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Um dos profetas que recebe mais atenção no Alcorão é o profeta Abraão.  O Alcorão fala dele e de sua inabalável crença em Deus, que primeiro o levou a rejeitar seu povo e sua idolatria e que mais tarde se provou verdadeira através dos vários testes que Deus colocou diante dele.





No Islã Abraão é visto como um monoteísta estrito que chama seu povo para a adoração de Deus somente.  Por essa crença ele suporta grandes dificuldades, inclusive se dissociando de sua família e povo através da migração para várias terras.  Ele cumpriu vários mandamentos de Deus com os quais foi testado.





Devido a essa força de fé o Alcorão nomeia a única religião verdadeira como o “Caminho de Abraão”, apesar dos profetas antes dele, como Noé, chamarem para a mesma fé.  Por causa de seu incansável ato de obediência a Deus, Ele lhe deu um título especial de “Khalil”, ou servo amado, que não foi dado a nenhum outro profeta antes.  Devido a excelência de Abraão, Deus fez profetas de sua descendência, dentre eles Ismael, Isaque, Jacó (Israel) e Moisés, que guiaram seu povo para a verdade.





O status elevado de Abraão é compartilhado pelo Judaísmo, Cristianismo e Islã.  Os judeus o vêem como o epítome da virtude uma vez que cumpriu os mandamentos antes de serem revelados, e foi o primeiro a se dar conta do Único e Verdadeiro Deus.  É visto como o pai da raça escolhida, o pai dos profetas através dos quais Deus começou Sua série de revelações.  No Cristianismo é visto como o pai de todos os crentes (Romanos 4:11) e sua confiança em Deus e sacrifício são tomados como um modelo para os santos posteriores (Hebreus 11).





Uma vez que Abraão tem tamanha importância, vale à pena estudar sua vida e investigar aqueles aspectos que o elevaram ao nível que Deus lhe deu.





Embora o Alcorão e a Sunnah não dêem os detalhes de toda a vida de Abraão, eles mencionam certos fatos dignos de nota.  Como acontece com outras figuras corânicas e bíblicas, o Alcorão e a Sunnah detalham aspectos de suas vidas como esclarecimento de algumas crenças desencaminhadas de religiões previamente reveladas, ou aqueles aspectos que contém certos lemas e morais dignos de nota e ênfase.





Seu Nome





No Alcorão, o único nome dado a Abraão é “Ibrahim” e “Ibraham”, todos compartilhando a raiz original b-r-h-m. Embora na Bíblia Abraão seja conhecido a princípio como Abrão e seja dito que Deus mudou seu nome para Abraão, o Alcorão mantém silêncio sobre esse assunto, sem afirmá-lo ou negá-lo.   Estudiosos judaico-cristãos modernos duvidam, entretanto, da história da mudança de seu nome e seus respectivos significados, chamando-a de “anedota popular”.  Assiriólogos sugerem que a letra hebraica Hê (h), no dialeto mineano, é escrita no lugar do ‘a’ longo (ā) e que a diferença entre Abraão e Abrão é meramente dialética.[1] O mesmo pode ser dito dos nomes Sarai e Sara, uma vez que seus significados também são idênticos.[2]





Sua Terra Natal





Estima-se que Abraão nasceu 2.166 anos antes de Jesus na cidade mesopotâmia[3] de Ur[4] ou nos seus arredores, 322 km a sudeste da atual Bagdá[5].  Seu pai era ‘Aazar’, ‘Terá’ ou ‘Terakh’ na Bíblia, um idólatra, que descendia de Sem, o filho de Noé.  Alguns estudiosos de exegese sugerem que ele pode ter recebido o nome de Azar por causa de um ídolo do qual era devoto.[6]É provável que tenha sido um acadiano, um povo semita da Península Árabe que se estabeleceu na Mesopotâmia em algum momento do terceiro milênio AEC.





Parece que Azar migrou junto com alguns de seus parentes para a cidade de Haran durante a infância de Abraão antes do confronto com seu povo, embora algumas tradições[7] judaico-cristãs digam que isso ocorreu em um período posterior em sua vida, depois de ele ser rejeitado em sua cidade natal.  Na Bíblia é dito que Haran, um dos irmãos de Abraão, morreu em Ur, “na terra de sua natividade” (Gênesis 11:28), mas ele era muito mais velho que Abraão, uma vez que seu outro irmão Nahor toma a filha de Haran como sua esposa (Gênesis 11:29).  A Bíblia também não menciona a migração de Abraão para Haran e o primeiro comando para migrar é para sair de Haran, como se tivessem se estabelecido lá antes (Gênesis 12:1-5).  Se tomarmos o primeiro mandamento como sendo a emigração de Ur para Canaã, parece não haver razão para que Abraão morasse com sua família em Haran, deixando seu pai lá e prosseguindo para Canaã depois, sem mencionar a improbabilidade geográfica [Ver mapa].





O Alcorão menciona a migração de Abraão, mas o faz depois de Abraão se dissociar de seu pai e tribo devido a sua descrença.  Se ele estivesse em Ur naquela época, parece improvável que seu pai fosse com ele para Haran depois de descrer nele e torturá-lo com seu povo.  Com relação ao motivo pelo qual escolher migrar, evidência arqueológica sugere que Ur era uma grande cidade que viu seu apogeu e declínio durante o tempo de vida de Abraão[8], e pode ser que tenham sido forçados a partir devido a dificuldades ambientais.  Podem ter escolhido Haran devido ao fato de compartilharem a mesma religião que em Ur[9].





 





A Religião da Mesopotâmia





Descobertas arqueológicas da época de Abraão traçam um retrato vívido da vida religiosa da Mesopotâmia.  Seus habitantes eram politeístas que acreditavam em um panteão, no qual cada deus tinha uma esfera de influência.  O grande templo dedicado ao deus lua acadiano[10], Sin, era o centro principal de Ur.  Haran também tinha a lua como figura divina central.  Acreditava-se que esse templo era o lar físico de Deus.  O deus principal do templo era um ídolo de madeira com ídolos adicionais, ou ‘deuses’, para servi-lo.





 





O Grande Zigurat de Ur, o templo do deus lua Nanna, também conhecido como Sin.  Tirada em 2004, a fotografia é cortesia de Lasse Jensen.





Conhecimento de Deus





Embora os estudiosos judaico-cristãos difiram em relação a quando Abraão veio a conhecer Deus, se na idade de três, dez ou quarenta e oito[11], o Alcorão não menciona a idade exata na qual Abraão recebeu sua primeira revelação.  Parece, entretanto, que foi quando ele era jovem, já que o Alcorão o chama de rapaz quando seu povo tenta executá-lo por rejeitar seus ídolos e o próprio Abraão disse ter conhecimento não disponível para seu pai quando o chamou para adorar somente a Deus antes de seu chamado para se separar de seu povo (19:43).  O Alcorão é claro, entretanto, em dizer que ele era um dos profetas para quem a escritura foi revelada:





“Em verdade, isto se acha nos Livros primitivos,  Nos Livros de Abraão e de Moisés.” (Alcorão 87:18-19)





Abraão e Seu Pai





Como aqueles ao seu redor, o pai de Abraão, Azar (Terá ou Terakh na Bíblia), era um idólatra.  A tradição[1] bíblica fala dele como sendo um escultor de ídolos[2] e por essa razão o primeiro chamado de Abraão foi direcionado para ele.  Dirigiu-se a ele com lógica clara e bom senso, do ponto de vista de um homem jovem e sábio.





“E menciona, no Livro, (a história de) Abraão; ele foi um homem de verdade, e um profeta. Ele disse ao seu pai: Ó meu pai, por que adoras quem não ouve, nem vê, ou que em nada pode valer-te? Ó meu pai, tenho recebido algo da ciência, que tu não recebeste. Segue-me, pois, que eu te conduzirei pela senda reta!” (Alcorão 19:41-43)





A resposta de seu pai foi rejeição, uma resposta óbvia vinda de qualquer pessoa desafiada por outra muito mais jovem que ela, um desafio contra anos de tradição e normas.





“Disse-lhe (o pai): Ó Abraão, porventura detestas as minhas divindades? Se não desistires, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim!” (Alcorão 19:46)





Abraão e Seu Povo





Depois de incessantes tentativas de chamar seu pai para deixar de adorar falsos ídolos, Abraão se voltou para seu povo buscando adverti-lo, dirigindo-se a eles com a mesma lógica simples.





“E recita-lhes (ó Mensageiro) a história de Abraão. Quando perguntou ao seu pai e ao seu povo: O que adorais? Responderam-lhe: Adoramos os ídolos, aos quais estamos consagrados. Tornou a perguntar: Acaso vos ouvem quando os invocais? Ou, por outra, podem beneficiar-vos ou prejudicar-vos? Responderam-lhe: Não; porém, assim encontramos a fazer os nossos pais. Disse-lhes: Porém, reparais, acaso, no que adorais, vós e vossos antepassados? São inimigos para mim, coisa que não acontece com o Senhor do Universo, Que me criou e me ilumina. Que me dá de comer e beber. Que, se eu adoecer, me curará. Que me dará a morte e então me ressuscitará.” (Alcorão 26:69-81)





Ao prosseguir com seu chamado de que a única divindade merecedora de adoração era Deus, o Todo-Poderoso, apresentou outro exemplo para que seu povo ponderasse.  A tradição judaico-cristã conta uma história semelhante, mas a retrata no contexto do próprio Abraão se dando conta da existência de Deus através da adoração desses seres[3], e não de usá-la como exemplo para seu povo.  No Alcorão não é dito que nenhum dos profetas associou outros a Deus, mesmo quando não estavam informados do caminho correto antes de iniciarem sua missão profética.  O Alcorão fala de Abraão:





“E quando viu despontar o sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Alcorão 6:76)





Abraão apresentou-lhes o exemplo das estrelas, uma criação incompreensível para os humanos da época, vista como algo maior que a humanidade, e as quais muitas vezes se atribuíam poderes.  Mas quando as estrelas se puseram Abraão viu sua inabilidade de aparecerem quando desejassem, e só poderem ser vistas à noite.





Então apresentou o exemplo de algo maior, um corpo celeste mais belo, de maiores dimensões e que podia aparecer durante o dia também!





“Quando viu desapontar a lua, disse: Eis aqui meu Senhor! Porém, quando esta desapareceu, disse: Se meu Senhor não me iluminar, contar-me-ei entre os extraviados.” (Alcorão 6:77)





Então, como exemplo culminante, apresentou um exemplo de algo ainda maior, uma das criações mais poderosas, sem a qual a própria vida seria uma impossibilidade.





“E quando viu despontar o sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Alcorão 6:78)





Abraão lhes provou que o Senhor dos mundos não seria encontrado nas criações que seus ídolos representavam, mas que Ele era a entidade que os havia criado e a tudo que pudessem ver e perceber; que o Senhor não necessariamente precisava ser visto para ser adorado.  Ele é um Senhor que não está restrito às limitações que as criações encontradas nesse mundo estão.  Sua mensagem era simples:





“E recorda-te de Abraão, quando disse ao seu povo: Adorai a Deus e temei-O! isso será melhor para vós, se o compreendeis! Qual, somente adorais ídolos, em vez de Deus, e inventai calúnias! Em verdade, os que adorais, em vez de Deus, não podem proporcionar-vos sustento. Procurai, pois, o sustento junto a Deus, adorai-O e agradecei-Lhe, porque a Ele retornareis.”(Alcorão 29:16-17)





Ele questionou abertamente sua aderência a meras tradições de seus antepassados:





“Ele disse: Verdadeiramente, vós e vossos antepassados estão em erro evidente.”





O caminho de Abraão seria cheio de dor, dificuldades, testes, oposições e dores de cabeça.  Seu pai e seu povo rejeitaram sua mensagem.  Seu chamado não os afetou; não queriam argumentar.  Ao invés disso, ele foi desafiado e ironizado:





“Disseram: Traga-nos a verdade, ou és um gracejador?”





Nesse estágio de sua vida, Abraão, um homem jovem com um futuro promissor, se opôs à sua própria família e nação para propagar uma mensagem de verdadeiro monoteísmo, crença no Único e Verdadeiro Deus, e rejeição a todas as falsas deidades, fossem estrelas ou outras criações celestiais ou terrenas, ou retratações de deuses na forma de ídolos.  Foi rejeitado, banido e punido por sua crença, mas se manteve firme contra todo o mal, pronto para enfrentar ainda mais no futuro.





“E quando o seu Senhor pôs à prova Abraão, com certos mandamentos,...” (Alcorão 2:124)





Veio o momento no qual a pregação tinha que estar acompanhada de ação física.  Abraão planejou um ataque corajoso e decisivo na idolatria.  O relato corânico é ligeiramente diferente do mencionado nas tradições judaico-cristãs, porque dizem que Abraão destruiu os ídolos pessoais de seu pai.[1] O Alcorão nos diz que ele destruiu os ídolos de seu povo, mantidos em um altar religioso.  Abraão idealizou um plano envolvendo os ídolos:





“Por Deus que tenho um plano para os vossos ídolos, logo que tiverdes partido.” (Alcorão 21:57)





Era a época de um festival religioso, talvez dedicado a Sin, razão pela qual tinham deixado a cidade.  Abraão foi convidado para participar das festividades, mas apresentou uma desculpa:





“Ele olhou para as estrelas. E disse: Sinto-me doente.”





Então, quando partiram sem ele, veio sua oportunidade.  Como o templo estava deserto, Abraão foi até lá e se aproximou dos ídolos de madeira revestidos em ouro, que tinham à sua frente refeições elaboradas deixadas pelos sacerdotes.  Abraão ironizou-os em descrença:





“Então se voltou para seus deuses e disse: Não comerão? O que os incomoda que não falam?”





O que teria iludido um homem para que adorasse deuses que ele mesmo esculpiu?





“Então os atacou, batendo-lhes com sua mão direita.”





O Alcorão nos diz:





“Ele os reduziu a fragmentos, todos exceto o mais importante deles.”





Quando os sacerdotes do templo retornaram ficaram chocados ao ver o sacrilégio, a destruição do templo.  Estavam se perguntando quem teria feito aquilo com seus ídolos quando alguém mencionou o nome de Abraão, explicando que ele costumava falar mal deles.  Quando o chamaram à sua presença, coube a Abraão mostrar-lhes sua tolice:





“Ele disse: Adorais o que vós mesmo esculpis quando Deus vos criou e ao que fazeis?”





Cada vez mais irados e sem disposição para ouvir sermões, foram direto ao ponto:





“Foste tu que fizeste isso com nossos deuses, Abraão?”





Mas Abraão havia deixado o maior dos ídolos intocado por uma razão:





“Ele disse: Mas esse, seu chefe, fez isso. Questione-os, se puderem falar!”





Quando Abraão os desafiou, ficaram confusos.  Culparam-se mutuamente por não terem protegido os ídolos e, sem encará-lo, disseram:





“De fato, sabeis que eles não falam!”





Então Abraão argumentou.





“Ele (Abraão) disse: Porventura, adorareis, em vez de Deus, quem não pode beneficiar-vos ou prejudicar-vos em nada? Que vergonha para vós e para os que adorais, em vez de Deus! Não raciocinais?”





Os acusadores se transformarem em acusados.  Foram acusados de inconsistência lógica, e não tiveram resposta para Abraão.  Como o raciocínio de Abraão era incontestável, sua resposta foi ódio e fúria, e condenaram Abraão a ser queimado vivo:





“Preparai para ele uma fogueira e arrojai-o no fogo!”





Todas as pessoas da cidade ajudaram a juntar a madeira para o fogo, até que se transformou no maior fogo que tinham visto.  O jovem Abraão se submeteu ao destino o Senhor dos Mundos escolheu para ele.  Não perdeu sua fé. Ao contrário, o teste o fez mais forte.  Abraão não vacilou em face de uma morte terrível apesar de sua pouca idade; ao contrário, suas últimas palavras antes de entrar no fogo foram:





“Deus é suficiente para mim e Ele é o melhor para cuidar de todos os assuntos.” (Saheeh Al-Bukhari)





Mais uma vez um exemplo de Abraão diante dos testes que enfrentou.  Sua crença no Verdadeiro Deus foi testada aqui, e ele provou que estava preparado para entregar sua existência ao chamado de Deus.  Sua crença foi evidenciada por sua ação.





Deus não queria que esse fosse o destino de Abraão, porque ele tinha uma grande missão à sua frente.  Ele seria o pai de alguns dos maiores profetas conhecidos da humanidade.  Deus salvou Abraão como um sinal para ele e também para seu povo.





“Nós (Deus) dissemos: Ó fogo, sê frescor e poupa Abraão! Intentaram conspirar contra ele, porém, fizemo-los perdedores.”





Assim, Abraão escapou do fogo ileso.  Tentaram buscar revanche para seus deuses, mas eles e seus ídolos foram humilhados no final.



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