“A Vista dos jardins lança prazer e vitalidade ao coração. Além disso, a contemplação deste prazer e beleza brilhante lançados sobre o coração dão vida aos corações, e a consideração dos efeitos da inovação nos jardins faz glorificar o Criador que aperfeiçoou tal beleza extraordinária. Os maiores artistas são incapazes de pintar e formar uma única flor, assim como a sutileza das cores de uma única flor, o entrelaçamento de suas linhas, a organização das pétalas de uma única rosa, tudo isso parece um milagre de tirar o fôlego até mesmo dos gênios da arte antiga e moderna. Isso, sem contar o milagre da vida que se desenvolve nas árvores, que é o grande segredo que desafia a compreensão humana … “.[1]
As imagens brilhantes com as quais o Sagrado Alcorão e a Sunnah estão repletos tiveram um impacto tangível sobre a civilização islâmica, pois não houve nenhuma capital islâmica, seja no oriente ou no ocidente, que fosse desprovida de fabulosos jardins que caracterizam o sentido arquitetônico islâmico. Os jardins foram encontradas na Andaluzia, Turquia, Síria, Pérsia, Egito, Samarcanda, Marrocos, Tunísia, Iêmen, Omã, Índia e outros países.
Na Andaluzia[2]:
– Córdoba: Abdul Rahman Al-Dakhel criou o jardim de Al Resafa, considerado um dos maiores jardins no Islam. Ele foi feito igual ao modelo de Resafa existente na Síria e fundado por seu avô Hisham Ibn Abdul Malik. Al-Dakhel trouxe muitas plantas maravilhosas para o jardim de Córdoba de todas as partes do mundo “Transferiu mudas raras e as melhores árvores para o jardim de Córdoba de todas as partes, ele enviou seus dois emissários para a Síria para trazerem sementes selecionadas e grãos raros. Com muito trabalho e bons cuidados, árvores de grande porte cresceram e produziram frutos maravilhosos que logo se espalharam nos territórios da Andalusia.”[3]
– Granada[4]: Havia pomares e jardins ao redor da muralha de Granada que parecia ser outra parede[5]. Isso estava fora da cidade. Quanto aos palácios, os jardins do palácio de Alhambra foram considerados o melhor exemplo de jardins da civilização islâmica. Em Granada, também podemos encontrar Generalife (em árabe: Jannat Al-‘Arif ou Jardim do Arquiteto), que foi criado em aos pés de um morro e desenhado por muçulmanos sob a forma de níveis que passavam de mais de treze metros de largura e cujo número não passava de seis níveis. A água desempenha um papel essencial nesse jardim, à medida que desce das nascentes até o jardim em canais que passam no meio das árvores, como uma clara indicação da influência sobre o verso do Alcorão: [E água sempre fluente] (Al-Waqi’a: 31).[6]
Mesmo quando a época de ouro de Córdoba chegou ao fim e a época das divisões (Taifas) começou, Inspiración Sanshez[7] descreve a imagem dos jardins na Andalusia, dizendo: “Depois da divisão do Califado Omíada de Córdoba e a ascensão dos Taifas, os novos governantes seguiram os passos dos governantes depostos. Eles criaram muitas hortas experimentais em todos os palácios do novo governo … e cada um daqueles jardins eram supervisionados por um engenheiro agrônomo.[8]
Na Andalusia, os jardins eram tão numerosos quanto as casas, cada casa, mesmo as mais pequenas, tinha um jardim. Ao falar sobre as pequenas casas em Granada, Gems Deki[9] disse: “Embora a maioria das casas em Granada eram pequenas, todas tinham água corrente, rosas, flores perfumadas, árvores pequenas, bem como instalações de lazer completas, que comprovam que esta terra era mais bonita quando estava sob o domínio dos mouros (muçulmanos) do que é agora”.[10]
Em Islambul [11] (Constantinopla):
Se nos direcionarmos ao Oriente islâmico Meridional para chegar à capital do califado otomano, iremos descobrir que uma vez que o Islam entrou nessas áreas, os jardins se espalharam por todas as partes. Os jardins de Anadolu foram distinguidos por serem projetados, para depois serem construídos edifícios. Por isso, os palácios de Istambul eram denominados (os jardins), embora eles fossem construídos nos jardins! Os jardins eram utilizados para entretenimento ou para festas oficiais e, muitas vezes, tinham vista para o litoral, como é o caso em Istambul.
As superfícies verdes foram introduzidas na formação arquitetônica das mesquitas na era da Califado Otomano, com o objetivo de protegê-las dos perigos de incêndios, por exemplo a Mesquita Süleymaniye em Istambul. Era conhecido que quando as casas, que costumavam ser construídas de madeira, se incendiavam, o fogo, por vezes, se espalhava para as mesquitas vizinhas, o que fez o arquiteto (Sinan) cercar a mesquita e os seus anexos com uma parede exterior. Entre a parede e a parte interna da mesquita havia uma grande área vazia em que as árvores e vários tipos de flores foram cultivadas para separar a mesquita das casas vizinhas e concebem, ao mesmo tempo, um valor estético maravilhoso.
Durante a era otomana, a plantação de árvores nos quintais das grandes mesquitas era muito difundida, como por exemplo, a mesquita do Profeta e a mesquida Bayezid, em Istambul.
Os jardins do palácio (Topkapi) começou a ser construída durante a era do sultão Mehmed Fatih II. Foi residência oficial dos sultões otomanos durante o período entre o século 10 e 13 islâmico (16 e 19 dC). O palácio, com os seus jardins, foi construído em uma área de 69.000 metros quadrados e cinco quilômetros de circunferência. Os jardins foram projetados nas formas de caminhos descobertos em torno do palácio a partir do norte, oeste e leste. Ele também continha jardins de frutas e hortaliças, além de uma vasta área destinada para a caça.[12]
Egito:
Ibn Said descreveu Birkat al-Habash (Lagoa dos Abissínios), que faz parte de Al Fustat (velho Cairo, a primeira capital do Egito islâmico) dizendo: “Todas as plantações e jardins de Birkat Al-Habash eram de propriedade de Abu Bakr Muhammad ibn Ali Al-Madra’i, ministro de Al Tulun, exceto os jardins em seu leste, e creio que sejam os jardins atribuídos a Wahb ibn Sadaqah e conhecidos como Al-Habash (Abissínios) … a fronteira oriental da lagoa termina em um espaço vazio que a separa dos jardins de Al-Habash…. e ao sul de Birkat Al-Habash existem os jardins de Qatadah ibn Qais Ibn Habash Al-Sadfi, que testemunhou a conquista do Egito, e com o seu nome foram nomeados os jardins e a lagoa.[13]
Al-Maqrizi narra sobre a capital egípcia “Al-Qatta’i” durante a época de Khumarawaih Ibn Ahmad Ibn Tulun (282 dH/896 dC) – era do estado Tulunida- dizendo: “Ele cuidou do palácio do pai o ampliou, transformou toda a praça que era de seu pai em um jardim, no qual ele plantou diversos tipos de manjericões, árvores, melhores tipos de palmeiras, transferiu para este jardim todos os tipos de árvores de frutas com sabor maravilhoso e flores. Ele também plantou açafrão e cobriu os troncos das palmeiras com cobre dourado de boa qualidade e fixou bicas de chumbo entre o cobre e o tronco, por onde fez correr a água para fontes construídas, de onde a água corria para irrigar o jardim. Também plantou manjericões sobre escritas feitas no jardim, que eram podados por jardineiros com uma tesoura para criar uma sensação de harmonia. Ele também plantou lírio vermelho, azul e amarelo … “. E assim, Al-Maqrizi continuou a descrever tais maravilhas.[14]
Bagdá:
Quando Abu Jaafar Al-Mansur construiu Bagdá (145 – 149 dH) e transferiu o califado abássida a ela, ele denominou seu palácio de “Al-Khuld”. Al-Khatib al-Baghdadi disse, “O palácio de Al-Mansur foi chamado “Al-Khuld” em analogia com Jannat Al-Khuld (O Paraíso Eterno) e tudo o que ele tem de belas vistas e elevada aspiração”.[15]
Durante o califado abássida, Bagdá foi a melhor cidade do mundo. Foi a capital de todo o mundo em termos de cultura, civilização e arquitetura, seguida de outras cidades, como Córdoba, Cairo e Constantinopla, e em seguida, são citadas outras cidades.
Na descrição de Bagdá, Yaqut al-Hamawi diz: “Bagdá é um paraíso na terra, a cidade da paz, a cúpula do Islam, o ponto de encontro dos dois rios, o orgulho das cidades, a principal cidade do Iraque, a residência dos califas, o fonte das belezas e sutilezas, contém profissionais em todos os domínios e singulares em todos os campos. Abu Ishaq Al-Zajjaj dizia: “Bagdá é a capital do mundo, e todas as outras cidades além dela são consideradas primitivas em relação a ela”.[16]
Descrevendo o jardim do palácio de Al-Muqtadir, Al-Qazwini disse: “Um de suas maravilhas é Dar Al-Shajara (a casa da árvore), que foi construída por Al-Muqtadir Billah (282-320 dH). É uma casa grande com bonitos jardins. Foi chamado por esse nome porque havia uma árvore feita de ouro e prata no meio de um lago em frente de suas portas. Essa árvore tinha dezoito membros, cada membro tem várias ramificações, que tinham muitos tipos de jóias em forma de frutas, além de vários tipos de pássaros de ouro e prata, quando os ventos sopravam, assobios e sons são ouvidos.
Ao lado da casa, à direita do lago, havia quinze estátuas de cavaleiros e mais quinze no lado esquerdo do lago. Os cavaleiros estavam vestidos com o melhor tipo de seda, carregando espadas. Eram controlados e movidos em uma linha, como se cada um tivesse o seu companheiro como alvo. “[17]
Índia:
O maior jardim na Índia foi o mausoléu do Taj Mahal, que foi construído pelo imperador Shah Jahan para sua esposa Taj Mahal. Este jardim foi projetado na forma de pivôs centrais e filiais e é conhecido como jardim “Char bagh”. semelhante ao Taj Mahal também é o jardim “Itimad” situado no túmulo de “Etemad”. O túmulo fica no alto de um terraço no centro do jardim da praça e em cada uma das quatro direções há uma bacia de água.
O jardim é dividido em quatro partes cultivadas com árvores verdes e áreas planas. O mesmo projeto foi aplicado no túmulo de Humayun em Deli, o mausoléu foi localizado no centro do jardim que foi dividido por bacias hidrográficas, canais de água em pivôs e quadrados.[18]
Marrocos:
Durante a era do Moahhidin (moávidas), a capital Marrakech foi a cidade mais rica do Marrocos em jardins, pomares de uvas e todos os tipos de frutas. Alguns de seus melhores pomares foram os pomares de Al-Massara e Al-Salehia, estabelecida por Abdul Mu’min ibn Ali. Um de seus famosos lagos foi criado por Yaqub al-Mansur, que tem cerca de 380 côvados de comprimento. Em um de seus lados, havia 400 pés de laranja amarga, entre cada duas árvores, havia uma árvore de limão ou manjericão.[19]
Os pomares de Marrakech não foram os únicos no Marrocos, havia outros pomares em Miknas, Fass, Al-Moqarmada, Taza[20], Sala e septos[21].
Descrevendo os jardins de Septa, Al-Amri disse: “Na margem do Adwa, existem vistas agradáveis que conquistam tanto o coração como os olhos. Havia também belos jardins à beira do mar, atraentes e bem organizados. A água que batia nas rochas fazia um som agradável e as árvores se entrelaçavam.[22]
Finalmente, este passeio tão agradável pelos jardins na civilização islâmica nos acrescenta a convicção da grandeza desta civilização, e da grandeza que ela deixou até hoje para de parâmetros para o desenvolvimento humano e ambiental, a questão que claramente indica uma perfeita harmonia entre a religião islâmica e a natureza humana, que é naturalmente cativada pela cor verde e pela harmonia das árvores e frutas.
[1] Sayed Qutb: Fi Dhilal Al-Qur’an (Sob as sombras do Alcorão) 5 / 390.
[2] Veja sobre os jardins da Andalusia: Salma Al-Khadra’a Al-Jaiusi: a civilização árabe islâmica na Andalusia. Objeto de Pesquisa: Al-Hadiqa Al-Andaluzia (o jardim andaluso) , Jems Decki 2 / 1411 em diante.
[3] Al-Maqarri: Nafh Al-Tib 1 / 467.
[4] Sobre a descrição dos jardins de Granada, veja: Ibn Al-Khatib: Al- Ehata fi Akhbar Gharnata (As notícias de Granada) p 115 e seguintes.
[5] Ibn Al-Khatib: Al- Ehata fi Akhbar Gharnata (As notícias de Granada) p 115 e seguintes.
[6] Ver: Yahia Waziri: Al-Imara Al-Islamia wa Al-Be’a (A arquitetura islâmica e o meio ambiente) p 223.
[7] Inspiración Sansheiz: professora de história islâmica na Universidade de Granada e pesquisadora no departamento de língua árabe no Conselho Superior de Investigações Científicas de Madrid.
[8] Salma Al-Khadra’a Al-Jaiusi: a civilização árabe islâmica na Andalusia, pesquisa de Inspiración Garcia Sanshez: A agricultura na Espanha muçulmana, 2 / 1370.
[9] Gems Deki: especialista acadêmico em história da Espanha islâmica e Sharia Islâmica nas Universidades de Manchester, Lancaster e Harford.
[10] Salma Al-Khadra’a Al-Jaiusi: a civilização árabe islâmica na Andalusia, pesquisa de Jacob Deki, sob o título “Gharnata … Mithal min Al-Madina Al-Arabia Al-Andalus” (Granada … um exemplo de cidade árabe na Andalusia) 1 / 176.
[11] Islambul: significa “a cidade do Islam”, é o nome dado à Constantinopla pelos otomanos depois que eles a conquistaram, Istambul de hoje.
[12] Ver: Yahia Waziri: Al-Imara Al-Islamia wa Al-Be’a (A arquitetura islâmica e o meio ambiente) p 224-226.
[13] Citando: Adel Ahmad Kamal: Atlas da História do Cairo p 35, citando Ibn Doqmaq: Al-Intisar li Wasitat Aqd Al-Amsar.
[14] Al-Maqrizi: Al-Khutat wa Al-Athar 1 / 872.
[15] Al-Khatib al-Baghdadi: Tarikh Bagdá (A História de Bagdá) 1 / 75.
[16] Yaqut al-Hamawi: Mu’jam Al-Buldan (dicionário de países) 1 / 461.
[17] Al-Qazwini: Athar Al-wa Bilad Akhbar Al-Íbad (traços dos países e as notícias dos servos) 1 / 127.
[18]Yahia Waziri: Al-Imara Al-Islamia wa Al-Be’a (A arquitetura islâmica e o meio ambiente) p 227, 228.
[19] Muhammad Al-Manoni: Hadarat Al-Muahhidin (a civilização dos muahhidin), p 162.
[20] Idem.
[21] Hassan Ali Hassan Al-Hadara Al-Islamia fi Al-Maghreb wa al-Andalus (A civilização islâmica no Marrocos e Andalusia) era dos Morabitin e dos muahhidin, p 428 e seguintes.
[22] Al-Amri: Masalek Al-Absar fi Mamalek Al-Amsar, citado por: Hassan Ali Hassan Al-Hadara Al-Islamia fi Al-Maghreb wa al-Andalus (A civilização islâmica no Marrocos e Andalusia) p 429.