A Beleza e Eloquência do Alcorão
(parte 1 de 2)
As primeiras audiências do Alcorão eram habitantes do deserto da Arábia,
orgulhosos das habilidades de seu idioma. Seus bens materiais eram exíguos,
mas seu idioma era muito mais avançado que sua cultura. Ganhavam a vida
através do comércio e empreendiam muitas viagens para comprar e vender
produtos. Suas longas viagens pelo deserto lhes dava tempo para meditarem
sobre a natureza e a ordem da natureza das coisas. Eram muito meticulosos em
suas escolhas de palavras e muito específicos em seus discursos. Adoravam a
oratória e dicção e a comunicação eficiente. Eram muito habilidosos na
articulação de pensamentos mais delicados e muito refinados na expressão de
ideias. As palavras eram suas mercadorias e a eloquência sua obsessão e ponto
forte. Comunicar pensamentos mais delicados na forma mais sofisticada era
suas obsessões. Compor poesia e prosa era suas paixões. Competiam entre si
na habilidade de serem fluentes e eloquentes. Produziam literatura elegante de
alta qualidade, mesmo se os temas escolhidos fossem os mais insignificantes e
profanos. Desperdiçavam suas habilidades embelezando as histórias de seus
encontros, explorações e aventuras amorosas, relatos exagerados de seu valor
na guerra e as virtudes de seu vinho e suas mulheres. Sua literatura escrita era
escassa, mas tinham uma memória prolífica e memorizavam milhares de
citações, anedotas e poemas. Sua literatura era passada adiante para as
gerações seguintes através de tradições orais. Tinham tanto orgulho de sua
dicção e eloquência que se declaravam os mestres da linguagem e que os outros
tinham sido privados da faculdade da palavra. Comparadas à deles, as outras
línguas eram meramente as comunicações cruas de homens mudos e
inarticulados. Referiam-se aos não árabes como “Ajums”, aqueles que sofrem
de impedimentos da fala.
Quando os árabes ouviram o Alcorão pela primeira vez, ficaram
assombrados com sua eloquência e ouviram com admiração. Nunca tinham
ouvido antes na vida um sermão tão impactante e majestoso. Seus instintos os
convenceram de que um discurso tão impressionante e nobre só podia ser
divino, não uma criação humana. Era muito mais sublime e solene que toda a
sua literatura junta. O Alcorão proclamou que não era uma composição feita
pelo homem e desafiou sua audiência a apresentar qualquer composição que se
equiparasse ao seu estilo e elegância. Declarou que os humanos não
conseguiriam produzir uma única composição que se equiparasse ao seu
calibre, mesmo que se unissem e coordenassem seus esforços. Lançou o
desafio:
“E se estais em dúvida acerca do que fizemos descer sobre
Nosso servo, fazei vir uma surata igual à dele, e convocai
vossas testemunhas, ao invés de Deus, se sois verídicos”.
(Alcorão 2:23)
Os compositores especialistas da Arábia ouviram o desafio, mas não
puderam apresentar uma resposta. Comparados ao Alcorão seus esforços
literários pareciam desajeitados e infantis. Sentiam como se fossem novatos
inexperientes. Os poetas prolíficos e eminentes pareciam imaturos. Os
oradores entusiásticos viram-se sem palavras. Foram humilhados pelas
palavras do Alcorão. Os mestres da língua árabe não conseguiram encontrar
nenhuma falha ou lapso na linguagem do Alcorão. Reconheceram a derrota e
expressaram sua incapacidade de equipará-lo. Muitos ficaram tão hipnotizados
por sua mensagem que abraçaram o Islã na hora. A evidência interna do
Alcorão é suficiente para dissipar dúvidas. Quando é lido, fica claro que
nenhum homem poderia tê-lo escrito.
O homem é o tema do Alcorão. Narra a história do homem como um todo
e descreve todos os estágios da jornada do homem para seu último destino -
nascimento, vida, morte, ressurreição e o julgamento de seus atos e,
dependendo do julgamento, paraíso ou inferno. Nesse mundo temporal e
físico, a observação e experiência do homem são restritas ao seu nascimento, os
testes e tribulações de sua vida e morte. Seus cinco sentidos não o capacitam a
perceber uma existência além dos confins do mundo físico. Os olhos não
veem a luz emanando do outro mundo e os ouvidos não detectam os sons do
outro lado. As mãos não podem sentir, o nariz não pode cheirar e a língua não
pode sentir o gosto do que não é desse mundo. A mente, portanto, não
consegue perceber a presença do mundo mais além.
O grande além reside depois das fronteiras da morte. A ressurreição, o
julgamento dos atos e paraíso e inferno são eventos programados para ocorrer
lá. De forma fluente e comovente e com uma aura de confiança, o Alcorão
descreve esses eventos em detalhes. Narra com o conhecimento da certeza.
Discute os eventos do outro mundo com a mesma facilidade e eloquência que
os eventos desse mundo. Desde que foi revelado seu discurso e eloquência não
foram superados, não somente em árabe, mas também em todos os idiomas do
mundo. O desafio continua de pé. O homem nunca será capaz de equiparar
sua qualidade literária.
(parte 2 de 2)
A poesia deve sua atração e brilho a mentiras e ficção. O poeta deixa sua
imaginação solta, que vagueia desenfreada para além do reino da realidade.
Quanto mais ele se deixa levar por sua imaginação, mais belo é seu poema.
Quanto mais ele voa para o território da fantasia, mais fantasiosa e fabulosa é
sua ficção. A verdade é a primeira vítima de sua excursão para o território da
fantasia. As frases são seus brinquedos e a ficção é seu lugar de brincadeiras.
As palavras são suas ferramentas e sua oficina o salão de beleza, onde o que é
simples torna-se sensual e sensacional e os fatos simples são vestidos para
parecerem bonitos e apresentáveis. Palavras belas e apropriadas são sua
profissão e seu objetivo é provocar a imaginação de sua audiência. Planeja
mergulhar seus ouvintes em uma arena de ilusão, o mundo irreal e etéreo.
O exagero é a especialidade do poeta, seu chamado especial. Até um
simples sorriso é um voo de fantasia para um poeta. Estica a verdade até o
limite, até que se torne uma mentira. Com um pouco de embelezamento
transforma um evento brando em um conto tentador. Se a verdade não lhe
agrada, segue adiante para diluir o efeito do fato. Se o fato não se adequa à sua
fantasia e o mistura com uma dose de mito, tirando o fato de foco. Com
palavras, pode tricotar um escudo para desviar o fato. Assim, ele trivializa a
verdade. Torcerá e distorcerá as palavras e atacará a verdade até que produza o
significado que deseja. Cobre a verdade com camadas de interpretações até
que a verdade torne-se uma estranha. Com o uso hábil de palavras, pode
batizar uma ficção e também ficcionalizar um fato. Circula mentiras ao
envolvê-las com camadas de fatos conhecidos e irrefutáveis. Empresta
credibilidade e respeito a suposições infundadas ao cercá-las de fatos
respeitados. A falsidade, assim, é fortalecida. O texto poético é a prioridade de
um poeta e seu talento consiste de frases fantasiosas, não de verdade. A poesia
agrada a estética e o intelecto, mas não é verdade. Sobre os poetas, o Alcorão
diz:
" E os poetas que seguem os insensatos. Não tens reparado
em como se confundem quanto a todos os vales? E em que
dizem o que não fazem?” (Alcorão 26: 224-226)
" E não instruímos (o Mensageiro) na poesia, porque não é
própria dele. O que lhe revelamos não é senão uma
Mensagem e um Alcorão lúcido.” (Alcorão 36: 69)
Que este (Alcorão) é a palavra do Mensageiro honorável. E
não a palavra de um poeta. - Quão pouco credes- Nem
tampouco é a palavra de um adivinho. Quão pouco
meditais! (Esta) é uma revelação do Senhor do Universo.
(Alcorão 69: 40-43)
A diferença entre ele e o trabalho dos poetas, escritores e filósofos não é
apenas de grau ou qualidade, mas também de caráter e classe. Não se rebaixou
ao modelo terreno de distorção e desonestidade. Ao contrário, engrandeceu e
higienizou os padrões de literatura e a introduziu em um novo patamar. Impôs
um requisito mais difícil para o padrão literário e exigiu honestidade e precisão
absolutas. Recusou-se a unir-se à ficção e à arte de ficcionalização de fatos e
desdenhou o exagero. Não ganhou fazendo uso das formas e meios dos outros
trabalhos literários.
Os gigantes literários conhecem as normas de gramática e dicção. Ainda
assim, não podem atender à regra estabelecida pelo Alcorão. Estão em
desvantagem porque sua competência não tem valia sem falsidade e ficção. Se
o exagero fosse removido de seus trabalhos, não sobraria muito. Não
conseguem imaginar a poesia sem um grau de mentiras e embelezamentos.
Assim, o Alcorão tirou as restrições dos fatos e liberou a verdade das garras de
seus captores - os poetas, escritores e filósofos do passado, presente e futuro.
Expôs suas espertezas. Quando se trata de assuntos que pertencem a esse
mundo, conhecem os fatos, mas nem sempre escolhem ser honestos e precisos.
Entretanto, quando se trata de assuntos do além túmulo, são de fato charlatães
que se apoiam em suposições e conjecturas.
Sua maioria não faz mais do que conjecturar, e a
conjectura jamais prevalecerá sobre a verdade; Deus
bem sabe tudo quanto fazem! (Alcorão 10: 36)
"Se obedeceres à maioria dos seres da terra, eles desviarte-
ão da senda de Deus, porque não professam mais do que
a conjectura e não fazem mais do que inventar mentiras.ˮ
(Alcorão 6: 116)
O Alcorão desafiou as normas aceitas de literatura e alcançou a eloquência
e eminência sem recorrer a qualquer tipo de exagero. Por causa disso, cada
clássico literário criado em qualquer período da história e em qualquer idioma
do mundo, recairia em uma classe inferior àquela do Alcorão. Tem um caráter
único que é todo seu. Apresenta os fatos de forma clara e meticulosamente
adere à narração precisa. Mesmo quando cita uma parábola, a comparação
nunca é enganosa e não distorce a verdade. As palavras e frases que usa trazem
a verdade inalterada. Jura dizer nada além da verdade. A precisão é sua
prioridade e todo o seu texto pode ser aceito literalmente. O tratado científico
deve igualmente exato. Sua adesão à precisão quando se trata de assuntos que
pertencem a esse mundo, infunde fé e confiança nos crentes. São convencidos
de que os eventos programados para ocorrer além da morte também são
retratados com a mesma exatidão e precisão e sem exageros. A razão pela qual
o Alcorão permaneceu incomparável em substância e estilo é tratar-se da
absoluta verdade. Diz a seu próprio respeito:
“Tais são os versículos de Deus que realmente te ditamos,
porque és um dos mensageiros.” (Alcorão 2:252)
Ele te revelou (ó Muhammad) o Livro (paulatinamente)
com a verdade corroborante dos anteriores, assim como
havia revelado a Tora e Evangelho. (Alcorão 3:3)
"Alif, Lam, Meem, Ra. Estes são os versículos do Livro. O
que te foi revelado por teu Senhor é a pura verdade;
porém, a maioria dos humanos não crê nisso.ˮ (Alcorão
13:1)