A Influência da Civilização Islâmica no Campo da Língua e Literatura
Dr Ragheb Elsergany
Traducão: Sh Ahmad Mazloum
O impacto sobre a Europa na literatura e poesia
Os ocidentais foram fortemente influenciados pela literatura árabe, especialmente os poetas espanhóis. A literatura de cavalaria, a bravura, a expressão figurativa, as maravilhosas imaginações entraram na literatura ocidental através da literatura árabe na Andaluzia, em particular. O famoso escritor espanhol Ibanez diz: “A Europa não sabia o que é o cavaleirismo, e não adotava os seus modos nem o seu senso entusiástico em sua literatura antes da chegada dos árabes na Andaluzia e da ampla presença de seus cavaleiros e heróis nos países do sul.”[1]
Ibn Hazm Al Andalusi e seu famoso livro “Tawq al-Hamamah” (o anel da pomba) tiveram um grande impacto sobre os poetas da Espanha e sul da França depois que a comunidade islâmica se misturou com a comunidade cristã. A língua árabe era a língua do país e a língua do povo da classe alta. Em muitas províncias espanholas cristãs, poetas cristãos e muçulmanos se reuniam no pátio do governador. Um exemplo disso é a corte de Sanko, que tinha 13 poetas árabes, 12 poetas cristãos e um poeta judeu. Foi encontrado um manuscrito que remonta à época de Afonso X, o rei de Castela, que contém um retrato que representa o encontro de dois poetas em movimento, um árabe e um europeu, cantando juntos no alaúde. Ainda mais, os poetas europeus na época eram hábeis em compor poesia árabe. Por esta razão, Henry Maro diz: “O impacto árabe sobre a civilização dos povos romanos não para em artes plásticas somente, mas se estende à música e à poesia também.”[2]
Uma citação de Dozy[3] em seu livro sobre o Islam também nos indica a extensão do impacto da língua árabe e sua literatura sobre os literatos ocidentais naquele tempo. Ele cita a mensagem do escritor espanhol Al-Garo, que ficou muito amargurado com o descaso do latim e do grego e com o entusiasmo pela aprendizagem da língua dos muçulmanos. Ele disse: “Nossa classe intelectual tem se encantado com a literatura árabe e, conseqüentemente, negligenciou o latim, e escrevem apenas na língua de seus conquistadores”. Outro contemporâneo mais patriótico tinha mais angústia por isso e escreveu: “Meus irmãos cristãos estão encantados com os árabes, seus poemas e narrativas. Estudam as obras escritas por filósofos e estudiosos muçulmanos. Eles fazem isso, não para rebater e refutar, mas para imitar o estilo do árabe clássico. Quem – além dos teólogos – lê as interpretações da Torá e do Evangelho? Quem, hoje, lê o Evangelho e as escrituras dos Profetas? Infelizmente, a nova geração de cristãos inteligentes não domina outra literatura ou língua além da literatura árabe e língua árabe. Eles devoram os livros em árabe e amontoam desses livros em suas bibliotecas a preços elevados. Eles cantam em todos os lugares elogios ao patrimônio árabe, enquanto eles se recusam a ouvir falar das obras cristãs quando elas são mencionadas. Eles alegam que as obras cristãs são inúteis e não merecem ser alvo de atenção. Infelizmente, os cristãos se esqueceram de sua língua. Você raramente encontra um entre mil cristãos que escreve para um amigo em sua linguagem cristã. Quanto ao árabe, são muitos aqueles que podem dar a sua melhor expressão e superar os próprios árabes na composição de poemas.”[4]
O impacto da língua árabe sobre as línguas européias
Quanto à influência da língua árabe nas línguas européias, Dieter Meissner[5] diz: O impacto da língua árabe, a língua da classe superior entre línguas faladas na Península Ibérica, ela concedeu aos idiomas castelhano, português e catalão um lugar especial entre as línguas romancistas… e o impacto árabe não se restringe somente à Península Ibérica, mas foi um meio para levá-la para outros idiomas, como o francês[6].
Não há necessidade de nos lembrar as palavras em árabe que foram introduzidas em várias línguas européias, em vários aspectos da vida. Têm quase a mesma forma que na língua árabe, como: algodão, damasco, almíscar, xarope, jarra, limão e zero. Há uma lista infinita de tais palavras. Neste sentido, só podemos destacar a afirmação do professor Michael: “A Europa estava em dívida em sua literatura narrativa aos países árabes e aos povos árabes que viviam na área árabe da Síria. A Europa deve em grande parte a essas forças ativas que fizeram a Idade Média Européia diferente, em espírito e imaginação, do mundo a que estava sujeito o seu espírito.”[7]
O Impacto da novela árabe na novela européia
A narrativa européia foi influenciada em seu nascimento pelas artes da narrativa dos árabes na Idade Média, que são Al-maqamat (um gênero da prosa rítmica árabe), a notícia de cavalaria e aventuras de cavaleiros por causa da glória e do amor. Depois que foi traduzida para as línguas européias no século XII, “As Mil e Uma Noites” teve um impacto muito grande nessa área, na medida em que mais de três centenas de edições em todas as línguas européias têm sido publicados desde então. Alguns críticos europeus acreditam que “As Viagens de Gulliver”, de autoria de Swift, e “As aventuras de Robinson Crusoé”, de autoria de Defoe, estão endividadas com “As Mil e Uma Noites” e com “A mensagem de Hayy ibn Yaqdhan” ao filósofo árabe Ibn Tufayil.[8]
A história de Boccacio
Em 1349 dC, Boccaccio escreveu seus contos denominados “Decameron” (as dez jornadas), que seguiu o mesmo naipe de “As Mil e Uma Noites”, e Shakespeare se inspirou nela para o tema de sua peça “Tudo está bem quando termina bem”. Da mesma forma, o alemão Lessing se inspirou para a sua peça “Nathan, o Sábio”. Chaucer, o líder da poesia moderna no idioma inglês, foi quem mais se inspirou em Boccaccio, em sua época. Ele o encontrou na Itália e depois, compôs a sua coleção de histórias que são amplamente conhecidas como “Contos de Canterbury”.[9]
A divina comédia
Muitos críticos ressaltam que Dante, em “A Divina Comédia”, onde descreveu uma viagem ao outro mundo, foi influenciado por “Risalat Al-Ghufran” (A Mensagem do Perdão), escrita por Al-Ma’ari, e também por “Uasf Al-Jannah” (A Descrição do Paraíso) por Ibn Arabi. Isso porque ele viveu na Sicília durante a era do imperador Frederico II, que era apaixonado pela cultura islâmica e seu estudo em suas fontes árabes. Ele e Dante tiveram discussões sobre o pensamento de Aristóteles, alguns dos quais foram obtidos a partir do original árabe. Dante tinha uma quantidade razoável de informações sobre a biografia do Profeta. Então, ele leu sobre a história de Al-Isra Wa Al-M’iraj (A Viagem Noturna e a Ascensão) e a descrição dos céus.[10]
Sigrid Hunke diz: “A semelhança entre Dante e Ibn Arabi parece grande; Dante copiou suas comparações depois de cerca de 200 anos.”[11]
O poeta Petrarca
O poeta Petrarca viveu na era da cultura árabe na Itália e na França. Ele estudou nas universidades de Montpellier e Paris, sendo que ambas foram fundadas sobre os escritos dos árabes e seus alunos em universidades da Andaluzia.[12] Por esta razão, ele disse ao seu povo: “Que incrível! Cícero conseguiu ser um orador após Demostene, e Virgílio conseguiu ser um poeta após Homer. Então, por que nos foi destinado não escrever depois dos árabes? Éramos iguais, e por vezes à frente, dos gregos e de todos os povos, à exceção dos árabes. Que tolice! Que perdição! Que grande é a genialidade italiana sonolenta e dormente!”[13]
Assim era a brilhante civilização árabe islâmica, que iluminava os cantos da humanidade no campo da linguagem e da literatura.
[1] Mussata al-Siba’i: Min rawa’i hadaratina (Das maravilhas de nossa civilização) p 42.
[2] Ahmad Darwish: Nazaryat Al-Adab Al-Moqaran (Teoria da literatura comparada e suas manifestações na literatura árabe), p 194, 195.
[3] Reinhart Pieter Anne Dozy (1235-1300 dH / 1820-1883 dC), um estudioso protestante holandês, de origem francesa. Nasceu e faleceu em Leiden.
[4] Mustafa al-Siba’i: Min rawa’i hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização) p 43.
[5] Professor de ciências da linguagem romancista na Universidade de Salzburgo.
[6] Dieter Meissner: civilização árabe islâmica na Andaluzia, p 651.
[7] Mustafa al-Siba’i: Min rawa’i hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização) p 44.
[8] Jack Risler: A civilização islâmica, p 223.
[9] Mustafa al-Siba’i: Min rawa’i hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização) p 44.
[10] Mustafa al-Shuk’aa: Ma’lim al-hadarah al-Islamiyah (Características da civilização islâmica), p 263-265.
[11] Sigrid Hunke: Idem, p 521.
[12] Mustafa al-Siab’i: Min rawa’i hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização) p 44. Sedillot: A Civilização dos Árabes, p 569.
[13] Sedillot: A Civilização dos Árabes, p 569.