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C - O RELEVO TERRESTRE
A constituição da terra é complexa. Podemos hoje grosseiramente imaginá-
las como formada de uma camada profunda onde reinam temperaturas
muito elevadas com, em particular, uma parte central - onde as rochas estão em
fusão - e uma camada superfi cial, a crosta terrestre, solida e fria. Esta camada é
muito fi na: de alguns quilômetros a algumas dezenas de quilômetros a mais, ao
passo que o raio da Terra é um pouco superior a 6.000 quilômetros: quer dizer
que a crosta não apresenta, em média, um centésimo do raio da esfera. E sobre
esta película, se se pode dizer, que ocorreram os fenômenos geológicos. À base
disto, as dobras que estão na origem das cadeias de montanhas: sua formação
é chamada orogenia em geologia porque, ao aparecimento de um relevo que
vai constituir uma montanha, corresponde, em profundidade, um rompimento
proporcional da crosta terrestre, que lhe assegura um embasamento na camada
subjacente.
A história da repartição dos mares e das terras pela superfície do globo
é de aquisição recente e ainda muito incompleta, mesmo para os períodos
menos atingidos que são os melhores conhecidos. É provável que o aparecimento
dos oceanos, constituindo a hidrosfera, dataria de meio bilhão de anos,
aproximadamente. Os continentes teriam formado uma massa única, no fi m da
era primária, e teriam, em seguida, se dispersado. Além disso, os continentes ou
porções de continentes surgiram pelo jogo da formação de montanhas na zona
oceânica (caso do continente norte-atlântico e de uma parte da Europa, por
exemplo).
O que preside toda a história da formação das terras emersas é, segundo
as ideias modernas, o aparecimento das cadeias de montanhas. Classifi ca-se toda
a evolução das terras, da primária à quaternária, em função das “fases orogênicas”,
elas mesmas agrupadas em “ciclos” do mesmo nome, toda formação
do relevo montanhoso, tendo tido suas repercussões sobre o equilíbrio entre
mares e continentes. Ela fez desaparecer certas partes das terras emersas para
fazer aparecer outras e modifi cou há centenas de milhões de anos a repartição
das áreas continentais e oceânicas; as primeiras não ocupam atualmente senão
três décimos da superfície do planeta.
Assim, podem ser resumidas, muito imperfeitamente e muito incompletamente,
as transformações que se produziram nas precedentes centenas de
milhões de anos.
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No que concerne ao relevo terrestre, o Alcorão não evoca, por assim
dizer, senão a formação das montanhas. Com efeito, há pouca coisa a dizer sob
o ponto de vista que nos preocupa aqui, dos versículos que exprimem somente
a solicitude de Deus para com os homens em relação à formação da terra, como
em:
- Capítulo 71, Versículos 19-20:
“Deus vos fez a terra como um tapete, Para que a percorrêsseis por amplos caminhos.”
- Capítulo 51, Versículo 48:
“E dilatamos a terra; e que excelente Dilatador tendes em Nós!”
O tapete que foi estendido, desdobrado, é a crosta ou casca terrestre,
concha solidifi cada sobre a qual nós podemos viver; as camadas subjacentes do
globo, sendo muito quentes, fl uidas, eram impróprias a todo tipo de vida.
Muito importantes são as proposições alcorânicas relativas às montanhas
e as alusões à sua estabilidade, em consequência dos fenômenos de dobramento.
- Capítulo 88, Versículos 19-20:
O contexto convida os ímpios a voltar seus olhos em direção a certos
fenômenos naturais, entre os quais:
“E nas montanhas, como foram fi xadas? E na terra, como foi dilatada?”
Aqui se ressalta do texto, claramente, a noção de raiz no interior do
solo.
Os versículos seguintes o precisam, aliás:
- Capítulo 78, Versículos 67:
“Acaso, não fi zemos da terra um leito, E das montanhas, estacas?”
As estacas às quais é feita a alusão são as que servem para fi xar uma
tenda no solo (awtaad, plural watad).
Os geólogos modernos descrevem os dobramentos do solo, considerando
a base rochosa dos relevos, e que têm dimensões variáveis, indo até um
quilômetro ou menos a quinze quilômetros. Desse fenômeno de dobramento
182
resulta a estabilidade da crosta terrestre.
Assim, não nos admiramos aa ler em certas passagens do Alcorão algumas
refl exões sobre as montanhas, tais como:
- Capítulo 79, Versículo 32:
“E fi xou, fi rmemente, as montanhas.”
- Capítulo 31, Versículo 10:
“Fixou na terra fi rmes montanhas, para que não oscile convosco.”
A mesma frase é repetida no Capítulo 16, Versículo 15. A mesma ideia é
expressa de maneira pouco diferente no Capítulo 21, Versículo 31:
“E produzimos fi rmes montanhas na terra, para que esta não oscilasse com eles.”
Esses versículos exprimem que a maneira pela qual são dispostas as
montanhas é favorável à estabilidade, o que está perfeitamente de acordo com
os dados da geologia.
D - A ATMOSFERA TERRESTRE
Em inúmeros aspectos, concernentes mais precisamente ao céu e que
foram examinado, nos capítulos procedentes, o Alcorão contém algumas passagens
relativas aos fenômenos que se produzem na atmosfera. Quanto à sua
confrontação com os dados da ciência moderna, notar-se-á somente que, aqui
como outra parte, há ausência de toda contradição com os conhecimentos
científi cos que possuímos atualmente dos fenômenos evocados.
A ALTITUDE
É, a bem da verdade, uma refl exão bem banal sobre a difi culdade experimentada
em altitude, cada vez mais premente à medida que nos elevamos e que
é expressa no Versículo 125, do Capítulo 6:
183
“A quem Deus quer iluminar, dilata-lhe o peito para o Islam; a quem quer desviar (por tal
merecer), oprime-lhe o peito, como aquele que se eleva na atmosfera. Assim, Deus cobre
de abominação aqueles que se negam a crer.”
Alguns pretenderam que a noção da difi culdade em altitude era desconhecida
dos árabes no tempo de Muhammad. Parece, no entanto, que não
é bem assim: a existência, na Península Arábica, de altos cumes com mais de
3500m, torna pouco plausível a ignorância da difi culdade respiratória quando
se sobe (A cidade de Sanaa, capital do Iêmen, que era habitada no tempo de
Muhammad, está situada a uma altitude aproximada de 2.400m.) Há também
comentadores que quiseram ver aí um anúncio da conquista do espaço, o que,
parece, deve ser categoricamente rejeitado, para essa passagem pelo menos.
A ELETRICIDADE DA ATMOSFERA
A eletricidade atmosférica - e suas consequências: o raio, o granizo – dá
lugar às menções seguintes:
- Capítulo 13, Versículos 12-13:
“Ele é Quem mostra o relâmpago como temor e esperança, e faz surgir as nuvens saturadas
de chuva. O trovão celebra os Seus louvores e o mesmo fazem os anjos, por temor a Ele, o
Qual lança as centelhas, fulminando, assim, quem Lhe apraz enquanto disputam sobe Deus,
apesar de Ele ser poderosamente Inexorável.”
- Capítulo 24, Versículo 43 (já citado neste capítulo):
“Porventura, não reparas em como Deus impulsiona as nuvens levemente? Então as junta,
e depois as acumula? Não vês a chuva manar do seio delas? E que Ele envia massas (de
nuvens) de granizo, com que atinge quem Lhe apraz, livrando dele quem quer? Pouco falta
para que o resplendor das centelhas lhes ofusque as vistas.”
Há nesses dois versículos a expressão de uma correlação manifesta entre
a formação de nuvens pesadas ou de granizo e a produção do raio: a primeira,
objeto de esperança pelo benefício que ela representa; a segunda, objeto de
temor, sua queda está submissa à determinação do Todo-Poderoso. A ligação
entre os dois fenômenos está conforme o conhecimento que se tem, em nossos
dias, da eletricidade atmosférica.
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A SOMBRA
O fenômeno, de explicação banal em nossa época, da sombra e seu deslocamento,
é objeto de refl exões tais como as seguintes:
- Capítulo 16, Versículo 48:
“Não reparam, acaso, em tudo quanto Deus tem criado, entre as coisas inanimadas, cujas
sombras se projetam ora para a direita ora para esquerda, prostrando-se ante Ele humildemente?”
- Capítulo 25, Versículos 45 e 46:
“Não tens reparado em como o teu Senhor projeta a sombra? Se Ele quisesse, fá-la-ia
estável! Entretanto, fi zemos do sol o seu regente. Logo a recolhemos até Nós, paulatinamente.”
Além do que se refere à humilhação perante Deus de toda coisa criada,
inclusive sua sombra, e da retomada por Deus, como lhe apraz, de toda a manifestação
de Seu poder, o texto alcorânico faz alusão às relações da sombra
com o Sol. E preciso lembrar, a esse propósito, que se acreditava, na época do
Muhammad, que o deslocamento da sombra era condicionado pelo deslocamento
do Sol de leste para oeste. A aplicação era o quadrante solar para medir
o tempo entre o nascer e o pôr do Sol. Aqui, ó Alcorão fala do fenômeno
sem mencionar sua aplicação corrente na época de sua Revelação: essa explicação
foi muito acatada pelos homens durante muitos séculos, depois da época
de Muhammad. Mas, afi nal, ela teria sido reconhecida como inexata. Assim, o
Alcorão fala somente do papel indicador da sombra que o Sol lança. Constata-
-se aqui a ausência de toda discordância entre a maneira pela qual o Alcorão
considera a sombra e o que sabe do fenômeno na época moderna.
REINOS VEGETAL E ANIMAL
Foram reunidos neste capítulo numerosos versículos evocando a origem
da vida, alguns aspectos do reino vegetal e assuntos gerais ou particulares relativos
ao reino animal. O agrupamento, numa classifi cação racional de versículos,
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dispersos em todo o Livro, parece susceptível de dar uma ideia de conjunto dos
dados alcorânicos sobre todas essas questões.
Para os assuntos deste capítulo, como para os do capítulo seguinte, o
exame do texto alcorânico é, às vezes, particularmente delicado, em razão de
certas difi culdades inerentes ao vocabulário. Essas difi culdades não são superadas,
senão depois de se considerar os dados científi cos relativos ao assunto
tratado. É mui especialmente no que concerne aos seres vivos - vegetais, animais
e homem -, que a confrontação com os ensinamentos da ciência se demonstra
indispensável para encontrar um sentido para certas asserções alcorânicas nesses
domínios.
Compreende-se desde logo que numerosas traduções dessas passagens
do Alcorão, feitas por literatos, sejam julgadas inexatas por um cientista. Dá-se
o mesmo com os comentários, quando seus autores não possuem os conhecimentos
científi cos indispensáveis para a compreensão do texto.
A - A ORIGEM DA VIDA
A questão, em todos os tempos, preocupou o homem em relação a si
mesmo e em relação aos seres vivos que o rodeiam. Examinar-se-á aqui a questão,
sob o ponto de vista geral. O caso do homem, cuja aparição na terra e sua
reprodução são objetos de considerações muito importantes, será tratado no
capítulo seguinte.
Examinando a origem da vida num plano muito geral, o Alcorão a evoca,
com uma concisão externa, em um versículo que concerne igualmente ao processo,
já citado e comentado, da formação do universo.
- Capítulo 21, Versículo 30:
“Não veem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram uma só massa, que desagregamos,
e que criamos todos os seres vivos da água? Não creem ainda?”
A noção de procedência não apresenta dúvidas. A frase pode também
signifi car que toda coisa viva foi feita com a água, elemento essencial, ou que
toda coisa viva tem por origem a água. Os dois sentidos possíveis estão rigorosamente
conforme os dados científi cos: considera-se precisamente que a vida
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tem uma origem aquática e que a água ê o primeiro constituinte de toda célula
viva. Sem água, nenhuma vida é possível. Discute-se sobre a possibilidade de
vida em um planeta e logo se coloca a questão: teria ele, para tanto, água em
quantidade sufi ciente?
Os dados modernos permitem pensar que os seres vivos mais antigos
deveriam pertencer ao reino vegetal: encontraram algas da época pré-cambriana,
quer dizer, das terras mais antigas que se conhecem. Os elementos do reino
animal devem ter aparecido mais tarde: eles vieram também dos oceanos.
O que é traduzido aqui por água é a palavra maa, que designa tanto a
água do céu, como a água dos oceanos, ou um líquido qualquer. No primeiro
sentido, a água é um elemento necessário a toda vida vegetal:
- Capítulo 20, Versículo 53:
“Foi Ele Quem vos destinou a terra por leito, traçou-vos caminhos por ela, e envia água
do céu, com a qual faz germinar distintos pares de plantas.”
Primeira citação de pares entre vegetais, noção à qual voltaremos.
Num segundo sentido, no de líquido sem nenhuma precisão, o termo é
empregado sob sua forma indeterminada, para designar o que está na base da
formação de todo animal.
- Capítulo 24, Versículo 45:
“E Deus criou da água todos os animais.”
Veremos mais adiante que a palavra se aplica também ao líquido seminal
(Segregado pelas glândulas destinadas à reprodução, ela contém os espermatozoides.).
Assim, tratando da origem da vida em geral, do elemento que faz nascer
as plantas do solo ou do germe do animal, todas as proposições, do Alcorão
sobre a origem da vida estão rigorosamente conforme os dados científi cos
modernos. Nenhum dos mitos que pululavam naquela época sobre a origem da
vida tem lugar no texto do Alcorão.
B - O REINO VEGETAL
Não podem ser citadas aqui, na totalidade, as numerosas passagens do
Alcorão onde a benfeitoria divina é evocada a propósito do caráter benéfi co da
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chuva, que faz crescer a vegetação. Escolhamos três versículos sobre esse tema:
- Capítulo 16, Versículos 10-11:
“Ele é Quem envia a água do céu, da qual bebeis, e mediante a qual brotam arbustos
com que alimentais o gado. E com ela faz germinar a plantação, a oliveira, a tamareira, a
videira, bem como toda a sorte de frutos. Nisto há um sinal para os que refl etem.”
- Capítulo 6, Versículo 99:
“É Ele Quem envia a água do céu. Com ela, fi zemos germinar todas as classes de plantas,
das quais produzimos verdes caules e, destes, grãos espigados, bem como as tamareiras,
de cujos talos pendem cachos ao alcance da mão; as videiras, as oliveiras e as romãzeiras,
semelhantes (em espécie) e diferentes (em variedade). Reparai em seu fruto, quando frutifi
cam, e em sua madureza. Nisto há sinais para os fi éis.”
- Capítulo 50, Versículos 9-11:
“E enviamos do céu a água bendita, mediante a qual produzimos jardins e cereais para a
colheita. E também as frondosas tamareiras, cujos cachos estão carregados de frutos em
simetria, Como sustento para os servos; e fazemos reviver, com ela, (a água) uma terra
árida. Assim será a ressurreição!”
A essas considerações de ordem geral, o Alcorão acrescenta outras,
versando sobre aspectos mais restritos.
O Equilíbrio Reinante no Reino Vegetal
- Capítulo 15, Versículo 19:
“E dilatamos a terra, em que fi xamos fi rmes montanhas, fazendo germinar tudo, comedidamente.”
A Diferenciação dos Alimentos
- Capítulo 13, Versículo 4:
“E na terra há regiões fronteiriças (de diversas características); há plantações, videiras,
sementeiras e tamareiras, semelhantes (em espécie) e diferentes (em variedade); são regadas
pela mesma água e distinguimos umas das outras no comer. Nisto há sinais para os
sensatos.”
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É interessante notar a existência desses versículos para pôr em destaque
a sobriedade dos termos empregados e a ausência de toda menção, que pudesse
traduzir mais as crenças da época que as verdades fundamentais. Mas, são,
sobretudo, as proposições alcorânicas, relativas à reprodução no reino vegetal,
que prendem a atenção.
Reprodução dos Vegetais
É preciso lembrar que a reprodução no reino vegetal se efetua de duas
maneiras: sexual e assexualmente. Para bem dizer, só a primeira merece o nome
de reprodução, porque ela defi ne o processo biológico, tendo, por fi m, o aparecimento
de um novo indivíduo, idêntico aquele que lhe deu o nascimento.
A reprodução assexual é uma simples multiplicação, porque ela resulta
da fragmentação de um organismo que, separado da própria planta, vai adquirir
um desenvolvimento, tornando-o semelhante àquele do qual se originou.
Guilliermond e Mangenot o consideram como “um caso particular do crescimento”.
Um outro exemplo muito simples é fornecido por tanchões: um ramo
cortado da planta, colocado no solo convenientemente irrigado se regenera
pelo desenvolvimento das raízes novas. Algumas plantas têm órgãos especializados
para isso, outras soltam esporos que se comportam, se é que se possa
dizer, como grãos (que, convém lembrar, são o resultado de um processo de
reprodução sexual).
A reprodução sexual dos vegetais se opera por acasalamento de elementos
fêmeas, pertencentes a formações geradoras reunidas na mesma planta ou
separadas. Somente ela é considerada no Alcorão.
- Capítulo 20, Versículo 53:
“Foi Ele Quem vos destinou a terra por leito, traçou-vos caminhos por ela, e envia água
do céu, com a qual faz germinar distintos pares de plantas.”
Elemento de acasalamento é a tradução da palavra zawj (plural azwaaj),
cujo sentido primitivo é “aquele que, com mais um outro, forma o par”; a palavra
se aplica tanto aos esposos como aos sapatos.
- Capítulo 22, Versículo 5:
“E observai que a terra é árida; não obstante, quando (Nós) fazemos descer a água sobre
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ela, move-se e se impregna de fertilidade, fazendo brotar todas as classes de pares de
viçosos (frutos).”
- Capítulo 31, Versículo 10:
“E enviamos a água do céu, com que fazemos brotar toda a nobre espécie de casais.”
- Capítulo 13, Versículo 3:
“Assim como estabeleceu dois gêneros de todos os frutos.”
Sabe-se que o fruto é o termo do processo de reprodução dos vegetais
superiores que têm a organização mais elaborada, mais complexa. O estágio que
precede o fruto é o da fl or, com seus órgãos masculinos (estames) e feminino
(óvulos). Estes últimos, após a colocação do pólen, são frutos, que, depois da
maturação, liberam as sementes. Todo fruto inclui, portanto, a existência de
órgãos, masculinos e femininos. É o que esse versículo alcorânico quer dizer.
É preciso notar, entretanto, que, em algumas espécies, os frutos pode
provir não fecundadas (frutos partenocárpicos) como a banana, certos tipos
de abacaxis, de fi go, de laranja e de vinhas. Elas, no entanto, provêm de vegetais
sexuados.
A conclusão da- reprodução se faz pelo processo de germinação do
grão, depois da abertura de seu envelope exterior (que pode ser condensado
em um caroço). Esta abertura permite a saída de raízes, que vão sugar, no solo,
o que é necessário à planta de vida incipiente - o grão -, para que ela se desenvolva
e dê um novo indivíduo.
Um versículo alcorânico faz alusão a esta germinação:
- Capítulo 6, Versículo 95:
“Deus é o Germinador das plantas graníferas e das nucleadas! Ele faz surgir o vivo do
morto e extrai o morto do vivo. Isto é Deus! Como, pois, vos desviais?”
O Alcorão que, com frequência repetiu a existência desses elementos
aos pares no reino vegetal, inscreveu essa noção de casal no quadro mais geral,
aos limites não fi xados:
- Capítulo 36, Versículo 36:
190
“Glorifi cado seja Quem criou pares de todas as espécies, tanto naquilo que a
terra produz como no que eles mesmos geram, e ainda mais o que ignoram.”
Podemos levantar múltiplas hipóteses sobre a signifi cação dessas coisas
que os homens não conheciam na época de Muhammad e das quais descobrimos,
em nossos dias, estruturas e funcionamento acoplados na ordem do infi -
nitamente pequeno, como na do infi nitamente grande, tanto no mundo vivente,
como no mundo não vivente. O essencial é examinar as noções claramente
expressas e constatar, mais uma vez, que aí não encontramos discordâncias com
a ciência da atualidade.
C - O REINO ANIMAL
Muitas questões relativas ao reino animal são objeto, no Alcorão de
considerações que exigem que se proceda a uma confrontação com os conhecimentos
científi cos modernos sobre esses pontos particulares. Mas, aqui ainda,
dar-se-ia uma visão incompleta do que o Alcorão contém a esse respeito, se
não relatamos uma passagem, como a que vem em seguida, em que a criação de
certos elementos do reino animal é lembrada, com o fi m de levar os homens
a refl etir sobre as benfeitorias divinas a seu respeito. Esta passagem é citada
essencialmente para dar um exemplo da maneira pela qual o Alcorão evoca essa
harmoniosa adaptação da criação às necessidades dos homens, em particular no
caso dos rurais, porque ela não oferece matéria a um exame de outra ordem.
Capítulo 16, Versículos 5-8:
“E criou o gado, do qual obtendes vestimentas, alimento e outros benefícios. E tendes nele
encanto, quer quando o conduzis ao apriscos, quer quando, pela manhã, os levais para o
pasto. Ainda leva as vossas cargas até as cidades, às quais jamais chegaríeis, senão à custa
de grande esforço. Sabei que o vosso Senhor é Compassivo, Misericordiosíssimo. E (criou)
o cavalo, o mulo e o asno para serem cavalgados e para o vosso deleite, e cria coisas mais,
que ignorais.”
Ao lado dessas considerações de ordem geral, o Alcorão expõe alguns
dados sobre assuntos bem diversos:
- reprodução no reino animal;
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- menção da existência de comunidades animais;
- refl exões sobre as abelhas, a aranha, os pássaros;
- enunciado sobre a proveniência do leite animal.
1. Reprodução no Reino Animal
Ela é muito sumariamente evocada nos Versículos 45-46 do Capítulo 53:
“E que Ele criou (tudo) em pares: o masculino e o feminino, De uma gosta de esperma,
quando alojada (em seu lugar).”
Elemento de par é a mesma expressão que encontramos nos versículos
que tinham tratado da reprodução vegetal, os sexos são assim designados.
O pormenor notavelmente acentuado está na precisão dada sobre a pequena
quantidade necessária para a reprodução. A mesma palavra que designa
o esperma, sendo empregada para o homem, está no capítulo seguinte em que
um comentário será dado sobre o interesse dessa observação.
2. A Existência de Comunidades Animais
- Capítulo 6, Versículo 38:
“Não existem seres alguns que andem sobre a terra, nem aves que voem, que não constituam
nações semelhantes a vós. Nada omitimos no Livro; então, serão congregados ante
seu Senhor.”
Vários pontos deste versículo devem ser comentados. Primeiro, o destino
dos animais’ depois de sua morte, parece bem ser evocado: O Islam não tem
sobre esse ponto, aparentemente nenhuma doutrina. Em seguida, a predestinação
geral (Vimos, na introdução da terceira parte deste livro, o que, para o caso
do homem, seria necessário para pensar sobre a predestinação.), que parece ser
tratada aí, poderia se conceber como predestinação absoluta ou como predestinação
relativa limitada a estruturas e a uma organização funcional, condicionando
um modo de comportamento: o animal reage a impulsos exteriores diversos
em função de um condicionamento particular.
192
Segundo Blachère, um comentador antigo como Razi pensava que esse
versículo não considerava senão os atos instintivo pelos quais os animais rendem
homenagem a Deus.
O Sheikh Boubakeur Hamza, nos comentários de sua tradução do Alcorão,
fala do instinto que impele, segundo a sabedoria divina, todos os seres a se
unir para sua reprodução e a se organizar em comunidades que exigem, para
serem viáveis, que o trabalho de cada membro sirva a todo grupo.
Esses comportamentos animais foram minuciosamente estudados nestes
últimos decênios e chegou-se a pôr em evidência verdadeiras comunidades animais.
Certamente, o exame do resultado do trabalho de uma coletividade pode,
já faz muito tempo, fazer admitir a necessidade de uma organização comunitária.
Mas não foi senão em um período recente, que foram descobertos os
mecanismos que presidem a tais organizações entre certas espécies. O caso
melhor estudado, e o mais conhecido, é sem dúvida o das abelhas, a cujo comportamento
o nome de Von Frisch está ligado. Von Frisch, Larenz e Tinbergen
receberam, a esse título, o prêmio Nobel em 1973.
3. Refl exões Concernentes às Abelhas, às Aranhas e aos Pássaros
Quando especialistas do sistema nervoso querem dar frisantes exemplos
da prodigiosa organização que rege o comportamento animal, os animais, talvez
mais comumente citados são as abelhas, as aranhas e os pássaros (sobretudo os
migradores). Em todo caso, podemos afi rmar que esses três grupos constituem
belíssimos modelos de uma alta organização.
Que ó texto do Alcorão faça menção a essa tríade exemplar, no mundo
animal, responde perfeitamente ao caráter excepcionalmente interessante do
ponto de vista científi co de cada um dos animais citados aqui.
A ABELHA
193
É ela que, no Alcorão, é objeto do mais longo comentário:
- Capítulo 16, Versículos 68-69:
“E teu Senhor inspirou as abelhas, (dizendo): Construí as vossas colmeias nas montanhas,
nas árvores e nas habitações (dos homens). Alimentai-vos de toda a classe de frutos e
segui, humildemente, pelas sendas traçadas por vosso Senhor! Sai do seu abdômen um
líquido de variegadas cores que constitui cura para os humanos. Nisto há sinal para os
que refl etem.”67
É défi cit saber o que signifi ca exatamente a ordem de seguir humildemente
os caminhos do Senhor, a não ser de um ponto de vista geral. Tudo o
que podemos dizer, em função do conhecimento que se tem do estudo de
seu comportamento, é que aqui - como em cada um dos três casos de animais
mencionados a título exemplar no Alcorão -, uma extraordinária organização
nervosa é o suporte do comportamento. Sabe-se que, por sua dança, as abelhas
têm um meio de comunicação entre si; elas são capazes de dar a conhecer,
assim, aos congêneres, em que direção e a que distância se encontram as fl ores
a despojar. A famosa experiência de Von Frisch demonstrou a signifi cação dos
movimentos do inseto, destinados à transmissão da informação entre abelhas
obreiras.
A ARANHA
Faz-se menção à aranha no Alcorão para acentuar a fragilidade de sua
morada, a mais tênue de todas. É um refúgio tão precário, diz o texto alcorânico,
como aquele a que se dão os homens ao escolher senhores além de Deus.
- Capítulo 29, Versículo 41:
“O exemplo daqueles que adotam protetores, em vez de Deus, é igual ao da aranha, que
constrói a sua própria casa. Por certo que a mais fraca das casas é a teia de aranha. Se
o soubessem!”
67 - O úl mo verso é o único do Alcorão, seja dito, de passagem, que menciona uma possibilidade
de um remédio para os homens. O mel pode, com efeito, ter sua u lidade em
certas infecções. Em nenhuma parte, aliás, o Alcorão faz alusão a qualquer arte de curar
que seja, contrariamente a tudo o que dissemos.
194
A teia de aranha, com efeito, é constituída de fi os de seda segregados
pelas glândulas que o animal possui e cujo calibre é ínfi mo. Sua tenuidade é
inimitável pelo homem. Os naturalistas se interrogam sobre o extraordinário
piano de trabalho registrado pelas células nervosas do animal e que lhe permitem
elaborar uma teia cuja geometria é perfeita; mas, disso, o Alcorão não fala.
OS PÁSSAROS
Os pássaros são objetos de frequentes menções no Alcorão, onde eles
intervêm em episódios da vida de Abraão, de David, de Salomão e de Jesus. Essas
menções não têm relação com o assunto tratado aqui.
Constatamos mais acima o versículo que concernia à existência de comunidades
de animais terrestres e de pássaros:
- Capítulo 6, Versículo 38:
“Não existem seres alguns que andem sobre a terra, nem aves que voem, que não constituam
nações semelhantes a vós.”
Dois outros versículos põem em relevo a estrita submissão dos pássaros
aos poderes de Deus:
Capítulo 16, Versículo 79:
“Não reparam, acaso, nos pássaros dóceis, que podem voar através do espaço? Ninguém
senão Deus é capaz de sustentá-los ali! Nisto há sinal para os fi éis.”
Capítulo 67, Versículo 19:
“Não reparam, acaso, nos pássaros que pairam sobre eles, protraindo e recolhendo as suas
asas? Ninguém os mantém no espaço, senão o Clemente, porque é Onividente.”
A tradução de uma palavra de cada um desses versículos é delicada. A
que foi dada aqui exprime a ideia que Deus mantém em seu Poder os pássaros.
O verbo árabe de que se trata é, amsaka, cujo sentido primitivo é “pôr a mão
sobre, apanhar, ter, reter alguém”.
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Podemos perfeitamente cotejar esses versículos, que põem em destaque
a dependência particularmente estreita do comportamento do pássaro em
relação à ordem divina com os dados modernos, que mostram o ponto de
perfeição atingido por algumas espécies de pássaros, quanto à programação de
seus deslocamentos. É exatamente a existência, de um programa de migração,
inscrito no código genético do animal, que pode informar os trajetos complicados
e muito longos que os pássaros muito jovens, sem experiência anterior,
sem nenhum guia, sejam capazes de cobrir para voltar, em data certa, ao ponto
de partida. No seu livro, O Poder e a Fragilidade (Flammarion, 1972, Paris.), o
professor Hamburger cita, a título de exemplo, o caso célebre do “mutton-bird”,
do Oceano Pacífi co, cuja revoada de 25.000 quilômetros é toda feita na forma
do número 8 (Ele efetua esse percurso em seis meses, para voltar ao seu ponto
de partida, com um atraso máximo de uma semana, sem ajuda de um guia.).
Admite-se que as diretivas muito complexas para uma tal viagem estejam inscritas,
necessariamente, nas células nervosas do pássaro. Elas foram certamente
programadas. Quem é programador?
4. Proveniência dos Constituintes do Leite Animal
A proveniência do leite animal é defi nida pelo Alcorão (Capítulo 16,
Versículo 66) em rigorosa conformidade com os dados do conhecimento moderno.
A maneira de traduzir e interpretar esse versículo é toda pessoal, pois as
traduções, mesmo modernas, lhe dão habitualmente uma signifi cação que não
é muito aceitável, na minha opinião. Eis dois exemplos:
Tradução de R. Blachère:
“Na verdade, tendes no gado um ensinamento. Nós vos damos a beber um leite puro, que
vem de suas entranhas, delicioso para os que bebem, dentre os alimentos digeridos e do
sangue.” (G. P. Maisonneuve et Larose, 1966, Paris.)
Tradução do Professor Hamidullah:
“Certamente que sim, nos vossos animais há sobre o que refl etir. Daquilo que está em seus
ventres, entre o excremento e o sangue. Nós vos damos a beber um leite puro, de leve
digestão para quem o bebe.” (Clube Francês do Livro, 1971.)
Todo fi siologista a quem se apresentava esses textos responde que eles
eram obscuros, porque aí não aparece muita concordância com as noções mo196
dernas, mesmo as mais elementares. Essas linhas são, no entanto, obra de eminentíssimos
arabistas. Mas, sabe-se muito bem que um tradutor, por experiente
que seja, é susceptível de cometer um erro na tradução de enunciados científi -
cos, se ele não é especializado na disciplina da qual se trata.
A tradução-que me parece viável é a seguinte:
“Em verdade, há para vós, em vossos rebanhos, um ensinamento: Nós vos damos
de beber do que se encontra no interior de seus corpos (e que) provém da conjunção entre
o conteúdo do intestino e o sangue, um leite puro, fácil de ser tomado por aqueles que o
bebem”.
Esta interpretação está muito próxima daquela que dá, na sua edição de
1973, o Muntakhab, editado pelo Conselho Supremo dos Negócios Islâmicos do
Cairo, e que se apoia sobre os dados da fi siologia moderna.
Do ponto de vista do vocabulário, a tradução proposta é justifi cada
assim:
Traduzi “no interior de seus corpos” e não, como R. Blachère ou o professor
Hamidullah, “em seus ventres”, porque a palavra batn quer dizer tanto
“meio, interior de uma coisa”, como “ventre”. Essa palavra não tem aqui um
sentido anatômico preciso. “No interior do corpo” me parece enquadrada perfeitamente
com o contexto.
A noção de “proveniência” dos constituintes do leite é expressa pela palavra
min e a de “conjunção” por bayni; esta última signifi ca somente “no meio
de” ou “entre”, como nas duas outras traduções citadas, mas serve também para
exprimir que se colocam em presença duas coisas ou duas pessoas.
Do ponto de vista científi co, é preciso fazer apelo para perceber o sentido
desse versículo.
As substâncias essenciais, que asseguram a nutrição do organismo em
geral, provêm de transformações químicas que se operam ao longo do tubo
digestivo. Essas substâncias provêm de elementos presentes no conteúdo do
intestino. Quando no intestino, elas chegam a um estágio apropriado de transformação
química e passam através de sua parede para a circulação geral. Essa
passagem se faz de duas maneiras: quer diretamente pelo que chamamos de
vasos linfáticos, quer indiretamente pela via circulatória que as conduz antes ao
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fígado onde elas passam por modifi cações; dali elas emergem para reencontrar,
enfi m, a circulação geral. Dessa maneira, tudo transita fi nalmente pela circulação
sanguínea.
As constituintes do leite são segregadas pelas glândulas mamárias. Estas
se nutrem, se pode dizer, dos produtos da digestão dos alimentos que lhe são
levados pelo sangue circulante. O sangue faz o papel de coletor e de transportador
de materiais extraídos dos alimentos, para levar a nutrição às glândulas
mamárias produtoras de leite, como a não importa qual outro órgão.
Aqui, tudo procede a partir de uma colocação do conteúdo intestinal
e do sangue ao nível mesmo da parede intestinal. Esta noção exata decorre
das conquistas da química e da fi losofi a da digestão. Ela era rigorosamente
desconhecida no tempo do Profeta Muhammad: seu conhecimento remonta ao
período moderno.
Quanto à descoberta da circulação do sangue, a obra de Harvey se situa
dez séculos aproximadamente após a Revelação Alcorânica.
Eu penso que a existência, no Alcorão, de versículos que fazem alusão a
essas noções não pode ter explicação humana, em razão da época em que elas
foram formuladas.
REPRODUÇÃO HUMANA
A reprodução é um assunto sobre o qual toda obra humana antiga, a
partir do momento em que ela é tratada, quando muito superfi cialmente, emite
infalivelmente concepções errôneas. Na Idade Média - e mesmo num período
que não é tão recuado -, todo tipo de mitos e superstições envolviam a reprodução.
Nem poderia ser diferente, pois que, para compreender esses mecanismos
complexos, foi preciso que o homem conhecesse a anatomia, descobrisse
o microscópio e que nascessem as ciências chamadas fundamentais, das quais se
nutrem a fi siologia, a embriologia, a obstetrícia etc.
Para o Alcorão, é tudo diferente. O Livro evoca em numerosos lugares
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mecanismos precisos e menciona as fases bem defi nidas da reprodução, sem
oferecer à leitura o menor enunciado maculado pela inexatidão. Tudo aí é expresso,
em termos simples, facilmente acessíveis à compreensão dos homens e
rigorosamente de acordo com o que será descoberto muito mais tarde.
Evocada em várias dezenas de versículos alcorânicos, sem nenhuma ordenação
aparente, a reprodução humana é exposta com a ajuda de enunciados,
versando cada um sobre ou vários pontos particulares. Deve-se reagrupa-los
para se fazer uma ideia do conjunto. Aqui, como para outros assuntos já tratados,
o seu comentário será facilitado.
RECOLOCAÇÃO DE CERTAS NOÇÕES
A revisão de algumas noções, que eram ignoradas na época da Revelação
Alcorânica e nos séculos posteriores, é indispensável.
A reprodução humana é assegurada por uma série de processos, comuns
aos mamíferos, no início dos quais existe a fecundação, na trompa, de um óvulo
que se destaca do ovário no meio do ciclo menstrual.
O agente fecundante é o esperma do homem ou mais exatamente um
espermatozoide, porque uma única célula germinal é sufi ciente: é preciso, portanto,
para assegurar a fecundação, uma quantidade ínfi ma desse líquido espermático,
que contém os espermatozoides em número considerável (de dezenas
de milhões para uma ejaculação).
O líquido é reproduzido pelos testículos e momentaneamente estocado
num sistema de reservatórios e canais que se ligam fi nalmente às vias urinárias;
as glândulas anexas, dispostas ao longo dessas ultimas, ajuntam ao esperma uma
secreção suplementar, mas sem elementos fecundantes.
É em um ponto preciso do aparelho genital feminino que se produz o
nidamento do ovo assim fecundado: ele desce através das trompas no útero e ali
se aninha ao nível do corpo do útero, onde não tarda a se agarrar literalmente,
inserindo-se em sua espessura, na mucosa e no músculo, depois da formação
da placenta e com a ajuda dela. Se a fi xação do ovo fecundado tem lugar, por
exemplo, na trompa, em vez de se produzir no útero, a gravidez será interrompida.
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O embrião, desde que começa a ser observável a olho nu, se apresenta
sob o aspecto de uma pequena massa de carne, no seio da qual a aparência de
um ser humano é inicialmente indiscernível. Ele se desenvolve progressivamente
por estágios sucessivos, hoje em dia bem conhecidos, o que vai dar ossatura
do corpo humano: o sistema ósseo, com ao redor de si, os músculos, o sistema
nervoso, o sistema circulatório, as vísceras etc.
São essas noções que vão servir de termos de comparação com o que
podemos ler, no Alcorão, sobre a reprodução.
A REPRODUÇÃO HUMANA NO ALCORÃO
Fazer-se uma ideia do conteúdo alcorânico sobre esse assunto não é
coisa fácil. Uma primeira difi culdade vem da dispersão, por todo Livro, dos
enunciados que lhe concernem, como assinalamos; mas não se trata de uma
complicação capital. O que é muito mais susceptível de desnortear o investigador
é, ainda aqui, um problema de vocabulário.
Com efeito, são sempre difundidos em nossa época traduções e comentários
de algumas passagens, que podem dar aos cientistas que os leem uma
ideia completamente falsa da Revelação Alcorânica sobre o assunto em questão.
É assim que a maior parte das traduções evocam a formação do homem a partir
de um “coágulo de sangue”, “de aderência”; tai enunciado é, para um cientista
especializado nesse domínio, rigorosamente inadmissível. Jamais o homem teria
uma tal origem. Veremos, no parágrafo que trata do nidamento do ovo no útero
materno, as razões pelas quais distinguidos arabistas, sem cultura científi ca, são
levados a cometer tais erros.
Uma tal constatação deixa supor como vai ser importante a associação
dos conhecimentos concernentes à língua e aos conhecimentos científi cos, para
que se dê a perceber o sentido dos enunciados alcorânicos sobre a reprodução.
O Alcorão ressalta, em primeiro lugar, as transformações sucessivas que
o embrião sofre, até o fi m, no útero materno.
- Capítulo 82, Versículos 6-8:
“Ó humano, o que te fez negligente em relação ao teu Senhor, o Munifi centíssimo, Que te
criou, te formou, te aperfeiçoou, E te modelou, na forma que Lhe aprouve?”
- Capítulo 71, Versículo 14: