Termos em árabe
Sunnah - A palavra Sunnah tem vários significados segundo a área de estudo; contudo o significado que geralmente se lhe atribui é: palavras, ações e aprovações do Profeta.
O Alcorão e a Sunnah do Profeta Muhammad são as duas fontes divinamente reveladas do Islam, e sobre elas são baseadas a fé e a prática religiosa islâmica.
Algumas pessoas podem se perguntar: "Por que é que é importante para um novo muçulmano aprender sobre esse assunto?" Em primeiro lugar, porque saber pelo menos a informação básica aumentaria a sua fé e confiança de que está no caminho correto. Sentiria que a sua religião não é meramente baseada em alegações, mas na revelação que Allah prometeu preservar e, de fato assim o fez. Em segundo lugar, uma pessoa armada com conhecimento básico é menos provável de ser afetada por quaisquer dúvidas que cruzarem o seu caminho.
Allah diz:
“Por certo, Nós fizemos descer o Alcorão e, por certo, dele somos Custódios.” (Alcorão 15:9)
Vejamos evidências de como foi preservado ao longo dos anos.
O Alcorão tem sido preservado e transmitido como nenhum outro texto religioso no mundo. Foi transmitido primeiramente através da memorização e também da escrita como iremos mostrar.
Evidência de que o Alcorão foi preservado através da escrita
Naquele época não havia máquinas impressoras. Os livros tinham que ser escritos manualmente por escribas especializados e fazer uma cópia requeria um processo semelhante. O Alcorão foi ditado palavra por palavra e letra por letra pelo próprio Profeta aos escribas especializados.[1] O Profeta faleceu em 632 E.C. Mais tarde, Abu Bakr, o primeiro líder dos muçulmanos, reuniu os manuscritos originais num único livro, e algum tempo depois, quando o império muçulmano se espalhou do Oriente ao Ocidente, Uthman, o genro do profeta e o terceiro Califa, mandou que as cinco cópias do original fossem feitas e distribuídas para todas as partes do mundo muçulmano uns vinte anos mais tarde.[2]
Hoje, temos três manuscritos do Alcorão que remontam à época do genro do Profeta, o Califa Uthman.
(1) O Manuscrito de Samarcanda, localizado em Tashkent, no Usbequistão. Foi escrito num pergaminho feito de pele de gazela. De acordo com o Programa Memória do Mundo da UNESCO, um ramo do sistema das Nações Unidas, "é a versão definitiva, conhecida como o Mushaf de Uthman, superando todas as outras versões."[3]
Von Denffer, um erudito alemão, escreveu sobre o manuscrito:
“Talvez seja o manuscrito Imam (nome dado à cópia que o próprio Uthman mantinha) ou uma das outras cópias feitas na época de Uthman.”[4]
Figura 1 Este manuscrito, guardado pela Organização Islâmica de Usbequistão, é a versão escrita do Alcorão mais antiga que existe. É a versão completa, conhecida como o Mushaf de Uthman, superando todas as outras versões. Imagem cedida pelo Programa Memória do Mundo, UNESCO.
Figura 2 O Sagrado Alcorão de Uthman na sua vitrine de vidro. Imagem cedida pelo Programa Memória do Mundo.
(2) O manuscrito do Museu do Palácio Topkapi.[5]
(3) O terceiro manuscrito é conservado na Mesquita Al-Hussein, no Cairo, Egito e pode ser visto abaixo.
Figura 3 Um manuscrito inicial do Alcorão na Mesquita Al-Hussein, no Cairo, Egito. Imagem cortesia de http://www.islamic-awareness.org.
Von Denffer escreveu acerca desse manuscrito:
“...é bastante provável que tenha sido copiado do Mushaf de Uthman.”[6]
Conclusão
Concluiremos esta parte com as observações de Von Denffer:
“Por outras palavras, duas das cópias do Alcorão que foram originalmente escritas na época do Califa Uthman, estão atualmente disponíveis para nós e o seu texto e organização podem ser comparados por todo aquele que esteja interessado nisso, com qualquer outra cópia do Alcorão quer seja impressa ou manuscrita, de qualquer lugar ou período de tempo. Descobriráão que eles são idênticos.”[7]
Evidência de que o Alcorão foi preservado através da memorização
Allah fez com que o Alcorão fosse fácil de memorizar:
“E, com efeito, facilitamos o Alcorão, para a recordação. Então, há quem disso se recorde?” (Alcorão 54:17)
A facilidade com que o Alcorão é memorizado é incomparável. Não existe nenhuma outra escritura sagrada ou texto religioso no mundo que seja de tão fácil memorização, até mesmo as pessoas que não são falantes da língua árabe conseguem facilmente memorizar o Alcorão. Raramente encontramos pessoas que tenham memorizado toda a Bíblia, enquanto que o Alcorão inteiro é memorizado por quase todos os eruditos muçulmanos e por milhões de muçulmanos em geral, geração após geração. Quase todos os muçulmanos têm uma porção do Alcorão memorizada para recitar nas suas orações. Estes são os passos que tradicionalmente se tomam para dominar a memorização do Alcorão:
Primeiro, o Alcorão é memorizado por meninos e meninas a partir de uma tenra idade. O processo normalmente leva de 2 a 4 anos.
Segundo, não é suficiente apenas memorizar o Alcorão. O Alcorão não se trata apenas de palavras, mas também de sons e significado. O Alcorão deve ser pronunciado exatamente da mesma forma que foi recitado pelo Profeta de Allah há 1400 anos atrás. Deve ser recitado da mesma forma que foi revelado por Allah. Isso é feito através de uma sólida tradição de 1400 anos de domínio das regras da recitação (tajwid) aos pés de um mestre que por sua vez adquiriu o conhecimento do seu professor, formando uma cadeia sem interrupções que pode ser traçada de volta ao Profeta de Allah. O processo geralmente leva de 3 a 6 anos. Depois de se dominar as regras da recitação e os erros forem revisados, é emitida à pessoa uma licença formal (ijaza) certificando de que ele ou ela domina as regras da recitação e pode agora recitar o Alcorão da mesma forma que foi recitado por Muhammad, o Profeta de Allah.
A.T. Welch, um orientalista não muçulmano, escreveu:
“Para os muçulmanos, o Alcorão é muito mais do que uma escritura ou uma literatura sagrada no sentido habitual que se lhe dá no Ocidente. A sua principal importância para a maioria ao longo dos séculos tem sido a sua forma oral, a forma em que primeiro surgiu, como a "recitação" proferida por Muhammad aos seus seguidores por um período de mais de vinte anos… As revelações foram memorizadas por alguns dos seguidores de Muhammad durante a sua vida, e a tradição oral que foi então estabelecida tem tido uma história contínua desde então, em algumas formas é independente e até superior ao Alcorão escrito… Ao longo dos séculos, a tradição oral de todo o Alcorão tem sido preservada por recitadores profissionais (os kurra). Até mais recentemente, a importância do Alcorão recitado era raramente compreendida na sua plenitude no Ocidente."[8]
Não são apenas as palavras do Alcorão que têm sido preservadas, mas também os sons originais dessas palavras. Nenhum outro texto religioso tem sido preservado de um modo semelhante - uma alegação que pode ser verificada por qualquer leitor objetivo. Assim, o Alcorão permanece único e incomparável no seu modo de preservação através dos séculos, tal como foi profetizado e prometido pelo próprio Allah.
Figura 4 A imagem é uma típica licença (ijaza) emitida ao se concluir uma recitação aperfeiçoada do Alcorão, certificando que o recitador é parte de uma cadeia ininterrupta de recitadores que remonta ao Profeta do Islam. A imagem acima é o certificado de ijaza do Qari Mishari bin Rashid al-Afasy, um famoso recitador de Kuwait, emitido pelo Sheikh Ahmad al-Ziyyat. Imagem cortesia de http://www.alafasy.com.
Termos em árabe
· Surah – Capítulo do Alcorão.
· Ramadan – O nono mês do calendário lunar islâmico. É o mês no qual foi prescrito jejum obrigatório.
· Juz’ – Uma das trinta partes do Alcorão.
· Ayat – (singular – ayah): A palavra ayah pode ter muitos significados. Quase sempre é usada quando se fala das provas de Allah. Estas incluem evidências, versículos, lições e revelações.
Em três lições, focaremos em algumas questões básicas que um iniciante enfrentará ao abordar o Alcorão. O que é o Alcorão e como está organizado? Quais são os seus principais temas e estilo de apresentação? Quais são algumas boas traduções para iniciantes e o que devemos considerar ao lê-las? O Alcorão pode ser livremente interpretado de acordo com nosso próprio entendimento? O que acontece se eu não entender algo do que li? Onde eu vou obter respostas? Finalmente, que estado de ânimo devo ter antes de abrir e ler o Alcorão?
O que exatamente é o Alcorão?
O Alcorão é a Palavra literal e falada de Allah revelada ao último Profeta, Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) por meio de Gabriel, o Anjo da Revelação, transmitida a nós por vários canais, tanto verbalmente como por escrito. Inimitável e único, está divinamente protegido da corrupção. Deus diz:
'Por certo, Nós fizemos descer o Alcorão e, por certo, dele somos Custódios.' (Alcorão 15:9)
O básico
A primeira coisa que um iniciante deve entender sobre o Alcorão é sua forma. A palavra árabe Alcorão significa literalmente "recitação" e "leitura". Assim, o Alcorão era recitado oralmente e escrito em forma de livro. O verdadeiro poder do Alcorão permanece na recitação oral, uma vez que deve ser lido em voz alta e melodiosa, mas ainda assim os versículos foram escritos em materiais disponíveis como uma ajuda para memorizá-los e preservá-los, e estes foram recompilados e ordenados em forma de livro tanto em particular quanto, posteriormente, institucionalmente. O Alcorão não foi feito para contar uma história cronológica e, portanto, não deve ser visto como uma narrativa sequencial, como o livro de Gênesis, por exemplo.
O Alcorão repete frequentemente certos versículos e assuntos, mudando de tema entre eles e, com frequência, relacionando as narrações em forma resumida. Podemos ver duas razões para isso. Primeiro, tem um propósito linguístico e é uma das poderosas técnicas retóricas do árabe clássico. Segundo, todos os temas do Alcorão, não importa quão variados, estão envolvidos em um fio condutor que percorre todo o livro: não há outro deus verdadeiro além de Allah, e Muhammad é o Seu Mensageiro. O Alcorão, diferentemente da Bíblia, não trata de genealogias, eventos cronológicos ou detalhes históricos detalhados, muitos dos quais não se encaixam a um discurso oral. O objetivo é usar eventos passados e presentes para ilustrar essa mensagem central. Portanto, quando o Alcorão discute as propriedades curativas do mel ou a vida de Jesus, nenhum dos temas é um fim em si, mas cada um se relaciona de uma maneira ou de outra à mensagem central: a Unicidade de Deus e a unidade da mensagem profética.
Outro ponto importante a ser lembrado é que o Alcorão não foi revelado de uma só vez, mas foi revelado em partes ao longo de 23 anos. Muitas passagens desceram em resposta a eventos específicos. Regularmente, a revelação alcorânica foi transmitida pelo anjo Gabriel ao profeta Muhammad em resposta às perguntas levantadas pelos incrédulos. O Alcorão se dirige a esses incrédulos, ao Povo do Livro (um termo que o Alcorão usa para se referir a judeus e cristãos), à humanidade em geral, aos crentes e, finalmente, ao próprio Profeta, ordenando o que deveria fazer em uma determinada situação ou consolando-o em face das humilhações e rejeições. Conhecer o contexto histórico e social da revelação esclarece os significados contidos no próprio texto.
Como o Alcorão está organizado?
O Alcorão consiste em 114 partes ou capítulos de diferentes tamanhos. Cada capítulo é chamado surah em árabe e cada sentença ou frase no Alcorão é chamada ayah, que literalmente se traduz como 'um sinal'. Assim como a Bíblia, o Alcorão é dividido em unidades separadas, conhecidas como 'versículos' em português. Esses versículos não têm um comprimento padrão; e onde cada um começa e termina não foi decidido pelos seres humanos, mas foi ditado por Deus. Cada um é pronunciado individualmente e tem um significado fechado, e é denominado ayah em árabe (sinal). Todas as surahs, exceto uma, começam com Bissmillahi Ar-Rahmani Ar-Rahim (Começo com o nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso). Cada surah tem um nome que geralmente se relaciona com um tema central dentro dela. Por exemplo, a surah mais longa, Surah Al Baqarah (A vaca), leva esse nome devido ao relato sobre Moisés, quando ele ordenou aos judeus que oferecessem o sacrifício de uma vaca, e começa quando Deus diz:
“E lembrai-vos de quando Moisés disse a seu povo: ‘Por certo, Allah ordena-vos que imoleis uma vaca.’” (Alcorão 2:67)
Dado que os capítulos são de diferentes tamanhos, o Alcorão foi dividido pelos estudiosos do primeiro século, após a morte do Profeta, em aproximadamente trinta partes iguais, cada uma das partes se chama juz em árabe. Essa divisão do Alcorão foi feita para que as pessoas o memorizassem ou lessem de uma maneira mais organizada, e não tem nenhuma influência na estrutura original, já que são meras marcas nas laterais das páginas que indicam a parte. No mês do jejum, Ramadan, geralmente é recitado um juz todas as noites, e todo o Alcorão é concluído ao final do mês.
O estilo do Alcorão
Quais temas o Alcorão aborda? O Alcorão aborda diversos temas. O mais importante é o que fala da Unicidade de Allah e de como viver uma vida que Lhe agrade. Outros temas incluem a doutrina religiosa, a criação, o direito penal e civil, o judaísmo, o cristianismo e o politeísmo, os valores sociais, a moralidade, a história, histórias de profetas passados e a ciência. As características mais importantes do estilo do Alcorão ao discutir tais temas são:
(1) O uso de parábolas para despertar a curiosidade do leitor e explicar verdades profundas.
(2) Mais de duzentas passagens começam com a palavra árabe Qul (Dize), dirigindo-se ao Profeta Muhammad para responder a uma pergunta, explicar uma questão de fé ou anunciar uma decisão legal. Por exemplo:
“Dize, Muhammad; ‘Ó seguidores do Livro! Vós nos censurais apenas por crermos em Allah e no que foi descido, para nós, e no que fora descido antes? Mas a maioria de vós é perversa.'”(Alcorão 5:59)
(3) Em algumas passagens do Alcorão, Allah jura por Sua maravilhosa criação, tanto para fortalecer um argumento quanto para dissipar dúvidas na mente do ouvinte:
"Pelo sol e por sua plena luz matinal!
E pela lua, quando o sucede!
E pelo dia, quando o mostra, em plenitude!
E pela noite, quando o encobre!
E pelo céu e por Quem o edificou!
E pela terra e por Quem a distendeu!
E pela alma e por Quem a formou!... "(Alcorão 91: 1-7).
Às vezes, Allah jura por Si mesmo:
"Então, por teu Senhor! Não crerão; até que te tomem por árbitro das dissensões entre eles, em seguida, não encontrem, em si mesmos, constrangimento no que julgaste, e até que se submetam, completamente. " (Alcorão 4:65)
(4) Por fim, o Alcorão contém o que é chamado de "as letras desconexas". São letras do alfabeto árabe que, se consideradas em conjunto, não têm significado conhecido no léxico árabe. Essa foi uma das maneiras pelas quais Allah desafiou os árabes, que eram caracterizados por sua eloquência no discurso, a trazer algo semelhante a essas cartas do Alcorão. Elas estão no início de vinte e nove surahs. Por exemplo, a primeira ayah da surah Al Baqarah aparece em diferentes traduções como:
Dr. Helmi Nasr: Alif. Lam. Mim.
El-Hayek: Alef. Lam. Mim.