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PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO


Todo o louvor para ALLAH, Quem revelou o Livro como guia, misericórdia


e provas claras de orientação para a humanidade. Paz e bênçãos para o Seu


servo – Muhammad , o rei dos profetas – para sua família e todos aqueles


que o seguem e seguirão até ao Dia do Juízo Final.


De facto, ALLAH foi misericordioso com as pessoas ao enviar mensageiros,


com o objectivo de os chamar à senda recta, e ao revelar livros, a fi m de


esclarecer muitos assuntos importantes.


Com tudo isso, ninguém pode ter desculpas e argumentos após a vinda dos


mensageiros e livros revelados. Quem segui-los estará no bom caminho e


quem rejeitá-los estará na perdição.


ALLAH terminou o ciclo de mensageiros ao enviar o profeta Muhammad 


e a revelação do Seu último livro – Al-Qur’án – numa língua bem clara, uma


escritura incontestável e sublime.


Obviamente que a falsidade não pode atingir este Livro Divino, em qualquer


dos sentidos, pois trata-se de uma revelação por parte do Prudente e Digno


de louvores, que fez do mesmo um guia esclarecedor, misericórdia para a


8 Prefácio


humanidade e uma prova para aqueles que recusam a verdade, ordenando


ao Profeta  para transmiti-lo e ensiná-lo a todos. E foi exactamente o que


ele fez, recitando palavra por palavra, ensinando versículo por versículo e


transmitindo capítulo por capítulo.


ALLAH ordenou ainda que se escrevesse tudo quanto lhe fosse revelado, o que


aconteceu com todo o Al-Qur’án, que foi escrito durante a sua vida. Tomando


essa primeira escrita como base, foram posteriormente escritas outras cópias


autênticas e, mais tarde, enviadas para os locais mais importantes do mundo


isslâmico, sendo assim que se atingiu todos os lugares do Mundo ao longo


do tempo, na sua forma original.


O presente livro trata precisamente deste tema, cuja primeira parte foi


publicada em 1989 juntamente com um capítulo intitulado “Regras de


Tajwid”, que Inshá-Allah também será editado e publicado novamente como


um livro didáctico em separado.


Agora, tenho a oportunidade de lançar a segunda edição, já revista, actualizada


e compilada novamente cerca de vinte anos depois. Mesmo assim, peço aos


entendidos na matéria que me informem caso encontrem algum erro de forma


a que possa corrigi-los.


Se este livro for utilizado como material didáctico, então aconselha-se aos


professores que encorajem os seus alunos a procurarem os versículos do


Al-Qur’án em árabe, cujas referências foram mencionadas logo após as


respectivas traduções.


Peço a ALLAH que me benefi cie através do conteúdo deste livro e o torne


exclusivamente para Ele, e me proteja de qualquer falha. Ámin.


Wa Má Taufi qui Illá Billah


Aminuddin Muhammad


Maputo – Moçambique


Sha’bán / 1430


Agosto / 2009


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 9


PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO


ALLAH enviou-nos a Mensagem Divina – Al-Qur’án, Luz para a humanidade,


que é constituída por leis e condutas de comportamento ímpares:


“Já vos chegou de ALLAH uma luz e um Livro claro, com o qual ALLAH


guiará aqueles que Lhe procuram agradar, para os caminhos da paz e, por


Sua vontade, tirá-los-á das trevas, levando-os à luz, encaminhando-os até o


caminho da rectidão.” [Al-Qur’án 5:15]


Os muçulmanos de expressão portuguesa passaram por um longo período


em que se viram afastados e isolados do Al-Qur’án, sendo por isso que a


nossa ligação com este Livro Divino se tornou superfi cial, mais simbólica


do que real. Falamos da sua grandeza, autoridade e soberania, mas não


fazemos qualquer esforço para fazer dele o foco intelectual, moral e religioso


do nosso dia-a-dia. No caso extremo, limitamo-nos apenas à sua leitura e


memorização, quando sem percebê-lo, é impossível pô-lo em prática.


No seu livro Ihiyá-ul-Ulum, Imám Ghazali (RA) narra uma passagem


ocorrida na era de Umar , o segundo Khalifa.


Consta que quando Umar  estava viajando de Madina para Makkah,


durante o seu percurso, deparou com um rebanho de ovelhas a ser pastado


por um rapaz de origem africana.


Com o objectivo de testar se os ensinamentos do Al-Qur’án, pelo menos na sua


forma elementar, haviam chegado a esse rapaz que vivia num canto remoto da


Arábia, e até que ponto os mesmos refl ectiam na sua vida particular, Umar 


perguntou-lhe se estava interessado em vender algum cordeiro do rebanho.


O rapaz respondeu pronta e claramente: — Não!


O Khalifa retorquiu: — Porquê?


— Porque não me pertencem; são do meu senhor e eu sou escravo dele.


— Que diferença faz isso? Pega neste dinheiro, dá-me o cordeiro e diga ao


teu senhor que um lobo (ou homem cruel) te arrancou o cordeiro.


Sem saber de quem se tratava, o rapaz olhou para o Khalifa e disse: Eu posso


enganar o meu senhor que está ali doutro lado da colina, mas como posso


enganar Aquele grande Senhor que está a vigiar e a escutar a nós os dois?


10 Prefácio


O rapaz, que era analfabeto, nunca tinha estudado o Al-Qur’án, mas a


sua infl uência no ambiente em que vivia, já o tinha tocado. Talvez tivesse


escutado alguns versículos do Al-Qur’án, como por exemplo:


“Nós criamos o ser humano e sabemos o que a sua alma lhe murmura, pois


Nós estamos mais perto dele do que a (sua) veia jugular.” [Al-Qur’án 50:16]


“Não reparaste que Deus sabe o que está no céu e na terra? Não há


confi dência (conversa secreta) entre três sem que Ele seja O quarto deles,


nem entre cinco sem que Ele seja O sexto deles, nem que haja menos ou mais


do que isso sem que Ele esteja com eles, onde quer que se reúnam. Depois,


no Dia da Ressurreição, informá-los-á daquilo que fi zeram, porque Deus


tem conhecimento de tudo.” [Al-Qur’án 58:7]


Portanto, o rapaz já tinha aprendido através do Al-Qur’án que ninguém pode


vender ou dar algo que não lhe pertence. De facto, o muçulmano que tem o


Al-Qur’án no seu íntimo, como seu guia eterno, não necessita de polícia nem


de agentes da lei.


Com a resposta do rapaz, pode-se imaginar a impressão profunda que Umar 


deve ter criado na sua mente, ainda mais tratando-se dum Khalifa do Isslam.


Consta nas narrações que lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.


Depois, com toda a ternura, Umar  disse ao rapaz que lhe guiasse até


ao seu patrão, dono do rebanho. Ao encontrar com este, Umar perguntou:


Quanto pagaste por este escravo? Tanto, respondeu o dono.


Umar disse: Eis aqui essa quantia, tome-a e liberte-o. E assim o rapaz se


tornou livre graças ao Al-Qur’án.


A questão que se coloca é: quantos de nós, muçulmanos ou não, em todos os


graus ou níveis de vida, sejam eruditos, graduados, líderes, etc., chegariam a


ter uma atitude como a do referido rapaz africano, há cerca de 1400 anos.


O Al-Qur’án foi revelado com o objectivo de libertar o Homem e criar a


noção da presença de Deus e, consequentemente, uma verdadeira civilização,


inspirando nas pessoas esse sentimento de que cada membro da sociedade é


pastor de outrem, tal como aconteceu com o referido rapaz.


Nós possuímos esta gloriosa herança e, portanto, devemos valorizá-la e darmos


o nosso melhor na sua aprendizagem, compreensão e prática. Orgulhamo-nos


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 11


de ser a única comunidade religiosa do Mundo que possui um Livro Sagrado


autêntico há mais de 14 séculos.


O Profeta  disse: “Deixei duas coisas para vós, se vós as assegurardes, jamais


vos extraviareis: o Livro de ALLAH e o Sunnat do Seu mensageiro.”


[Hákim]


O Al-Qur’án não só explica a relação entre o Homem e Deus como também


estabelece os princípios da religião, bases fundamentais da teologia e código


de vida universal, satisfazendo assim as necessidades da natureza humana.


Estabeleceu ainda o código geral religioso, moral, social, militar, comercial,


judicial e político, contendo todos os elementos para um código perfeito,


destinado à todas as pessoas e para todos os locais e eras até ao Fim do Mundo.


Este livro já transformou a vida de milhões de pessoas, desde o tempo do profeta


Muhammad  até hoje. Se desejar, pode transformar também a sua vida.


Nele reside o sucesso de todos, quer para este mundo assim como para o


outro. Portanto, ó muçulmano! Conheça a história do seu Livro Sagrado, o


nosso maior património!


A primeira parte do presente livro dá-nos uma breve história acerca do


Al-Qur’án e assuntos a ele relacionados, enquanto que a segunda(*) está


relacionada com o Tajwid – regras de recitação e pronúncia.


Quero agradecer com toda a sinceridade, a todos aqueles que directa e


indirectamente me apoiaram na concretização deste trabalho. Que ALLAH


os recompense da melhor forma e aceite de mim este humilde trabalho,


dando-me mais sinceridade, coragem e forças para servir o Seu Livro – o


sagrado Al-Qur’án. Ámin.


Aminuddin Muhammad


Maputo – Moçambique


Rabiul-Ákhir / 1410


Novembro / 1989


(*) A segunda parte da primeira edição do livro aqui referido não foi incorporada nesta


nova edição, pois achou-se melhor publicá-la como um livro didáctico à parte.





PARTE I


HISTÓRIA


DO AL-QUR’ÁN





História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 15


A NECESSIDADE DA REVELAÇÃO


Na Sua infi nita misericórdia, ALLAH criou o ser humano de forma mais


perfeita, dotando-o de duas partes: física e espiritual. Ele criou ainda várias


plataformas a fi m de tornar possível a vida do ser humano neste mundo.


Uma delas é a chamada Natureza, que a maior parte dos cientistas a classifi ca


como aquilo que não pode ser criado pelo Homem. De facto, as árvores e seus


frutos, as belas fl ores, o ar, a água, o fogo, as leis físicas do Universo, a luz dos


astros (como o Sol, as estrelas, etc.), a grande variedade de animais e minerais,


não foram e nem podem ser criados pelo Homem, mas são essenciais para o


seu bem-estar físico.


A outra plataforma é a espiritual. Se ALLAH foi tão Misericordioso ao


conceder inúmeros favores para o conforto físico do Homem, seria contrário à


Sua compaixão se Ele não providenciasse algo para o bem-estar espiritual do


ser humano, uma vez que o ser humano é composto por essas duas partes.


O Homem foi colocado no mundo para um teste, tendo-lhe sido impostas duas


obrigações: utilizar correctamente tudo quanto existe no mundo, sem provocar


estragos, e ter em conta as ordens de ALLAH durante a sua estada nele, não


cometendo qualquer acto que seja contra a Sua vontade.


A situação espiritual do Homem depende extremamente do cumprimento ou


não destas obrigações. Por exemplo, o stress, as inúmeras preocupações que


o afl igem, difi culdade em ser feliz, são perturbações no espírito (alma) do ser


humano, causadas por ele próprio, assim como consta no sagrado Al-Qur’án:


“Todo o mal que te atinge é de ti mesmo, ou seja, causado pelas tuas acções.”


[Al-Qur’án 4:78]


Para cumprir com tais obrigações, o Homem necessita de Ilm (ciência,


conhecimento), pois enquanto não conhecer a realidade do mundo que o


rodeia, não saberá como utilizá-lo para o seu benefício. Da mesma forma,


enquanto não conhecer as ordens de ALLAH e Suas vontades, não saberá


como passar a vida de acordo com o Seu agrado.


Portanto, para adquirir o conhecimento, ALLAH colocou três factores à


disposição do Homem:


16 Parte I – História do Al-Qur’án


1. Os órgãos sensoriais,


2. O juízo (inteligência) e


3. A revelação.


Há questões que frequentemente são colocadas e que não podem ser negligenciadas


ou ignoradas por qualquer religião ou sistema que reivindique ter


raízes na consciência humana, tais como:


— Qual o início e o fi m do Universo? Quem está a sustentá-lo e manejá-lo


desta forma tão perfeita?


— Será que existe a vida após a morte? Se sim, como é essa vida e que


requisitos são necessários para a obtenção de sucessos nela?


— Qual o papel e o objectivo do Homem neste mundo? Será que ele é senhor


de si próprio?


— Ou deverá prestar contas a “Alguém”? Se sim, qual a relação com esse


“Alguém” e quais os Seus atributos?


Se o objectivo do ser humano aqui neste mundo fosse somente a busca da


satisfação carnal, ao comer, beber e procriar, nesse caso os animais irracionais


superá-lo-iam, pois fazem muito mais.


Uma vez que os nossos sentidos e o nosso intelecto são incapazes de resolver


estas e outras questões com as quais nos deparamos constantemente, surge a


necessidade de existir um outro meio pelo qual possamos obter respostas para


tais questões, que são tão antigas como o próprio Homem e são levantadas


em todas as épocas. A revelação fornece respostas a todas elas.


Seguidamente, iremos debruçar-nos sobre os meios e faculdades que aparentemente


nos podiam ajudar a encontrar respostas para as questões acima


colocadas, vendo até que ponto chegam.


OS ORGÃOS SENSORIAIS E SUAS LIMITAÇÕES


ALLAH dotou as Suas criaturas de órgãos sensoriais que constituem grandes fontes


para a aquisição de alguns e específi cos conhecimentos. Descobrimos o mundo


e tiramos proveito dele através desses sentidos. Encontramos muitas leis físicas,


acumulamos grandes tesouros de observações, experiências e percepções.


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 17


Contudo, muitos fi lósofos consideram os sentidos fracos, duvidosos e um


meio pouco digno de confi ança para a aquisição de conhecimento.


No seu livro “Recherche de la Verite”, o fi lósofo Nicholas Malebranche


(1638-1715) afi rmou que o maior motivo para o erro humano é a crença


errada de que os sentidos que foram facultados para servir em fi ns práticos


são também capazes de revelar a natureza das coisas.


Outro fi lósofo, Michel de Montaigne (1533-1592), diz que o conhecimento


do Homem é extremamente imperfeito e os seus sentidos são incertos e


sujeito a erros. Segundo ele, nunca podemos ter a certeza de que aquilo que os


sentidos nos mostram é sempre verdade, pois só nos apresentam um mundo


condicionado pela nossa própria natureza e circunstâncias (Bid, pág. 28).


Todavia, tomemos em conta a seguinte questão frequentemente colocada: De


onde viemos e para onde vamos? Ou seja, qual o início e o fi m deste mundo?


Será que a nossa visão, audição, olfacto, paladar ou o tacto nos poderão guiar


às respostas para esta questão?


Obviamente que não! Através das impressões sensoriais, podemos apenas


saber onde estamos presentemente. Estas faculdades só nos guiam até um


certo limite e param diante duma parede indestrutível. Não podemos ver ou


ouvir para além duma distância fi xa.


Se existe a vida após a morte ou não, isso não pode ser afi rmado nem recusado


pelas observações sensoriais, pois esse é um facto que não está no poder


nem alcance dos sentidos. O máximo que estes podem fazer é dizer que não


percebem, mas não podem recusar a sua existência, porque não perceber não


é sinónimo de não existir.


Se recusássemos a aceitar tudo aquilo que não se percebe com os sentidos,


não haveria diferença entre o ser humano e o animal. Uma vez que o Homem


não compreende todos os aspectos da vida através dos órgãos sensoriais,


como então poderá obter mais pormenores através dos mesmos?


Podemos compreender uma parte das leis físicas que governam o Universo,


pois os seus efeitos são sentidos e vividos por nós, alguns dos quais bastante


óbvios, como por exemplo, sabemos que o fogo queima, a água elimina a


sede e o veneno mata, mas a experiência sobre o comportamento moral é


uma coisa completamente diferente.


18 Parte I – História do Al-Qur’án


Pode-se sentir o calor e os seus efeitos através do tacto, mas não se pode


descobrir o mal infl igido pela crueldade e falsidade através dos sentidos. Aí


precisamos duma intuição ética, fé religiosa e profunda segurança espiritual,


a fi m de descobrir o caminho para efeitos de comportamento moral, sendo


estes sufi cientemente distintos dos efeitos sentidos ao tocar o fogo.


De facto, sentimos que os órgãos sensoriais são sufi cientemente livres e


actuam de forma independente. Aparentemente não achamos diferença


alguma entre o ser humano e a besta, mas sabemos que o Homem é um


animal mais desenvolvido, capaz de falar e chegar a conclusões através de


pensamentos interligados.


Este tipo de conceito levaria-nos à conclusão de que o objectivo principal


da vida do Homem é apenas a satisfação dos seus desejos, numa forma


melhor e mais aperfeiçoada em comparação com a dos outros animais, se


nos basearmos apenas nas funções dos órgãos sensoriais.


O JUÍZO E SUAS LIMITAÇÕES


A principal diferença entre o ser humano e os animais irracionais é a


inteligência, que foi concedida ao Homem. É por essa razão que o Isslam


proíbe tudo aquilo que possa prejudicar o juízo, tal como as bebidas


alcoólicas, drogas e outros tóxicos, pois é devido ao juízo que ele é superior


a outras criaturas. Destruindo-o, não irá diferenciá-lo dos outros animais,


podendo vir a ser inferior a estes.


O conhecimento adquirido através dos órgãos sensoriais está fora do alcance


do juízo (intelecto). Pode-se conhecer a cor de uma parede através da visão,


mas se fecharmos os olhos e quisermos saber a cor dela, não será possível


apenas com o juízo. Da mesma forma, o conhecimento adquirido através


deste não pode ser feito apenas com os sentidos. Portanto, a função do juízo


começa precisamente onde termina o alcance dos órgãos sensoriais. Mas o


juízo também é limitado, havendo casos em que também não funciona.


O juízo nunca pode funcionar sozinho; se quisermos saber sobre algo que ele


não conhece, temos que recorrer à ajuda de outras coisas, ou seja, o intelecto


depende das lembranças cedidas pelas impressões sensoriais. O juízo nada


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 19


pode conceber por si próprio sem puxar por aquilo que as percepções sensoriais


armazenaram anteriormente na mente.


Onde os sentidos não funcionam ou a observação e percepção falham, a


faculdade intelectual também se torna desamparada, assim como o homem


que deseja atravessar o oceano sem barco ou voar sem avião; qualquer um


pode pôr esta hipótese à prova.


Ninguém, por mais inteligente que seja, poderá resolver uma equação


aritmética complicada se não estiver familiarizado com as leis da matemática


ou decifrar uma escrita sem conhecer o respectivo alfabeto. Ou seja, a


inteligência do Homem de nada lhe valerá se não possuir previamente algum


conhecimento básico no ramo em que quiser aplicá-la.


Voltemos agora às questões atrás mencionadas. Será que o juízo sozinho


pode resolver e dar respostas exactas sobre as mesmas?


Obviamente que não! Assim como os órgãos sensoriais, o juízo também


declara não ter capacidade para perceber ou provar algo e nem possui o direito


de recusá-lo na base das suas limitações. Por exemplo, um cego não tem o


direito de recusar a existência de algo e muito menos entrar em pormenores


apenas pelo facto de ele próprio não conseguir observar; o máximo que pode


fazer é afi rmar que não viu.


Contudo, o ser humano nunca está satisfeito e sempre deseja intrometer-se


em assuntos que lhe são desconhecidos; curioso por natureza e armado com


a fé cega nas suas capacidades, tenta formular respostas com ajuda da sua


imaginação, juízo e especulação, baseando-se em limitados e imperfeitos


dados colhidos através do senso.


AL-WAHY – A REVELAÇÃO


Como os órgãos sensoriais e o juízo se demonstraram incapazes de fornecer


respostas às questões mencionadas anteriormente e de orientar a vida do ser


humano aqui neste mundo, vejamos o que a revelação vinda por parte de


ALLAH nos traz.


O Homem foi dotado com capacidade de pensar e distinguir o bem do mal e


está no seu instinto uma inclinação natural para seguir o caminho da bondade


20 Parte I – História do Al-Qur’án


e evitar o mal. Contudo, não foi entregue somente à sua inteligência, pois


esta está sujeita à evolução e ao confl ito.


ALLAH enviou mensagens à humanidade através de profetas, seres humanos


escolhidos com o objectivo de guiar o Homem no caminho recto. Estes


mensageiros foram enviados com Revelações para todas as camadas da


humanidade, pois na esfera da crença e algumas verdades eternas, o Homem


sempre se enganou a si próprio ao seguir suas paixões, presunções e conclusões


baseadas em observações superfi ciais.


A longa corrente de profetas trouxe sempre a mesma mensagem: guiar o


Homem para o caminho da felicidade e salvação.


Consta no sagrado Al-Qur’án:


“Na verdade, Nós te revelamos (ó Muhammad) assim como revelamos a Noé e


aos profetas que vieram depois dele; e também revelamos a Abraão, a Ismael,


a Isaac, a Jacob, as doze tribos, a Jesus, a Job, a Jonas, a Arão, a Salomão e


demos os Salmos a David.” [Al-Qur’án 4:163]


Etimologicamente, Wahy quer dizer informação dada em segredo. Nos


termos de Shari’ah, signifi ca informação vinda por parte de ALLAH a um ser


humano por Si escolhido, relacionada com tudo que sirva como orientação


para a humanidade.


O Wahy ocorria sob diversas formas, como por exemplo, conversa directa entre


ALLAH e o servo escolhido (como aconteceu com Mussa  [Al-Qur’án


4:164] e Muhammad ), inspiração ou sonhos verdadeiros (como aconteceu


com Ibrahim ), confi rmados pela ocorrência da sua interpretação no dia


seguinte (por exemplo, o sonho visto pelo Profeta  antes da Batalha de Al-


Badr, mencionado no sagrado Al-Qur’án [8:43]).


Podia ocorrer ainda por meio de mensagens enviadas através do Anjo Gabriel


(Jibraíl ), que aparecia em diversas formas perante os mensageiros: na forma


natural (aconteceu apenas duas vezes e diante do profeta Muhammad ), na


forma humana (geralmente sob forma parecida de um Sahábi muito elegante


chamado Dáhya Al-Kalbi ), para que outros presentes o pudessem ouvir


[Mussnad Ahmad], e por vezes, invisivelmente, em que se notava a transpiração


(num Inverno forte) ou mudança da fi sionomia do profeta Muhammad .


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 21


Consta no Bukhari de que certa vez, Hárice ibn Hishám  perguntou ao


Profeta  como é que lhe chegava a revelação, ao que respondeu: “Às vezes,


vem como o repique dum sino e esta forma de revelação é a mais dura para


mim; depois, quando chega ao fi m é quando eu compreendo inteiramente


as palavras e decoro-as. Outras vezes o Anjo vem ter comigo na forma dum


homem a falar comigo; eu compreendo e memorizo o que ele diz”.


Aisha (RTA) relata que até mesmo nos dias mais frios do Inverno em que o


Profeta  recebia a revelação Divina, a sua testa costumava fi car repleta de


suor devido à tensão que sentia durante essa experiência.


Zaid bin Sábit  narra que certa vez o Profeta  tinha colocado a cabeça


sobre a sua coxa quando a revelação começou a descer sobre ele; Zaid 


conta que sentiu tanta pressão sobre a sua coxa que parecia que esta iria se


esmagar devido à pressão [Bukhari].


O Profeta  viu Jibraíl  na sua forma original pela primeira vez, aquando


da primeira revelação, na Cave de Hirá; a segunda vez foi na altura de Issrá


e Mi’ráj. É de salientar que para além de Muhammad , ninguém mais viu


o Anjo Gabriel na sua forma natural.


O sagrado Al-Qur’án, a revelação de ALLAH para o profeta Muhammad ,


ocorreu na sua íntegra através de Jibraíl :


“E isto (Al-Qur’án) é uma revelação do Senhor dos Mundos. Trouxe-o o


Espírito Fiel (Anjo Gabriel); e depositou-o em teu coração, para que sejas


um dos admoestadores. (Está) em língua árabe clara.”


[Al-Qur’án 26:192-195]


As mensagens de ALLAH para os Seus profetas eram gravadas nas mentes


destes e nunca eram esquecidas, por dádiva Divina.


“E não foi concedido a qualquer mortal, que Deus lhe falasse directamente,


a não ser por revelações, ou por detrás de um véu, ou por intermédio de um


mensageiro, que revela com Sua permissão o que Ele quer. Na verdade, Ele é


o Altíssimo, o Sábio.” [Al-Qur’án 42:51]


Portanto, essas são as três formas através das quais ALLAH comunica com


os Seus servos.


A revelação desempenhou um papel muito importante onde os sentidos e o


intelecto não puderam alcançar. Como a importância da revelação é maior


22 Parte I – História do Al-Qur’án


onde o juízo não alcança, não é necessário e nem é possível compreender


todos os seus pormenores através do intelecto.


Da mesma forma que saber a cor duma parede não é função do juízo mas


sim do sentido (visão), existem muitas Orientações Divinas que dependem


somente da revelação e não do intelecto:


“Essas são algumas informações do invisível, que te revelamos (ó Muhammad).


Tu não as conhecias antes disso, nem tu nem teu povo; portanto, sê


paciente! Por certo, o fi nal feliz está reservado para os piedosos.”


[Al-Qur’án 11:49]


“Nem vos digo que sou anjo; não sigo senão o que me foi revelado.”


[Al-Qur’án 6:50]


Para o crente, isso é fácil perceber pois acredita que o Universo foi criado pelo


Omnipotente, sendo Ele Quem comanda tudo com prudência. Foi também


Ele Quem criou o ser humano para um objectivo nobre; portanto, não é lógico


que depois de o criar, o abandonasse sem orientação alguma e sem informar


acerca da razão da sua vinda no mundo, suas obrigações, seu fi m (destino) e


como deverá alcançar esse objectivo. E porque esse Deus que nós acreditamos


não é mudo, Ele tinha que informar dalguma forma o que pretende de nós.


Por exemplo, se alguém tiver um servente e quiser enviá-lo para algum sítio,


poderia fazê-lo sem defi nir o objectivo dessa viagem, sem o instruir sobre as


acções a serem realizadas ou a obrigação a ser cumprida durante a mesma?


Obviamente que não.


Portanto, se uma pessoa vulgar não faz isso, como é possível que ALLAH, o


Criador do Universo, com a prudência que possui, não informasse ao ser humano


acerca do objectivo da sua vinda aqui no mundo, abandonando-o nas trevas?


A revelação é uma realidade lógica. Contudo, como os ateus não crêem no


Shari’ah e suas provas, acreditam somente no juízo da maneira como eles o


aplicam. Dizem acreditar somente naquilo que vêem e assim, prendem-se ao


materialismo e rejeitam tudo aquilo que esteja para além disso.


De seguida, explicaremos a possibilidade da existência da revelação, utilizando


a comparação lógica:


a) Hoje em dia, as tecnologias de comunicação estão tão avançadas que temos


coisas espantosas das quais tiramos proveito, tais como a transmissão de


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 23


dados, som, imagem e vídeos através do telemóvel, rádio, televisão, satélite,


etc. Através destes aparelhos, consegue-se falar e comunicar mesmo que as


distâncias sejam longas, até para fora do planeta.


Então, seria lógico que perante estas invenções feitas pelo Homem, o


Criador deste não conseguisse comunicar com alguma criatura Sua através


de anjos ou sem anjos?


b) O avanço científi co e tecnológico permitiu a produção de super-computadores,


possuindo capacidades de armazenamento de informação nunca antes


imaginados. Temos cassetes, discos e agora os pequenos “Flash Disk” com


várias coisas gravadas, desde livros completos, discursos, vídeos, etc. É só


aceder ao aparelho, que é insensato, e pode-se reproduzir tudo que foi gravado


nele, com total perfeição e exactidão, isto através de mãos humanas.


Qual a estranheza se o Omnipotente, com ou sem a intervenção de


anjos, gravou palavras Divinas em certas almas puras, para que com elas


pudesse guiar as Suas criaturas e provar a Sua veracidade, reproduzindoas


perfeitamente através de mensageiros, quando o desejasse?


c) Na natureza, existes certos animais que possuem um sistema de convivência,


disciplina e trabalho bastante espantoso, levando-nos a acreditar com toda a


clareza de que esses pormenores não são fruto do seu próprio pensamento ou


iniciativa. Vemos que de facto, tudo isso provém duma Orientação, a partir da


qual são inspiradas todas essas maravilhas com toda a perfeição e harmonia.


Se isso é possível no mundo dos animais irracionais, porque achar estranho


no seio do Homem, cuja capacidade de contacto com os horizontes é


bastante elevada?


Para enriquecer ainda mais esta prova, tomemos como exemplo dois insectos,


cujos trabalhos são realizados com excelente disciplina e organização.


AS ABELHAS MELÍFERAS


No reino animal, de entre vários outros que possuem estas características, a


abelha é uma delas. É um insecto que pertence à ordem dos Himenópteros,


juntamente com as formigas e as vespas.


24 Parte I – História do Al-Qur’án


As abelhas melíferas não só produzem o mel como também são responsáveis


pela polinização de mais de 90 espécies de frutos comestíveis que são


colhidos. De facto, cerca de um terço da dieta humana provém de plantas


polinizadas por insectos e a abelha melífera é responsável por 80% dessa


polinização, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.


De todas as espécies de abelhas conhecidas, as melíferas são, por várias


razões, o melhor agente polinizador da maioria das colheitas. Elas polinizam


vários tipos de plantas, repetidamente visitam a mesma planta e recrutam


outras obreiras para fazerem o mesmo.


ALLAH diz no sagrado Al-Qur’án:


“E teu Senhor inspirou às abelhas: Construí vossas colmeias nas montanhas,


nas árvores e nas estruturas que eles (os humanos) elevam (erguem).


Em seguida, alimentai-vos de toda espécie de frutos e percorrei docilmente os


caminhos traçados pelo teu Senhor. E do seu ventre sai uma bebida de várias


cores, em que há cura para a Humanidade; na verdade, em tudo isto existe


um Sinal para aqueles que refl ectem.” [Al-Qur’án 16:68-69]


Numa colmeia, podemos encontrar três tipos de abelhas: obreira, rainha e zangão.


Vejamos então como estão organizadas e de que forma é a sua convivência.


a) OBREIRA


É o nome pelo qual as abelhas operárias da colmeia são conhecidas. Desde


que nascem até ao fi m das suas vidas, passam por várias “profi ssões”.


Começam por efectuar “serviço doméstico” no interior da colmeia, com a limpeza


dos alvéolos, alimentação das larvas, construção de favos, amadurecimento


do néctar trazido do exterior, protecção da colmeia, etc.


A partir da terceira semana de vida, passam a trabalhar no exterior como


“camponeses”, onde colhem o pólen e néctar das fl ores, transportam água e


própolis, uma substância resinosa que utilizam para proteger a colmeia contra


a invasão de micróbios e fungos e para envolver os invasores mortos que não


puderam ser arrastados para fora.


Na quarta semana, voltam novamente aos trabalhos no interior da colmeia. Suas


glândulas secretoras de cera são activadas e transformam-se em “pedreiros”,


passando a construir e concertar as células, dentro das quais se armazenam o


pólen e o mel.


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 25


Na última fase da sua vida, dedicam-se à limpeza da colmeia e à prestação


de “serviço militar”, permanecendo de guarda junto à entrada para combater


possíveis intrusos.


Esta é a sequência normal das funções; contudo, se algo de anormal


acontecer à vida do enxame, tal como a perca de muitas abelhas jovens,


então as adultas voltam a executar as suas tarefas antigas, adaptando-se às


novas circunstâncias.


São fêmeas atrofi adas cujo aparelho reprodutivo funciona apenas quando morre


a rainha e não existe a possibilidade de criar uma outra. Nessa altura, põem ovos


duma forma desordenada e delas só nascem zângãos (machos). São providas de


aguilhão e morrem algumas horas depois de terem efectuado uma picada.


Um enxame de tamanho médio é constituído por cerca de 60 mil obreiras.


Têm uma vida muito curta, chegando a durar cerca de seis semanas.


b) RAINHA


Também conhecida por mãe ou abelha mestra, tem como função principal a


sua postura. Geralmente, é fecundada uma só vez por um ou mais zângãos,


guardando o sémen numa bolsa chamada espermateca, que a vai utilizando


ao longo da sua vida. Ela chega a colocar cerca de três mil ovos por dia e é a


mãe de todas as abelhas que constituem o enxame.


Segrega uma substância que é absorvida pelas obreiras e passada uma às


outras. É provida de aguilhão, mas só o utiliza caso venha a travar uma luta


ao encontrar outra rainha.


Durante a sua vida, é alimentada por uma papa especial chamada geleia real,


uma substância muito rica em proteínas que é segregada pelas obreiras jovens.


Cada enxame possui apenas uma rainha, podendo existir até duas quando se


trata de grandes enxames. A sua vida tem uma duração média de quatro anos.


c) ZANGÃO


É o nome dado aos machos, cuja principal função é fecundar a rainha. Este acto


dá-se no exterior da colmeia e em pleno voo, vindo a morrer após a cópula.


Nascem de ovos não fecundados e existem em épocas de muita comida,


podendo atingir cerca de cem num enxame médio. Os machos não são


providos de aguilhão.


26 Parte I – História do Al-Qur’án


O néctar e o pólen são armazenados nos favos, que são construídos de cima


para baixo, como pequenas paredes suspensas a partir dum tecto. Cada favo


é formado por centenas de tubinhos de cera inclinados, uns de costas para os


outros; a posição ligeiramente inclinada desses tubinhos é muito importante


pois não permite que o mel escorra para fora deles. Há tubinhos para guardar


mel, outros para o pólen e outros ainda só para a criação das larvas. A cera é


o material usado para a construção da colmeia.


Manter a colmeia fresca e sólida em zonas quentes onde existe o receio da mesma


se derreter é um de entre os maravilhosos trabalhos que as abelhas realizam.


Para tal, elas se subdividem em grupos e turnos e depois de terem depositado


as gotículas de água sobre a superfície dos favos, vão agitando as suas asas


conseguindo assim uma corrente de ar, fazendo com que se provoque uma


redução de temperatura e se conserve a colmeia e o mel que nela se encontra.


Já no Inverno, elas fi cam todas juntas umas às outras, mexendo-se pouco e


comendo o mel; desta forma, provocam o calor e aquecem a colmeia.


Outra maravilha é a forma como conseguem o seu alimento. Quando uma


abelha descobre o lugar onde existe alimento, tal como campo ou plantação,


retorna à colmeia para informar a sua descoberta. A comunicação é feita


essencialmente através de voos circulares (geralmente em forma de “8”) sobre


a superfície do favo, como se tratasse de uma espécie de dança.


Durante os voos, a inclinação do “8” em relação à colmeia e à posição do


Sol, a obreira indica às companheiras a direcção em que a fonte de alimentos


se encontra. O número de voltas num determinado período de tempo indica a


distância e quanto mais rápido é o voo, signifi ca que mais próximo é o local


ou vice-versa.


Depois disso, uma outra obreira repete a dança para comunicar às descobridoras


que a mensagem foi compreendida. De seguida, partem grupos de obreiras


que voam até ao local para recolherem os alimentos.


Através desses voos ou danças, as abelhas conseguem transmitir uma série


de informação que, se o ser humano procurasse fazer o mesmo através de


desenhos demonstrativos, levaria cerca de meia hora e ainda sob condição de


possuir conhecimentos geométricos e físicos que exigem estudos superiores.


Porém, as abelhas o fazem instantaneamente, algo extraordinário que só pode


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 27


ser compreendido com a existência de uma revelação Divina proporcionada


pelo Criador do Universo a essas pequenas criaturas que não têm o poder


de raciocínio.


Uma outra característica da abelha é de conseguir observar a radiação


ultravioleta. Em regiões húmidas onde o Sol não atinge directamente o solo,


os raios ultravioletas atravessam as nuvens e permitem às abelhas sentir


directamente a luz solar. Uma vez que elas vivem a maior parte do ano em zonas


cobertas por nuvens, não fi cam impedidas de procurar os seus alimentos.


No fi nal da sua vida e depois de ter desempenhado todas as suas funções, ela


sente-se cansada e enfraquecida pela idade. Deixa então a colmeia e distanciase


para aguardar a sua morte. O último serviço que presta à sociedade a que


pertenceu é o de não incomodar com a sua própria carcaça.


Este poder e capacidade não podem ter sido adquiridos gradualmente pelas


abelhas, através duma evolução; há milhares de anos que se mantém inalterada


a mensagem genética que o Criador as dotou. Esta capacidade fi cou gravada


desde o instante em que ALLAH criou a primeira abelha.


AS FORMIGAS


Assim como as abelhas, também as formigas realizam os seus trabalhos


e vivem com muita ordem e disciplina, formando níveis avançados de


sociedade. É o grupo mais popular de entre os insectos.


Embora nem todas as espécies constroem formigueiros, muitas fazem autênticas


obras de engenharia, normalmente subterrâneas, constituídas por um complexo


sistema de túneis e câmaras com funções especiais, tais como armazenamento


de alimentos, para a rainha, “berçário” onde são tratadas as larvas, etc.


a) VIDA SOCIAL


As sociedades das formigas são organizadas por divisão de tarefas. A reprodução


é realizada pela rainha e pelos machos. A rainha vive dentro do formigueiro


e é maior que as restantes formigas; perde as suas asas depois de fecundada e


coloca ovos durante toda a sua vida.


28 Parte I – História do Al-Qur’án


Os machos aparecem apenas quando é necessário fecundar uma nova


rainha; depois da fecundação, não são autorizados a entrar no formigueiro e,


geralmente, morrem rapidamente.


As restantes funções, tais como busca de alimentos, construção, manutenção


e defesa do formigueiro, são realizadas por fêmeas estéreis, denominadas


obreiras (tal como acontece nas abelhas).


Geralmente, as formigas juntam os seus alimentos durante o Verão e conservamnos


num lugar longe da humidade. Se forem grãos, partem-nos em três ou quatro


bocados, para assim garantir a sua conservação e impedir a germinação.


Desde a etapa em que são ovos até se tornarem adultas, as formigas demoram


entre seis a dez semanas. Algumas obreiras podem viver até sete anos,


enquanto que as rainhas conseguem viver mais de quinze anos.


b) FORMAS DE COMUNICAÇÃO


As formigas se comunicam entre si através da emissão de certas substâncias


químicas, denominadas “feromonas”, que têm como objectivo provocar respostas


comportamentais em caso de perigo iminente, defesa ou quando é necessário uma


troca rápida de informação. Como passam muito tempo no solo, as mensagens


químicas estão mais desenvolvidas do que noutros Himenópteros.


Assim como outros insectos, as formigas sentem o cheiro através das suas


antenas. Quando duas delas se encontram, tocam as antenas e as feromonas


que estiverem presentes fornecem informação sobre o estado de alimentação


de cada uma, o que pode fazer com que uma delas passe a sua comida para a


outra. Muitos humanos, ao ouvirem o roncar de estômago do seu semelhante,


não possuem a bravura duma simples formiga!


A rainha produz uma feromona especial que indica às obreiras quando devem


começar a criar novas rainhas.


Quando uma obreira encontra comida no caminho para o formigueiro, que


reconhece através de pontos de referência e da posição do Sol, ela deixa marcas


químicas para que as outras formigas as sigam. Por outro lado, uma formiga


esmagada deixa uma feromona de alarme que, se for numa grande concentração,


faz com que as formigas que estiverem próximas entrem em ataque.


Descobertas científi cas realizadas recentemente comprovam o milagre dum


versículo do capítulo An-Naml – A Formiga, segundo o qual ALLAH nos


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 29


informa acerca da forma como as formigas se comunicam entre si, especialmente


quando alertam umas às outras sobre algum perigo iminente e próximo:


“Até que quando chegaram ao vale das formigas, uma das formigas disse: Ó


formigas! Entrai em vossas habitações, a fi m de que Suleiman e seu exército


não vos esmaguem (ao vos pisar) sem o perceber.” [Al-Qur’án 27:18]


A formiga alertara às restantes sobre o perigo que lhes poderia causar,


comunicando através de quatro anúncios em separado:


1. “Ó formigas!” – este é o primeiro alerta dado pela formiga a fi m de atrair


rapidamente a atenção das outras; ao receber essa comunicação, as outras


formigas fi cam em alerta de forma a perceber outros sinais da mesma


formiga falante.


2. “Entrai em vossas habitações” – aqui, a formiga falante prossegue com


um outro sinal, ordenando às companheiras a tomarem o passo seguinte.


3. “A fi m de que Suleiman e seu exército não vos esmaguem (ao pisar)” – Através


destas palavras, ela indica o motivo desse perigo às outras formigas.


4. “Sem o perceber” – Como reacção aos alertas anteriores, as formigas


procuram preparar certos tipos de defesa. A formiga falante também mostra


às outras que elas não necessitam de atacar a fonte do perigo, pois não se trata


dum inimigo real. O perigo não provém do ataque ao seu reino, pois Suleiman


 e seu exército não sabiam da existência das formigas no caminho.


Segundo a descoberta, esses tipos de alerta são expressados pela emissão de


sinais químicos (feromonas) emitidos pelas glândulas protectoras, que são


responsáveis por esses efeitos.


No caso do estudo em questão, verifi cou-se o comportamento da formiga


australiana. Quando estas enfrentam algum perigo, segregam algumas gotículas


das glândulas protectoras de forma que as outras formigas corram e façam uma


vibração com as antenas, mostrando que estão em estado de alerta:


1. A primeira substância detectada pelas formigas é o “aldeído hexanal”, que


atrai a sua atenção e, como resultado, se agitam e levantam as suas antenas


à procura de outros cheiros.


2. Quando elas detectam o “hexanol” (uma espécie de álcool), entram em estado


de alerta e correm para todas as direcções à procura da fonte do perigo.


3. Quando “n-undecano” é emitido, as formigas são atraídas em direcção à fonte


do perigo, fazendo-lhes picar (morder) qualquer objecto que lhes seja estranho.


30 Parte I – História do Al-Qur’án


4. Finalmente, quando chegam próximo do alvo, emitem o “butiloctenal”,


que aumenta a sua agressão e prontidão para se sacrifi carem.


A comunicação através de substâncias químicas é o método de comunicação


mais importante para as formigas. Elas emitem diferentes tipos de substância,


tendo cada uma delas um código diferente denotando uma certa mensagem.


Estas mensagens são similares como àquelas que foram transmitidas pela


formiga e relatadas pelo Al-Qur’án no versículo acima.


As feromonas emitidas pela formiga em situações como esta são de quatro tipos:


1. Aldeído hexanal é a primeira substância que ela emite quando sente


algum perigo, funcionando como alarme; ao receber essa comunicação,


as formigas se juntam num local onde se mantêm em alerta e prontas


para receber mais informações. Isto identifi ca-se com a primeira frase


pronunciada pela formiga no versículo acima: “Ó formigas!”.


2. Ao receber a segunda substância, hexanol, elas começam a correr em


todas as direcções, a fi m de determinar a fonte dessa substância; a formiga


que emite a substância deve determinar o caminho, para que as restantes


não se percam pelo caminho. Foi isso que aconteceu com a formiga em


questão, quando “informou” às outras: “Entrai em vossas habitações”,


ordenando a irem nessa direcção, ou seja, ela encaminhou o movimento


das formigas em geral.


3. A terceira feromona emitida pela formiga é o n-undecano, que lhes mostra


a causa do perigo. Foi isso que a formiga falante fez ao dizer: “A fi m de


que Suleiman e seu exército não vos esmaguem (ao pisar)”; “ouvindo”


isto ou recebendo esta substância, elas se prontifi cam para enfrentar o


perigo iminente.


4. Na quarta fase, a formiga falante emite o butiloctenal, dando ordens e


determinando o tipo de defesa, sendo isso que aconteceu na última frase,


ao dizer: “Sem o perceber”; desta forma, a formiga preveniu às restantes


do ataque, que as levaria à morte.


Depois, o profeta Suleiman  sorriu como se estivesse a lhes dizer para


não se preocuparem, pois ele já os tinha visto e escutado e que não permitiria


que algum mal lhes atingisse.


O sagrado Al-Qur’án relata esta história para nos mostrar que estes pequenos


insectos possuem um avançado sistema de comunicação. Sabe-se que as


História do Al-Qur’án, do Hadice e da Bíblia 31


formigas apresentam uma vida social bastante organizada e, como exigência


dessa organização, têm também uma rede de comunicação bem complexa.


Elas utilizam uma variedade de mecanismos para se comunicar; graças aos


órgãos sensoriais bem apurados, constituídos por cerca de 500 mil células


nervosas comprimidas num corpo de apenas 2 a 3 milímetros de comprimento,


formam um sistema e constituição que espantam até o próprio ser humano.


Devido à essa extraordinária rede nervosa, as formigas são capazes de caminhar


em fi leiras, transportar alimentos, construir os seus ninhos e combater


os seus inimigos. Graças às suas habilidades excepcionais, são capazes de


sobreviver perfeitamente sem necessitar de apoios.


Estes factos científi cos descobertos recentemente de que as formigas se


comunicam entre si através da emissão de substâncias químicas específi cas


para determinadas situações, foram revelados ao profeta Muhammad  há


mais de 1.400 anos e estão mencionados no sagrado Al-Qur’án!


Uma formiga pequena que apresenta milhares de células nervosas é um grande


sinal que nos leva à fé em ALLAH. Até mesmo numa criatura como esta, que à


primeira vista dá-nos a entender que não tem outro objectivo na vida para além


de juntar alimentos para sobreviver, ALLAH criou uma estrutura perfeita, um


sistema de comunicação superior e uma milagrosa rede de nervos.


O facto do sagrado Al-Qur’án relatar informações desta natureza, numa altura


em que não havia conhecimentos tão detalhados nem métodos de pesquisa


avançados como os actuais, é mais uma razão que nos leva a reconhecer de que


se trata dum Livro maravilhoso que contém também milagres científi cos.


E o facto das formigas conseguirem estabelecer uma organização tão perfeita


comprova que elas actuam sob inspiração de ALLAH – o Criador de tudo, e


que todas as criaturas vivem sob Sua supervisão.



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