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No decorrer dos séculos, a humanidade passou por inúmeros conflitos cujas raízes encontravam-se plantadas em questões étnicas e religiosas, marcadas sobretudo pela intolerância e pela falta de conhecimento em relação ao outro e a tudo o que era diverso da realidade conhecida.





O ápice destes conflitos sempre foi alcançado quando, ao se perder a noção de justiça, os inocentes morriam sob a égide de palavras como liberdade, direito e religião. Na verdade, estas palavras sempre serviram a objetivos outros que não a integridade física, moral e espiritual das criaturas.





 





Com a evolução dos tempos fez-se necessária a instituição do diálogo, único meio inteligente para oferecer aos seres humanos uma qualidade de vida decente e honrada, pois ninguém, em tempo algum, consegue conviver indefinidamente com a dor, com a injustiça e com o preconceito.





Na sociedade moderna, pensadores e filósofos de grande estatura, aliados aos integrantes lúcidos que ainda sobrevivem no nosso meio, estão concluindo que o único caminho para uma sociedade segura, igualitária e desenvolvida é o entendimento, o respeito e a instituição da justiça para todo e qualquer cidadão, seja ele de que raça for, professe ele a religião que for e tenha ele a condição social que tiver.





Muito se perdeu ao longo dos séculos pelo simples fato de que é mais fácil combater o desconhecido do que tentar compreendê-lo. O desentendimento, ao invés de levar ao progresso, sempre levou apenas à destruição e ao retrocesso social e espiritual, acentuando as diferenças, acendendo o ódio nos corações e levando a um distanciamento cada vez maior entre os povos.





Porém, cabe lembrar que nunca é tarde para se iniciar o diálogo e que aquele que realmente deseja a paz e busca uma convivência harmoniosa com o outro, agindo com seriedade, procurando as igualdades a partir do entendimento das diferenças, com certeza alcançará êxito na sua empreitada. Estamos num momento crucial, no qual se faz necessário agir de fato, pois o tempo está se esgotando e se continuarmos de braços cruzados nem nós, nem nossos filhos, terão um amanhã.





O homem evoluiu no campo material e tecnológico, mas esqueceu-se da evolução espiritual, da evolução do ser humano enquanto criatura de Deus, e com este esquecimento levou a sociedade a tal nível de desequilíbrio, que hoje mais vale o poder político e financeiro do que a vida de um ser humano.





Deus no Alcorão Sagrado é claro quando ordena o diálogo entre as criaturas : “…E debata com eles, e dialogue com eles da melhor forma possível.”





Na própria história do Islã, temos exemplos claros de que o diálogo pode impedir guerras e pode mudar pontos de vistas em princípio negativos. Na primeira emigração para a Abissínia, aliás, a primeira emigração no islamismo, descrentes, que não viam com bons olhos os ensinamentos do Profeta Muhammad (S.A.A.W), viajaram até a presença do rei daquele país e depuseram contra os muçulmanos que para ali haviam se dirigido, com o objetivo de vê-los expulsos das novas terras. O rei, que era cristão, impressionou-se com as infâmias lançadas sobre os muçulmanos. Porém, como homem justo que era, chamou a sua presença um representante muçulmano para que ele pudesse expor os princípios da sua fé. Ao ouvir o depoimento o rei lançou questionamentos, tentou entender a doutrina islâmica e, dialogando com uma fé diferente da sua, que vinha de um mundo diferente daquele conhecido por ele, descobriu que, apesar de parecerem diferentes, havia muitas semelhanças entre os dois grupos. E não só os recebeu como lhes ofereceu proteção enquanto estivessem em seus domínios. Isto é tolerância! E anos depois, este mesmo rei converteu-se ao Islã por livre e espontânea vontade.





Temos ainda o exemplo do Acordo de Hudaibiya, onde o Profeta Muhammad firmou com os coraixitas, seus perseguidores ferrenhos e implacáveis, um acordo de paz que evitou o derramamento inútil de sangue e perdas de vidas de ambos os lados. Este acordo apenas deixou de existir quando os coraixitas deixaram de cumprir o que havia sido acordado, pois o Profeta, seguindo as ordens de Deus, sempre procurou o diálogo. Isto é a busca do entendimento e da paz! Infelizmente nos dias atuais, o que vemos são superpotências que se aproveitam de sua posição para massacrar países em desenvolvimento, usurpando os direitos de seus cidadãos, cometendo injustiças de toda sorte e chegando ao cúmulo de impedir auxílio humanitário que poderia salvar a vida de velhos e crianças, levando-os ao caminho da fome e da doença.





Sob a falsa bandeira da justiça, inventam palavras de ordem e, com a desculpa de erradicar os fanatismos, destroem vidas preciosas, pois toda criatura de Deus tem um valor inimaginável e não somos nós os detentores do conhecimento da alma e do pensamento que impulsiona uma criatura pela luta daquilo que ela julga justo. Ao invés de buscar o entendimento, de compreender e tentar se fazer compreender, de mostrar seu ponto de vista e tentar alcançar um meio termo que agrade a ambos os lados, estas superpotências arvoram-se o poder de representantes divinos na terra, esquecendo-se que o Criador é Único e Absoluto e que a Sua ordem sempre foi a busca da paz e da justiça.





Esquecem-se das inúmeras contribuições científicas, políticas, sociais, artísticas, arquitetônicas, lingüísticas, legais, médicas destes povos. Contrafeitos, fecham os olhos para a herança que receberam destas populações no que tange a formação dos valores familiares, éticos e culturais.





Deus diz no Alcorão Sagrado: “Quem tira a vida de um inocente, é como se tivesse assassinado toda humanidade e quem salva uma vida inocente, é como se tivesse salvado toda a humanidade.” As palavras divinas comprovam que tragédias como o atentado aos Estados Unidos são tão abomináveis quanto a matança de inocentes no Afeganistão, na Espanha, na Irlanda, em Angola, ou em qualquer parte do mundo, pois são fruto da falta de diálogo e de respeito, que culminam na insensatez e na injustiça.





Como seres inteligentes, é necessário que abramos os olhos, a mente e o coração ao nosso próximo, fazendo o possível para conviver em harmonia, mesmo que em muitos casos não concordemos inteiramente com as idéias que nos cercam. É preciso pensar no futuro e trabalhar com afinco para que ele seja mais frutífero não apenas para nós, mas para as gerações vindouras, deixando de lado a demagogia e ensinando aos nossos filhos, parentes, vizinhos, através de nossos exemplos, o caminho da harmonia, do respeito e da cordialidade.





Algumas pessoas já começaram este trabalho de modificação interior. Procuram, através da pesquisa séria, compreender o outro lado e por vezes este é um trabalho difícil. Porém, Deus dotou o ser humano de uma capacidade incomensurável de reflexão e nós, por preguiça e amor ao ócio, embotamos esta capacidade, deixando-a de tal maneira escondida que muitas vezes nem temos consciência de que ela se encontra viva dentro de nós.





Um embate se trava entre o Ocidente e o Oriente, como se fossem dois mundos completamente separados, como se Deus tivesse criado dois tipos de seres e os tivesse distribuído por estes dois extremos. Cabe refletir na ignorância deste ponto de vista: Deus não cria pessoas de primeira e segunda classe. Criou, isto sim, seres com distintas formas de interagir com o mundo e o que se deve é buscar na diferença existente o caminho para melhorar nossa própria existência. Não se pode viver olhando o vizinho como um eterno inimigo, mas sim tentar transformar uma relação, por vezes imbuída de ódio, em uma relação proveitosa para ambos. Ninguém pode ser o melhor em tudo e do sucesso do outro advirá o nosso próprio sucesso. Basta lançar um olhar pelas pesquisas médicas e veremos o quanto as tentativas de um podem fazer por toda uma população, e quanto pode ser útil para o avanço clínico. Isto se aplica a todos os campos da vida, pois a existência é como uma teia de aranha, onde os fios cruzam-se de tal forma que se não houver cuidado, toda a rede se destrói.





Comecemos esta modificação com a correção dos nossos pequenos e tão arraigados maus hábitos e com um trabalho de aperfeiçoamento de nossas qualidades, fortalecendo-as, substituindo, por exemplo, o mau humor por um sorriso. O Profeta Muhammad dizia: “O sorriso para um irmão é também uma caridade”. E quanto se pode construir com este simples gesto.





Ao continuar com este trabalho de modificação interior, a cada dia a humanidade ganhará um pouco mais da sua hegemonia e terminará seus dias com a total recuperação daquelas que são suas características ímpares: o dom de amar o próximo e ser por ele amado, de construir, com a força de seu trabalho e de sua inteligência, um mundo melhor para aqueles que estão por nascer. E sem dúvida a construção daquele que deve ser o grande objetivo dos seres humanos: seguir as ordens de Deus e caminhar de mãos dadas, todos juntos rumo ao Paraíso.





Sheikh Jihad Hassan Hammadeh


Historiador e Cientista Social, é Vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica -WAMY.





 



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