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O Islã usa um calendário lunar - ou seja, cada mês começa com a visão da lua nova. Portanto, como o calendário lunar é aproximadamente 11 dias mais curto que o calendário solar, os meses islâmicos "se movem" a cada ano.  Esse ano (2008) o mês islâmico de Ramadã coincide quase exatamente com o mês de setembro.  Para os muçulmanos a chegada do Ramadã é uma fonte de alegria e celebração; entretanto, celebramos de uma maneira que parece estranha para as pessoas que não estão familiarizadas com os princípios do Islã.  O Ramadã não é um mês de festas e socialização. É um mês de adoração.  Jejuar no mês de Ramadã é um dos pilares do Islã.





Os muçulmanos expressam gratidão e amor pelo Único e Verdadeiro Deus obedecendo-O e adorando-O.  Adoramos de acordo com Sua orientação revelada no Alcorão e através das tradições autênticas do profeta Muhammad.  O Ramadã é especial.  É um mês de jejum, leitura e entendimento do Alcorão e orações extras especiais.  As mesquitas ficam vivas à noite quando os muçulmanos se reúnem para quebrar o jejum e orar juntos.  O som rico e suave da recitação do Alcorão é ouvido através das longas noites, à medida que os muçulmanos se colocam ombro a ombro orando e louvando a Deus.





Os muçulmanos em todo o mundo amam o mês de Ramadã e ficam ansiosos por ele com excitação crescente.  Nas semanas que antecedem o Ramadã vidas são escrutinizadas e são feitos planos para um mês de adoração séria e súplicas.  A contagem se inicia e as conversas começam com quantas semanas faltam até a chegada do mês abençoado.  Talvez os não muçulmanos se perguntem por que ficamos ansiosos por dias de jejum e noites sem dormir.  O Ramadã oferece a chance de redenção e grandes recompensas.  É um mês sem igual.  Um mês de reflexão espiritual e oração.  Os corações se afastam de atividades muçulmanas e se voltam para Deus.





No mês de Ramadã todos os muçulmanos saudáveis e fisicamente maduros têm a obrigação de jejuar:  abster-se de todo alimento, bebida, goma de mascar, uso de qualquer tipo de tabaco e qualquer tipo de contato sexual entre a alvorada e o por do sol.  Entretanto, esse é apenas o aspecto físico, mas existem também as características espirituais, que incluem refrear-se de fazer fofocas, mentir, caluniar e todos os traços de mau caráter.  Todas as visões e sons obscenos e ímpios são evitados como forma de purificar pensamentos e ações.  Jejuar também é uma forma de experimentar a fome e desenvolver simpatia pelos menos afortunados, aprendendo a gratidão e apreciação por todas as graças de Deus.





Deus disse:





“Ó vós que credes!  O jejum está prescrito para vós, como foi prescrito àqueles antes de vós, para serdes piedosos.” (Alcorão 2:183)





O profeta Muhammad também nos lembrou que o jejum não é apenas se abster de alimento e bebida, mas existe uma dimensão maior.  Ele disse: "Aquele que não desiste de linguagem e atos obscenos (durante o período de jejum), Deus não precisa que deixe de comer ou beber."[1]





O Ramadã também é um mês em que os muçulmanos tentam estabelecer ou restabelecer uma relação com o Alcorão.  Embora possa parecer uma coisa estranha de dizer, as palavras de Deus são uma luz orientadora e uma misericórdia.  Ninguém lê o Alcorão sem que ele mude sua vida de alguma forma.  O Alcorão foi enviado nesse mês de Ramadã.  Os dois, o Ramadã e o Alcorão, estão inextricavelmente interligados.  Estar com o Alcorão, lendo-o, memorizando-o, recitando-o ou refletindo sobre seus significados é confortante e espiritualmente edificante, além de uma fonte de força.  A recitação à noite é particularmente benéfica, porque as distrações do dia desapareceram e a proximidade com Deus é palpável no silêncio da noite.  São conduzidas orações noturnas especiais, durante as quais são recitadas partes do Alcorão.  Essas orações são conhecidas como Tarawih.  Uma trigésima parte do Alcorão é lida em noites sucessivas, de modo que até o final do mês o Alcorão inteiro tenha sido concluído.





Uma das últimas noites ímpares do mês é a Laylat ul-Qadr, a "Noite do Poder" ou "Noite do Decreto".  É a noite mais sagrada do mês mais sagrado; acredita-se que seja a noite na qual Deus começou a revelar o Alcorão ao profeta Muhammad através do anjo Gabriel.  Esse é um momento para orações especialmente fervorosas e devotadas e as recompensas e bênçãos associadas a ela são muitas.  É dito aos muçulmanos no Alcorão que orar ao longo dessa noite é melhor que mil meses de oração.  Ninguém sabe exatamente qual é a noite; é um dos mistérios de Deus.





O Ramadã também é o mês de boas ações e caridade.  Os muçulmanos tentam doar generosamente e aumentar suas boas ações.  A caridade pode ser tão simples quanto um sorriso; não há necessidade de extravagâncias.  A caridade dada discretamente é melhor para quem a recebe e para quem a dá.  O profeta Muhammad sempre foi uma pessoa generosa, nunca tendo mais do que apenas o suficiente para cobrir suas necessidades imediatas.  Qualquer extra ele doava generosamente aqueles ao seu redor, mas era mais generoso no Ramadã.





Você pode estar se perguntando se essas não são qualidades e virtudes que um muçulmano verdadeiramente devoto a Deus deva manifestar em qualquer mês e está correto.  Certamente são.  Entretanto, como seres humanos todos ficamos aquém, cometemos pecados e erros.  Às vezes a natureza da vida nos faz esquecer nosso verdadeiro propósito.  Nosso propósito é adorar a Deus e Deus, em Sua infinita sabedoria misericórdia, nos deu o Ramadã.  É um mês, que se usado sabiamente, pode recarregar nossas baterias espirituais e físicas.  É um mês cheio de misericórdia e perdão, quando Deus facilita a superação de nossas falhas e nos recompensa em abundância.  É nosso Criador, que compreende que estamos longe da perfeição.  Quando andamos na direção de Deus, Ele vem correndo em nossa direção. Quando estendemos nossa mão Ele nos alcança e concede Seu perdão.  Os muçulmanos amam o Ramadã. É uma fonte de vida.  Ficam ombro a ombro e curvam suas cabeças em submissão.  O Ramadã se espalha em todo o mundo quando os muçulmanos começam e terminam seu jejum juntos, um corpo, um povo, uma nação.  O Ramadã chega suavemente e seus atos ascendem gentilmente até Deus.  Longe de ser um teste de privações, o mês do Ramadã é uma alegria e uma dádiva acima de comparação.  Mesmo antes do mês acabar os muçulmanos começam a lamentar o término desse mês abençoado e tentam prolongar o tempo estando com o Alcorão e adorando a Deus da melhor maneira possível.





Ramadã, o nono mês do calendário lunar islâmico, pode ter 29 ou 30 dias de duração.  Um mês islâmico começa com a visão da lua crescente no horizonte ocidental, imediatamente após o pôr do sol.  Os muçulmanos olham na direção do horizonte ocidental para a lua nova no vigésimo nono dia de Shaban, o oitavo mês.  Se a lua nova é avistada, o Ramadã começou com o pôr do sol, mas o jejum começa com a próxima alvorada.  Se a lua nova não é avistada no vigésimo novo dia, os muçulmanos completam 30 dias de Shaban (o mês anterior) e o Ramadã começa no dia seguinte.





O Significado do Ramadã e do Jejum





Deus diz no Alcorão:





“Ó crentes, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus.” (Alcorão 2:183)





“O mês de Ramadan foi o mês em que foi revelado o Alcorão, orientação para a humanidade e vidência de orientação e Discernimento. Por conseguinte, quem de vós presenciardes o novilúnio deste mês deverá jejuar; porém, quem se achar enfermo ou em viagem jejuará, depois, o mesmo número de dias. Deus vos deseja a comodidade e não a dificuldade, mas cumpri o número (de dias), e glorificai a Deus por ter-vos orientado, a fim de que (Lhe) agradeçais.” (2:185)





O mês de Ramadã é chamado o mês do Alcorão.  Consequentemente, os muçulmanos recitam o Alcorão com frequência nesse mês.





Sawm ou Jejum





Sawm (jejum) começa com a alvorada e termina com o pôr do sol.  Os muçulmanos se levantam antes da alvorada, comem o Suhur (a refeição préalvorada) e bebem uma quantidade adequada de líquidos em preparação para o sawm.  Comer e beber para na alvorada.  Durante o dia não é permitido comer, beber ou ter atividade sexual.  Além disso, um muçulmano deve aderir estritamente ao código moral do Islã já que a não observância desse código pode violar os requisitos para o jejum.





Jejuar no mês de Ramadã é um ato de adoração exigido de todos os muçulmanos que atingiram a puberdade.  As mulheres que estiverem menstruando ou que não se recuperaram totalmente do parto, adiam o jejum até que estejam completamente livres das condições mencionadas.  Além disso, os que estão doentes ou em viagem podem escolher adiar seu jejum.





Os muçulmanos jejuam porque Deus ordenou.  Entretanto, também podem refletir sobre os benefícios de jejuar que incluem desenvolver controle sobre a fome, sede e estímulos sexuais, treinando para ser uma pessoa de boa moral e como teste de sinceridade com o Criador.  Durante o jejum os muçulmanos podem conduzir seus negócios como de costume. 





O jejum é quebrado imediatamente após o pôr do sol, geralmente com a ingestão de tâmaras e água ou suco.  Entretanto, qualquer alimento ou bebida lícito pode ser usado para quebrar o jejum.  Depois fazem o salah (oração após o pôr do sol) de Magreb, que é seguido de uma refeição completa.  Depois de um breve descanso, os muçulmanos vão para a mesquita oferecer a oração de Isha (oração da noite) e então uma oração noturna especial, chamada de tarawih.





Tarawih





Essa oração congregacional noturna é realizada após a oração noturna regular.  Tradicionalmente um Hafiz do Alcorão – uma pessoa que memorizou todo o Alcorão (em árabe) – lidera a oração.  Ele recita o Alcorão em pequenas partes, na sequência adequada todas as noites, e completa a recitação de todo o Alcorão antes do fim do mês de Ramadã.  Todo muçulmano que comparece a essas orações regularmente tem a oportunidade de ouvir a recitação de todo o Alcorão por volta do fim do mês.  Se um Hafiz do Alcorão não estiver disponível, o muçulmano que tiver memorizado a maior parte no grupo lidera a oração, e recita de acordo com sua habilidade.  Muitos estudiosos muçulmanos citam a Sunnah (caminho do Profeta Muhammad) – que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele – que ele sempre orava sozinho durante a noite em sua casa fosse Ramadã ou não, e que esse era o costume de muitos de seus grandes companheiros.





Generosidade do Ramadã





O mês de Ramadã traz muitas bênçãos multiplicadas para aqueles que fazem o bem.  Durante esse mês as pessoas são mais generosas, mais cordiais, amigáveis e mais dispostas que em outras épocas do ano para fazer boas ações.  Os pobres e os necessitados recebem alimento, roupas e dinheiros dos abastados na comunidade.  Muitas pessoas vão à mesquita na vizinhança para a quebra do jejum e para as refeições.  As pessoas na vizinhança enviam frutas, comida e bebida para a mesquita – a atmosfera é a de um jantar amigável toda noite do mês.





Contribuidores bem conhecidos da comunidade muçulmana se encontram cercados pelas pessoas necessitadas em busca de doações.  O zakat, a caridade purificadora dos ricos, e doações são dadas nessa época do ano já que muitos muçulmanos desejam aproveitar a oportunidade de recompensas multiplicadas de Deus.





Uma das qualidades da natureza humana que o Islã encoraja nas pessoas é a generosidade.  A necessidade de ser generoso com a família, amigos, vizinhos, estranhos e até inimigos é mencionada repetidamente em todo o Alcorão e nas tradições autênticas do profeta Muhammad, que Deus o louve.  Não há momento melhor para falar sobre generosidade do que no mês islâmico de Ramadã.





São os últimos dias de Ramadã em 2009 para os muçulmanos em todo o mundo.  Consequentemente, os muçulmanos estão avaliando suas vidas e se perguntando se suas ações cotidianas estão agradando ao seu Criador.  A devoção intensa do Ramadã faz com que os crentes avaliem seus corações e mentes.





Bem conhecido como um mês de jejum, os novos no Islã descobriram que o Ramadã também é um mês de caridade e gentileza.  Os dias de jejum e as noites preenchidas com oração suavizam os corações e criam ondas de compaixão e generosidade.  Esse mês de devoção chegou rapidamente, estabeleceu-se de forma suave e as bênçãos, misericórdia e perdão de Deus desceram.  As bênçãos do Ramadã desaguaram em um rio de generosidade. 





“O profeta, que Deus o exalte, era o mais generoso entre as pessoas e costumava ser mais no mês de Ramadã, quando Gabriel (o anjo) o visitava e Gabriel costumava encontrá-lo todas as noites do Ramadã até o fim do mês.  O profeta costumava recitar o Alcorão para Gabriel e quando Gabriel o encontrava, costumava ser mais generoso que um vento rápido (que propaga a chuva e outras bênçãos).” (Saheeh Al-Bukhari)





Ao longo dos 29/30 dias de jejum, os muçulmanos doam de forma generosa.  Vão fundo em seus bolsos e doam para caridades e os necessitados, abertamente e em segredo.  Entretanto, a caridade no Islã não é somente doação de dinheiro.  É qualquer ato de gentileza ou generosidade feito com coração aberto e um desejo de agradar a Deus.  A caridade é algo simples como um sorriso ou grande como um gesto de construir uma escola ou um hospital; a caridade é também qualquer ato gentil ou generoso entre esses dois pontos.





Os muçulmanos são encorajados a ser generosos em todos os momentos, entretanto, o Ramadã serve como um lembrete.  Quando as preocupações do mundo e as tribulações da vida são avassaladoras os seres humanos tendem a esquecer de que Deus proveu bênçãos muito numerosas para serem contadas.  O Ramadã nos lembra de que essas bênçãos não devem ficar ocultas.  Deus espera que sejamos generosos e façamos caridade com o que Ele proveu.





Deus é Al Karim, o mais generoso.  Tudo se origina Dele e tudo, no fim, retornará para Ele. Portanto, faz sentido considerar nossos bens e riqueza como custódias.  Somos obrigados a preservar, proteger e compartilhar aquilo que nos foi provido.





“Dize: Em verdade, meu Senhor prodigaliza e restringe Sua graça a quem Lhe apraz. Tudo quanto distribuirdes em caridade Ele vo-lo restituirá,  porque é o melhor dos agraciadores.” (Alcorão 34:40)





Durante o Ramadã os muçulmanos olham para os exemplos do profeta Muhammad, que Deus o exalte, e seus companheiros e contemplam o verdadeiro significado da generosidade.  Não significa dar algo que não queira mais.  Significa dar daquelas coisas que ama e deseja ou, em muitos casos, até precisa.





Aisha (a esposa do profeta) disse: “Uma mulher, junto com suas duas filhas, veio até mim pedir caridade, mas eu não tinha nada exceto uma tâmara, que dei a ela e ela dividiu entre suas duas filhas.” (Saheeh Al-Bukhari)





Os homens e mulheres ao redor do profeta Muhammad compreendiam o verdadeiro valor da generosidade.  Reconheciam que aqueles atos gentis e generosos são um investimento no futuro.  Nossas boas ações, palavras atenciosas e atos de gentileza aleatória serão recompensados abundantemente na outra vida.  Todo o dinheiro que gastamos em nome de agradar a Deus nos será devolvido multiplicado.  Todos os bens que doamos livremente, serão substituídos, se não nessa vida, na outra vida.





Embora a generosidade seja um ato virtuoso em qualquer época do ano, durante o Ramadã nossas boas ações e atos de gentileza e generosidade serão recompensados muitas vezes mais.  É um mês de misericórdia, quando Deus nos permite colher recompensas que superam em muito quaisquer pecados que possamos ter acumulado ao longo do ano.  O Ramadã é um mês cheio de recordações da generosidade, gentileza e perdão de Deus.  Deus perdoa as faltas e pecados da humanidade, mesmo que sejam tão numerosos quanto a espuma do mar[1]  e seu perdão e misericórdia não estão restritos ao Ramadã.





Entretanto, esse mês, o mês que contém um dia melhor que 1.000 meses passados em adoração (Alcorão 97:1-5) é sinal do amor de Deus pela humanidade.  O Ramadã é um momento em que os crentes separam 30 dias para devoção e generosidade especiais.  O jejum de Ramadã lembra aos crentes que o mundo está cheio de pessoas incapazes de encontrar comida ou bebida suficientes para suas necessidades.  O Ramadã é uma chance para os crentes serem generosos com seu tempo, riqueza e bens.





A generosidade e atos aleatórios de gentileza de fato deixam o coração feliz.  Qualquer um que tenha doado de sua riqueza ou bens com um coração puro, desejando somente agradar a Deus, sabe o quanto esses atos podem ser felizes.  E aqueles que não têm nada para dar?  A generosidade de Deus não conhece limites e até mesmo nas circunstâncias mais nefastas os seres humanos são capazes de ser generosos.





As pessoas vieram até o Profeta Muhammad, que Deus o exalte, e perguntaram: “Se alguém não tem nada para dar, o que pode fazer?”  Ele disse: “Deve trabalhar com suas mãos, se beneficiar e dar em caridade (do que ganhar).”  As pessoas perguntaram ainda: “Se não puder fazer nem isso?”  Ele respondeu: “Devem ajudar os necessitados que pedem auxílio.”  Então as pessoas perguntaram: “E se não puder fazer isso?”  Ele respondeu: “Devem executar boas ações e manterem-se afastadas de maus atos e isso contará como atos de caridade.” (Saheeh Al-Bukhari)





O Ramadã é conhecido como o mês de jejum. O Ramadã é uma dádiva de Deus, uma manifestação de Sua misericórdia e lembrete da bondade inerente da humanidade.  O Ramadã é o mês de caridade e generosidade.



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