Termos em árabe
· Shirk - Palavra que significa associar parceiros a Allah, conceder atributos divinos a alguém que não seja Allah; ou acreditar que a fonte de poder, dano e bênçãos vem de alguém que não seja Allah.
· Tawhid - Atribuir unicidade e singularidade a Allah e descrevê-lo como sendo Um e Único, Seus nomes e atributos e Seu direito de ser adorado.
· Sunnah - - A palavra Sunnah tem vários significados segundo a área de estudo; contudo o significado que geralmente se lhe atribui é: palavras, ações e aprovações do Profeta.
Introdução
A palavra árabe shirk [1] é o oposto de tawhid, a Unicidade e a Unidade de Allah, e é mais inclusiva que o politeísmo e a idolatria. Shirk contradiz o próprio propósito da criação, conforme expresso no Alcorão:
“E não criei os jinns e os humanos senão para Me adorarem.” (Alcorão 51:56)
Os Profetas foram enviados com a missão de erradicar o shirk e de convidar a humanidade para escolher Allah em adoração.
O que é Shirk?
Shirk é associar qualquer outro que não seja Allah nos aspectos que são unicamente e exclusivamente Seus. Shirk é adorar seres criados da mesma forma que Allah é adorado, venerar criaturas como Allah deve ser venerado, e atribuir parte de Sua divindade a qualquer outro.
Gravidade do Shirk
Não existe assunto sobre o qual o Islam seja mais rigoroso do que o Tawhid (monoteísmo). Sendo assim, o shirk é considerado a maior violação com a qual o Senhor dos céus e da Terra é afrontado. A gravidade do shirk pode ser resumida nos pontos a seguir:
(1) Shirk faz o Criador como a Sua criação, no sentido de que assuntos que são exclusivos de Allah são associados a outros que não têm direito a isso. Portanto, Allah declara que shirk é o maior erro,
“Não associes nada a Allah. Por certo, a idolatria é formidável injustiça." (Alcorão 31:13)
(2) Allah disse que Ele não perdoará o pecado do shirk a menos que a pessoa se arrependa disso,
“Por certo, Allah não perdoa que Lhe associem outra divindade, e perdoa tudo o que for, afora isso, a quem quer.” (Alcorão 4:48)
(3) Allah proibiu o Paraíso para aqueles que não se arrependem de terem cometido shirk, condenando-os ao Inferno pela eternidade,
“Por certo, a quem associa outras divindades a Allah, com efeito, Allah proíbe-lhe o Paraíso, e sua morada é o Fogo.” (Alcorão 5:72)
(3) Todas as boas ações que a pessoa possa ter feito são perdidas, tornam-se inúteis, e serão em vão caso ela morra sem se arrepender do shirk,
“E, com efeito, foi-te revelado e aos que foram antes de ti: "Em verdade, se idolatras, teus atos anular-se-ão e, certamente, serás dos perdedores.” (Alcorão 39:65)
(4) Shirk é o mais mortal de todos os pecados maiores. Em uma ocasião, o Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, perguntou a seus companheiros se eles sabiam qual era o maior de todos os pecados. Ele então explicou-lhes,
“Os pecados maiores são: shirk, não ser gentil com seus pais…” (Sahih Al-Bukhari, Sahih Muslim)
Tipos de Shirk
(1) Shirk Maior (Shirk Akbar)
(2) Shirk Menor (Shirk Asghar)
Definição de Shirk Maior
Shirk Maior é associar outros a Allah naqueles aspectos que Lhes são únicos em Sua pessoa, levar um rival ou associado ao Seu lado, e fazer dele Seu igual.
Shirk em Allah sendo o Senhor
Essa categoria inclui:
(i) Ateísmo (a crença de que os seres humanos não têm um Senhor).
O faraó negou a existência de Allah e proclamou a si mesmo como Senhor de Moisés e do povo do Egito. Ele anunciou ao povo:
"Sou vosso senhor, o altíssimo.” (Alcorão 79:24)
Os filósofos modernos que negam a existência de Allah ou os cientistas que consideram o universo criado por si mesmo ou que não tem começo nem fim se enquadram nessa categoria. Além disso, a ideia de que a própria natureza é Deus ou que Deus habita em Sua criação também é shirk.
(b) A crença de que Allah compartilha Seu domínio e controle sobre a criação.
As pessoas que se enquadram nessa categoria são aquelas que podem acreditar nos poderes e habilidades de Allah, mas também acreditam que Ele é várias "pessoas", que de alguma forma Ele "divide-se" em diferentes seres. Um exemplo são os cristãos que acreditam que Deus é Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, todos ao mesmo tempo. Além disso, os hindus acreditam em um Deus que assume as formas de Brahma - o deus criador, Vishnu - o deus preservador e Shiva - o deus destruidor. O Islam ensina que Deus é Um em todos os sentidos: perfeito, indivisível e completo.
Outro exemplo desse desvio é feito por pessoas que rezam para os mortos. Elas acreditam que as almas dos santos e de outras pessoas podem se intrometer nos assuntos dos homens mortais, que de alguma forma as almas que partiram podem causar mudanças na vida de homens e mulheres, respondendo suas orações ou de outras maneiras. A verdade é que os mortos não têm poder sobre a vida dos vivos; eles não podem responder às orações de ninguém, nem os proteger, nem conceder seus desejos.
Shirk Maior: Shirk nos nomes e atributos de Allah
Tornar Allah como a criação ou tornar a criação como Allah é a essência do shirk sobre os nomes e atributos de Allah. Pode ainda ser classificado em dois tipos:
(i) Humanizar Allah, dando-Lhe atributos semelhantes aos humanos, é shirk. Representações de Deus em pinturas e esculturas são desse tipo. O cristianismo, a principal religião do Ocidente, vê Deus em termos humanos, como consideram Jesus Deus encarnado, por isso naturalmente produziu os gostos de Michelangelo que retratou o Rosto e a Mão de "Deus" em pinturas. Os hindus adoram inúmeros ídolos como formas de Deus. Em oposição, a tradição muçulmana tem sido clara neste ponto por causa dos ensinamentos claros do Alcorão,
“Nada é igual a Ele. E Ele é O Oniouvinte, O Onividente” (Alcorão 42:11)
(ii) Outra forma desse tipo de shirk é quando os seres humanos são divinizados, dando-lhes nomes ou qualidades divinas. Por exemplo, os cristãos elevam Maria, a mãe de Jesus, a um status divino, dando-lhe alguns dos atributos de Allah, como o Misericordioso. Eles também chamam Maria de a mãe de Deus, 'Deus' sendo uma referência ao seu filho Jesus. Este último eles chamaram de Deus Vivo, o Primeiro e o Último - reservados apenas para Deus. O Mensageiro de Allah, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam com ele, disse:
“Allah Todo-Poderoso disse: 'O filho de Adão...Me ofendeu e ele não tinha o direito de fazê-lo ... Quanto a Me ofender, é o seu ditado: Allah tomou para Si um filho, enquanto Eu sou o Único, o Refúgio Eterno. Eu não gerei nem fui gerado, e não há ninguém comparável a Mim.’” (Sahih Al-Bukhari, An-Nasai)
Shirk maior: Shirk no direito de Allah ser adorado
Nessa categoria de shirk, os atos de adoração são direcionados a outros que não Allah e a recompensa pela adoração é buscada da criação, em vez do Criador. Rezar, curvar-se e colocar a testa no chão são atos de adoração reservados apenas a Allah.
“Então, quando eles embarcam no barco, invocam a Allah, sendo sinceros com Ele, na devoção. E, quando Ele os traz a salvo à terra, ei-los que idolatram.” (Alcorão 29:65)
Exemplos de shirk no direito de Allah ser adorado
(1) Amar a Allah corretamente é adorá-Lo. Uma forma de shirk maior é dar a alguém uma porção do amor reservado a Allah. Ele é o único amado por Sua própria causa. Duas coisas amadas por si mesmas não podem coexistir em um coração. O amor a Allah é diferente do amor dos pais, cônjuge ou filhos, pois é acoplado a um sentimento de reverência e santidade e leva a pessoa a rezar a Allah, confiar n'Ele, esperar por Sua misericórdia, temer Seu castigo e adorá-Lo sozinho. Amar outros seres como Allah deve ser amado é shirk no amor. Um muçulmano não deve ser apegado a mais nada a um nível em que escravize seu coração. Os corações se apegam ao poder, dinheiro, glamour, mulheres, música, drogas e álcool, para citar alguns. Essas coisas podem se tornar o "deus" na vida de uma pessoa que persegue dia e noite e, depois que consegue o que ama, trabalha duro para agradá-lo. É por isso que o Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse que um homem que adora o dinheiro sempre será miserável [1] e o Alcorão diz,
“E, dentre os homens, há quem, em vez de Allah, tome semelhantes, em adoração, amando-os como se ama a Allah. E os que crêem são mais veementes no amor de Allah" (Alcorão 2:165)"
(2) Shirk na súplica. Primeiro, súplica ou invocação (conhecida como du'a em árabe) faz parte da adoração, como o Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse:
“A súplica é a essência da oração" (Abu Dawud, Al-Tirmidhi, Ahmad)
Invocar santos mortos, homens justos ou aqueles que estão ausentes e distantes em busca de ajuda e assistência, da forma como Allah deveria ter recebido a oração, é shirk maior. Isso inclui rezar, invocar ou suplicar a uma falsa divindade, profeta, anjo, santo, ídolo ou qualquer coisa além de Allah. Os cristãos rezam a um homem, o Profeta de Allah, Jesus, a quem eles afirmam ter sido Deus encarnado. Os católicos rezam aos santos, anjos e Maria como a "mãe de Deus". Também é shirk rezar ao Profeta Muhammad, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, ou aos homens santos falecidos, acreditando que podem responder orações, como Allah diz,
“Dize: 'Por certo, foi-me coibido de adorar os que invocais, além de Allah.'” (Alcorão 6:56)
“E não invoques, além de Allah, o que não te beneficia nem te prejudica. Então, se o fizeres, por certo, será, nesse caso, dos injustos.” (Alcorão 10:106)
“Se os convocais, não ouvirão vossa convocação. E, se a ouvissem, não vos atenderiam. E, no Dia da Ressurreição, renegarão vossa idolatria. E ninguém te informa da Verdade como Um Conhecedor.” (Alcorão 35:14)
(3) Shirk na obediência. Allah é o único governante dos assuntos dos homens. Allah é o Juiz supremo[2], o Juiz absoluto e o Legislador. Ele distingue o certo do errado. Assim como o mundo físico se submete ao seu Senhor, os seres humanos devem se submeter ao Seu ensino moral e religioso, o Senhor que separa o certo do errado para eles. Em outras palavras, somente Allah tem autoridade para fazer leis, determinar atos de adoração, decidir princípios e estabelecer padrões de interação e comportamento humano. Seu é o comando:
“Ora, d'Ele é a criação e a ordem." (7:54)
“Não adorais, em vez de d'Ele, senão nomes de ídolos que nomeastes, vós e vossos pais, dos quais Allah não fez descer comprovação alguma. O julgamento não é senão de Allah. Ele ordenou que não adoreis senão a Ele. Essa é a religião reta, mas a maioria dos homens não sabe.” (Alcorão 12:40)
Obedecer a líderes religiosos em questões de clara desobediência a Allah é uma forma de shirk maior, como diz Allah:
“Tomam (referindo-se aos Judeus e Cristãos) seus rabinos e seus monges por senhores, além de Allah.” (Alcorão 9:31)
Eles fizeram parceiros para Allah não por rezarem diretamente a eles, mas por aceitarem voluntariamente seus rabinos e clérigos, transformando o lícito em ilícito e o ilícito em lícito na religião de Allah. Eles deram a seus homens religiosos a autoridade que Allah tem - para estabelecer a lei divina. Por exemplo, o Papa da Igreja Católica Romana tem autoridade para determinar como Deus deve ser adorado. Ele tem total autoridade para interpretar, mudar e cancelar suas próprias leis e as estabelecidas por papas anteriores, portanto, ele determina o serviço litúrgico e o jejum.
(4) Fazer juramento por outro que não seja Allah.
(5) Sacrificar um animal para venerar ou agradar alguém além de Allah, como um santo.
(6) Andar pelos túmulos dos santos. Curvar-se ou prostrar-se para pessoas ou túmulos.
(7) Temer que outros seres como Allah devam ser temidos em afligir alguém com punição.
(8) Buscar ajuda sobrenatural e ajuda de outros que não Allah, do que eles não são capazes de fornecer, como pedir ajuda a anjos ou santos.
(9) Fazer um 'intermediário' (intercessor) entre si e Allah, rezando ao 'intermediário' e confiando nele.
Definição de shirk menor
Shirk menor é o que especificamente tem sido chamado de shirk no Alcorão e na Sunnah, mas que não chega ao nível de shirk maior. O shirk menor também leva ao shirk maior. Alguns sábios disseram que o shirk menor é tão amplo que é difícil defini-lo precisamente. Os exemplos mais importantes de shirk menor são:
Amuletos e talismãs
Usar encantos, talismãs e amuletos para proteção contra o mau-olhado, azar e coisas do tipo, achando que Allah colocou neles esses poderes constituem shirk menor. Isto é discutido mais detalhadamente aqui.
Fazer um juramento em nome de outro que não seja Allah
Fazer juramento, ou promessa, em nome de alguém que não seja Allah é um tipo e shirk menor, dado que a pessoa não tem a intenção de venerar àquele em cujo nome o juramento está sendo feito, caso contrário torna-se shirk maior. O Mensageiro de Allah, que a misericórdia e bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse:
“Quem faz um juramento em nome de outro que não seja Allah comete descrença ou shirk.”[1]
Riya (exibicionismo)
O Mensageiro de Allah disse:
“A coisa que eu mais tenho medo é o shirk menor.”
Disseram: "Ó Mensageiro de Allah, o que é shirk? menor?” Ele disse:
“Riya (exibicionismo), pois Allah dirá no Dia quando as pessoas são recompensadas por suas ações: 'Vá para aqueles para quem você estava exibindo suas ações no mundo, e veja qual recompensa achará com eles.’” (Ahmad)
Riya é fazer uma adoração para ser visto e elogiado pelas pessoas. Ela anula a ação; a pessoa ganha pecado ao invés de recompensa de Allah, e isso a expõe à punição.
Por natureza, os seres humanos gostam de ser louvados, não gostam de críticas e não gostam de ser vistos de maneira alguma imperfeitos. O Islam vê na prática de atos religiosos para impressionar os outros, em vez de agradar a Allah - o que deveria ter sido feito para Allah é feito para as pessoas - como shirk. O Mensageiro de Allah disse:
“Allah (Glorificado e Exaltado seja) disse: Eu sou tão autossuficiente que não preciso de parceiro. Assim, aquele que fizer uma ação pelo bem de outro alguém, assim como o Meu, terá aquela ação rejeitada por Mim àquele a quem Me associou.’” (Sahih Muslim)
Existe uma boa chance de um crente cair em riya porque isso está escondido, está no coração, polui a intenção, e a pessoa tem que ser extremamente vigilante para corrigi-la. Ibn Abbas, um dos companheiros do Profeta, disse:
“O Shirk na nação muçulmana está mais camuflado do que uma formiga preta rastejando em uma pedra preta no meio de uma noite sem lua.”[2]
A intenção é uma questão simples, mas às vezes mudá-la pode ser difícil. Uma pessoa tem que ouvir seu coração e ver o que motiva uma determinada ação. Um muçulmano deve observar cuidadosamente sua intenção para mantê-la pura sempre que realizar uma boa ação como o salah (oração ritual), dar caridade, jejum, servir seus pais ou até sorrir. Talvez seja por isso que dizer o nome de Allah tenha sido prescrito antes de todos os atos de importância na vida cotidiana - comer, beber, dormir, ir ao banheiro, acordar. Lembrar de Allah mantém o coração consciente de Allah e a intenção pura.
Vamos entender como a riya pode afetar a adoração em exemplos claros:
(a) Digamos que o motivo primário quando você levanta para rezar é para que as pessoas te vejam ou notem que você está rezando, querendo ser elogiado. Isso invalida o ato de adoração.
(b) Digamos que você tenha começado a rezar com sinceridade, sua intenção era rezar para Allah, mas aí você começou a pensar sobre agradar as pessoas e, lentamente sua intenção mudou. Você faz uma das duas coisas. Se resistir à tentação de ser notado, isso não terá efeito algum sobre você, porque o Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse: "Allah perdoou minha ummah por aquilo que lhes cruza a mente, desde que eles não ajam ou falem sobre isso." Mas, se você não fizer nada e não resistir à tentação de fazer o ato de adoração para ser visto ou notado, e ao contrário você começar a embelezar seu salah (oração ritual) para ser visto, todo o ato de adoração pode se tornar inválido.
(c) Elogios imprevisíveis não são prejudicais. O Profeta foi perguntado a respeito e disse: "Essas são as primeiras boas novas do crente." Não é exibição se a pessoa se sente feliz por ter feito um ato de adoração, na verdade é um sinal da sua fé. O Profeta, que a misericórdia e a bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse:
“Aquele que se sente feliz por causa de suas boas ações e triste por causa de suas más ações, este é o verdadeiro crente.”
O Profeta nos forneceu palavras de proteção contra esse shirk imperceptível que pode ser dito a qualquer hora do dia. Um dia o Profeta proferiu um sermão dizendo,
‘Ó povo, temam o 'shirk', pois é mais oculto do que o rastejar de uma formiga.' (At-Tabarani)
Aqueles a quem Allah desejou perguntaram: 'E como evitamos quando está mais escondido do que o rastejar de uma formiga, ó Mensageiro de Allah?' Ele respondeu: “Digam,
‘Allah-humma inna na-udthu-bika an nush-rika bika shay-ann naa-lamu, wa nas-tagh-fi-ruka limaa laa naa-lam.’
‘Ó Allah buscamos em Ti refúgio de cometermos shirk conscientemente contra Ti, e buscamos perdão por aquilo que fazemos inconscientemente.’”[3]
Diferenças entre shirk maior e shirk menor
(1) Possuem definições diferentes.
(2) O shirk maior tira a pessoa do Islam, enquanto o shikr menor não tira, mas reduz a crença da pessoa em Allah.
(3) A pessoa que morre cometendo shirk maior ficará no inferno pela eternidade; não é esse o caso de alguém que comete shirk menor.
(4) O shirk maior apaga e anula todas as boas ações, enquanto o shirk menor apenas arruína os atos que motivam ou fazem parte.
(5) Allah não perdoa o shirk maior, a não ser através do arrependimento feito antes da morte, enquanto o shirk menor cabe a Allah perdoar ou castigar.
Por milhares de anos, as pessoas tentaram atrair a boa sorte e evitar a má sorte para eles e suas propriedades usando feitiços, amuletos e talismãs. Feitiço é um conjunto de conhecimentos e técnicas que se usam para enfeitiçar[1]. Um talismã é um objeto carregado de força magnética e poderes especiais que são transmitidos a quem o traz consigo[2] e que é utilizado para evitar o mal e atrair boa sorte. Os amuletos eram usados para proteger o homem ou suas posses, como casas e gado, das influências perversas de bruxas, demônios e outros poderes malignos, ou para combater infortúnios e doenças. Os amuletos existem tanto no Oriente como no Ocidente, entre tribos e nações até os dias atuais. Assírios e egípcios, gregos e romanos, judeus e cristãos, fomentaram essa superstição antiga e, em diversos graus, continuam a promovê-la hoje[3]. Apesar dos avanços técnicos e científicos, superstições e amuletos continuam a invadir a sociedade ocidental. Alguns dos amuletos populares no Ocidente são:
(1) A ferradura. É um dos amuletos mais comuns hoje em dia, é usado em forma de jóias, ornamentos de parede e imagens impressas. O uso de ferraduras desgastadas como amuletos magicamente protetores ―especialmente pendurados ao lado das entradas― teve origem na Europa, onde ainda podem ser encontradas presas em casas, celeiros e estábulos da Itália à Alemanha, Grã-Bretanha e Escandinávia.
(2) O trevo de quatro folhas. Esse é um dos emblemas da sorte mais comuns na América do Norte e é uma imagem particularmente frequente nas moedas e cartões postais de boa sorte.
(3) A fúrcula ou osso dos desejos. É o terceiro amuleto mais popular, depois da ferradura e do trevo de quatro folhas. É um osso que cobre o esterno das aves, como o frango ou peru. É habitual manter esse osso intacto depois de comer o pássaro e então secá-lo no fogão ou no fogo até ficar quebradiço. Depois de seco, é dado a duas pessoas, que o separam até que se rache, cada uma fazendo um desejo ao fazê-lo. A pessoa que obtiver a "metade mais longa" do osso do desejo verá seu desejo “realizado”. Se o osso quebrar igualmente, ambas as partes obtêm seus desejos.
(4) O pé de coelho.
(5) Braceletes.
(6) Moedas de boa sorte ou "moedas de bolso".
(7) O Buda da sorte ou sorridente que é comumente encontrado em lojas e restaurantes orientais.
O crucifixo. Quando abençoado, é considerado um sacramento importante.
Amuletos hebraicos: pingente da estrela de Davi na folha de uva. Antigamente era usado como um símbolo cabalístico mágico.
Feitiços e amuletos na Arábia pré-islâmica
Os amuletos árabes (tamimah) são feitos de pérolas ou ossos que crianças ou adultos usam no pescoço ou são pendurados em casas ou carros, a fim de se proteger do mal ―especialmente do mal olhado― ou para obter algum benefício . Os árabes da época do Profeta Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) costumavam usar braceletes, pulseiras, colares de contas, conchas e amuletos semelhantes para atrair boa sorte ou evitar a má sorte.
O regulamento islâmico sobre amuletos
Allah é o único Senhor e Governante do mundo físico. "Senhor" significa que Ele é o Criador e controla todos os assuntos do universo; o Reino dos céus e da Terra pertence exclusivamente a Ele, e Ele é o Dono deles. Somente Ele tirou a existência da inexistência e depende Dele para sua conservação e continuação. Seu poder é necessário o tempo todo para sustentar todas as criaturas. Anjos, profetas, seres humanos e reinos de animais e plantas estão sob Seu controle. Somente Deus sabe o que o futuro reserva. A boa sorte e a má sorte são apenas de Allah.
A fé em feitiços, encantos e talismãs contradiz a crença no Senhorio de Allah ao atribuir a seres ou objetos criados a capacidade de atrair boa sorte ou evitar a má sorte, quando somente Allah é Quem pode trazer o bem e evitar danos. Portanto, o Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) se opôs a essas práticas supersticiosas e ensinou as pessoas a acreditar firmemente em seu Senhor, em vez de acreditar em encantos que não podem mudar o que Allah tem destinado e não pode trazer boa sorte a ninguém. Com o tempo, a crença em amuletos geralmente leva à idolatria. Isso pode ser visto entre os católicos, onde o crucifixo, as estátuas e os medalhões dos santos são usados ou mantidos para obter bênçãos e boa sorte.
Quando as pessoas aceitavam o Islam na época do Profeta, carregavam amuletos de sua antiga religião, e o Profeta as proibia estritamente de se apegar a eles:
(1) O Mensageiro de Allah (que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse:
"Feitiços (ruqiah), feitiços de amor e amuletos são shirk" (Ahmad, Abu Dawud).
(2) O Mensageiro de Allah disse:
"Que Allah não satisfaça a necessidade de quem usa um amuleto; e que Allah não dê paz a quem usa uma concha do mar" (Ahmad).
(3) Um grupo veio ao Mensageiro de Allah para jurar-lhe lealdade e ele aceitou a lealdade de nove deles. Então disseram: “Mensageiro de Allah, aceitaste a lealdade de nove, mas não deste." O Profeta disse:
“Ele usa um amuleto.”
O homem colocou a mão dentro da camisa e o tirou, depois o Profeta aceitou seu juramento de lealdade, dizendo:
‘Quem usa amuletos comete shirk.” (Ahmad)
Os companheiros aderiram estritamente à proibição estabelecida pelo Profeta sobre os amuletos. Eles se opunham abertamente a essas práticas, mesmo entre os membros de suas famílias. Por exemplo, Hudhaifah, um dos companheiros do Profeta, visitou um homem doente e, vendo que ele estava usando um bracelete, arrancou-o e quebrou-o, depois recitou o versículo:
“E a maioria deles não crê em Allah senão enquanto idólatras.” (Alcorão 12:106)[4]
Em outra ocasião, tocou a parte superior do braço de um homem doente e encontrou um bracelete de cordão presa a ele. O homem disse a Hudhaifah que continha um feitiço feito especialmente para ele, então Hudhaifah o interrompeu e disse: "Se você tivesse morrido com ele, eu nunca teria rezado no seu funeral"[5]
Certa vez, Ibn Mas'ud disse: "Ouvi o Mensageiro de Allah dizer:
‘'Feitiços (ruqiah), amuletos e feitiços de amor são shirk.'”
Zainab, a esposa de Ibn Mas'ud, disse: "Por que você diz isso? Por Allah, meus olhos costumavam supurar, então fui a um judeu, que me pôs um feitiço aqui (indicando um colar de contas) , e [meu olho] se acalmou." Ibn Mas'ud arrancou-o do pescoço e quebrou-o. "Certamente, a família de Abdullah não necessita do shirk", disse, "isso foi somente obra do diabo que o estava picando com sua mão, e quando (o judeu) pronunciou o feitiço, se deteve. Tudo o que tinha que fazer era dizer o que o Mensageiro de Allah costumava dizer:
‘Adhhib il-ba’s Rabb al-naas ishfi anta al-Shaafi laa shifaa’a illa shifaa’uka shifaa’an laa yughaadiru saqaman
“Remove o dano, ó Senhor da humanidade, e cure, Tu és o Curador. Não há cura senão a Tua cura, uma cura que não deixa nenhuma doença para trás.” (Abu Dawud, Ibn Majah)
Usar um amuleto é shirk, porque, em vez de confiar em Allah, o coração se apega ao amuleto, acreditando que trará boa sorte e amor, ou que evitará má sorte ou doença.
O regulamento islâmico sobre feitiços e amuletos do Alcorão
Alguns muçulmanos usam o Alcorão como um amuleto de boa sorte, seja pendurado dentro de seus carros, em chaveiros, em pulseiras ou colares, usam alcorões em miniatura como medalhões. Palavras ou frases como: Allah, Bissmillah, La ilaha illa Allah ou versículos específicos do Alcorão, às vezes escritas em letras pequenas e ilegíveis, são usadas como pingentes ou relicários. Usar essas coisas como decoração não é shirk, mas a maioria das pessoas as usa para se proteger ou obter bênçãos. Portanto, essa prática de usar o Alcorão como amuleto para dar sorte é proibida pelos seguintes motivos:
(i) Pode levar ao uso de amuletos de outros tipos que são considerados shirk.
(ii) A possibilidade de entrar no banheiro usando um objeto que contenha o nome ou a Palavra de Allah, o qual é desrespeitoso. (Lembre-se de que nem sempre é possível remover esses acessórios toda vez que você entra no banheiro).
(iii) O próprio Profeta não usou tais amuletos nem incentivou os membros de sua família a usá-los como proteção ou bênção, mas alertou contra todas as formas de amuletos.