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Jesus Cristo: Filho de Deus?  





Uma das diferenças mais extraordinárias entre um gato e uma mentira é que um gato só tem nove vidas.


- Mark Twain, O Calendário de Pudd‟nhead Wilson





Filho de Deus, Filho de Davi, ou o filho do Homem? Jesus é identificado como “filho de Davi” catorze vezes no Novo Testamento, começando com o primeiro versículo (Mateus 1:1). O Evangelho de Lucas documenta quarenta e uma gerações entre Jesus e Davi, enquanto Mateus lista vinte e seis. Jesus, um descendente distante, só pode usar o título de “filho de Davi” metaforicamente. Mas como, então, devemos entender o título “Filho de Deus”? O “trilema”, uma proposta comum dos missionários cristãos, afirma que, ou Jesus era um lunático, um mentiroso,





ou o Filho de Deus


 – exatamente como ele disse ser. Por uma questão de argumento, vamos concordar que Jesus não era nem um louco, nem um mentiroso. Vamos também concordar que ele era precisamente o que ele disse ser. Mas o que, exatamente, era isso?


 Jesus chamou a si mesmo “Filho do Homem” com frequência, consistentemente, talvez até enfaticamente, mas onde é que ele se chamou de “Filho de Deus”?


 Vamos recapitular. O que significa “Filho de Deus”, em primeiro lugar? Nenhuma seita cristã legítima sugere que Deus tomou uma esposa e teve um filho, e certamente nenhumaconcebe que Deus teve um filho com uma mãe humana fora do casamento. Além disso, sugerir que Deus fisicamente acoplou com um elemento da Sua criação está muito além dos limites de tolerância religiosa, caindo assim do penhasco da blasfémia, perseguindo a mitologia dos gregos. Com nenhuma explicação racional disponível dentro dos dogmas da doutrina cristã, a única alternativa para a conclusão é a alegação de mais um mistério doutrinário. Aqui é onde o muçulmano relembra a questão apresentada no Alcorão: “Como teria Ele um filho, enquanto não tem companheira?”


(OSA 6:101)


– enquanto outros gritam, “Mas Deus pode fazer qualquer coisa!” A posição islâmica, no entanto, é que Deus não faz coisas inapropriadas, apenas





coisas divinas. No ponto de vista islâmico, o caráter de Deus é parte do Seu ser e consistente com a Sua majestade. Então, novamente, o que significa “Filho de Deus”? E se Jesus Cristo tem direitos exclusivos ao termo, por que é que a Bíblia registra: “...porque sou Abba, Pai, para Israel, e Efraim é o meu primogénito.”


(Jeremias 31:9)


 e, “…o meu filho primogénito é Israel!” (Êxodo 4:22)? Tomando o contexto de Romanos 8:14, que diz, “Porquanto, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”, muitos estudiosos concluem que “Filho de Deus” é metafórico e, como christos, não implica exclusividade. Afinal, o Dicionário de Oxford da Religião Judaica confirma que, a expressão judaica “Filho de Deus” é claramente metafórica. Citando, “Filho de Deus, termo ocasionalmente encontrado na literatura judaica, bíblica e pós-bíblica, mas nunca implicando descendência física da Divindade.”


 O Dicionário Bíblico de Hasting comenta:





No uso semítico “filiação” é uma conceção um tanto vagamente empregada para designar moral em vez de uma relação física ou metafísica. Assim, “filhos de Belial”


(Juízes 19:22, etc.) são homens perversos, não descendentes de





Belial; e no NT as “crianças da câmara nupcial” são convidados de casamento. Assim, um “filho de Deus” é um homem, ou mesmo um povo, que reflete no caráter de Deus. Há pouca evidência de que o título teria sido usado nos círculos judaicos do Messias, e uma filiação que implicasse mais do que um relacionamento moral seria contrária ao monoteísmo judaico.





 E em qualquer caso, a lista de candidatos para “filho de Deus” começa com Adão, como por Lucas 3:38:


 “Adão, filho de Deus.” Aqueles que refutam citando Mateus 3:17 (“Em seguida, uma voz dos céus disse: „Este é Meu Filho amado, em quem muito Me agrado.‟”) negligenciaram o ponto de que a Bíblia descreve muitas pessoas, Israel e Adão incluídos, como “filhos de Deus”. Ambos 2 Samuel 7:13-14 e 1 Crónicas 22:10 mencionam:


 “É ele (Salomão) que vai edificar um templo em honra ao meu Nome. Eu serei seu Abba, Pai, e ele será Haben, o meu filho.”  Nações inteiras são referidas como filhos, ou crianças





de Deus. Exemplos incluem:





1. Génesis 6:2, “...os filhos de Deus viram que as filhas dos homens…”





2. Génesis 6:4, “...havia nefilins na terra, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens…”





3. Deuteronómio 14:1, “Sois filhos do SENHOR vosso Deus.”





4. Jó 1:6, “Certo dia os anjos, isto é, os filhos de Deus, vieram apresentar-se perante Yahweh, o SENHOR…”





5. Jó 2:1, “Chegou outra vez o dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor…”





6. Jó 38:7, “...enquanto os luzeiros matutinos, como a Alva, juntos cantavam e todos os anjos, filhos de Deus, bradavam de júbilo?”





7. Filipenses 2:15, “...para que vos torneis puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis, vivendo em um mundo corrompido e perverso…”





8. 1 João 3: 1-2, “Vede que imenso amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos tratados como filhos de Deus; (…) Amados, agora somos filhos de Deus…”





Em Mateus 5:9, Jesus diz: “Bem-aventurados





os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” Mais tarde, em Mateus 5:45, Jesus prescreveu aos seus seguidores o alcance de atributos nobres “para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus”. Não exclusivamente o seu Pai, mas o pai deles também. Além disso, João 1:12 diz, “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus…” Se a Bíblia é para ser respeitada, qualquer pessoa de piedade poderia aspirar ao cargo de “filho de Deus”.





Graham Stanton comenta: “Nos heróis do mundo greco-romano, governantes, e filósofos eram chamados de filhos de Deus. No Antigo Testamento, „filho de Deus‟ é usado para anjos ou seres celestiais (por exemplo, Gn. 6:2,4; Dt. 32:8; Jó 1:6-12), Israel ou israelitas (por exemplo, Ex. 4 :22; Oséias 11:1), e também para o rei (nomeadamente em 2 Sam. 7:14 e os Salmos 2:7).” 89 E Joel Carmichael elabora:





O título de “filho de Deus” era, como é claro, inteiramente familiar aos judeus na vida de Jesus e de fato por séculos antes: todos os judeus eram filhos de Deus; isto era, na verdade, o que os distinguia das outras pessoas...





Durante o período pós





Em todos esses casos





Então, se a frase “filho de Deus” era “claramente uma mera metáfora”, por que é que o Cristianismo eleva Jesus Cristo a “filho de Deus” no sentido literal da frase?


A pergunta ecoa sem resposta, “Onde é que Jesus obteve exclusividade no título „Filho de Deus‟?”


Se isso não fosse confuso o suficiente, temos Hebreus 7:3,


onde Melquisedeque, rei de Salém, é descrito como sendo “sem pai, sem mãe, sem origem nem antepassados, sem princípio de dias nem fim de vida; no entanto, por ser à semelhança do Filho de Deus, Ele permanece sacerdote perpetuamente.” Um imortal, preexistente, sem origem e sem pais? Pensamento fantasioso, ou Jesus tem concorrência bíblica? Surpreendentemente, Jesus se refere a si mesmo como “Filho do homem” na Bíblia, e não como “Filho de Deus”.


O Dicionário Bíblico de Harper sugere, “Jesus deve ter usado „Filho do homem‟ como uma auto-designação simples, talvez como uma maneira discreta de referir a si mesmo simplesmente como um ser humano.”  A Nova Enciclopédia Católica diz sobre “Filho do homem”, “Este título é de especial interesse porque foi empregado por Jesus por preferência para designar a Si mesmo e a Sua missão.”  (NE)





Por uma questão de detalhe, Jesus descreveu a si mesmo como “filho do homem” oitenta e oito vezes no Novo Testamento. “Filho de Deus” ocorre quarenta e sete vezes no Novo Testamento, mas sempre da boca de outros. Como o Dicionário Bíblico de Harper menciona,





Embora a tradição sinóptica contenha dois ditos em que Jesus refere a si mesmo como “filho” em relação a Deus como seu Pai (Marcos 13:32; Mateus 11:27 [Q]), a autenticidade destes ditos é amplamente questionada, e permanece incerto se Jesus realmente chamou a si mesmo “filho” em relação a Deus como Pai... Vale ressaltar, no entanto, que Jesus nunca reclama para si o título “Filho de Deus”. Enquanto ele é representado como aceitando-o em Marcos 14:61-62, tanto Mateus (26:64) como Lucas (22:67) esforçaram-se em demonstrar o desgosto de Jesus na aceitação do título como se o que ele disse ao





sumo sacerdote fosse, “Tu mesmo o declaraste. – o título „messias‟”





O Dicionário Bíblico de Hasting concorda: “Se 94 Jesus o usou [“Filho de Deus”] para si mesmo é duvidoso...” Poderia a frase “filho do homem” implicar singularidade? Aparentemente não – o livro de Ezequiel contém noventa e três referências a Ezequiel como “filho do homem”. Tudo isso deixa um investigador objetivo com as seguintes conclusões





1. Jesus é assumido como sendo exatamente o que ele chamou a si mesmo.





2. Jesus chamou a si mesmo de “filho do homem” oitenta e oito vezes.





3. Em nenhum lugar na Bíblia Jesus chamou a si mesmo de “filho de Deus” literalmente. Nenhuma vez. Em nenhum lugar.





4. E em qualquer caso, no idioma judaico, o termo “filho de Deus” era oumetafórico ou contrário ao monoteísmo.





Os clérigos cristãos reconhecem abertamente o


 que foi mencionado acima, mas afirmam que, embora Jesus





nunca se tenha chamado de “filho de Deus”, outros chamaramno assim. Isso também tem uma resposta. Ao investigar os manuscritos que compõem o Novo Testamento, descobre-se que aalegada “filiação” de Jesus é baseada na má tradução de duas palavras gregas


– pais e huios, ambas as quais são traduzidas como “filho”. No entanto, essa tradução parece enganadora. A palavra grega pais deriva do hebraico ebed, que carrega o significado primário de servo, ou escravo. Portanto, a tradução primária de pais theou é “servo de Deus”, e “criança” ou “filho de Deus” é um embelezamento extravagante. De acordo com o Dicionário Teológico do Novo Testamento, “O original hebraico de pais na frase pais theou, isto é, ebed, enfatiza a relação pessoal e tem o significado principal de „servo.‟”  Isto é ainda mais interessante porque se ajusta perfeitamente com a profecia de Isaías 42:1, confirmada em Mateus 12:18:


“Eis o meu Servo [isto é, do grego pais], que escolhi, o meu amado, em quem tenho alegria…


” Se uma pessoa ler a Versão King James, a Nova Versão King James, a Nova Versão Padrão Revisada, ou a Nova Versão Internacional, a palavra é “servo” em todos os casos. Considerando que o propósito da revelação é fazer a verdade de Deus clara, pode-se pensar nessa passagem como uma verruga feia na face da doutrina da filiação divina. Afinal,





que melhor lugar para Deus declarar Jesus como Seu filho?


Que melhor lugar para ter dito: “Eis o meu filho que gerei...”?


Mas Ele não disse isso. Na verdade, a doutrina carece de suporte bíblico nas palavras registradas tanto de Jesus como de Deus, e há boas razões para se pensar porquê. A não ser, isto é, que Jesus não era nada mais do que o servo de Deus que esta passagem descreve. Em relação ao uso religioso da palavra ebed, “O termo serve como uma expressão dehumildade usada pelos piedosos perante Deus.”  Por outro lado, “Depois de 100 aC pais theou significa mais frequentemente „servo de Deus‟, como quando aplicado a Moisés, aos profetas, ou às três crianças


(Bar. 1:20; 2:20; Dan. 9:35)


.” 98 Uma pessoa pode facilmente entrar na areia movediça doutrinal sobre este ponto, pois das oito menções de pais theou no Novo Testamento, apenas cinco se referem a Jesus (Mateus 12:18; Atos 3:13, 26; 4:27,30)


– as três restantes são divididas entre Israel


(Lc. 1:54) e Davi


 (Lc. 1:69; Atos 4:25). Então Jesus não tinha direitos exclusivos a este termo, e os peritos concluem, “Nos poucos exemplos nos quais Jesus é chamado pais theou, obviamente,nós temos uma tradição anterior.”  Além disso, a tradução, se imparcial, deve ser a mesma


– todos os indivíduos rotulados de pais theou no grego devem ser idênticos na tradução. Tal, no entanto, não foi o





 caso. Embora pais tenha sido traduzido como “servo” em referência a Israel e Davi nos versos acima referenciados, é traduzido como “Filho” ou “filho sagrado” em referência a Jesus. Tal tratamento preferencial canonicamente, mas falho logicamente. é consistente Por último, um interessante, se não fundamental, paralelo religioso é descoberto: “Assim, a palavra grega pais tou theou, „servo de Deus‟, tem exatamente a mesma conotação que o nome islâmico Abdallah – o „servo de Allah.‟”


 A simetria é ainda mais chocante porque o Alcorão Sagrado relata Jesus como tendo se identificado assim mesmo


– Abdallah (abd sendo árabe para servo ou escravo, Abd-Allah [também escrito “Abdullah”] significa escravo ou servo de Allah). Segundo a história, quando Maria voltou para a sua família com o recém-nascido Jesus, eles acusaram-na de não ser casta. Falando do berço num milagre que deu credibilidade às suas alegações, o bebé Jesus defendeu a virtude da sua mãe com as palavras, “Inni Abdullah...”


, que significam: “Eu sou o servo de Allah...”


 (OSA 19:30) A tradução do grego do Novo Testamento huios para “filho” (no sentido literal da palavra) é igualmente errada. Na página 1210 do Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittel e Friedrich, o significado de huios viaja de literal





(Jesus filho de Maria), para ligeiramente metafórico (crentes como filhos do rei [Mateus 17:25-26.]),


 para comportadamente metafórico (os eleitos de Deus como filhos de Abraão [Lucas 19:9]), para coloquialmente metafórico (crentes como filhos de Deus [Mateus 7:9 e Hebreus 12:5]), para espiritualmente metafórico (alunos como filhos dos fariseus [Mat. 12:27, Atos 23:6]), para biologicamente metafórico (como em João 19:26, onde Jesus descreve o seu discípulo favorito a Maria como “filho dela”), para cegamente metafórico como “filhos do reino” (Mateus 8:12), “filhos da paz”


 (Lucas 10:6), “filhos da luz” (Lucas 16:8),


 e de tudo, desde “filhos deste mundo” (Lucas 16:8)


até “filhos do trovão” (Marcos 3:17).


É como se esta palavra mal compreendida como sendo “filho” estivesse a acenar um grande sinal em que é pintada em letras maiúsculas: METÁFORA! Ou, como Stanton coloca eloquentemente,


“A maioria dos estudiosos concorda que a palavra aramaica ou hebraica por trás de „filho‟ é „servo‟. Assim como o Espírito desce sobre Jesus no seu batismo, Jesus é abordado pela voz do céu em termos de Isaías 42:1: “Eis o meu Servo…


 o meu eleito…


 Tenho nele o meu Espírito…”


 Assim, embora Marcos 1:11 e 9:7 afirme que Jesus é chamado por Deus para uma tarefa messiânica especial, a ênfase está no papel de Jesus  como um servo ungido, em vez de como Filho de Deus.” O pesquisador objetivo agora precisa de ampliar a lista





de notas da seguinte forma





1. Jesus é assumido como sendo exatamente o que ele chamou a si mesmo.





2. Jesus chamou a si mesmo de “filho do homem”.





3. Em nenhum lugar na Bíblia Jesus alguma vez reivindica o título literal de “filho deDeus.”





4. E em qualquer caso, no idioma judaico, o termo “filho de Deus” era, ou metafórico, ou contrário ao monoteísmo.





5. A tradução principal da frase pais theou é “servo de Deus”, e não “filho de Deus”.





6. A palavra huios, que é traduzida do grego do Novo Testamento para a palavra “filho” é usada metaforicamente com uma frequência que faz da tradução literal indefensável.





7. Assim, quando outros falavam de Jesus como “filho de Deus”, o sentido metafórico pode ser assumido em consideração ao idioma judaico, em combinação com o rigor do monoteísmo judaico.





Então, como o mundo do Cristianismo justifica a alegação de filiação divina? Alguns dizem que Jesus era o filho de Deus, porque ele chamou Deus de “Pai”. Mas do que é que outras pessoas





chamam a Deus?


 Na verdade, o que foi registrado como Jesus tendo ensinado na Bíblia, senão “Por essa razão, vós orareis: Pai nosso…


” (Mateus 6:9)? Assim, não só Jesus ensinou que qualquer pessoa pode alcançar o título de “filho de Deus”, ele ensinou aos seus seguidores a identificar Deus como “Pai”. Alguns sugerem que Jesus era humano durante a vida, mas tornou-se sócio em divindade a seguir à crucificação. Mas em Marcos 14:62, quando Jesus fala do Dia do Juízo, ele diz que as pessoas irão vê-lo como “o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e chegando com as nuvens do céu.” Então, se Jesus é o “Filho do homem” quando vier o Dia do Juízo, o que ele é entre agora e esse momento?


 A questão repete-se, “De onde é que o conceito de filiação divina vem?


” Se olharmos para os estudiosos da igreja em busca de uma resposta, encontramos “Foi, no entanto, no Conselho de Niceia que a igreja foi constrangida pelas circunstâncias a introduzir categorias não-bíblicas na sua descrição autêntica da relação do Filho com o Pai. A controvérsia ariana ocasionou esta determinação.”


 Hmm...


 “constrangida pelas circunstâncias”... “constrangida pelas circunstâncias”


– agora o que é, exatamente, o significado disso? Uma pessoa não pode evitar basear-se em paralelos familiares, tais como, “Eu fui





constrangido pelas circunstâncias


 – eu não tinha dinheiro suficiente, então roubei”, ou, “A verdade não estava a funcionar, então eu menti.” Quais, exatamente, foram as circunstâncias que restringiram a igreja?


 Foi porque Ário demonstrou que não podiam justificar a sua doutrina por meio da escritura, e eles responderam da única maneira que sabiam como salvar a sua posição?


A Bíblia estava muito bem e sã até ela falhar em conseguir apoiar a sua teologia, e então eles lançaram o “livro de regras” sagrado para o lado e criaram o deles?


 Foi isso que aconteceu?


Porque é isso que eles parecem dizer


- que eles não conseguiram que a Bíblia trabalhasse para eles, então eles voltaram-se para fontes não bíblicas para apoio. Ei! Isso é permitido?


 Vamos olhar para o que aconteceu. Ário alegou que a tríade divina foi composta por três realidades separadas e distintas, e que Jesus Cristo era de uma natureza criada, finita. Noutras palavras, um homem. A grande obra de Ário, Thalia


(que significa “banquete”), foi publicada pela primeira vez em 323 EC e criou tal rebuliço que o Conselho de Nicéia foi convocado em 325 para enfrentar os desafios arianos. Por exemplo, o silogismo ariano propôs que, se Jesus era um homem, então não devemos dizer que ele era Deus, e se Jesus era Deus, não devemos dizer que ele morreu.





Ário propôs que um conceito de Deus-homem não resiste a uma análise crítica, e desafia qualquer explicação. Os desafios arianos à teologia trinitária inundariam e afundariam da superfícieda história se alguém explicasse o conceito de Deus-homem. Mas 1.700 anos a peneirar a areia apologética não conseguiram produzir uma jóia da razão trinitária suficientemente brilhante para satisfazer os céticos. Questões desafiadoras ressurgem periodicamente e ecoam argumentos arianos. Por exemplo, podemos perguntar, “Quando Deus supostamente se tornou homem, Ele desistiu dos Seus poderes divinos?” Porque, se Ele o fez, então Ele já não era Deus, e se Ele não o fez, Ele não era homem.


“Se o Deus-homem morreu na cruz, isso significa que Deus morreu?


” Não, claro que não. Então, quem morreu?


Apenas a parte “homem”?


Mas, nesse caso, o sacrifício não foi bom o suficiente, pois a alegação é que só um sacrifício divino poderia expiar os pecados da humanidade. O problema é que a morte da parte-homem da proposta tri-unidade não contribuiria mais para a expiação dos pecados do que a morte de um homem sem pecado. O que deixa pouca opção para outra explicação senão reverter para a alegação de que algum elemento da divindade morreu. Judeus, cristãos unitários e muçulmanos estritamente monoteístas, sem dúvida, alegariam que, quanto àqueles que dizem que foi Deus que morreu, bem,





eles só podem ir para o inferno. (A expectativa é que Deus, que é vivo e eterno, iria concordar.) Para continuar o pensamento, a doutrina trinitária afirma que Deus não só se fez homem, mas manteve-se Deus – um conceito que os unitários consideram o equivalente literário de um esboço de Escher “construção impossível”. A declaração satisfaz as exigências gramaticais da língua portuguesa para uma frase, mas as contorções impossíveis nunca podem torná-la uma realidade. Uma árvore não pode ser convertida a mobília e ainda ser uma árvore, tal como carne assada não pode continuar a ser uma vaca. Uma vez transformadas, as qualidades do original são perdidas. E ainda assim, o Catolicismo produziu uma religião da transubstanciação, que reivindica o exato oposto – que duas substâncias diferentes são uma. A declaração unitária é que Deus é Deus e homem é homem. Aqueles que confundemos dois não conseguem reconhecer que Deus não pode desistir da Sua Divindade, porque a Sua entidade é definida pelos Seus atributos divinos. Nem Deus precisa de experimentar a existência humana para compreender o sofrimento da humanidade. Ninguém sabe o sofrimento da humanidade melhor do que o Criador, pois Ele criou a humanidade com o conhecimento de tudo, desde termorreceptores a pensamentos, de cílios ao subconsciente.





Deus sabe dos problemas, da angústia e do sofrimento da humanidade


– Ele criou um universo cujas complexidades transcendem tais dimensões superficiais da existência humana. A defesa “Mas Deus pode fazer qualquer coisa” leva à pergunta: “Bem, se Deus pode fazer qualquer coisa, então por que é que Ele não esclareceu a doutrina trinitária


– assumindo que esta seja válida, isto é?


” Se Deus pode fazer qualquer coisa, Ele poderia fornecer uma explicação sensata que não exigisse recorrer a “categorias não-bíblicas”. Mas Ele não o fez. Porquê?


Deus deixou os homens para descobrir por si mesmos, ou uma pessoa pode assumir seguramente que não há nenhuma base na realidade religiosa para algo que Deus não revelou?


 O conceito de que Deus providenciou revelação sem esclarecer a Sua Própria natureza vai dolorosamente contra a nossa compreensão inata de Deus como todo-misericordioso, fornecendo orientações claras para toda a humanidade. A resposta trinitária padrão?


Que as pessoas acreditariam se elas apenas entendessem. A resposta unitária padrão? Ninguém entende a Trindade


– ninguém. É por isso que este é um mistério religioso. Fale com o clero trinitário tempo suficiente, traga as objeções acima


 (e as que seguem), e, eventualmente, o trinitário confirmado admitirá: “É um mistério”. A defesa só-tem-de-ter-fé não está muito atrás. O





unitário normalmente aponta que, no entanto, momentos antes, os trinitários propuseram que as pessoas acreditariam, se apenas entendessem. No entanto, quando é feita uma tentativa legítima para compreender, por meio da busca de respostas para questões relevantes, a alegação transforma-se num mistério religioso (ou seja, ninguém entende!). A defesa final é a sugestão de que: “A única maneira de uma pessoa acreditar é ter fé” (ou seja, a única maneira de acreditar é acreditar). Mas se fé cega e irracional é a metodologia que Deus nos convida a seguir, por que é que Ele nos ordena a razoar (“Então, sim, vinde e arrazoemos...” Isaías 1:18)?


 (NE) Então, o que é uma fonte não bíblica? Uma pessoa pode seguramente assumir que, se não é de escritura (isto é, não é de Deus), então deve ser das mentes dos homens (e o que isso equivale senão à imaginação humana?)


. Como mais seguro teria sido ter a doutrina da igreja modificada para que estivesse de acordo com argumentos racionais e, mais importante, com a escritura?


 Sem dúvida que a aderência às noções trinitárias cimentou a segurança de emprego do clero trinitário, embora sob princípios de fé questionáveis cobertos pelo manto da aprovação da igreja. Da mesma forma, sem dúvida que confiança nos ensinamentos da igreja diminuiu nas mentes dos pensadores como Ário


 – pensadores que continuaram a





destacar o fato de que Jesus nunca afirmou filiação ou parceria na divindade, e nem os seus discípulos o fizeram. Além disso, as evidências sugerem também quem nem Paulo o fez.


 (NE) Depois de admitir dependência de “categorias nãobíblicas” para definir a visão da Igreja da relação de Jesus Cristo com Deus, a Nova Enciclopédia Católica descreve algumas das doutrinas construídas, como a consubstancialidade, gerado e não criado, etc. Em seguida, eles fazem a inacreditável afirmação direta de que Agostinho procurou a ideologia maiscompatível com a compreensão humana pura (isto é, “Agostinho procurou na psicologia humana, ou forma de saber, a analogia natural para a compreensão da geração eterna do Filho.” ). Ninguém pode ser criticado por ler essa declaração e murmurar: “Eles... estão... a brincar. Só pode.” Afinal, não é esta a doutrina responsável pela Inquisição medieval e espanhola, as oito ondas das Cruzadas cristãs, e inúmeras conversões forçadas de nativos durante a era do colonialismo?


A doutrina que faz tanto sentido que mais de doze milhões de pessoas morreram sob tortura em negação aos princípios da fé trinitária? Doze milhões! A doutrina que faz tanto sentido que, até hoje, os nativos africanos têm de ser coagidos à conversão através da isca de alimentos e medicamentos?


 A pessoa comum na rua poderá concluir que,





se a tortura e coerção são necessárias para refrescar memórias, alguém precisa de redefinir o significado de “compreensão inata”. E por que não?


 Um monte de valores foi redefinido. O Papa Gregório IX instituiu a Inquisição Papal em 1231, mas não conseguia tolerar o pecado da tortura. Levou vinte anos para um papa assumir a responsabilidade e, no cúmulo da ironia, esse pontífice tomou o nome de Papa Inocêncio (tosse, tosse) IV. Em 1252, ele autorizou a tortura com o touro papal Ad extirpanda. No entanto, alguns  membros do clero devem ter querido sujar as mãos, de perto e pessoalmente. Para acomodar tais nobres sentimentos cristãos, “em 1256, o Papa Alexandre IV deu-lhes o direito de absolver mutuamente uns aos outros e de dispensar os seus colegas. Com esta questão de lei e moral contornada, um inquisidor poderia torturar e o seu companheiro, em seguida, absolvêlo.” Então compreensão inata não teve exatamente uma grande participação no processo. Simpatizantes podem, por um momento, imaginar uma pessoa ignorante, não-doutrinada, isolada da civilização. Imagine este indivíduo à procura da realidade de Deus através de uma vida tranquila de contemplação. Podemos imaginar os nativos estrangeiros de terras distantes, as massas iletradas, o





indivíduo solitário numa ilha tropical. Quantos deles, se imagina, estalaram os dedos e bateram com as palmas das mãos nas suas testas num despertar espiritual e proclamaram Pai, Filho e Espírito Santo?


A probabilidade é quase nula de que o julgamento de Agostinho tenha sido baseado num estudo prospetivo, duplocego, controlado e aleatório. Se os milhões de “hereges” cristãos unitários que foram executados no julgamento trinitário intolerante fossem questionados, eles poderiam ter tido algumas objeções muito razoáveis. Hoje, alguns deles podem até mesmo fazer referência ao Alcorão: “Não há compulsão na religião!” (OSA 2:256) Mas voltando à questão do “filho de Deus”, mais uma dificuldade é encontrada pelas seguintes citações:





No Evangelho de São João, por duas vezes o título de Filho de Deus não significa nada mais do que Messias. Assim, a confissão de fé de Natanael, “Mestre, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!” (Jo. 1:49) considera os dois como equivalentes.  Nem sempre é claro o que o termo





[Filho de Deus] quer dizer quando falado pelos


 (NE) demónios; pode significar apenas um homem de Deus. Usado pelo centurião na Crucificação, este (Filho de Deus) parece ter o significado apenas de um homem piedoso.





As citações acima sugerem um de dois cenários possíveis. No primeiro, “filho de Deus”pode ser entendido como Messias, Rei de Israel, “homem de Deus”, “santo de Deus”, ou simplesmente um homem piedoso, pois evangelhos paralelos relacionam estes termos como se fossem sinónimos. Por exemplo, os demónios identificaram Jesus como “o santo de Deus” num relato e “Filho de Deus” noutro, e o centurião identificou Jesus como o “Filho de Deus” em Mateus e Marcos, mas como “um homem piedoso” em Lucas. Então, talvez esses termos signifiquem a mesma coisa. No segundo cenário, o registro de relatos paralelos dos mesmos eventos em palavras diferentes poderia representar imprecisão bíblica. Em ambos os casos, há um problema. Se os termos diferentes são sinónimos e uma pessoa não pode confiar o suficiente na Bíblia para compreender o significado





de “Filho de Deus” numa passagem, como poderá alguém interpretar a mesma frase com confiança noutra passagem? E se as divergências representam imprecisões bíblicas, no qual um autor do evangelho entendeu bem e o outro(s) entendeu mal, então a qual relato devemos confiar a nossa salvação?


Um exemplo menor é que dois dos evangelhos acima referenciados contam histórias diferentes, mas testemunhando o mesmo evento. Mateus 8:28-29 registra dois homens possuídos nos túmulos e Lucas 8:26-28 apenas um homem possuído. Mesmo se uma pessoa defenda a Bíblia como sendo a palavra inspirada de Deus – não a palavra real, mas a palavra inspirada


– Deus inspira um erro? Mesmo se pequeno? Alguns perguntam por que os cristãos suavizam discrepâncias bíblicas. Outros têm uma visão mais preconceituosa.


O mundo cristão gostaria de acreditar que as autoridades da igreja são dedicadas à verdade e não à falsidade. Mas quantas pessoas manipulariam a verdade para ganhar 10% do rendimento bruto de uma congregação inteira?


A suspeita pode ser bastante elevada que, nas palavras de George Bernard Shaw, “Um governo que roube Pedro para pagar a Paulo pode sempre contar com o apoio de Paulo.”  Noutras palavras, uma igreja que dizime acongregação para financiar o salário e despesas de subsistência do clero pode sempre contar com o apoio do clero.





Uma questão que se segue é, “Quantos líderes de Bíblia em punho, professores de escola de domingo da igreja dobrariam a verdade sob pressão da riqueza?


” A pessoa que concebe nenhum ou é tonta, ingénua ou mentirosa. Atualidades documentam inúmeros sacerdotes e ministros que não só manipulam a verdade, mas os jovens ministrantes também. Jesus advertiu sobre esses falsos “homens de Deus” em Mateus 7:15-16, quando disse “Acautelai-vos quanto aos falsos profetas. Eles se aproximam de vós disfarçados de ovelhas, mas no seu íntimo são como lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis.”


(NE) No entanto, nós encontramo-nos a voltar mais uma vez para a pergunta sem resposta, nomeadamente, o que significa “Filho de Deus”? Será que o original hebraico traduz de ebed para “escravo”, “servo” ou “filho”?


Mesmo se a tradução correta for “filho”, como é este diferente de todos os outros “filhos de Deus”, que eram claramente nada mais do que indivíduos piedosos ou, no máximo, profetas? Comentando sobre a crítica histórica de R. Bultmann sobre o Novo Testamento, a Nova Enciclopédia Católica afirma: “Foi negado recentemente ao Filho de Deus um lugar na teologia, alegando que, como encontrado em escritos do NT, esta expressão faz parte do traje mitológico em que a Igreja primitiva cobriu a sua fé...


O único problema que se enfrenta





ao construir uma ideia teológica adequada para o Filho de Deus é determinar o conteúdo que a ideia expressa.”  Dada a não conformidade no entendimento, uma pessoa começa a compreender a necessidade baseada na sobrevivência da igreja primitiva a fim de definir um sistema de crença, verdadeiro ou não. E isso é exatamente o que foi feito em 451 EC no Conselho de Calcedónia, que declarou a definição dogmática que tem dominado a Cristologia desde então: “Um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigénito, conhecido em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação.”  Qualquer pessoa que aceitar a evidência deste capítulo reconhece a citação acima como uma declaração, mas não uma verdade. Mesmo que os pais da Igreja tenham concebido a natureza de Jesus como “sem confusão”, o mesmo não pode ser dito dos seus seguidores. Confusão, divisão e separação têm atormentado os que buscam a verdade no Cristianismo desde o tempo de Jesus. Como Johannes Lehmann aponta em O Relatório de





Jesus





Assim, o conceito de “filho de Deus” levou a um mal-entendido que teria consequências inimagináveis. Qualquer pessoa  com um





conhecimento apenas superficial do Oriente sabe que os orientais gostam de discurso pitoresco...


Um simples mentiroso é um filho da mentira, e qualquer um que se saia melhor é um pai da mentira. A frase “filho de Deus” está no mesmo nível de expressão e de pensamento. Em uso linguístico semita esta descrição não transmite nada mais do que a existência de um vínculo entre um homem e Deus. Um judeu nunca sequer sonharia pensar que filho de Deus significaria uma verdadeira relação entre um pai e um filho. Um filho de Deus é um homem abençoado, um instrumento escolhido, um homem que faz o que Deus quer. Qualquer tentativa de tomar esta imagem literalmente, e assim deduzir a divindade do Filho, contradiz os fatos.   Entender “filho de Deus” como metafórico em vez de





literal permite a resolução de uma infinidade de dificuldades doutrinárias cristãs. Além disso, reconhecer “filho de Deus” como significando um profeta ou um indivíduo piedoso, e nada mais, desafia o cristão com os ensinamentos do Alcorão focalizados. Allah ensina especificamente, “E os cristãos dizem: „O Messias é filho de Allah.‟ Esse é o dito de suas bocas. lmitam o dito dos que, antes, renegaram a Fé. Que Allah os aniquile! Como se distanciam da verdade!‟” (OSA 9:30) Mas, para que não haja mal-entendidos, a questão não é que um livro está certo e os outros errados. Não de todo. A questão é que todos os três livros


– Antigo Testamento, Novo Testamento e Alcorão Sagrado


– estão certos. Todos os três livros ensinam a Unicidade de Deus e a humanidade de Jesus, reforçando-se assim mutuamente. Então, todos os três estão certos. O que está errado não é os livros da Escritura, mas as doutrinas de tal origem ilegítima como sendo derivadas de “categorias não-bíblicas”.



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