OQJF” – “O que Jesus faria?
” O outro concentra-se no documentado “OQFJ” – “O que fez Jesus?”
A grande maioria dos cristãos alegam seguir Jesus, quando na realidade eles não seguem o que ele ensinou, mas o que os outros ensinaram sobre ele. Cristãos unitários e muçulmanos dizem seguir Jesus, e realmente o fazem. Os cristãos que afirmam derivar os seus ensinamentos de Jesus devem sentir-se humilhados quando
encontram os seus ensinamentos melhor exemplificados nos costumes da comunidade islâmica do que naqueles dos próprios cristãos. (NE) Exemplos práticos incluem os seguintes:
Aparência
1. É comum reconhecer que Jesus tinha barba. Nós encontramos esta prática melhor mantida entre muçulmanos ou cristãos?
2. Jesus é conhecido como se tendo vestido modestamente. Ninguém imagina Jesus Cristo de calções e t-shirt. Se fecharmos os olhos e formarmos uma imagem mental, vemos vestes a fluir, dos pulsos aos tornozelos. Quando Jesus proferiu o Sermão do Monte, tinha ele uma pança? Nós gostamos de pensar que não, mas na verdade ninguém sabe, e as suas roupas soltas podem ser a razão. Então, quantos muçulmanos praticantes é que uma pessoa encontra vestidos com uma modéstia tipo-Cristo? Os thobes tradicionais árabes e o shalwar kamiz Indo-paquistanês são talvez os melhores exemplos, enquanto que roupas reveladoras ou sedutoras, tão omnipresentes nas culturas ocidentais, são talvez as piores.
3. A mãe de Jesus usava um lenço na cabeça, e as mulheres cristãs da Terra Santa mantiveram esta prática até a meio do século XX. Qualquer fotografia de um desfile ortodoxo judaico ou cristão palestino ou congregação de antes de 1950 mostram um monte de exemplos de lenços na cabeça. Mas que mulheres de piedade se cobrem agora – cristãs praticantes ou muçulmanas praticantes?
Comportamento
4. Jesus deu ênfase quanto ao próximo mundo, e era um homem preocupado com a busca da salvação. Quantos cristãos “piedosos” se encaixam neste perfil de “Não é só aos domingos”? Agora, quantos muçulmanos de “cinco orações por dia, todos os dias do ano”?
5. Jesus falava com humildade e bondade. Ele não se “exibia”. Quando pensamos nos seus discursos, não imaginamos teatralidade. Ele era um homem simples, conhecido por qualidade e verdade. Quantos pregadores e evangelistas seguem este exemplo?
6. Jesus ensinou os seus discípulos a oferecer a saudação de “paz” (Lucas 10:5)
. Ele, então, deu o exemplo, oferecendo a saudação, “Paz seja convosco” (Lucas 24:36, João 20:19, João 20:21, João 20:26). Quem continua esta prática até hoje, cristãos ou muçulmanos?
“A paz esteja convosco” é o significado da saudação muçulmana, “Assalam alaikum”. Curiosamente, encontramos esta saudação no Judaísmo também (Génesis 43:23, Números 6:26, Juízes 6:23,
1 Samuel 1:17 e 1 Samuel 25:6).
Práticas Religiosas
1. Jesus era circunciso (Lucas 2:21). Paulo ensinou que não era necessário
(Rom. 4:11 e Gal. 5:2). Os muçulmanos creem que é. Que grupo religioso segue Jesus e que grupo segue Paulo?
2. Jesus não comia porco, mantendo-se à Lei do Antigo Testamento (Levítico 11:7 e Deuteronómio 14:8). Os muçulmanos também acreditam que o porco é proibido. Os cristãos... bem, já se sabe.
3. Jesus não dava nem recebia usura, de acordo com a proibição do Antigo Testamento (Êxodo 22:25)
. A usura é proibida no Antigo Testamento e no Alcorão, como era proibida na religião de Jesus. As economias da maioria dos países cristãos, no entanto, foram construídas sobre usura.
4. Jesus não fornicou, e absteve-se de contato extramarital com mulheres. Quantos cristãos aderem a este exemplo?
Nota: a questão ultrapassa a fornicação, e estende-se até ao menor contato físico com o sexo oposto. Com a exceção da realização de rituais religiosos e de ajudar aqueles em necessidade, não há registro de Jesus alguma vez ter tocado uma mulher diferente da sua mãe. Judeus ortodoxos estritamente praticantes mantêm esta prática até hoje na observância da Lei do Antigo Testamento. Da mesma forma, os muçulmanos praticantes nem sequer apertam as mãos entre sexos opostos. Podem as congregações cristãs de “abrace o seu vizinho” e “beije a noiva” fazer a mesma afirmação?
Práticas de Adoração
1. Jesus purificou-se com a lavagem antes da oração, como era a prática dos profetas piedosos que o precederam (veja Êxodo 40:31-32, em referência a Moisés e a Arão), e como é a prática dos muçulmanos.
2. Jesus orou em prostração (Mateus 26:39), como os outros profetas (veja Neemias 8:6 quanto a Esdras e o povo, Josué 5:14 quanto a Josué, Génesis 17:3 e 24:52
quanto a Abraão, Êxodo 34:8 e Números 20:6 quanto a Moisés e Arão). Quem reza assim, cristãos ou muçulmanos?
3. Jesus jejuou durante mais de um mês de uma só vez (Mateus 4:2 e Lucas 4:2), como fizeram os piedosos antes dele (Êxodo 34:28, 1 Reis 19:8). Então, quem segue o exemplo de Jesus, se não aqueles que anualmente jejuam o mês do Ramadan?
4. Jesus fez peregrinação com a finalidade de adoração, como todos os judeus ortodoxos aspiram fazer. Na sua época, a peregrinação era para Jerusalém (Atos 8:2628). Os muçulmanos, se forem capazes, fazem a peregrinação a Makkah (mais familiar a muitos pela sua grafia alternativa, Meca) como orientado por Allah no Alcorão Sagrado. Se os cristãos tiverem dificuldade em aceitar a mudança de locais de peregrinação, os muçulmanos citam Mateus 21:42-43. Em Mateus 21:42, Jesus lembrou os seus seguidores de Salmos 118:22-23 da seguinte forma: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, pois assim determinou o Eterno. Maravilhoso é isso para nós!” Mateus 21:43, em seguida, registra Jesus como tendo previsto, “Por isso, Eu vos declaro que o Reino de Deus
será retirado de vós para ser entregue a um povo que produza frutos dignos do Reino.” A primeira citação referencia “os rejeitados”, que por dois mil anos foi entendida por judeus e cristãos como sendo os ismaelitas – a linhagem de Muhammad e da maioria dos árabes muçulmanos. Jesus prediz que o reino de Deus seria retirado dos judeus e dado a uma nação mais merecedora. Os muçulmanos afirmam que nenhum povo poderia ser mais merecedor do que aquele que abraça os ensinamentos e segue o exemplo de todos os profetas, Jesus e Muhammad incluídos. Além disso, os muçulmanos apontam que Makkah não está sem menção na Bíblia. Makkah é pronunciada “Bakka” num dos dialetos árabes. Assim, o Alcorão Sagrado menciona “Makkah” por nome numa passagem (48:24) e como “Bakka” noutro versículo, onde se lê: “Por certo, a primeira Casa de Allah, edificada para os homens, é a que está em Bakkah, é abençoada e serve de orientação para os mundos.” (OSA 3:96). Os Salmos 84:5-6 fornecem a ligação notável entre o Antigo Testamento e o Alcorão: “Felizes os que em Ti encontram sua força, e todos aqueles que são peregrinos de coração! Ao atravessarem o vale de lágrimas de Baca, convertem-no num lugar de fontes…” A “fonte” sagrada do poço de Zamzam em Bakka/Makkah é bem conhecida. Além disso, como foi
observado na forma de comentário de um editor na obra de Edward Gibbon, “Meca não pode ser o Macoraba de Ptolomeu; as situações não estão de acordo, e até ao tempo de Mahomet, esta tinha o nome de Baca, ou a Casa, do seu templo célebre. É assim chamada até em algumas partes do Corão.”
Assuntos de Credo
1. Jesus ensinou a unicidade de Deus (Marcos 12:29-30, Mateus 22:37 e
Lucas 10:27), conforme veiculado no primeiro mandamento
(Êxodo 20:3).
2. Jesus declarou-se um homem e um profeta de Deus (veja acima), e em nenhum lugar alegou divindade ou filiação divina. Com qual credo estão os dois pontos acima mais consistentes – a fórmula trinitária ou o monoteísmo absoluto do Islam?
Considerações práticas surgem. Perguntas como, “Qual era a religião de Jesus?” e “Se Jesus viveu, pregou, e completou o seu ministério fiel às leis religiosas do seu tempo, porque é que aqueles que dizem seguir no seu nome não vivem pelo seu exemplo?” Afinal, os Atos dos Apóstolos documentam o quão estritas eram as práticas entre os
primeiros seguidores de Cristo. O ato de Pedro de evitar animais imundos está documentado em Atos 10:14, a ênfase quanto à circuncisão é encontrada em Atos 11:2-3, 15:1 e 15:5, a conversão dos sacerdotes e dos fariseus na fé é discutida em 6:7 e 15:5, e 21:20 enfatiza o zelo dos milhares de crentes “pela Lei”. A este respeito, Carmichael observa, “As passagens acima são surpreendentes; elas indicam que, por toda uma geração após a morte de Jesus, os seus seguidores eram judeus piedosos e orgulhosos disso, e tinham atraído para o seu grupo membros de classes religiosas profissionais, e não se afastaram até mesmo das leis cerimoniais onerosas.” Então essa foi a primeira geração de seguidores. Contudo, apesar da evidência bíblica, muitos cristãos preferem os ensinamentos de Paulo, do Papa, ou de certo clero acima dos ensinos registrados de Jesus. Como resultado, um terreno comum de discussão entre os verdadeiros seguidores de Jesus e os seguidores de algo-que-outros-disseram-sobre-Jesus não existe frequentemente. E, embora alguns pensem que este seja um desacordo relativamente recente, é, de fato, uma antiga divisão que Paulo observou na sua própria época: “Refiro-me ao fato de um de vós afirmar: „Eu sou de Paulo‟; enquanto o outro declara: „Eu sou de Apolo‟; e outro: „Eu sou de Pedro‟; e outro ainda: „Eu sou de Cristo!‟”
(1 Coríntios 1:12). Então Paulo, Apolo
(um judeu Alexandrino), Pedro e
Jesus Cristo tinham todos o seu próprio grupo de seguidores separado e distinto, cada um de acordo com os seus ensinamentos e exemplo. A História eliminou os dois grupos no meio, deixando uma separação clara entre aqueles que vivem “de Paulo” e aqueles que são “de Cristo”. Enquanto que Jesus Cristo proclamou o Reino de Deus e Paulo proclamou os mistérios que se tornaram o alicerce da Igreja e Cristologia moderna. Uma vez que Paulo teve tal influência formativa sobre a doutrina trinitária, uma pessoa perguntaria o que é que o trouxe aos mistérios da sua crença. Supostamente uma luz dos céus, uma voz, uma mensagem convincente (Atos 9:3-9). Mas, em 2 Coríntios 11:14-15, até mesmo Paulo admite que “o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa alguma que seus serviçais finjam que são servos da justiça…” Então, a quem é que Paulo estava a falar? Um anjo de luz, um ministro da justiça, ou Satanás? Ele não parecia questionar a sua visão, apesar do sábio conselho: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, porém, avaliai com cuidado se os espíritos procedem de Deus, porquanto muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” (Primeira Epístola de João 4:1). Independentemente de quem estava por trás da visão de Paulo, ele tornou-se um homem diferente. E, embora muitas almas se tenham reformado
através da observância religiosa, isso não é o que aconteceu com Paulo, por uma simples razão: Paulo não observou a religião, ele transformou-a. Tiago, o irmão mais novo de Jesus e chefe da nova Igreja, advertiu Paulo quanto aos seus ensinamentos blasfemos: “Porém, eles têm sido informados a teu respeito, de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a se afastarem de Moisés, pregando que não circuncidem seus filhos nem tampouco andem segundo as tradições e costumes.” (Atos 21:21). E ele então avisou Paulo do encontro da assembleia para decidir a sua punição: “Que faremos, portanto? Certamente todos saberão que chegaste.” (Atos 21:22). Por isso, ele aconselhou-o a arrepender-se, a purificar-se do sacrilégio e, posteriormente, “andar sob absoluta obediência à Lei.” (Atos 21:23-24). Infelizmente, Paulo não continuou com o seu arrependimento, e voltou para os seus caminhos sacrílegos. Uma pessoa perguntaria, OQJF – O que Jesus faria? Sem dúvida, ele não cederia a sua revelação às opiniões contrárias da teologia paulina. Assim, por que é que algumas pessoas continuam a considerar Jesus divino? Um breve resumo, então, destes pontos-chave: 1. Jesus diferenciou entre ele e Deus. Por um lado, ele exaltou a Deus, mas por outro lado, ele humilhou-se diante do seu Criador em adoração. Para os seus seguidores, Jesus definiu-se como nada mais do que um homem e um profeta.
2. Os discípulos concordavam, e reconheciam Jesus Cristo como um homem e um profeta.
3. O único versículo do Novo Testamento (1 Timóteo 3:16) tido como apoio para a doutrina da Encarnação é corrupto –até mais, se se pode imaginar, do que o amplamente desacreditado João 1:14 e Colossenses 2:9.
4. A Bíblia descreve a vida e a história de Jesus em termos que só podem ser associados com humanidade.
5. Argumentos racionais para a humanidade de Jesus sobrecarregam as defesas emocionais daqueles que procuram apoiar a Encarnação.
6. O exemplo de Jesus, na aparência, costumes, práticas religiosas, e credo, é melhor exemplificado na vida dos muçulmanos praticantes do que na vida dos cristãos praticantes.
7. A teologia paulina e a de Jesus Cristo são separadas e divergentes, tendo resultado em diferentes escolas de pensamento – tanto que, desde o tempo de Paulo, uma pessoa teria de escolher entre ser uma pessoa “de Paulo” ou “de Cristo”. Por falta de um versículo bíblico explícito para apoiar a
doutrina da Encarnação, o mundo cristão é obrigado a justificar a teologia com base no que eles consideram ser evidências sugestivas. O que se segue, então, é uma lista dessas evidências, seguidas de refutação.