Termos em árabe
· Hikmah - sabedoria.
Pode parecer ao novo muçulmano que o Alcorão é uma orientação suficiente para o crente, e que é suficiente o estudo e a interpretação pessoal para implementar seus ensinamentos e colocá-los em prática. No entanto, fazer isso pode nos levar ao mesmo tipo de erro que os intérpretes sem conhecimento da Bíblia propagaram em suas congregações. Para apreciar verdadeiramente a mensagem do Alcorão, é preciso estudar a vida, as ações e os ditos do Profeta, que foi quem o trouxe para nós e o colocou em prática; e é por isso que os muçulmanos mantiveram registros das ações e ditos do Profeta Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), cujo nome é Hadith, e instituíram um método rigoroso de análise dos meios através dos quais foram transmitidos até chegarem a nós. Se for confirmado que um Hadith é forte, este é considerado uma Sunnah.
O significado de Sunnah
Sunnah, em geral, refere-se aos ensinamentos e estilo de vida do Profeta Muhammad. Mais especificamente, significa o conjunto de relatos autênticos do Profeta Muhammad, além do Alcorão: suas declarações, ações e aprovações ou aprovações tácitas (das declarações ou ações de seus companheiros).
O significado de Hadith
Hadith é qualquer relato das declarações, ações, aprovações tácitas, maneiras ou características físicas do Profeta Muhammad. Um hadith consiste em duas partes:
(a) A cadeia de narradores.
(b) O texto.
Para que um relato das palavras ou ações do Profeta seja considerado autêntico, tanto o texto quanto a cadeia de narradores devem atender a condições estritas. Aprenderemos mais sobre elas nos seguintes níveis.
Hadith e Sunnah
A Sunnah está contida nos relatos que foram transmitidos do Profeta, ou seja, na literatura de hadith. Encontramos a Sunnah do Profeta nos livros de hadith. As declarações, ações, aprovações tácitas, descrição física e maneiras do Profeta Muhammad são registradas em livros de hadith. Nada que foi relevante em sua vida foi perdido. Um muçulmano pode saber como ele rezava, jejuava e como vivia em casa e com seus companheiros. Não existe registro completo e preciso de nenhuma outra figura histórica.
A importância da Sunnah
O Alcorão nos diz o quão importante é a Sunnah:
(1) Obedecer ao Profeta é obedecer a Allah.
“Quem obedecer ao Mensageiro obedecerá a Deus; mas quem se rebelar, saiba que não te enviamos para lhes seres guardião.” (Alcorão 4:80)
(2) Obedecer ao Profeta é um mandato divino, e somos advertidos sobre desobedecê-lo.
"Obedecei a Deus e ao Mensageiro, a fim de que sejais compadecidos." (Alcorão 3:132)
“Tais são os preceitos de Deus. Àqueles que obedecerem a Deus e ao Seu Mensageiro, Ele os introduzirá em jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Tal será o magnífico benefício.”(Alcorão 4:13)
"E aqueles que desobedecem a Deus e ao Seu Mensageiro, certamente terão o fogo infernal, onde morarão eternamente." (Alcorão 72:23)
“Ó fiéis, obedecei a Deus e ao Mensageiro, e não desmereçais as vossas ações.” (Alcorão 47:33)
(3) Aceitar as decisões do Profeta faz parte da fé.
"Qual! Por teu Senhor, não crerão até que te tomem por juiz de suas dissensões e não objetem ao que tu tenhas sentenciado. Então, submeter-se-ão a ti espontaneamente. " (Alcorão 4:65)
(4) Seguir o Mensageiro nos faz ganhar o amor e o perdão de Allah.
"Dize: Se verdadeiramente amais a Deus, segui-me; Deus vos amará e perdoará as vossas faltas, porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo”
(Alcorão 3:31).
(5) O Alcorão chama a Sunnah de "hikmah" ou "sabedoria". A Sunnah também foi revelada por Allah, assim como o Alcorão.
Allah revelou o Alcorão e a Sunnah:
“Deus revelou-te o Livro (Alcorão) e a prudência (Sunnah).”
(Alcorão 4: 113)
Allah considera a revelação do Alcorão e da Sunnah como parte de Seus favores:
“E lembrai-vos da graça de Allah para convosco [o Islam] e daquilo que Ele fez descer sobre vós: o Livro [Alcorão] e a Sabedoria [ Sunnah], com que Ele vos exorta."
(Alcorão 2:231)
O Profeta Muhammad ensinou o Alcorão e a Sunnah:
"[...] e lhes ensinou o Livro e a Prudência (Alcorão 3: 164).
Preservação Divina da Sunnah
Allah diz no Alcorão:
“Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador.” (Alcorão 15: 9)
Neste versículo, "mensagem" refere-se a tudo o que Allah revelou: tanto o Alcorão quanto a Sunnah. Allah promete proteger o Alcorão e a Sunnah, e isso faz sentido. O Alcorão é a revelação final de Allah e o Profeta Muhammad é o Seu último Profeta. Allah ordena que os muçulmanos sigam a Sunnah e o Alcorão, como já mencionado. Se a Sunnah não houvesse sido protegida, Allah não estaria nos ordenando fazer algo impossível, ou seja, seguir uma orientação que não foi preservada ou que não existe. Posto que tal expectativa seria contraditória com a justiça divina, é lógico que Allah tenha preservado a Sunnah. Como veremos mais adiante, Allah, através dos seres humanos, utilizou diferentes meios para preservar a Sunnah.
Os livros de Hadith mais importantes
Um novo muçulmano deve conhecer os livros de Hadith mais importantes que contêm a Sunnah do Profeta.
(1) Sahih Al-Bukhari
Esse livro foi escrito pelo Imam Al Bukhari (810 - 870 E.C.). É considerado o livro mais autêntico e confiável depois o Alcorão. Sahih Al Bukhari possui 2.602 hadiths que não se repetem. Foi traduzido para o espanhol em uma versão resumida pelo Sr. Isa Amer Quevedo e foi publicado pela primeira vez em 2003. Em nossas lições, os ahadith de Sahih Al Bukhari são mencionados nas notas de rodapé. A tradução está disponível aqui.
(2) Sahih Muslim
Sahih Muslim foi escrito pelo Imam Muslim (817 - 875 EC). Possui 3.033 ahadith e é considerado o livro mais confiável depois de Sahih Al Bukhari. Foi traduzido para o espanhol por Abdu-Rahman Colombo Al Jerrahi, que terminou seu trabalho em 2006. Em nossas lições, os ahadith de Sahih Muslim são mencionados nas notas de rodapé. A tradução está disponível aqui.
(3) Riiad As-Salihin (Os Jardins dos virtuosos)
Este é um livro do Imam Nawawi (1233 - 1277 EC). É uma coleção de versículos alcorânicos e ahadith, ordenados por temas. Possui cerca de 1.900 ahadith autênticos. Dos três livros mencionados aqui, esse é o mais apropriado para iniciantes. Foi traduzido para o português pelo Prof. Samir El Hayek. A tradução está disponível aqui.
Existem outros livros importantes que contêm muitos ahadith autênticos. Os mais comuns são Abu Dawud, At-Tirmidhi, An-Nasa'i e Ibn Majah, e junto com Al Bukhari e Muslim são chamados Al Kutub As-Sittah (os seis livros). O detalhamento de todos eles está além do escopo desta breve introdução à literatura de hadith.
Uma nota final sobre a leitura do hadith é que não há um único livro que contenha todos os ahadith, mas eles são mencionados em vários livros. É de grande importância que nenhum julgamento seja feito durante a leitura de um hadith, pois é mais do que provável que exista outro hadith em outro livro que o esclareça. No entanto, a leitura das explicações dos ahadith dará ao leitor uma compreensão muito melhor dos conceitos mencionados neles, uma vez que os eruditos que escrevem essas explicações coletam evidências extraídas de vários outros ahadith para esclarecer um em particular. A interpretação de um hadith específico deve ser limitada àqueles que conhecem a religião, assim como no Alcorão. Existem outras coleções, como a Riad Us-Salihin mencionada anteriormente, que, diferentemente de outros livros de hadith, foram escritas para o público em geral e são muito mais fáceis de entender para todos os muçulmanos. Outro bom livro inicial é o chamado Al Arba'un An-Nawawiia (Os quarenta ahadith compilados por An-Nawawi), que menciona alguns dos ahadith mais importantes e básicos do Islam; uma explicação detalhada deles pode ser encontrada aqui.
Termos em árabe
· Hajj - A peregrinação a Meca, onde o peregrino realiza um conjunto de rituais. O Hajj é um dos cinco pilares do Islam, que todo muçulmano adulto deve executar pelo menos uma vez na vida, se tiver os meios financeiros e for fisicamente capaz [de realizar tal viagem].
· Zakat - Caridade obrigatória.
· Sunnah - A palavra Sunnah tem vários significados, dependendo da área de estudo; no entanto, o significado geralmente atribuído é: palavras, ações e aprovações do Profeta.
· Hadith (plural: ahadith) - É um relato ou uma história. No Islam, refere-se a um registro narrativo dos ditos e ações do Profeta Muhammad e seus companheiros.
Depois do Alcorão, a Sunnah ou Hadith[1]é a segunda fonte da qual os ensinamentos e leis do Islam são extraídos. A Sunnah detalha todos os aspectos da vida de um muçulmano, incluindo a oração, o jejum, o Hajj, o Zakat, o casamento, o divórcio, a custódia dos filhos, a guerra e a paz. O indivíduo que abraça o Islam precisa da orientação do Alcorão e da Sunnah. Da mesma forma que um muçulmano é obrigado a aceitar e seguir o Alcorão, ele também é obrigado a aceitar e agir de acordo com a Sunnah do Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele).
A seguinte lição é uma introdução à coleção de ahadith e, embora não cubra todos os aspectos da preservação do hadith, a ênfase está principalmente em mostrar que os ahadith foram escritos e memorizados desde a época do Profeta e em destacar alguns dos esforços dos primeiros muçulmanos para preservar e transmitir esses ensinamentos.
A preservação divina da Sunnah
Allah, glorificado seja, diz no Alcorão:
“Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador.” (Alcorão 15:9)
Nesse versículo, "mensagem" refere-se a tudo o que Allah revelou, ou seja, o Alcorão e a Sunnah. Allah promete proteger o Alcorão e a Sunnah, e isso faz sentido, já que o Alcorão é a revelação final de Allah e o Profeta Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) é o Seu último Profeta. No Alcorão, Allah ordena que os muçulmanos sigam a Sunnah, como vimos acima. Se a Sunnah não houvesse sido preservada, Allah estaria nos ordenando que fizéssemos algo impossível: seguir a Sunnah que não foi preservada ou que não existe! Posto que isso seria contraditório à justiça divina, é lógico que Allah tenha preservado a Sunnah. Como veremos nestas lições, Allah, através dos seres humanos, utilizou vários meios para preservar a Sunnah.
Primeira etapa na coleção de ahadith
Transmissão de Hadith durante a vida do Profeta
A transmissão das palavras e ações do Profeta, de uma pessoa a outra, ocorreu por escrito e oralmente durante sua vida. De fato, o próprio Profeta costumava dar instruções sobre a transmissão do que ensinava. Há uma forte evidência histórica de que quando um povo abraçava o Islam, o Profeta costumava enviar-lhes um ou mais de seus companheiros que não apenas ensinavam o Alcorão, mas também explicavam como as ordens do Livro deveriam ser cumpridas na prática, isto é, ensinavam-lhes a Sunnah.
Quando uma delegação de Rabia chegou nos primeiros dias de Medina, o Profeta concluiu suas instruções dizendo-lhes: "Lembrem-se disso e informem aos que deixaram para trás."[2] E em outro caso, instruiu: "Voltem para o seu povo e ensine-lhes estas coisas."[3]
Também foi registrado que as pessoas foram ao Profeta para pedir-lhe professores que lhes ensinassem o Alcorão e a Sunnah, dizendo: "Envie-nos homens para nos ensinar o Alcorão e a Sunnah."[4]
Na ocasião da peregrinação, o Profeta, depois de ordenar aos muçulmanos o dever de manter sagrada a vida, a propriedade e a honra de cada um deles, acrescentou: "Quem está presente aqui deve transmitir esta mensagem a quem estiver ausente."[5]
Naturalmente, os companheiros do Profeta estavam plenamente conscientes de que deveriam seguir a Sunnah, pois a ordem de obedecer ao Profeta em todos os assuntos também estava no Alcorão. Quando Mu'adh Ibn Jabal foi nomeado governador do Iêmen pelo Profeta, e lhe perguntaram como julgaria os casos, sua resposta foi: "Pelo livro de Allah". Então foi perguntado o que aconteceria se não encontrasse uma diretriz no Livro de Allah, ele respondeu: "Então, pela Sunnah do Mensageiro de Allah."[6]
Portanto, a Sunnah foi reconhecida como uma orientação em assuntos religiosos durante a vida do Profeta. Ele costumava ensinar sua Sunnah principalmente de três maneiras:
(1) Ensino verbal: O próprio Profeta foi o professor de sua Sunnah. Para facilitar a memorização e a compreensão de seus companheiros, ele costumava repetir três vezes as coisas importantes. Depois de ensinar seus companheiros, ouvia o que haviam aprendido. O povo de Medina hospedava os visitantes de outras tribos que iam em busca de instruções sobre o Alcorão e a Sunnah.
(2) Ditado aos notários: Estima-se que o Profeta tinha 45 escribas a seu serviço. Com a ajuda deles, enviou cartas a reis, governantes, líderes tribais e governadores muçulmanos; algumas dessas cartas abordavam questões legais, como Zakat, impostos e atos de adoração. O Profeta ditou a vários companheiros, como Ali Ibn Abi Talib e Abdullah Bin 'Amr Bin Al Aas, e ordenou que uma cópia de seu khutba de despedida fosse entregue a Abu Shah, no Iêmen.
(3) Demonstração prática: O Profeta ensinou como a ablução, a oração, o jejum e a peregrinação deveriam ser realizados. Em todas as questões da vida, o Profeta deu lições práticas com instruções claras para seguir seu exemplo. Ele disse: "Rezem como me vêem rezar" e "aprendam de mim os rituais de peregrinação do Hajj". Estabeleceu escolas, os guiou para que difundissem o conhecimento, instou-os a ensinar e aprender, nomeando as recompensas para professores e alunos.
Da mesma forma, os companheiros utilizaram esses três métodos de aprendizado aplicados pelo Profeta para ensinar sua Sunnah:
(a) Memorização: Os companheiros escutavam cada palavra do Profeta com a máxima atenção. Aprendiam o Alcorão e o hadith do Profeta na mesquita; quando o Profeta saía por alguma razão, começavam a repassar o que haviam aprendido. Anas Bin Malik, o servente do Profeta, disse:
“Sentávamos com o Profeta, cerca de sessenta pessoas, aproximadamente, e ele nos ensinava o hadith. Mais tarde, quando ele saía para qualquer necessidade, o memorizávamos entre nós; quando nos íamos, era como se estivesse cultivado em nossos corações.”[7]
Já que não era possível que todos eles assistissem aos círculos de estudo com o Profeta, os que assistiam ensinavam logo aos que não podiam participar. Alguns chegaram a um acordo entre eles para frequentar os círculos de estudo em turnos, como Omar fez com seu vizinho. Sulait, um dos companheiros, recebeu uma terra do Profeta; ele costumava ficar lá por algum tempo e depois voltava para Medina para aprender o que o Profeta havia ensinado em sua ausência. Costumava ter tanta vergonha de não ter frequentado as aulas do Profeta que o pediu que lhe tirasse a terra, pois isso o estava impedindo de frequentar os círculos de estudo.[8]
(b) Registro escrito: Outra maneira pela qual os companheiros aprendiam os ahadith era colocando-os por escrito. O primeiro exemplo de registro dos ahadith pelos companheiros do Profeta é Sahifah, de Hummam Ibn Munabbih, que será discutido em uma lição posterior. O segundo exemplo é As-Sahifah As-Sadiqah, uma compilação de várias centenas de ahadith que pertenceu ao companheiro Abdullah Bin 'Amr Ibn Al-As. Abdullah disse:
“Pedi permissão ao Mensageiro de Allah para registrar o que ouvi dele e ele me permitiu, e eu o registrei.”[9]
O Musnad do Imam Ahmad tem 626 ahadith de Abdullah. Bukhari registrou 8 e Muslim 20, dos quais têm em comum 7.
(c) A prática: Os companheiros costumavam colocar em prática o que memorizavam ou escreviam. É suficiente ressaltar que Ibn Omar levou oito anos para aprender a Surah Al Baqara.
Os companheiros que preservaram a Sunnah
Nem todos os companheiros do Profeta Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) tiveram a mesma oportunidade ou interesse de se comprometer com a preservação da Sunnah. Cada um deles tinha que trabalhar para viver, enquanto defendia a comunidade muçulmana das terríveis ameaças que enfrentavam, as quais representavam um fardo adicional para a maioria deles. No entanto, havia um grupo de companheiros conhecidos como Ashab-us-Suffa que vivia na mesquita e eram especialmente preparados para o ensino da religião ás tribos fora de Medina. O mais famoso deles foi Abu Hurairah, que se apegou à companhia do Profeta a todo custo, memorizava o que o Profeta dizia ou fazia e concentrava todos os seus esforços na preservação do hadith. É dito que ele mesmo disse certa vez:
“Dizem: 'Abu Hurairah narra muitos ahadith do Profeta, como é que os Muhajirin (emigrantes) e os Ansar (auxiliadores) não narram ahadith como Abu Hurairah?'. A verdade é que nossos irmãos entre os Muhajirin estavam ocupados fazendo negócios no mercado, enquanto eu estava com o Profeta, então eu estava presente quando eles estavam ausentes e recordava do que eles esqueceram. Nossos irmãos entre os Ansar estavam ocupados com o trabalho em suas terras, e eu era um homem pobre dentre os pobres, [...]então guardei na memória o que eles esqueceram.” (Sahih Al-Bukhari)
Aisha, a esposa do Profeta, também foi uma dessas pessoas-chave na preservação da Sunnah, especialmente no que diz respeito à vida familiar do Profeta. Ela tinha uma memória afiada e, além disso, estava dotada de um entendimento claro. Há um relato sobre ela segundo o qual "ela nunca ouviu nada que não entendesse, mas costumava perguntar novamente."[1] Em outras palavras, não aceitava nada até estar totalmente satisfeita.
Abdullah Ibn Omar e Abdullah Ibn 'Abbas são outros dois companheiros especialmente dedicados a preservar e transmitir o conhecimento do Alcorão e dos ahadith, assim como Abdullah Ibn' Amr, que tinha o hábito de escrever as palavras do Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Além dos que se dedicavam especialmente a esse trabalho, todos os companheiros do Profeta tentavam preservar o que aprendiam de suas palavras e ações. Omar havia combinado com um de seus vizinhos estar na companhia do Profeta alternando os dias, para que um informasse o outro sobre o que acontecia em sua ausência.
Os manuscritos de hadith durante a vida do Profeta
A ideia popular entre algumas pessoas de que o hadith não foi escrito até duzentos anos depois do Profeta é desmentida pelos fatos. É um erro grave pensar que toda a Sunnah do Profeta permaneceu uma tradição oral até ser escrita alguns séculos depois. A preservação do que o Profeta fez ou disse não era uma ideia tardia dos muçulmanos. Os companheiros do Profeta, ao colocar em prática a maioria de seus ditos, também os conservaram por escrito, além de memorizá-los. Estavam cientes do fato de que sua Sunnah tinha que ser preservada para as gerações futuras. Portanto, não apenas a conservaram em sua memória, mas também recorreram à caneta e à tinta. Dois exemplos mencionados acima foram os de Sahifah de Hummam Ibn Munabbih e As-Sahifah As-Sadiqah.
Abu Hurairah narrou que quando um dos Ansar se queixou com o Profeta sobre sua incapacidade de preservar em sua memória o que ouvia dele, o Profeta disse-lhe que deveria buscar a ajuda de sua mão direita, ou seja, que deveria escrever.
Outra narrativa bem conhecida é a de Abdullah Ibn Amr: "Escrevi tudo o que ouvi do Profeta, com a intenção de memorizá-lo. (Sobre algumas pessoas que se opunham a isso) Conversei sobre isso com o Profeta, que disse:
”Escreva, pois só digo a verdade”[2]
No ano da conquista de Meca, o Profeta proferiu um sermão por ocasião do assassinato de um homem em represália a alguma antiga queixa. Quando o sermão terminou, um homem dentre o povo do Iêmen se aproximou e pediu que o Profeta escrevesse o que ele havia dito; então o Profeta deu ordens para fazê-lo.[3]
Segundo estágio na coleção de ahadith
Com a morte do Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), o trabalho de preservação da Sunnah e da coleção de ahadith entrou no segundo estágio.
Os companheiros ensinavam o que haviam aprendido do Profeta porque sentiam que as pessoas necessitavam disso, e estavam muito conscientes do pecado que implica esconder o conhecimento. Portanto, dedicavam grande parte de seu tempo ao ensino regular. Para os companheiros do Profeta, a religião que havia trazido era uma joia inestimável; era algo que valorizavam acima de tudo no mundo. Por ela, haviam renunciado a amizades, negócios e a suas próprias casas; para defendê-la, haviam dado suas próprias vidas; levar essa bênção divina, o maior presente de Deus, a outras pessoas foi o próprio objeto de suas vidas. Portanto, a difusão de seus conhecimentos era sua primeira e principal preocupação. Além disso, o Profeta havia imposto o dever, sobre aqueles que viam e ouviam suas palavras, de transmiti-las às gerações futuras. De fato, eram fiéis à grande responsabilidade que haviam recebido.
Após a morte do Profeta, seus companheiros cumpriram a missão de levar a mensagem do Islam aos cantos mais distantes do mundo. Qualquer que fosse a direção que tomassem, e qualquer que fosse o país que viajassem, levavam o Alcorão e a Sunnah. Como resultado, dentro de um quarto de século após a morte do nobre Profeta, os companheiros levaram a luz do Islam ao Afeganistão, Irã, Síria, Iraque, Egito e Líbia. Esses companheiros levavam consigo o conhecimento da Sunnah; portanto, nem todo o conhecimento da Sunnah permaneceu em Medina. Alguns companheiros que foram ao Iraque como "Abdullah Ibn Mas'ud" ou ao Egito "como Amr Ibn Al 'Aas" levaram consigo o conhecimento que possuíam, e todos transmitiram o conhecimento da Sunnah a seus alunos antes de morrer.
Cada um deles, mesmo que tivesse conhecimento de um incidente relacionado à vida do Profeta, considerava seu dever transmiti-lo aos demais. Indivíduos como Abu Hurairah, Aisha, Abdullah Ibn 'Abbas, Abdullah Ibn Omar, Abdullah Ibn Amr, Anas Ibn Malik e muitos outros que haviam feito da preservação da Sunnah o objetivo de suas vidas, tornaram-se referências àqueles que recorriam a pessoas de diferentes partes do mundo islâmico, pois eram uma fonte de conhecimento sobre o Profeta e sua religião.
Somente Abu Hurairah tinha oitocentos discípulos. A casa de Aisha também era visitada por centenas de estudantes entusiasmados. A reputação de Abdullah Ibn 'Abbas era igualmente grande e, apesar de jovem, ocupava um lugar de destaque entre os conselheiros de Omar devido a seu conhecimento do Alcorão e da Sunnah. Assim, um grande número de companheiros do Profeta se tornou o meio de difusão do conhecimento religioso.
O fervor da nova geração pela aquisição de conhecimento religioso era tal que os estudantes viajavam de um lugar a outro para completar seu conhecimento da Sunnah e verificar algum hadith do Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Alguns deles viajavam longas distâncias para obter informações em primeira mão sobre um único hadith. Por exemplo, Jabir Ibn Abdullah viajou de Medina a Síria por um hadith. Foi um mês de viagem, como o próprio Jabir relatou.[1] Outro companheiro, Abu Ayoub, viajou ao Egito para perguntar a Uqba Bin Amr sobre um certo hadith, pois havia apenas dois daqueles que ouviram esse hadith em particular do Profeta. Depois de escutar o hadith, já não tinha mais o que fazer no Egito e voltou para Medina. Segundo relatos, Said Ibn Musaiab disse que costumava viajar por dias e noites em busca de um único hadith; e há relatos de outro companheiro do Profeta que fez uma viagem ao Egito por causa de um hadith. O fervor da geração seguinte foi igualmente grande. Abul 'Aliya disse: "Ouvimos falar de um hadith sobre o Profeta, mas não ficamos satisfeitos até que fomos ver o companheiro em pessoa e ouvi-lo diretamente dele."