81
somente para Marcos e para Lucas; João consistia um caso completamente à
parte. Santo Agostinho considerava que Marcos, segundo na ordem tradicional
de apresentação, tinha se inspirado em Mateus, que ele tinha resumido, e que
Lucas, vindo em terceira posição nos manuscritos, se serviu de dados de um e
de outro; seu prólogo, do qual falamos acima o sugere.
Os exegetas dessa época podem, do mesmo modo que nós avaliar o
grau de convergência dos textos e reencontrar um grande número de versículos
comuns a dois ou três dos sinóticos. Os comentadores da Tradução
Ecumênica da Bíblia os calculam, em nossos dias, aproximadamente assim:
Versículos comuns aos três sinó cos 330
Versículos comuns a Marcos e Mateus 178
Versículos comuns a Marcos e Lucas 100
Versículos comuns a Mateus e Lucas 230
Ao passo que os versículos próprios a cada um dos três primeiros evangelistas
são de
330 para Mateus, 53 para Marcos e 500 para Lucas.
Dos Padres da Igreja até o fi m do século XVIII, um milênio e meio se
passa sem que seja levantado qualquer problema novo sobre as fontes dos evangelhos:
conformava-se com a tradição. Não é senão na época moderna, que se
percebe, perante esses dados, que cada evangelista, retomando as informações
encontradas nos outros, efetivamente construiu uma narração à sua maneira,
segundo suas perspectivas pessoais. Reservou-se, então, um lugar importante à
coleta dos assuntos da narração, de um lado na tradição oral das comunidades
de origem e, de outro, numa fonte escrita comum aramaica, que não foi reencontrada.
Essa narração escrita teria podido formar um bloco compacto ou ser
constituída de múltiplos fragmentos de narrações diversas, que teriam servido
a cada evangelista para edifi car sua obra original.
Pesquisas mais aprofundadas conduziram, após cerca de um século, a
teorias mais precisas que vão se complicar com o tempo. A primeira das teorias
modernas é aquela chamada das “duas fontes de Hoitzmann” (1863). Segundo
ele, como O. Culmann e a Tradição Ecumênica o acentuavam, Mateus e Lucas
foram inspirados, de um trado por Marcos e, de outro, por um documento
comum hoje perdido. Além disso, os dois princípios tinham cada um à sua
disposição uma fonte própria. Chegamos então ao esquema seguinte:
82
Culmann critica o esquema nos seguintes pontos:
1. A obra de Marcos, da qual ser serviram Lucas e Mateus, não deveriam
ser o Evangelho desse autor, mas uma redação anterior;
2. Uma importância sufi ciente não foi atribuída nesse esquema à tradição
oral, que é capital, porque ela, só ela, conservou durante trinta ou quarenta anos
as palavras de Jesus e as narrações de sua missão, não tendo sido cada evangelista
senão o porta-voz da comunidade cristã que fi xou a tradição oral.
Chega-se assim a esta noção: a de que os Evangelhos, tais como nós os
possuímos, trouxeram-nos o refl exo do que as comunidades cristãs primitivas
conheceram da vida e de suas concepções teológicas, dos quais os evangelistas
foram os porta-vozes.
As pesquisas mais modernas da crítica textual sobre as fontes dos Evangelhos
evidenciaram um processo muito mais complexo ainda que a formação
dos textos. A Sinopse dos Quatro Evangelhos, obra de R. P. Benoit e R. P. Boismard,
professores da Escola Bíblica de Jerusalém (1972-1973), chama a atenção
sobre a evolução dos textos em várias etapas, paralelamente a uma evolução
da tradição, o que implica consequências que R. P. Benoit expõe, nesses termos,
apresentando, parte do livro, obra de R. P. Boismard: “[. . .] as formas de palavras
ou de narrações, resultantes de uma longa evolução da tradição, não têm a
mesma autenticidade que aquelas que se encontram na origem. Alguns leitores
desta obra serão, possivelmente, surpreendidos ou perturbados ao se inteirarem
de que tal palavra de Jesus, tal parábola, tal prognóstico de seu destino, não
tinham sido ditos, como nós os lemos, mas que foram retocados e adaptados
por aqueles que nô-los transmitiram. Para aqueles que não estão acostumados
a esse tipo de enquete histórica, há nisso uma fonte possível de admiração,
quando não de escândalo”.
Esses retoques do texto e sua adaptação, praticados por aqueles que nô-
Marcos Documentos Comuns
Fonte Própria de Mateus Mateus Lucas Fonte Própria de Lucas
83
-los transmitiram, efetuaram-se segundo um modo do qual R. P. Boismard nos
dá o esquema muito complexo, que é um desenvolvimento da teoria dita das
duas origens. O esquema foi estabelecido depois de um trabalho de exame e
de comparação de textos, que é impossível resumir. O leitor interessado deverá,
para mais detalhes, reportar-se à obra original publicada em Paris nas edições du
Cerf.
Quatro documentos de base, chamados A.B.C. e Q., representam as
fontes originais dos Evangelhos (ver o esquema geral).
O documento A. é um documento emanado do meio judeu-cristão, que
inspirou Mateus e Marcos.
O documento B. é uma reinterpretação do documento A., para uso das
igrejas pagão-cristãs: ele inspirou todos os evangelistas, menos Mateus.
O documento C. inspirou Marcos, Lucas e João.
O documento Q. constitui a maior parte das fontes comuns a Mateus e
Lucas; é o “documento comum” da teoria das duas origens citadas acima.
Nenhum desses documentos de base culmina na redação dos textos defi
nitivos que nós possuímos. Entre eles e a redação fi nal se colocam as redações
intermediárias que o autor chama: Mateus intermediário, Marcos intermediário,
Proto-Lucas e João. São esses quatro documentos intermediários que vão
resultar nas últimas redações dos quatro Evangelhos e como sugestão para a
redação dos outros Evangelhos. É preciso reportar-se ao esquema geral para
apanhar todos os circuitos complexos postos em evidência pelo autor.
Os resultados dessa pesquisa escriturária são de uma importância considerável.
Eles demonstram que os textos dos Evangelhos que têm uma história
(ela será tratada mais adiante) têm também, segundo a expressão de R. P. Boismard,
uma «pré-história», quer dizer, que eles sofreram, antes do aparecimento
das últimas redações, modifi cações, por etapas, dos documentos intermediários.
Assim se explica, por exemplo que uma história bem conhecida da vida de
Jesus, a pesca milagrosa, seja apresentada, já a vimos, para Lucas como um acontecimento
ocorrido durante a sua vida e, para João, como um episódio de suas
aparições depois da ressurreição.
84
M. – E. BOISMARD
SINOPSE DOS QUATRO EVANGELHOS
ESQUEMA GERAL
Legenda:
- Doc. A, B, C, D e Q = Documentos que serviram para redação.
- Mt. Interm. = Redação intermediária de Mateus.
- Mc. Interm. = Redação intermediária de Marcos.
- Proto-Luc = Redação intermediária de Lucas.
Doc. Q Doc. A Doc. B Doc. C Doc. Q
Mt – interm. Mc – interm.
Proto - Lc
Jn
Ult. Red. Mt Ult. Red. Mc Ult. Red. Lc
Ult. Red. Jn
85
- Jn. = Redação intermediária de João.
- Ult. Red. Mt = Última redação de Mateus.
- Ult. Red. Mc. = Última redação de Marcos.
- Ult. Red. Lc. = Última redação de Lucas.
- Ult. Red. Jn. = Última redação de João.
A conclusão de tudo isto é que, lendo o Evangelho, não estamos mais
certos de receber a palavra de Jesus. R. P. Benoit, dirigindo-se ao leitor do Evangelho,
o adverte e lhe apresenta uma compensação:
“Se ele deve renunciar, em muitos casos, a ouvir a voz direta de Jesus, ele
houve a da Igreja, e ele confi a nela como na intérprete divina autorizada pelo
Mestre, que, depois de ter falado outrora sobre a nossa terra, nos fala hoje em
sua glória”.
Como conciliar esta constatação formal da inautenticidade de certos
textos com a frase da constituição dogmática sobre a Revelação divina do
Concílio do Vaticano II, que nos assegura, ao contrário, uma transcrição fi el das
palavras de Jesus (“Esses quatro Evangelhos dos quais ela (A Igreja) afi rma sem
hesitar a historicidade, transmitem fi elmente o que Jesus, o fi lho de Deus, durante
sua vida entre os homens realmente fez e ensinou para a salvação eterna,
até o dia em que foi elevado ao céu”)?
Parece bem claro que o trabalho da Escola Bíblica de Jerusalém levou à
declaração do Concílio um desmentido rigoroso.
HISTORIA DOS TEXTOS
Seria um erro crer que, desde que foram redigidos, os Evangelhos constituíram
as Escrituras fundamentais do Cristianismo nascente e aos quais se
referirá no mesmo nível em que se referiu ao Antigo Testamento. A autoridade
predominante foi então a da tradição oral, veículo das palavras de Jesus e dos
ensinamentos dos apóstolos. Os primeiros escritos que circularam e que prevaleceram
muito antes dos Evangelhos foram as epístolas de Paulo: não foram elas
redigidas muitos decênios mais cedo?
86
Vimos que, antes de 140, não existia nenhuma testemunha, atestando
que se conhecia uma coleção de escritos evangélicos, ao contrário do que escrevem
ainda em nossos dias certos comentadores. É preciso esperar 170, aproximadamente,
para que os quatro Evangelistas adquiram o “status” de literatura
canônica.
Circulavam assim, nesses primeiros tempos do Cristianismo, múltiplos
escritos sobre Jesus, que em seguida não foram retidos como dignos de autenticidade,
e que a Igreja ordenou esconder; daí o nome de apócrifos. Restam
desses textos obras bem conservadas, porque elas “gozavam da estima geral”,
nos diz a Tradução Ecumênica como a didaché ou epístola de Barnabé, mas infelizmente
outras foram “descartadas de modo mais brutal”, e não restam delas
senão fragmentos. Considerados como veículo de erros, eles foram subtraídos
dos olhos dos fi éis. No entanto, obras como os Evangelhos dos Nazarenos, os
Evangelhos dos Hebreus, os Evangelhos dos Egípcios, conhecidos pelas relações
dos Padres da Igreja, se apresentavam muito de perto com os Evangelhos canônicos.
Dá-se o mesmo com o Evangelho de Tomás, e com os Evangelhos de
Barnabé.
Alguns desses escritos apócrifos contêm detalhes fantasmagóricos, produtos
da imaginação popular. Assim, os autores de obras sobre os Apócrifos,
ao citá-los, tomam deles, com uma evidente satisfação, passagens, verdadeiramente
falando, ridículas. Mas tais passagens podem ser encontradas em todos
os Evangelhos. Lembremo-nos simplesmente da descrição fantasista dos acontecimentos,
que Mateus pretende terem ocorrido por ocasião da morte de
Jesus. Podem-se encontrar passagens que falham em seriedade em todos os
escritos dos primeiros tempos do Cristianismo: é preciso ter a honestidade de
reconhecê-lo.
A abundância da literatura sobre Jesus conduziu a Igreja, em fase de
organização, a efetuar eliminações. Talvez, cem Evangelhos foram suprimidos?
Quatro somente foram conservados para entrar numa lista ofi cial de escritos
neo-testamentários, que constituem o que se chama de “Cânon”.
Marcion, na metade do século II, compeliu fortemente as autoridades
eclesiásticas a tomar posição. Era um feroz adversário dos judeus, que rejeitava,
então, todo o Antigo Testamento e o que, dos escritos posteriores a Jesus, lhe
parecia ligar-se a ele muito de perto ou derivar da tradição judeu-cristã. Marcion
reconhece como válido somente a Evangelho de Lucas, porque, pensava ele, ele
era o porta-voz de Paulo, assim como dos escritos de Paulo.
87
A Igreja declarou Marcion herético e pôs no “Cânon” todas as epístolas
de Paulo, mas com os outros Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e
João, e ajuntou, também, algumas outras obras como os Atos dos Apóstolos.
Entretanto, a lista ofi cial varia com o tempo, nesses primeiros séculos da era
cristã. Obras consideradas mais tarde como não válidas (apócrifas) ali fi guraram
momentaneamente, enquanto outras obras, que o “Cânon” atual do Novo Testamento
contém, estavam excluídas naquela época. As hesitações duraram até os
Concílios de Hipona em 393 e de Cartago em 397. Mas os quatro Evangelhos
ali fi guraram sempre.
Como R. P. Boismard, é preciso lastimar o desaparecimento de uma prodigiosa
soma de literatura declarada apócrifa pela Igreja, pois ela continha um
interesse histórico. Esse autor lhe dá, com efeito, um lugar na Sinopse dos
Quatro Evangelhos, ao lado dos Evangelhos ofi ciais. Esses livros existiam ainda,
comenta ele, nas bibliotecas, em tomo do fi m do século IV.
Esse século é uma época de séria colocação em ordem. É dela que datam
os manuscritos completos mais antigos dos Evangelhos. Alguns documentos
anteriores, papiros do século III e um que poderá datar do II, não nos transmitem
senão fragmentos. Os dois manuscritos em pergaminho mais antigos são
manuscritos gregos do século IV. São os Codex Vaticanus, do qual se ignora
o lugar da descoberta o que está conservado na Biblioteca do Vaticano, e o
Codex Sínaiticus, descoberto no monte Sinai e que está conservado no Museu
Britânico de Londres. O segundo contém duas obras apócrifas.
Segundo a Tradução Ecumênica, existiriam no mundo duzentos e cinquenta
outros pergaminhos conhecidos, os últimos do século XI. Mas “todas
as cópias do Novo Testamento que nos chegaram não são autênticas. Muito
ao contrário, podemos discernir, entre elas, algumas diferenças que são de importância
variável, cujo número, em todo caso, é considerável. Algumas dessas
diferenças não passam de detalhes gramaticais, o vocabulário ou a ordem de
palavras, mas, outras vezes constata-se entre os manuscritos algumas divergências
que afetam o sentido das passagens inteiras”. Se se quiser tomar em considerações
as divergências de ordem textual, é sufi ciente percorrer o Novum
Testamentum Graecer34. Esta obra contém um texto grego chamado “médio”,
que é um texto-síntese com, uma nota, todas as variantes encontradas nas
diversas versões. A autenticidade de um texto, mesmo a dos manuscritos mais
veneráveis, é sempre discutida.
34 - Nestlé et Aland. ed. 1971.
88
O Codex Vatícanus fornece um exemplo digno. Sua reprodução fac-similada,
editada pela Cidade do Vaticano em 1965, é acompanhada de uma notícia da
mesma procedência que nos informam que vários séculos depois da copia (em
redor do século X ou XI, acredita-se), um escriba repassou a tinta todas as letras
com exceção daquelas que ele julgava errôneas”. Há algumas passagens do
texto onde, muito visivelmente, as letras primitivas de cor castanha persistem e
contrastam com o resto do texto, que é de cor castanho-escuro. Nada permite
afi rmar que a restauração tinha sido fi el. Aliás, a nota prévia precisa: “Ainda não
se distinguiu de maneira defi nitiva as diferentes mãos que, ao longo dos séculos,
corrigiram e anotaram o manuscrito; um certo número de correções foi certamente
feito, no momento em que foi repassado o texto”. Ora, em todos os
manuais, o manuscrito é apresentado como uma cópia do século IV. É preciso
ir às fontes vaticanas para perceber que algumas mãos puderam, alguns séculos
mais tarde, alterar o texto.
Retrucar-se-á que outros textos podem servir de comparação, mas como
escolher entre variantes que alteram o sentido? Sabe-se que a correção muito
antiga de um escriba pode comprometer a reprodução defi nitiva do texto
corrigido. Verifi car-se-á, perfeitamente, mais adiante, que uma só palavra de um
texto de João, relativa ao Paracleto35, muda radicalmente o sentido da passagem
e modifi ca inteiramente sua signifi cação, sob o ponto de vista teológico. Eis
o que O. Culmann escreveu a propósito das variantes em seu livro O Novo
Testamento:
“Essas situações resultam ora de erros involuntários: o copista pulou
uma palavra, ou, ao contrário, a escreveu duas vezes em segunda, ou, ainda, toda
uma sequencia da frase é omitida por descuido, porque ela estava colocada
no manuscrito a ser recopiado, entre duas palavras idênticas. Ora, se trata de
correções voluntárias; ou o copista se permitiu corrigir o texto segundo suas
ideias pessoais, ou ele procurou harmonizar o texto com um texto paralelo, a
fi m de reduzir-lhe mais ou menos, desajeitadamente, as divergências. A medida
em que os escritos do Novo Testamento se separarão do resto da literatura
cristã primitiva e vão sendo olhadas como Escritura Santa, os copistas hesitarão
muito em se permitir tais correções de seus predecessores: eles acreditam
recopiar o texto autêntico e fi xariam assim as variantes. Ou, então, fi nalmente,
um copista anota o texto na margem para explicar uma passagem obscura. O
copista seguinte, pensando que aquela frase, que ele encontra a margem, havia
sido esquecida na passagem pelo predecessor, julga necessário reintroduzir essa
anotação marginal no texto. Assim, o novo texto se torna, às vezes, ainda mais
obscuro”.
35 - Espírito Santo; Mentor; Intercessor.
89
Os escribas de certos manuscritos tomam, às vezes, grandes liberdades
com o texto. Foi o que ocorreu com um copista de um dos manuscritos mais
veneráveis, depois, dos dois manuscritos referidos acima, o codex Bezae Contabrigiensís,
do século VI. Percebendo, sem dúvida, a diferença entre as genealogias
de Jesus em Lucas e em Mateus, o escriba pôs, em sua cópia do Evangelho
de Lucas, a genealogia de Mateus, mas como a segunda contém menos nomes
que a primeira, ele a preenche com nomes suplementares (sem, entretanto, restabelecer
equilíbrio).
As traduções latinas, com a Vulgote de São Jerônimo (seculo IV), e as
traduções mais antigas (Vetus ltalo), as traduções Siríaca e Coptasão mais fi éis
que os manuscritos gregos de base? Elas poderiam ter sido feitas a partir de
manuscritos mais antigos que aqueles mencionados anteriormente, e que teriam
sido perdido sem nossos dias. Não se sabe nada disso.
Conseguiu-se seriar o conjunto dessas versões em famílias, reunindo
um certo numero de caracteres comuns? É assim que se pode defi nir, segundo
Culmann:
- um texto dito sírio, para cuja constituição poderiam ter sido usados
textos mais antigos, em grande maioria, manuscritos gregos; este texto é
largamente divulgado, na Europa, desde o século XVI pela imprensa; ele
seria o pior, dizem os especialistas;
- um texto dito ocidental com suas antigas versões latinas e com o Codex
Bezae Contabrigiensis, simultaneamente em grego e em latim (segundo a
Tradução Ecumênica, uma tendência pronunciada para explicações, para
imprecisões, para paráfrases, para harmonizações, é uma de suas características);
- o texto dito neutro, ao qual pertencem o Codex Vaticanus e o Codex
Sínaiticus, teria grande pureza; as edições modernas do Novo Testamento o
seguem tranquilamente, embora apresente, ele também, defeitos (Tradução
Ecumênica).
Tudo o que a crítica textual moderna pode nos oferecer, sob esse ponto
de vista, é tentar reconstruir “um texto, tendo as maiores chances possíveis de
se aproximar do texto original. Está, de qualquer modo, fora de questão, esperar
remontar até o texto original mesmo” (Tradução Ecumênica).
90
OS EVANGELHOS E A CIÊNCIA MODERNA
AS GENEALOGIAS DE JESUS
Os Evangelhos contêm pouquíssimas passagens que possam conduzir a
uma confrontação com os dados científi cos modernos.
Logo de início, muitas das narrações dos Evangelhos que trataram de alguns
milagres não se prestam muito a um comentário científi co. Esses milagres
interessam tanto a pessoas - a cura de doenças (possessos, cegos, paralíticos,
leprosos, ressurreição de Lazaro) -, como a fenômenos puramente materiais,
à margem das leis da natureza (o caminhar de Jesus sobre as águas que o
suportam, a transformação da água em vinho). Às vezes, pode ser um fenômeno
natural de aspecto incomum, em razão de sua realização em um tempo
extremamente curto, como o apaziguamento imediato da tempestade, a seca
instantânea da fi gueira, ou, ainda, a pesca miraculosa, como se todos os peixes
do lago estivessem agrupados em ponto preciso, onde as redes foram jogadas.
Em todos esses acontecimentos, Deus intervém como Todo-Poderoso,
não sendo de causar espanto o que ele é capaz de fazer e que aos seres humanos
parece prodigioso, mas que, para Ele, não é. Essas considerações não signifi
cam absolutamente que o crente não possa recorrer à ciência. Crer no milagre
divino e crer na ciência são atitudes perfeitamente compatíveis: uma é da escala
divina; a outra, da escala humana.
Pessoalmente, eu creio sem objeção que Jesus pôde curar o leproso, mas
eu não posso aceitar que se declare autêntico e inspirado por Deus um texto
no qual eu li que vinte gerações somente existiram entre o primeiro homem
e Abraão, como Lucas, no seu Evangelho (3:23-25} nô-lo disse. Veremos mais
adiante, as razões que estabeleceram que ó texto de Lucas, como o do Antigo
Testamento sobre o mesmo assunto, saiu, ingenuamente, da imaginação humana.
Os Evangelhos (como o Alcorão) nos dão sobre as origens biológicas de
Jesus a mesma narração. O crescimento de Jesus no útero materno se operou
fora das leis da natureza comuns a todos os seres humanos, o óvulo fecundado
pelo ovário de sua mãe não teve necessidade de se conjugar comum espermatozoide
que deveria vir de seu pai para formar em embrião e, depois, uma criança
perfeita. O fenômeno que acompanha o nascimento de um indivíduo normal,
sem intervenção do elemento fecundante masculino é chamado partenogênese.
91
No reino animal, a partenogênese pode ser observada em certas condições. E
o caso de diversos insetos, de certos invertebrados e, muito excepcionalmente
de uma raça selecionada de pássaros. Em certos mamíferos, se pode, experimentalmente,
ente as coelhas, por exemplo, obter um início de desenvolvimento do
óvulo sem intervenção do espermatozoide em um embrião em estado extremamente
rudimentar mas não se pode ir mais longe e não se conhece entre eles
nenhum exemplo de partenogênese completa, nem experimental e nem natural.
Jesus é um caso à parte. Maria era virgem. Ela conservou sua virgindade e não
teve outros fi lhos senão Jesus. Jesus é uma exceção biológica36.
As duas genealogias contidas nos Evangelhos de Mateus e de Lucas
apresentam problemas de probabilidade, de conformidade com os dados da ciência,
e, consequentemente, de autenticidade. Esses problemas são extremamente
embaraçosos para os comentadores cristãos, porque eles se recusam a ver o
que é evidentemente produto de imaginação humana: esta já havia inspirado os
autores sacerdotais do Gênesis no século VI A.C., para as suas genealogias dos
primeiros homens. É ainda ela que inspira Mateus e Lucas para o que esses dois
autores não tomaram do Antigo Testamento.
É preciso observar, de passagem, que essas genealogias masculinas não
têm nenhum sentido para Jesus. Se fosse preciso dar uma genealogia a Jesus,
fi lho exclusivo de Maria, sem pai biológico, essa deveria ser a de Maria, sua mãe.
36 - Os Evangelhos citam às vezes “irmãos” e “irmãs” de Jesus (Mateus 13:46-50); (Marcos 6:1-6);
(João 7:3 e 2:I2). Os termos gregos u lizados adelphoi e adelphai signifi cam irmãos e irmãs no sen -
do biológico; trata-se certamente de traduções defeituosas de palavras de origem semí ca que têm
o sen do de familiares, simplesmente; tratava-se, talvez aí, de primos.
92
Eis aqui os textos segundo a Tradução Ecumênica da Bíblica, Novo Testamento:
A genealogia segundo Mateus encabeça o seu Evangelho:
Livro das Origens de Jesus Cristo Filho de David, Filho de Abraão
Abraão Gerou Isaac
Isaac Gerou Jacó
Jacó Gerou Judas e a seus irmãos
Judas Gerou Farés e Zarão de Tamar
Farés Gerou Esron
Esron Gerou Arão
Arão Gerou Aminabad
Aminabad Gerou Naasson
Naasson Gerou Salmon
Salmon Gerou Boaz
Boaz Gerou Obed
Obed Gerou Jessé
Jessé Gerou Davi
Davi Gerou Salomão
Salomão Gerou Roboão
Roboão Gerou Abias
Abias Gerou Asá
Asá Gerou Josafá
Josafá Gerou Jorão
Jorão Gerou Ozias
Ozias Gerou Joatão
Joatão Gerou Acaz
Acaz Gerou Ezequias
Ezequias Gerou Manassés
Manassés Gerou Amon
Amon Gerou Josias
Josias Gerou Jecomias e seus irmãos
93
Isto foi até a deportação para a Babilônia. Após a Deportação para a Babilônia:
Jecomias Gerou Sala el
Sala el Gerou Zorobabel
Zorobabel Gerou Abiud
Abiud Gerou Eleaquim
Eleaquim Gerou Azor
Azor Gerou Sadoque
Sadoque Gerou Achim
Achim Gerou Eliud
Eliud Gerou Eliazar
Eliazar Gerou Matan
Matan Gerou Jacó
Jacó Gerou José, marido de Maria da qual nasceu Jesus,
que se chamava Cristo
O número total das gerações é, portanto,: catorze de Abraão até Davi, catorze
de Davi até a deportação para a Babilônia, catorze da deportação para Babilônia
até Cristo.
Genealogia de Jesus antes de Davi
Segundo Lucas
Segundo Mateus (Mateus
não cita nenhum
nome antes de Abraão)
1 Adão Abraão
2 Set Isaac
3 Henos Jacó
4 Cainan Judas
5 Malaquiel Farés
6 Jared Ezron
7 Henoe Arão
8 Matusalém Aminabad
94
9 Lamec Naasson
10 Noé Salmon
11 Sem Booz
12 Arfaxade Obed
13 Cainan Jessé
14 Sale Davi
15 Heber
16 Fale
17 Regau
18 Sarug
19 Nacor
20 Tare
21 Abraão
22 Isaac
23 Jacó
24 Judas
25 Farés
26 Esron
27 Arão
28 Admin
29 Aminabad
30 Naasson
31 Salmon
32 Booz
33 Obed
34 Jessé
35 David
95
Genealogia de Jesus, Após Davi.
Segundo Lucas
35 David
36 Natã
37 Matata
38 Mena
39 Meléia
40 Eleaquim
41 Jonas
42 José
43 Judas
44 Simeon
45 Levi
46 Matat
47 Jorim
48 Eliezer
49 Jesus
50 Her
51 Elmadan
52 Cosan
53 Adi
54 Melqui
55 Neri
56 Sala el
57 Zaroababel
58 Reza
59 Joana
60 Judá
61 José
62 Semei
63 Mata as
64 Maat
Segundo Mateus
14 David
15 Salomão
16 Roboão
17 Abias
18 Asá
19 Josafá
20 Jorão
21 Ozias
22 Joatão
23 Acaz
24 Ezequias
25 Manasés
26 Amon
27 Josias
28 Jeconias
Deportação à Babilônia
29 Sala el
30 Zaroababel
31 Abiúd
32 Eleaquim
33 Azor
34 Sadoc
35 Achim
36 Eliud
37 Eliazar
38 Matan
39 Jacó
40 José
41 Jesus
96
65 Nage
66 Hesli
67 Naum
68 Amós
69 Mata as
70 José
71 Jane
72 Melqui
73 Levi
74 Matat
75 Heli
76 José
77 Jesus
VARIAÇÕES SEGUNDO OS MANUSCRITOS EM
RELAÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Postas à parte algumas variantes ortográfi cas, é preciso citar:
a) Evangelho de Mateus
A genealogia desapareceu do Codex Bezae Contabrigierusis, manuscrito
muito importante do século VI, bilíngue grego-latim, totalmente para o texto
grego, em grande parte para o texto latino, mas pode tratar-se aqui de uma
simples perda das primeiras folhas.
É preciso mencionar a grande liberdade de Mateus perante o Antigo
Testamento, ao qual ele amputa as genealogias a fi m de atender a uma singular
relação numerada (que afi nal ele não dá, como se verá mais adiante).
b) Evangelho de Lucas
1. Antes de Abraão: Lucas menciona 20 nomes: O Antigo Testamento
não menciona além de 19 (ver o quadro dos descendentes de Adão na parte
consagrada ao Antigo Testamento). Lucas acrescentou depois de Arfaxad (n°
12) um certo Kainam (nQ l3), do qual não se encontra traço, no Gênese, como
fi lho de Arfaxad.
97
2. De Abraão a David: encontram-se de 14 a 16 nomes, conforme os manuscritos.
3. De David a Jesus: a Variante mais importante é a do Codex Bezae
Cantabrigiensis, que atribui a Lucas uma genealogia fantasista; baseava-se na de
Mateus, à qual o escriba acrescentou cinco nomes. Infelizmente, a genealogia do
Evangelho de Mateus deste manuscrito desapareceu, o que não permite mais a
comparação.
EXAME CRÍTICO DOS TEXTOS
Estamos aqui em presença de duas genealogias diferentes, tendo por
ponto comum essencial o de passar por Abraão e David. Para facilidade desse
exame, dirigir-se-á a crítica, dividindo o conjunto em três partes:
- De Adão a Abraão
- De Abraão a David
- De David a Jesus
1. Período de Adão a Abraão
Mateus, começando sua genealogia em Abraão, não será considerado
aqui. Somente Lucas dá indicações sobre os ancestrais de Abraão até Adão: 20
nomes, dos quais 19 são encontrados, como se disse, no Gênesis (Capítulos 4,
5 e 11).
Pode-se conceber que houve apenas 19 ou 20 gerações de seres humanos
antes de Abraão? O problema foi examinado a propósito do Antigo
Testamento. Se se quer bem se reportar ao quadro dos descendentes de Adão,
estabelecido de acordo com o Gênesis, e comportando as indicações, em cifras
do tempo, que ressaltam do texto bíblico, dezenove Séculos aproximados teriam
decorrido entre o aparecimento do homem sobre a terra e o nascimento de
Abraão. Ora, como se calcula atualmente que Abraão viveu em torno de 1850
A.C., deduz-se que as indicações fornecidas pelo Antigo Testamento situam o
aparecimento do homem sobre a terra e trinta e oito séculos aproximadamente
A. C. Lucas foi, evidentemente, inspirado por esses dados para o seu Evangelho.
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Ele exprime, por tê-los copiado, uma contra verdade fl agrante. Viu-se mais acima
quais argumentos históricos peremptórios conduziram a esta afi rmação.
Que os dados do Antigo Testamento sejam aqui inadmissíveis para nossa
época, ainda passa: caem no domínio do “caduco”, evocado pelo Concílio
Vaticano II. Mas que os evangelistas retomem por sua conta os mesmos dados
incompatíveis com a ciência, é uma constatação extremamente grave, oposta aos
defensores da historicidade dos textos evangélicos.
Os comentadores sentiram perfeitamente o perigo. Eles tentam contornar
a difi culdade, dizendo que não se trata de uma árvore genealógica completa,
que alguns nomes são pulados pelos evangelistas, de propósito, e que ocorre
somente “a intensão de estabelecer, nas suas grandes linhas ou em seus elementos
essenciais, uma sequência fundada sobre a realidade histórica”37. Nada nos
textos autoriza a levantar esta hipótese, porque está bem claro: um tal gera um
tal, ou um fi lho tal dum tal. Além disso, o evangelista, no que precede a Abraão,
notadamente, toma suas Informações no Antigo Testamento, onde as genealogias
são expostas na forma seguinte:
X em tal idade, gerou Y... ...Y viveu tantos anos e gera Z. Não há portanto
ruptura.
A parte da genealogia de Jesus, segundo Lucas, anterior a Abraão, não é
admissível à luz dos conhecimentos modernos.
2. Período de Abraão a Davíd
Aqui as duas genealogias correspondem ou quase, menos um ou dois
nomes: erros involuntários dos copistas podem explicar a diferença.
A verossimilhança está aí do lado dos evangelistas?
Davi é situado pela história em torno do ano 1000, Abraão lá por
1850-1800 A.C.: 14 a 16 gerações para oito séculos aproximados; isto é crível?
Digamos que, para esse período, os textos evangélicos estão no limite das coisas
admissíveis.
3. Período Posterior a Davi
Os textos não concordam mais inteiramente para estabelecer a ascendência
davídica de José, fi gurativa da ascendência de Jesus para o Evangelho.
37 - A. Tricot. Pequeno dicionário do Novo Testamento.
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Deixemos de lado a falsifi cação evidente do Codex Bezae Contabrigíensis
no que concerne a Lucas e comparemos os que nos relatam os dois manuscritos
mais vulneráveis: o Codex Vaticanus e o Codex Sínaitícus.
Na genealogia de Lucas, 42 nomes têm seu lugar após David (N° 35) até
Jesus (N° 77). Na gemealogia de Mateus, 27 são mencionados depois de Daüd
(N° 14) até Jesus (N° 41).
O número de ascendentes (fi ctícios) de Jesus é, pois, diferente, posteriormente
a David nos dois Evangelhos. Além disso, os nomes são também
diferentes. Porém, há mais.
Mateus nos diz ter descoberto que a genealogia de Jesus se dividia,
depois de Abraão, em três grupos de 14 nomes: o primeiro grupo de Abraão
a Davi; segundo grupo de David a deportação para a Babilônia; terceiro grupo,
da deportação para a Babilônia a Jesus. Seu texto comporta efetivamente 14
nomes nos dois primeiros grupos, mas, no terceiro grupo, da deportação para
a Babilônia a Jesus, há somente 13 nomes e não os 14 esperados, pois o quadro
mostra que Salathiel tem o N° 29 e Jesus o N° 41. Não há uma variante em
Mateus que dê 14 nomes para esse grupo.
Enfi m, para conseguir 14 nomes no segundo grupo, Mateus toma grandes
liberdades com o texto do Antigo Testamento. Os nomes dos seis primeiros
descendentes de David (N° 15 a 20), estão conforme os dados do Antigo Testamento.
Mas os três descendentes de Jorão (N° 20), que o duodécimo livro das
Crônicas da Bíblia nos indica terem sido Ocasias, João e Amasias, são escamoteados
por Mateus. Além disso, Jeconias (N° 28) é, para Mateus, fi lho de Josias
(N° 27), enquanto, conforme o segundo livro dos Reis da Bíblia, é Eleaquim que
deve ser colocado entre Josias e Jeconias.
Assim está demonstrado que Mateus modifi cou as séries genealógicas
do Antigo Testamento para apresentar um grupo fi ctício de 14 nomes entre
Davi e a deportação para a Babilônia.
Quanto ao fato de que falta um nome do terceiro grupo de Mateus,
assim como nenhum texto atual desse Evangelho contém os 42 nomes anunciados,
a perplexidade provém menos de lacunas em si (erro muito antigo de
um escriba que, se teria perpetuado, poderia explicá-lo) que do silêncio quase
geral dos comentadores a esse respeito. Como, com efeito, não se aperceber da
lacuna? O piedoso mutismo é rompido por W. Trilling que, em seu livro - O
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Evangelho Segundo Mateus38, lhe consagra apenas uma linha. Ora, o fato está
longe de ser negligenciado, pois que os comentadores deste Evangelho, aí
compreendidos os da Tradução Ecumênica e outros como o cardeal Daniélon,
acentuam a importância considerável do símbolo 3 vezes 14 de Mateus. Para
ilustrá-lo, o evangelista não teria suprimido sem hesitação os nomes bíblicos, a
fi m de conseguir sua relação numerada?
Não se detendo por isso, os comentadores vão construir uma apologética
que tranquiliza, justifi cando a escamoteação de nomes e deslizando sobre a
lacuna que faz cair o que o evangelista queria desmontar.
COMENTÁRIOS DE EXEGETAS MODERNOS
O cardeal Daniélon atribui, em seu livro Os Evangelhos da Infância39, à
“esquematização numérica” de Mateus, um valor simbólico de primeiríssima
importância, pois é ela que estabelece a ascendência de Jesus, confi rmada também
por Lucas. Lucas e Mateus são, para ele, os “historiadores” que fi zeram
sua “enquete Histórica”, a “genealogia”, como sendo “recolhida nos arquivos
da família de Jesus”. É preciso acentuar que esses arquivos não foram jamais
encontrados40.
O cardeal Daniélon lança o anátema sobre os que criticam seu ponto de
vista: “É a mentalidade ocidental, escreve ele, ignorância ao judeu-cristianismo,
falta de senso semítico que desgarraram tantos exegetas na interpretação dos
Evangelhos. Eles projetaram suas categorias (sic) platônicas, cartesianas, hegelianas,
heideggerianas. E por aí se compreende porque tudo se tenha perturbado
em seu espírito”. É muito evidente que nem Platão, nem Descartes, nem Hegel,
nem Heidegger não intervêm gratuitamente na atitude crítica que se pode ter
perante essas genealogias fantasistas.
O autor, procurando o sentido do 3 vezes 14 de Mateus, expande-se em
38 - Desclée, Parole e Prière.
39 - Edi ons de Seuil.
40 - Ainda que o autor nos assegure conhecer a existência desses pretensos “arquivos” familiares,
mediante a História Eclesiás ca de Euzébio, de sobre cuja seriedade ter-se-ia muito a dizer, é di cil
duas árvores genealógicas que fossem necessariamente diferentes, visto que cada um dos pretensos
“historiadores” apresenta uma genealogia em grande parte diferente do outro, pelos nomes e pelo
número de ascendentes.