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As pessoas envolvidas na transmissão de um hadith constituem seu isnad.  O isnad nos informa sobre a fonte do hadith e essa informação posteriormente se torna uma parte essencial do hadith (Azami 31). Relata-se que Abdullah b. Al-Mubarak, um dos professors de al-Bukhari, disse: “O isnad é parte da religião, porque se não fosse pelo isnad, qualquer um teria dito o que quisesse” (Hasan 11) [1] .  Existe alguma indicação de que o isnad foi usado antes da primeira tribulação, embora só tenha sido plenamente desenvolvido no fim do primeiro século da Hégira (Azami 33). (Entretanto, John Burton em seu An Introduction to the Hadith (Uma Introdução aos Hadiths, em tradução livre) diz que o isnad ainda não existia no primeiro século). A outra parte do hadith que contém o dito ou ação específicos do profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, é seu matn ou texto.





Na classificação de hadiths existem várias categorias amplas, das quais somente sete serão brevemente discutidas aqui.  As sete categorias são classificações de acordo com: 1) a referência a uma autoridade particular; 2) os elos no isnad; 3) o número de relatores envolvidos em cada etapa do isnad; 4) a técnica usada no relato do hadith; 5) a natureza do isnad e matn; 6) um defeito oculto encontrado no isnad ou matn do hadith; e 7) a confiabilidade e memória dos relatores (Hasan 14-16).





A primeira categoria, a classificação de acordo com a referência a uma autoridade particular, pertence a se ela vai até o profeta, um Companheiro ou um Sucessor.  Uma narração marfu ou “elevada” é a que vai até o profeta e é considerada como o melhor nível (Burton 112). Uma narração mawquf ou “interrompida” é a que vai até um Companheiro, enquanto que uma narração maqtu ou “dividida” vai até um Sucessor.  Essa classificação é significativa porque diferencia entre os ditos e ações do profeta e as de um Companheiro ou Sucessor.





A segunda categoria, classificação de acordo com os elos no isnad, faz várias distinções.  O hadith musnad ou “apoiado” é o melhor do grupo já que não contém interrupção na cadeia de autoridades que relatam o hadith até o profeta (Burton 111). O hadith mursal ou “desvinculado” é o que contém uma lacuna de uma geração (de acordo tanto com Azami quanto com Hasan, é um hadith relatado por um Sucessor que pula no isnad o Companheiro de quem ele aprendeu).  O hadith munqati ou “quebrado” é aquele em que falta um elo mais próximo ao tradicionalista que o relata (ou seja, antes do Sucessor).  Isso se aplica mesmo que não pareça existir interrupção na cadeia, mas seja sabido que um dos relatores não poderia ter ouvido o hadith da autoridade imediata dada no isnad, mesmo que sejam contemporâneos.  O termo munqati também é usado por alguns sábios para se referir a um hadith no qual um relator não informa sua autoridade e ao invés disso diz “um homem narrou para mim” (Hasan 22). Um hadith é mudal ou “confuso” se mais de um relator consecutivo estiver faltando no isnad.  Se o isnad é completamente ignorado e o relator cita diretamente do profeta, o hadith é considerado muallaq ou “suspenso” (Hasan 22).





Dentro da terceira categoria os hadiths são classificados de acordo com o número de relatores em cada etapa do isnad, ou seja, em cada geração de relatores.  As duas principais classificações são mutawatir (“consecutivo”) e ahad (“único”), embora o ahad seja ainda dividido em muitas subdivisões, entre elas gharib (“escasso” ou “estranho”), ‘aziz (“raro” ou “forte”) e mash’hur (“famoso”). Um hadith mutawatir é aquele que é relatado por um grande número de pessoas fazendo com que um acordo sobre uma mentira não seja razoavelmente possível e no qual a possibilidade de coincidência é desprezível.  O número mínimo exigido de relatores difere entre os sábios de hadith e varia de quatro a várias centenas (Azami 43). O hadith pode ser mutawatir no significado ou palavras, sendo o primeiro caso o tipo mais comum.  Al-Ghazali estipulou que o hadith deve ser mutawatir nos estágios inicial, intermediário e final de seu isnad(Hasan 30). Um hadith ahad é aquele cujo número de relatores não chega perto do exigido de um hadith mutawatir.  Um hadith é classificado como gharib se em qualquer estágio (ou todos os estágios) no isnad existe somente uma pessoa relatando-o. Um hadith é classificado como azizse em cada estágio no isnad existem pelo menos duas pessoas relatando-o. Se pelo menos três pessoas relatarem um hadith em cada estágio de seu isnad, então ele é classificado como mash’hur, embora o termo também seja aplicado aos hadiths que iniciam como gharib ou aziz, mas terminam com um grande número de relatores (Hasan 32).





Na quarta categoria os hadiths são classificados de acordo com a forma na qual são relatados.  Como mencionado anteriormente, existe um termo especial correspondente para denotar um modo particular de aprendizado ou transmissão quando um aluno ou sábio aprendem um hadith.  Os termos “haddathana,” “akhbarana” e “sami’tu” indicam que o relator pessoalmente ouviu o hadith de seu próprio sheikh.  “An” e “qaala” são mais vagos e podem significar ouvir do sheikh em pessoa ou através de alguém.  Na verdade, “an” é muito inferior e pode significar aprender o hadith através de qualquer um dos vários modos de transmissão (Azami 22). Um hadith pode ser rotulado como fraco devido à incerteza causada pelo uso dos dois últimos termos, que se traduzem respectivamente como “sobre a autoridade de” e “ele disse” (Hasan 33). Quem pratica “tadlis” ou ocultação, relata de seu sheikh o que não ouviu dele ou relata de um contemporâneo com o qual nunca se encontrou.  Isso viola o princípio de que um hadith deve ser ouvido em primeira mão para ser transmitido (Burton 112). Outro tipo de tadlis, que é considerado o pior entre eles, é quando um sábio confiável relata de uma autoridade fraca que por sua vez está relatando de um sábio confiável.  A pessoa que está relatando esse isnad pode mostrar que ele ouviu de seu sheikh, mas então omite a autoridade fraca e simplesmente usa o termo “an” para vincular seu sheikh com o próximo confiável no isnad (Hasan 34).





Se ao longo do isnad todos os relatores (incluindo o profeta) usam o mesmo modo de transmissão, repetem uma afirmação ou observação adicional ou agem de uma forma particular enquanto narram o hadith, então ele é chamado musalsal (“uniformemente vinculado”).  Esse tipo de conhecimento é útil para descontar a possibilidade de tadlis em um hadith particular (Hasan 35).





De acordo com a quinta categoria, um hadith só pode ser classificado com respeito à natureza de seu texto e isnad.  De acordo com Al-Shafi, se um hadith relatado por uma pessoa confiável vai contra a narração de alguém mais confiável que ele, então o hadith é shadh ou “irregular”.  De acordo com Ibn Hajar, se uma narração por um relator fraco contradiz um hadith autêntico, então aquele hadith é classificado como munkar (“denunciado”), embora alguns sábios o classifiquem qualquer hadith de um relator fraco como munkar.  Um hadith também pode ser classificado como munkar se seu texto contradiz ditos gerais do profeta.  Se um hadith relatado por uma pessoa confiável contém alguma informação adicional não narrada por outras fontes autênticas, a adição é aceita desde que não as contradiga e a adição é conhecida como ziyadatu thiqah (“uma adição por alguém confiável”).  Entretanto, se um relator acrescenta algo a um hadith sendo narrado, então o hadith é classificado como mudraj ou “interpolado”.  Se isso ocorre em um hadith geralmente é em seu texto e, com frequência, com o propósito de explicar uma palavra difícil.  Em uns poucos exemplos isso ocorre no isnad - um relator toma uma parte de um isnad e a acrescenta a outro isnad.  Um relator pego no hábito de idraj ou interpolação intencional geralmente é considerado um mentiroso, embora sábios sejam mais lenientes com aqueles relatores que podem ter feito isso para explicar uma palavra difícil (Hasan 37-39).





Na sexta categoria hadiths que contêm defeitos ocultos em seu isnad ou texto são classificados como ma’lul ou mu’allal (“defeituosos”).  Isso pode acontecer devido a classificar um hadith como musnad quando ele é de fato mursal ou atribuir um hadith a um Companheiro particular quando na verdade vem de outro.  Para detectar esses defeitos todos os isnads de um hadith têm que ser coletados e examinados.  Por exemplo:





“Alguns sábios escreveram trabalhos nos quais os Sucessores ouviram hadiths de determinados Companheiros. Dessa informação é sabido que Al-Hasan Al-Basri não encontrou Ali, embora exista uma ligeira chance de que possa tê-lo visto durante sua infância em Medina. Isso é significativo, uma vez que se diz que muitas tradições sufis voltam para Al-Hasan Al-Basri, que se diz ter relatado diretamente de Ali.” (Hasan 42-43)





Também pode haver incerteza sobre o isnad ou texto, em cujo caso o hadith é classificado como mudtarib (“duvidoso”) Isso ocorre se os relatores discordarem sobre alguns pontos no isnad ou texto, de forma que não prevaleça nenhuma opinião.  Um hadith pode ser classificado como maqlub (“alterado” ou “invertido”) se no isnad um nome foi invertido (ou seja, Ka’b b. Murra versus Murra b. Ka’b) ou se a ordem de uma frase no texto estiver invertida (Azami 66). Isso também se aplica aos hadiths cujo texto recebeu um isnad diferente ou vice-versa, ou aqueles nos quais um nome de relator foi substituído por outro (Hasan 41-42).





A sétima e última categoria a ser discutida aqui é a classificação de acordo com a qualidade dos relatores, da qual o veredicto final sobre um hadith depende de forma crítica.  Hadiths relatados por aqueles conhecidos como sendo adilhafizthabit e thiqa são os de classificação mais alta e são classificados como sahih ou “sólido”.  Para alguém ser considerado adil é necessário ter sido um muçulmano muito devoto, honesto e confiável em todos os seus procedimentos.  Através de comparação cuidadosa, o acordo verbal encontrado no texto de um hadith ente vários transmissores indicou quem era o mais preciso (thabit), o mais confiável (thiqa) e quem tinha a melhor memória (hafiz).  Se qualquer sábio se encaixar em menos que esse ideal em uma ou mais categorias, mas não é criticado, então os hadiths relatados por ele são considerados menos que sólido ou hasan (“justo”).  Se um relator for conhecido por ter uma memória fraca ou cometer erros devido à negligência, então seus hadiths são considerados daif (“fraco”) (Burton 110-111).





Claro, existem outros fatores que atuam no veredicto final sobre um hadith e, nas palavras de Ibn Al-Salah, “um hadith sahih é o que tem um isnad contínuo, composto de relatores de memória confiável de autoridades semelhantes e que é livre de quaisquer irregularidades (ou seja, no texto) ou defeitos (ou seja, no isnad).” De acordo com Al-Tirmidhi um hadith hasan é “um hadith que não é shadhdh, nem contém um relator disparatado em seu isnad e que é relatado através de mais de uma rota de narração” (Hasan 44-46). Um hadith que não alcança os requisitos para um hadith hasan é classificado como daif e geralmente devido à descontinuidade no isnad.  Também pode ser classificado como daif se um dos relatores não tiver uma boa reputação por qualquer razão, seja por cometer muitos erros ou ser desonesto.  Se os defeitos forem muitos e graves, o hadith está mais próximo de ser classificado como mawdu ou fabricado.  De acordo com Al-Dhahabi o hadith mawdu é aquele cujo texto contraria normas estabelecidas dos ditos do profeta e cujo isnad contém um mentiroso.  Um hadith também pode ser estabelecido comomawdu devido à “evidência externa relacionada à discrepância encontrada nas datas ou períodos de um incidente particular” (Hasan 49).





Em conclusão, as classificações mencionadas constituem somente uma fração do número total de classificações existentes.  Os estudos em hadith são muito complexos e parece que os sábios pensaram em todos os ângulos imagináveis para analisar um hadith.  Tudo isso com o propósito de distinguir entre tipos diferentes de narrações, especialmente para distinguir o autêntico do não autêntico.



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