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O perigoso segredo sobre o Paráclito, que apenas alguns dos maiores estudiosos do cristianismo conhecem, mas eles o escondem, por medo e outros motivos;





ANSELM TORMEEDA, SACERDOTE E ESTUDIOSO CRISTÃO, ESPANHA 





Um estudante de confiança de um renomado estudioso cristão na antiga Andaluzia entreouve uma discussão sobre o Paracleto, um profeta ainda por vir mencionado na Bíblia.





Muitos cristãos abraçaram o Islã durante e logo depois das conquistas islâmicas posteriores à morte do profeta.  Nunca foram compelidos. Era um reconhecimento do que já esperavam.  Anselm Tormeeda[1], um sacerdote e estudioso cristão, foi uma pessoa cuja história vale mencionar.  Ele escreveu um livro famoso chamado “The Gift to the Intelligent for Refuting the Arguments of the Christians” [2] (A Dádiva ao Inteligente por Refutar os Argumentos dos Cristãos, em tradução livre).  Na introdução[3] desse trabalho ele relata sua história:





“Que seja do conhecimento de todos vocês a minha origem da cidade de Maiorca, que é uma grande cidade no mar entre duas montanhas e dividida por um pequeno vale. É uma cidade comercial, com dois maravilhosos portos. Grandes navios mercantes vêm e ancoram no porto com produtos diferentes. A cidade é na ilha que tem o mesmo nome, Maiorca, e a maior parte de sua terra é coberta de figueiras e oliveiras. Meu pai era um homem muito respeitado na cidade. Eu era seu único filho.





Quando eu tinha seis anos ele me enviou a um sacerdote que me ensinou a ler o Evangelho e a lógica, que concluí em seis anos.  Depois disso deixei Maiorca e viajei para a cidade de Larda, na região de Castilha, o centro de aprendizado para cristãos naquela região.  De mil a mil e quinhentos estudantes cristãos se reuniam lá.  Todos sob a administração do sacerdote que os ensinava.  Estudei o Evangelho e sua linguagem por outros quatro anos.  Depois disso parti para Bolonha na região de Anbardia.  Bolonha é uma grande cidade, o centro de aprendizado para todas as pessoas daquela região.  Todo ano mais de dois mil estudantes se reúnem vindos de diferentes lugares.  Cobriam-se com roupas toscas, que chamavam de o “Matiz de Deus.”  Todos eles, fosse o filho de um trabalhador ou de um governante, usavam essa manta, para distinguir os estudantes dos demais.





Somente o sacerdote os ensina, controla e orienta.  Vivi na igreja com um sacerdote idoso.  Ele era muito respeitado pelas pessoas por causa de seu conhecimento e religiosidade e ascetismo, que o distinguia dos outros sacerdotes cristãos.  Perguntas e pedidos de conselhos vinham de todo lugar, de reis e governantes, junto com presentes.  Esperavam que ele aceitasse seus presentes e lhes concedessem suas bênçãos.  O sacerdote me ensinou os princípios do Cristianismo e suas normas.  Tornei-me muito próximo dele por servi-lo e ajudá-lo com seus deveres até que me tornei um dos seus assistentes de maior confiança, de modo que ele me confiava as chaves de seu domicílio na igreja e dos armazéns de comida e bebida.  Ele mantinha consigo apenas a chave de um pequeno quarto onde costumava dormir.  Eu acho, e Deus sabe melhor, que ele guardava suas coisas de valor lá.  Fui um estudante e servo por um período de dez anos, então ele ficou doente e não pôde comparecer às reuniões de seus companheiros sacerdotes.





Durante sua ausência os sacerdotes discutiram algumas questões religiosas, até que chegaram ao que tinha sido dito por Deus Todo-Poderoso através de seu profeta Jesus no Evangelho: “Depois dele virá um Profeta chamado Paracleto.”  Argumentaram muito sobre esse Profeta e sobre quem era ele entre os Profetas.  Todos davam sua opinião de acordo com seu conhecimento e compreensão; e concluíram sem obter nenhum benefício naquela questão.  Fui para o meu sacerdote e como de costume perguntei sobre o que foi discutido na reunião aquele dia.  Mencionei a ele as diferentes opiniões dos sacerdotes sobre o nome Paracleto, e como concluíram o encontro sem clarificar seu significado.  Ele me perguntou: “Qual foi sua resposta?”  Dei minha opinião que foi tirada da interpretação de uma exegese bem conhecida.  Ele disse que eu estava quase correto como alguns sacerdotes, e os outros sacerdotes estavam errados.  “Mas a verdade é diferente de tudo isso.  Porque a interpretação daquele nome nobre é conhecida apenas por um pequeno número de estudiosos muito versados.  E possuímos apenas um pequeno conhecimento.”  Abaixei-me e beijei seus pés, dizendo: “Senhor, sabe que viajei e vim para o senhor de um país muito distante e o tenho servido por mais de dez anos; obtive conhecimento além da estimativa, então, por favor, diga-me a verdade sobre esse nome.”  O sacerdote chorou e disse: “Meu filho, por Deus, você é muito querido para mim por me servir e se devotar ao meu cuidado.  Saber a verdade sobre esse nome traz um grande benefício, mas também um grande perigo.  E temo que quando você souber a verdade e os cristãos descobrirem, você será morto imediatamente.”  Eu disse: “Por Deus, pelo Evangelho e por Aquele que foi enviado com ele, eu nunca falarei qualquer palavra sobre o irá me dizer e manterei isso em meu coração.”  Ele disse: “Meu filho, quando você chegou aqui vindo de seu país, perguntei se você era próximo dos muçulmanos e se fizeram incursões contra você e você contra eles.  Isso foi um teste sobre seu ódio pelo Islã.  Saiba, meu filho, que o Paracleto é o nome do Profeta Muhammad, a quem foi revelado o quarto livro mencionado por Daniel.  O caminho dele é o caminho claro mencionado no Evangelho.”  Eu disse: “Então senhor, o que diz sobre a religião desses cristãos?”  Ele disse: “Meu filho, se esses cristãos permanecessem na religião original de Jesus, então estariam na religião de Deus, porque a religião de Jesus e de todos os Profetas é a verdadeira religião de Deus.  Mas eles a mudaram e se tornaram descrentes.”  Perguntei a ele: “Então, senhor, qual é a salvação disso?”  Ele disse: “Ó meu filho, abrace o Islã.”  Perguntei a ele: “Aquele que abraçar o Islã será salvo?”  Ele respondeu: “Sim, nesse mundo e no outro.”  Eu disse: “O prudente escolhe para si mesmo; se sabia, senhor, o mérito do Islã, então o que o afasta dele?”  Ele respondeu: “Meu filho, o Deus Todo-Poderoso não me expôs à verdade do Islã e ao Profeta do Islã antes de eu ficar velho e meu corpo enfraquecido.  Sim, não existe desculpa para nós nisso, ao contrário, a prova de Deus foi estabelecida contra nós.  Se Deus tivesse me guiado para isso quando eu tinha sua idade, eu teria deixado tudo e adotado a religião da verdade.  Amor a esse mundo é a essência de todo pecado e veja como sou estimado, glorificado e honrado pelos cristãos e como vivo em afluência e conforto!  No meu caso, se eu demonstrar uma ligeira inclinação em relação ao Islã eles me matarão imediatamente.  





Supondo que eu seja salvo deles e tenha sucesso em escapar para os muçulmanos, eles diriam que eu não deveria considerar meu Islã um favor para eles e sim que eu tinha me beneficiado simplesmente por entrar na religião da verdade, a religião que me salvaria da punição de Deus!  Então eu viveria entre eles como um pobre homem velho de mais de noventa anos, sem saber seu idioma, e morreria de fome entre eles.   Estou, e todos os louvores são para Deus, na religião de Cristo e no que ele trouxe, e Deus sabe disso.”  Então perguntei a ele: “Aconselha-me a partir para o país dos muçulmanos e adotar sua religião?”  Ele disse para mim: “Se for sábio e espera se salvar, corra para o que terá êxito nessa vida e na vida futura.  Mas meu filho, ninguém está presente conosco em relação a esse assunto; é entre você e eu somente.  Empenhe-se e mantenha isso em segredo.  Se isso for descoberto e as pessoas souberem, elas o matarão imediatamente.  Não serei de nenhum benefício para você contra eles.  Nem será de qualquer valia você lhes dizer que ouviu de mim sobre o Islã, ou que o encorajei a ser muçulmano, porque negarei.  Eles confiam em meu testemunho contra o seu.  Então, não diga uma palavra, aconteça o que acontecer.”  Prometi a ele não fazê-lo.





Ele ficou satisfeito e contente com minha promessa.  Comecei a me preparar para minha jornada e disse adeus.  Ele orou por mim e me deu quarenta dinares de ouro[4].  Então peguei um navio para minha cidade Maiorca onde fiquei com meus pais por seis meses.  Depois viajei para a Sicília e permaneci lá por cinco meses, esperando por um navio para a terra dos muçulmanos.  Finalmente chegou um navio para Túnis.  Partimos antes do pôr-do-sol e alcançamos o porto de Túnis ao meio-dia do segundo dia.  Quando saí do navio, estudiosos cristãos que ouviram de minha chegada vieram me saudar e fiquei com eles por quatro meses em tranquilidade e conforto.  Depois disso perguntei a eles se havia um tradutor.  O sultão naqueles dias era Abu al-Abbas Ahmed.  Disseram que havia um homem virtuoso, o médico do sultão, um dos seus conselheiros mais próximos.  Seu nome era Yusuf al-Tabeeb.  Fiquei muito satisfeito ao ouvir isso e perguntei onde ele vivia.  Levaram-me para encontrá-lo separadamente.  Disse a ele minha história e a razão de minha vinda, que era abraçar o Islã.  Ele ficou imensamente feliz porque essa questão seria completada com sua ajuda.   Cavalgamos até o palácio do sultão.  Ele encontrou o sultão e contou-lhe sobre minha história e pediu sua permissão para que eu o encontrasse.





O sultão aceitou e me apresentei perante ele.  A primeira pergunta que o sultão fez foi sobre minha idade.  Disse a ele que tinha trinta e cinco anos.  Então ele perguntou sobre meu aprendizado e as ciências que eu tinha estudado.  Depois de lhe dizer ele disse: “Sua chegada é a chegada da bondade.  Seja um muçulmano com as bênçãos de Deus."  Então eu disse ao médico: “Diga ao honorável sultão que sempre que alguém muda de religião é difamado pelo seu povo.  Então, eu gostaria que ele trouxesse os sacerdotes e mercadores cristãos dessa cidade para perguntar a eles sobre mim e ouvir o que eles têm a dizer.  Então, pela vontade de Deus, aceitarei o Islã.”  Ele me disse através do tradutor: “Você pediu o que Abdullah bin Salaam pediu ao Profeta quando ele, Abdullah, decidiu anunciar seu Islã.”  Ele então chamou os sacerdotes e alguns mercadores cristãos e permitiu que eu sentasse em uma sala contígua onde não era visto por eles.  “O que dizem sobre esse novo sacerdote que chegou de navio?” perguntou.  Disseram: “É um grande estudioso em nossa religião.  Nossos bispos dizem que ele é o mais erudito e que ninguém é superior a ele em nosso conhecimento religioso.”  Depois de ouvir o que os cristãos disseram o sultão mandou me chamar e eu me apresentei.  Declarei os dois testemunhos de que não havia ninguém merecedor de adoração exceto Deus e que Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, é Seu Mensageiro. Quando os cristãos ouviram isso se benzeram e disseram: “Nada o incitou a isso exceto seu desejo de se casar, já que os sacerdotes em nossa religião não podem se casar.”  Então partiram em angústia e tristeza.





O sultão me destinou do tesouro um quarto de dinar por dia e me permitiu casar com a filha de Al-Hajj Muhammed al-Saffar.  Quando decidi consumar o casamento ele me deu cem dinares de ouro e um excelente conjunto de roupas.  Então consumei o casamento e Deus me abençoou com um filho a quem dei o nome de Muhammad como uma bênção do nome do Profeta.”[5]





FOOTNOTES:





[1] Depois de abraçar o Islã ele ficou conhecido como Abu Muhammad bin Abdullah Al-Tarjuman. Era chamado Al-Tarjuman (O Tradutor), porque em menos de cinco meses depois de sua conversão o sultão o nomeou chefe da Administração da Marinha onde ele aprendeu a língua árabe e se tornou um tradutor habilidoso nas discussões entre muçulmanos e cristãos. Depois de apenas um ano ele dominou a língua árabe e foi nomeado chefe dos Assuntos de Tradução. Também era bem conhecido entre as pessoas comuns, que deram a ele alguns apelidos agradáveis; o mais popular era Sidi Tohfah, que significa “Meu Presente Principal”, se referindo a seu famoso livro.





[2] Tuhfat al-arib fi al-radd ‘ala Ahl al-Salib em árabe. O livro foi um poderoso golpe para a estrutura da crença cristã porque foi escrito por um dos maiores estudiosos cristãos da época.





[3] Depois da introdução ele escreveu sobre alguns eventos referentes ao Estado Hafsah. Prosseguiu com nove capítulos incluindo um demonstrando que os quatro evangelhos não foram escritos pelos discípulos de Jesus aos quais são usualmente atribuídos. Também discutiu outros tópicos incluindo o Batismo, a Trindade, Pecado Original, a Santa Ceia, a Indulgência, A Lei da Fé. >Refutou todas essas doutrinas com base nos textos dos evangelhos e raciocínio lógico. Também provou a natureza humana de Cristo e refutou sua alegada natureza divina. Então expôs as contradições nos textos interpolados da Bíblia. Também discutiu questões nas quais os cristãos criticavam os muçulmanos, como a permissibilidade de casamento para estudiosos religiosos e homens devotos, circuncisão e prazer físico no Paraíso. Concluiu seu livro provando a verdade da Missão Profética de Muhammad usando textos da Bíblia.





[4] Moeda corrente na época.





[5] Extraído de Material on the Authenticity of the Quran: Proofs that it is a Revelation from Almighty God (Material sobre a Autenticidade do Alcorão: Provas de que é uma Revelação de Deus Todo-Poderoso, em tradução livre) de Abdur-Raheem Greene.



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