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 O Início Da Transmissão Das Ciências e Cultura Arábico-Islâmica





As Ciências e Cultura Arábico-Islâmica foram transmitidas à Europa principalmente através da imigração dos Moçárabes para outros locais da Europa; através de contato comercial, e dos caminhos percorridos entre o Norte e o Sul da Europa, bem como entre o Oriente e o Ocidente; mediante as visitas diplomáticas entre os reis Germanos e Franceses, assim como através do domínio Muçulmano na Península Ibérica; através das traduções de livros e manuscritos; mediante os estudantes europeus que freqüentavam as Universidades Muçulmanas em Espanha; e também através dos Judeus e dos Cruzados. 





Por estas evidências, podemos afirmar que as traduções levadas a cabo, de manuscritos e livros arábico-islâmicos, foram de uma extrema importância para o processo de transmissão das Ciências e Cultura Islâmica aos Europeus.





No que respeita ao exato momento do início deste processo de transmissão, parece-nos existir um certo desentendimento no seio dos estudiosos desta temática, alguns afirmam que a influência Muçulmana ter-se-á iniciado na Europa somente a partir do século XII, mas a descoberta de um testemunho do século X (984 da era Cristã) exige a reabertura desta questão.





Num artigo intitulado “A Introdução da Ciência Muçulmana na Lorraine no século X”, de J. W. Thompson, verificamos que o autor tenta demonstrar dois pontos.





1) – O percurso intelectual existente entre a Espanha e a Europa, além-Pirinéus, que era tão antiga quanto o Império Romano, nunca foi verdadeiramente encerrado.





2) – A Ciência Muçulmana foi introduzida nas escolas da Lorraine (na Alemanha) e foi aí desenvolvida muito antes de Gerbert.





Gerbert, ao que se sabe, foi um dos mais iluminados estudiosos europeus da segunda metade do século X, tendo-se dedicado ao estudo das matemáticas, astronomia, física, bem como outras ciências, sob o domínio Muçulmano na Espanha.





Posteriormente Gerbert viria a ser Papa sob o nome de Silvestre II, no ano 999 da era Cristã. É interessante sublinhar o fato de que, no seu percurso de regresso da Andaluzia, Gerbert fundou escolas tanto em França, como na Alemanha, falava a língua arábica tão fluentemente como qualquer árabe letrado o faria; com a ajuda de um globo regressou de Córdoba e ensinou astronomia e geografia a centenas de estudantes, que a ele recorriam à procura de conhecimento.





Encorajou a utilização dos números árabes (que hoje são utilizados no mundo ocidental) que, gradualmente, substituíram o impróprio sistema numérico romano, na Europa. Alguns dos seus comentários e atos demonstram bem quão profundamente Gerbert se encontrava influenciado pelo ensinamento dos Muçulmanos.





Quando se tornou Papa, Gerbert costumava dizer: “Ninguém em Roma é suficientemente letrado para ser um Guardião”, ele estremecia perante os pecados abomináveis, crimes e subornos dos Papas, e exclamava:





“São estes pecadores ignorantes merecedores de adoração dos povos, como o vigário de Deus”?





No entanto, Thompson demonstra que a relação intelectual entre a Espanha e a Gália (França) continuou durante os séculos VI, VII e VIII, reportando-se a três dos mais antigos manuscritos da Vulgata, no século IX, Thompson refere o fato de, durante o reinado de Luís, o Pio (814-840), o Império Franco ter grandes interesses na Espanha, e existe mesmo uma referência de um certo Martin de Toledo, cujas “notas conferenciais” detinham uma influência considerável, bem como popularidade, nas escolas da Gália, durante o século IX. Há, igualmente, uma menção à troca de Embaixadores entre os Califas de Córdoba e Carlos, o Calvo (840-877), de França, bem como à influência deste fato na própria França.





Todavia, parece que as relações culturais entre a Espanha e a França não se desenvolveram a um tão alto nível, como aconteceu com a influência que as Ciências Muçulmanas tiveram na Alemanha Saxónica, durante os séculos X e XI. Contudo, idéias da Cultura e Ciências Muçulmanas devem ter seguido os caminhos comerciais, bem como os da correspondência entre a França e outras partes da Europa, uma vez que existiam relações comerciais entre o Império Franco e a Espanha Muçulmana.(5) Durante o reinado de Oto I da Germânia (936-973), um monge de nome John of Gorze foi enviado, em 953, para a Espanha Muçulmana, como Embaixador.





Thompson menciona o fato de que, quando John of Gorze regressou à Germânia, após uma estadia de quase 3 anos na Espanha Muçulmana, ele deve ter levado alguns manuscritos Muçulmanos de natureza científica, pois que ele se interessava, profundamente, pela matemática e astronomia, à semelhança do que ele levou, de manuscritos deste gênero, do Sul da Itália.





Pode ser que tenha sido através de John of Gorze ou de outros como ele, incluindo o próprio Gerbert, que estudaram na Espanha Muçulmana naquela época que descobrimos o uso do tipo de astrolábio Árabe, assim como do ábaco, entre os astrônomos e matemáticos na Lorraine, durante o século XI. No fim do artigo, Thompson afirma:





“Estou convencido que as escolas da Lorraine, durante a última metade do século X, foram as «sementes» da Ciência Muçulmana, germinadas em primeiro lugar na Europa Latina, a partir da qual o conhecimento se expandiu a outras partes da Germânia (testemunha disso foi Herman Contractus, em Reichenau), a França, até a Inglaterra”.





Num outro artigo similar, intitulado “Lotarínguia como um Centro Árabe de Influência Científica durante o século XI”, M. C. Welborn escreve que “somente alguns dos muitos clérigos da Lotarínguia (Lorraine), que estiveram em Inglaterra no século XI, foram realmente mencionados, sendo importante sublinhar o fato de todos eles se terem interessado pelas matemáticas e astronomia.” E acrescenta “que os sábios da Lotarínguia ficaram muito populares na Inglaterra, e eram apontados como arcebispos, bispos e mestres de escolas”.





Welborn conclui o seu artigo dizendo: “Desta forma, verificamos que a Inglaterra e a Suíça (Reichenau) foram fortemente influenciadas pelos matemáticos e astrônomos da Lotarínguia, e que a primeira “sugestão” da “Ciência Muçulmana”, veio deles”.





Podemos perguntar: como é que foi tal possível se as Ciências Muçulmanas foram introduzidas na Lorraine no século X, tendo-se esta tornado num Centro da Influência Científica Arábico-Islâmica no século XI? Devem-se ter efetuado traduções de alguns manuscritos Arábico-Islâmicos, provavelmente de John of Gorze e de outros, de forma a que a Lorraine se pudesse transformar num Centro de influência da Ciência Arábico-Islâmica, nessa época.





No entanto, o que sabemos com absoluta certeza é que muitos sábios europeus, incluindo John of Gorze, Gelbert de Aurillac e Pedro, o Venerável, foram até à Espanha Muçulmana com o intuito de estudar as Ciências e, desta forma, a Lorraine tornou-se, provavelmente, num Centro de influência da Ciência Arábico-Islâmica, no século XI.





Por conseguinte, foi devido a essa influência que a curiosidade dos intelectuais na Europa foi despertada no século XI, sendo esta uma das razões porque verificamos que sábios, provenientes de todos os cantos da Europa, tais como Abelard de Bath, Robert de Chester, Plato de Tivoli, Hermann de Corinthia, Rudolf de Bruges, Gerard de Cremona e outros, afluíam à Espanha no século XII, sobretudo para estudar as Ciências, bem como para as traduzir em Latim, Hebraico e outras línguas.





Este fato teve como conseqüência imediata a formação da famosa “Escola de Tradutores de Toledo”, que era muito similar à “Bait al-Hikmah” (A Casa da Sapiência) de Bagdá, oficializada durante o período Abássida, acima de tudo para traduzir as Ciências Gregas em Árabe.





PorM. Yossuf Muhamad Adamgy



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