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Prestando Verdadeiro Testemunho


(Ou: “Agora Que Encontrei O Islam,


O Que Faço Com Isso?”)


DR. LAURENCE B. BROWN


Tradução: Letícia Gouvêa Revisão: Cláudia Sofia Simões


Direitos Autorais


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Sumário


Introdução ............................................................................................ 4


1) O Compromisso............................................................................... 6


1.a.) O Grupo Salvo ....................................................................... 13


2) Os Pilares ...................................................................................... 19


2.a.) As Divergências ..................................................................... 23


2.b.) Os Sábios e o Fiqh (Lei Islâmica) ......................................... 29


3) A Prática ........................................................................................ 36


4) O Ihsaan (Consciência de Allah) .................................................. 43


5) O Sufismo ...................................................................................... 44


6) A Sunnah do Shaitan ..................................................................... 53


7) Conselheiros Sinceros ................................................................... 58


8) Resumo .......................................................................................... 61


Outros livros do Dr. Laurence B. Brown: .......................................... 63


ANEXO 1 - Leitura recomendada ..................................................... 64


GLOSSÁRIO DE TERMOS ............................................................. 67


Introdução


O presente livro é o último de uma série de quatro. O primeiro livro desta série, O Oitavo Pergaminho, é uma obra de ficção histórica – um romance de ação/aventura desenvolvido para excitar o público, e ao mesmo tempo, incitá-lo ao tema da religião comparativa. O segundo livro desta série, The First and Final Commandment (O Primeiro e Último Mandamento), foi reescrito e dividido em dois volumes, Desviados? e Guiados?. Com a publicação destes dois volumes – agora livros numerados como dois e três nesta série – O Primeiro e Último Mandamento torna-se redundante, mas permanece no mercado para aqueles que preferirem uma edição maior em vez de dois volumes separados. Desviados? fornece um roteiro de orientação e desorientação nas religiões abraâmicas e apresenta a continuidade da revelação do Judaísmo ao Cristianismo, e depois ao Islam. Guiados? retoma onde Desviados? interrompeu, e argumenta o caso a favor do Islam como a conclusão da revelação.


Prestando Verdadeiro Testemunho completa esta série, fornecendo orientações práticas àqueles que abraçam a religião islâmica. No entanto, um quinto livro está em fase de planejamento, no qual pretendo abordar as muitas críticas vis e calúnias grosseiras levantadas contra os muçulmanos e a religião islâmica. Neste livro, pretendo discutir poligamia, escravidão, racismo, o véu feminino, opressão das mulheres, terrorismo, ―fundamentalismo‖ e idolatria, dentre outros temas.


A ordem desta série de livros tem por objetivo, então, introduzir aos leitores de ficção uma investigação séria das evidências religiosas (O Oitavo Pergaminho) analisar o corpo de provas (Desviados?), discutir o caso do Islam como a revelação final e cumprimento das predições das escrituras judaicas e cristãs (Guiados?), sugerir a maneira através da qual a religião islâmica deve ser aplicada de forma prática (Prestando Verdadeiro Testemunho), e proporcionar ao muçulmano recém convertido a defesa contra as calúnias mais comuns contra o Islam (no quinto livro planejado desta série).


Em relação ao presente trabalho, os muçulmanos frequentemente observam que os convertidos à religião islâmica progridem através de várias fases de crescimento ideológicas, espirituais e psicológicas antes de atingir uma aparente maturidade religiosa. O período de maturação varia de um indivíduo para outro, assim como o resultado final. Alguns muçulmanos demonstram uma maturidade religiosa notável desde a infância. Outros experimentam uma dramática mudança de ideologia tardiamente em suas vidas. A renúncia ao Sufismo exagerado pelo famoso imam do século XI (EC) Al-Ghazali (nome completo: Abu Haamid Muhammad Al-Ghazali) em sua vida mais avançada; e a refutação de seus erros na aquidah pelo imam do século X


(EC) Al-Ash'ari (nome completo: Abu Al-Hasan 'Ali ibn al-Ismaa'il Ash'ari, a quem a aquidah Ash'ari é atribuída), também no final de seus dias, servem como exemplos proeminentes. Dentro da história mais recente, a transição de Malcolm X do racista e ideologicamente condenado culto político conhecido como a Nação do Islam para o Islam ortodoxo (sunita) é, talvez, o exemplo mais conhecido.


No início, muçulmanos convertidos frequentemente embarcam em caminhos ideológicos muito divergentes na escala de tons que se estende da lacuna entre a pureza evidente de retidão e a escuridão obscura do desvio. Embora muitos, eventualmente, alcancem o caminho da retidão islâmica, um grande número também se firma nos graus de desvio, por vezes, num nível tão sutil que não se justifica outra coisa senão dar conselhos; por vezes de tal magnitude que se justifica uma punição de acordo com a Shari'a (lei islâmica); e, muitas vezes, de tal gravidade que se coloca em risco, completamente, a shahada (testemunho de fé) da pessoa. O que significa que a pessoa em questão, conscientemente ou não, invalida sua reivindicação de ser muçulmano e deixa a religião do Islam.


Para o indivíduo, a importância da retidão no caminho religioso diz respeito à salvação. Para a comunidade, a importância relaciona-se com os erros dos que se desviam, deturpando o Islam.


O autor, sendo um ocidental convertido à religião islâmica, viveu o hedonismo negligente que acompanha a ausência de religião, o despertar da consciência espiritual no coração daquele que busca, a busca comovente pela verdade, a peneiração cautelosa das religiões à procura dos ingredientes de valor e coerência, a serenidade do abraço da verdade, quando esta foi encontrada, e tempos, ambos agradáveis e desagradáveis, seguidos por, e em todos os pontos do processo. Tendo vivido e trabalhado como um muçulmano nos países ocidentais da América do Norte e Inglaterra, e, posteriormente, na Cidade Santa de Medina Al-Munawara conferiu uma profundidade da experiência que pode ser de interesse àqueles que buscam um caminho semelhante.


No entanto, o que se segue não é um livro de memórias, mas sim de análise. De fato, as questões apresentadas foram analisadas por estudiosos islâmicos desde o tempo da revelação, e o caminho correto para cada questão tem sido definida desde o tempo do último mensageiro, Muhammad ibn Abdullah صلى الله عليه وسلم. A escassez de informações disponíveis no idioma português, no entanto, resulta em muitos convertidos ocidentais sendo mal informados e, como consequência, facilmente enganados.


A informação que se segue é a melhor tentativa do autor para corrigir essa infeliz situação.


1) O Compromisso


Uma vez feita a escolha, a pessoa entra no Islam e se torna muçulmana com a shahada, ou testemunho de fé. Este testemunho (transliterado do árabe) diz, ―Ash-Hadu an la ilaha illa Llah(u), wa ash-Hadu anna Muhammad(an) Rasulu Llah‖ e é traduzido como ―Eu declaro que não há nenhum deus (traduzido também, ‗não há nenhum objeto digno de adoração‘) senão Allah e eu testemunho que Muhammad صلى الله عليه وسلم, é o Mensageiro de Allah‖.


A shahada é mais tradicionalmente afirmada em público, pois, em geral, convertidos devem fazer com que sua conversão seja conhecida. No entanto, se a situação assim exigir, a shahada pode ser pronunciada com mais nenhuma testemunha além d'O Criador.


A shahada não só afirma a unidade divina e a profecia de Muhammad ibn Abdullah صلى الله عليه وسلم, mas também compromete os fiéis a tudo o que é prescrito pela religião, e a abster-se de tudo o que é proibido. Portanto, embora a declaração não diga nada sobre a proibição contra a fornicação, adultério, álcool, etc., a aceitação destas proibições está intimamente associada à shahada. Pois, para aceitar Muhammad صلى الله عليه وسلم, como um profeta, e neste caso, como o profeta final, é requerida a aceitação da mensagem e das leis que foram reveladas através dele. Qualquer coisa menos que isso é hipocrisia.


O primeiro dever de um convertido, então, é entender completamente o significado da shahada, e começar a vivê-la1. Muitos livros excelentes foram escritos sobre este assunto, e há pouco ou nenhum benefício na cópia de trabalhos anteriores, embora um breve resumo seja, talvez, apropriado. Para começar, o compromisso da maior e mais óbvia importância ao afirmar a shahada é o reconhecimento do monoteísmo (isto é, a unicidade de Allah, que é capturada na língua árabe pelo termo tawhid). Este ponto deve ser fortemente enfatizado. O Islam é a religião do Tawhid. Qualquer comprometimento ao monoteísmo islâmico, qualquer comprometimento com a supremacia e absoluta Unicidade de Allah constitui shirk (politeísmo). O Shirk existe em diferentes graus, do shirk maior, que tira uma pessoa do Islam, ao shirk menor, que se classifica como um grande pecado: riyaa, ou shirk oculto. Exemplos de shirk maior são adorar outro além de Allah ou atribuir parceiros na adoração a Allah. Exemplos de shirk menor incluem jurar um juramento por outro afora Allah ou confiar nos amuletos de ―boa sorte‖. Por fim, exemplos de shirk oculto são embelezar sua oração quando a


1 Estudiosos ensinam que a shahada não é válida sem sete elementos: conhecimento, sinceridade, honestidade, amor à shahada, certeza, abstenção a qualquer coisa que negue a shahada, e aplicação (ou, em outras palavras, viver o testemunho de fé).


pessoa está ciente de que alguém a está assistindo, ou dar mais em caridade do que havia sido planejado quando ciente de que a doação está sendo observada. Dada a importância crítica de ambos os assuntos Tawhid e shirk, um estudo mais aprofundado em livros dedicados a estes assuntos é fortemente recomendado2.


Subsidiária ao Tawhid está a declaração de que Muhammad صلى الله عليه وسلم é o último profeta e mensageiro do Islam – um reconhecimento de particular importância devido ao fato de que tantos pretendentes messiânicos têm proferido falsas alegações de profecia ao longo dos anos, desviando as massas por diversos meios perversos no processo. Elijah Poole Muhammad, o fundador da Nação do Islam, é apenas um exemplo. Outros exemplos desta raça de desviados e que incitam o desvio incluem Mizra Ghulam Ahmad, o fundador da Ahmadiyyah (também conhecidos como os Qadianis), Bab Mirza Ali Muhammad e Mirza Husain Ali (os fundadores dos Baha‘is) e uma infinidade de outros coloridos e peculiares, mas influentes, pretendentes messiânicos que surgiram ao longo dos últimos 1.400 anos. O reconhecimento de Muhammad صلى الله عليه وسلم, como o último profeta de Allah fecha a porta à mente quanto a qualquer consideração das alegações de todos esses pretendentes messiânicos. Além disso, a conclusão da cadeia de profecia através da pessoa de Muhammad ibn Abdullah صلى الله عليه وسلم, é consistente com as previsões das escrituras anteriores (para uma explicação mais completa, o leitor é remetido ao livro Guiados?, o terceiro livro desta série).


Finalmente, implícita na declaração da shahada está a aceitação dos fundamentos da fé islâmica (conhecidos como ―pilares‖, pois sem esses pilares de fé e prática, o compromisso de alguém com a religião colapsa). Qualquer livraria islâmica renomada cataloga vários livros que definem esses pilares de fé e prática islâmica. A partir de pequenos panfletos até extensos volumes, há livros disponíveis que vão desde o superficial ao acadêmico. Em resumo, os artigos essenciais da fé são seis: a crença em Allah, nos Seus anjos, nas escrituras reveladas, nos mensageiros, na próxima vida, e no decreto divino. Os atos de adoração obrigatórios são cinco: a declaração de fé ao entrar na religião (isto é, a shahada), as orações cinco vezes ao dia (em intervalos prescritos, e de acordo com as regras de oração e purificação), o jejum anual do mês de Ramadan, o pagamento anual do zakat, e a peregrinação a Meca durante o período do Hajj, uma vez na vida, se física e financeiramente capaz.


Então, é isso! Basta dizer a shahada, adotar as crenças e práticas, e você está no seu caminho. Fácil, né? Bem, sim, mas não. Se há um ponto de crucial importância que precisa ser transmitido aos novos muçulmanos, é este: o Islam é uma religião de estrutura. Cada princípio, cada ensinamento, cada


2 Tais livros encontram-se à disposição online através de qualquer das livrarias islâmicas.


crença e cada elemento válido da religião islâmica tem uma base na realidade revelada. Quando um muçulmano diz a outro algo sobre a religião islâmica, ele ou ela deve ser capaz de sustentar este ensinamento com uma evidência islâmica. O padrão de ouro (e, na verdade, o único padrão aceitável) da legitimação islâmica é encontrado na interpretação de evidências islâmicas por aqueles de conhecimento abrangente (isto é, estudiosos muçulmanos). E quais são as fontes de evidências islâmicas? Duas – a palavra revelada de Allah (isto é, o Alcorão Sagrado), e a Sunnah (literalmente ‗o caminho‘ do profeta Muhammad ibn Abdullah صلى الله عليه وسلم, quer dizer, seus ensinamentos e exemplo, como transmitidos através de suas palavras, ações, aparência e consentimentos implícitos, assim como preservados nas tradições islâmicas conhecidas como hadith). Então, no final, cada ensinamento válido tem base nas evidências islâmicas e, queira ou não, a prova deve ser clara, apresentada e fundamentada para que qualquer ensinamento específico seja considerado aceitável.


Então, ao aprender através de outro muçulmano, seja este amado ou não, respeitado ou não, credenciado ou não, a pergunta crítica para cada e todo professor sobre cada e todo ensinamento é simplesmente, ―Onde você conseguiu isso?‖ Se é da mente daquele indivíduo, cuidado! Pois, foi por este escorregadio caminho de caprichos e opiniões pessoais que os povos anteriores foram desviados. Outras vias que induzem ao erro incluem:


1. Misticismo. Agora, vamos nos debruçar sobre esta questão por um momento. É esperado que a piedade e a justiça elevem a um certo nível de capacidade de reflexão e compreensão das coisas religiosas. Mas apesar de não haver nada de errado em buscar tal iluminação, os crentes se desviam quando tentam demasiadamente e, no processo, deixam as regras de orientação ditadas pelo Criador e adotam regras definidas por um ser humano, como, por exemplo, um místico. E este é o maior indício de desvio no misticismo – o acolhimento de ensinamentos e práticas que não são fundamentados sobre fontes válidas da lei islâmica, quer dizer o Alcorão, a Sunnah, e a sua interpretação pelos estudiosos sunitas respeitados. Quando ensinamentos infundados são achados em combinação com líderes espirituais que brandam reivindicações de auto-engrandecimento de aprimorado discernimento espiritual, pelo qual justificam sua estranha e infundada crença e/ou prática, a situação deve ser óbvia. Muitas vezes, no entanto, não é assim, muitos dos desviados e dos que incitam ao desvio citam o Alcorão e a Sunnah para apoiarem suas crenças extraviadas. O fato de que esses desviantes citam mal, ou interpretam mal, o Alcorão e se baseiam em ahadith não autênticos em apoio à sua posição, frequentemente passa despercebido por aqueles que não possuem ferramentas intelectuais que permitam diferenciar as fontes autênticas e corretamente


interpretadas das fontes manipuladas e/ou não autênticas. Por favor, veja o capítulo 5, intitulado ―Sufismo‖ para uma discussão mais aprofundada sobre este assunto. Ainda assim, mais caminhos levam ao erro, incluindo:


2. Filosofia (pois os filósofos não concordam entre si, então, no máximo, apenas um grupo pode estar certo. E enquanto divagam sobre o assunto, olhem para o que aconteceu com os gregos!)


3. Racionalismo (pois nem tudo na religião ‗faz sentido‘ para todos, e a inclinação para rejeitar ou modificar padrões religiosos simplesmente porque uma pessoa pode não lhes ‗fazer sentido‘ leva a desvios e, não raro, descrença. Tipicamente, as tentativas para racionalizar pontos de vista desviados são resultado de pessoas que procuram modificar a religião com intuito de casar com seus desejos, a tentativa de ‗modernizar‘ ou ‗adaptar‘ o Islam são exemplos clássicos.)


4. Intelectualização exagerada (é esperado que os muçulmanos pensem e raciocinem, não unicamente a fim de atingir a crença em primeiro lugar, mas também a fim de praticar e aplicar a religião corretamente. No entanto, a intelectualização possui limites práticos, o que significa que existem algumas coisas que as pessoas simplesmente têm de aceitar, acreditar e fazer – coisas como, por exemplo, os mandamentos de Allah. Se as pessoas se recusam a aceitar, validar ou preencher um comando de Allah, simplesmente porque elas não conseguem compreender a razão por isso, elas caem na desobediência e no erro.)


5. Falsa justificativa (tais como através da citação errada ou má interpretação dos versículos do Alcorão, ou emprego de ahadith fracos ou fabricados, a fim de apoiar uma posição desviada)


6. Emitindo um julgamento sobre um problema apesar da falta de qualificação acadêmica.


No entanto, se a orientação é tomada de estudiosos respeitados e qualificados que derivam seus ensinamentos do Alcorão e ahadith autênticos, então pode-se descansar à vontade.


Na falta de comprovação por estudiosos qualificados, de acordo com as evidências fundamentais do Alcorão e da Sunnah, ninguém deveria se considerar seguro. Quando o mapa da história é revisto, nos damos conta que a humanidade tem se desviado sempre que as rédeas do intelecto humano abandonam as evidências de sustentação e voltam para o campo das explicações sedutoras. A busca dos alquimistas pela ‗Pedra Filosofal‘ (a fórmula mítica pela qual metais básicos poderiam ser transmutados em ouro), pela fonte da imortalidade, pelos potes de ouro e sonhos concebidos em cada lenda que já motivou a partida de um navio ou uma expedição em um empreendimento fútil, são exemplos claros. No entanto, nenhuma lenda


infundada levou ao frívolo sacrifício de riqueza, energia, vidas e almas mais do que a falsa religião.


Desviados? revela os fundamentos fracos, inexistentes, ou francamente fabricados de muitos dos mitos da teologia moderna judaica e cristã. O Islam ortodoxo (sunita) se recusa a aceitar tal hipocrisia dentro da sua crença e mantém a pureza de seus ensinamentos através da exigência de que estudiosos derivem o fiqh (leis islâmicas) das estáveis e respeitadas fontes fundamentais da religião islâmica e, em seguida, exige que os leigos sigam as decisões válidas de estudiosos qualificados.


Infelizmente, muitos novos convertidos concebem o extremamente otimista, e, infelizmente, ingênuo pressuposto de que todos os ―estudiosos‖ sabem do que estão falando, e que todos os muçulmanos seguem o mesmo caminho. Nada poderia estar mais longe da verdade. Uma grande variedade de seitas se identificam com o rótulo do Islam, ao mesmo tempo variam em ensaios ideológicos desde a inovação menor até à blasfêmia absoluta. Algumas seitas heréticas agarram-se às fronteiras bem definidas do Islam, enquanto outras estão tão fora do contexto do Islam que se justifica uma classificação metafísica separada.


Por isso, existe a necessidade de etiquetas.


Em geral, os muçulmanos preferem ser conhecidos como nada mais do que, bem, muçulmanos, pela simples razão de que Allah Altíssimo se refere aos crentes como muçulmanos no Sagrado Alcorão. Para aqueles que reverenciam a supremacia de Allah, nenhuma etiqueta criada na mente do homem pode competir com a escolhida pelo Próprio Criador. Todavia, as etiquetas têm sido necessárias, a fim de se distinguir entre diferentes grupos. As duas maiores subdivisões no mundo islâmico são os sunitas e os xiitas. Os muçulmanos sunitas aderem à Sunnah (caminho) do profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم, como registrada por meio das tradições islâmicas (ahadith), enquanto os xiitas aderem aos ensinamentos de seus líderes religiosos (imams), validados ou não pelo Alcorão e a Sunnah. Como normalmente ocorre, sempre que as pessoas dão prioridade a líderes carismáticos acima da verdade revelada, alguns indivíduos peculiares, com ideologia ainda mais bizarra, penetraram na cadeia da autoridade em vários pontos da história, estabelecendo seu desvio nos cânones da religião, e distraindo as crenças sectárias, passo a passo, da verdade do período original. As tendências destrutivas e desviadas, semelhantes àquelas que se desenvolveram nos corações e mentes dos xiitas, têm efetivamente aberto caminho a uma longa lista de outras seitas derivadas do corpo principal dos muçulmanos sunitas.


No entanto, o Islam sunita representa aproximadamente 95% de todos os muçulmanos do mundo, e por uma boa razão. Para começar, a metodologia faz sentido. Qualquer pessoa que aceite o Islam afirma a supremacia e


unicidade de Allah, o que indica a negação de qualquer conceito de parceiros ou co-partícipes na divindade. De acordo com a tradução do significado do Alcorão (daqui em diante TSA)3,


EEntão, não façais semelhantes a Allah, enquanto sabeis (que não existe nada semelhante a ele)‖ [TSA 2:22]


e


―Dize: ‗Ele é Allah, Único. Allah é O Solicitado. Não gerou e não foi gerado. E não há ninguém igual a Ele.‘‖ [TSA 112:1-4]


Assim, existe apenas uma autoridade suprema e final, que é Allah, e Sua escolha do Alcorão como a revelação final e de Muhammad ibn Abdullah صلى الله عليه وسلم como o mensageiro final deve ser respeitada. Além disso, repetidamente, Allah instrui a humanidade, no Alcorão Sagrado, a seguir o exemplo do profeta final e a obedecer a Allah e a Seu mensageiro, Muhammad صلى الله عليه وسلم. Uma vez seria o suficiente, mas a repetição frequente deste ensinamento por Allah Altíssimo, em Sua revelação, deve descartar qualquer discussão sobre este ponto.


Dada a primazia do exemplo de Muhammad صلى الله عليه وسلم na religião do Islam, a dedicação e o rigor com que as gerações anteriores preservaram os registros da biblioteca de ahadith são lendários. Por esta razão, não há absolutamente nenhuma outra pessoa na história a respeito da qual tantos detalhes estejam documentados e confirmados. Ao contrário dos perfis difusos de todos os profetas anteriores, a vida, caráter e ensinamentos de Muhammad صلى الله عليه وسلم, podem ser conhecidos com detalhes requintados, e é a esses detalhes que aderem os muçulmanos sunitas.


Em contraste, os muçulmanos xiitas são apenas um grupo – de uma longa lista de seitas desviadas – que tem escolhido ignorar a Sunnah de Muhammad صلى الله عليه وسلم, de uma forma ou de outra, em favor dos ensinamentos de seus líderes sectários. Semelhantes aos cristãos – que descartaram os ensinamentos ortodoxos de Jesus Cristo em favor da mais permissiva, embora contrária, teologia de Paulo – as seitas desviadas do Islam atribuem prioridade aos ensinamentos humanos contrários àqueles com base no Alcorão, Sunnah, e interpretação destes feita por estudiosos qualificados.


Infelizmente (e previsivelmente, também), muitos desviados citam equivocadamente ou interpretam mal o Alcorão e ahadith, a fim de apoiar a sua má orientação religiosa. E a menos que as pessoas questionem sobre o que é dito, algumas das evidências citadas podem parecer convincentes, pois,


3 A versão da tradução do significado do Alcorão (TSA) citada neste livro, a menos que haja nota ao contrário, é o Alcorão, texto em árabe com os correspondentes significados em português, por Helmi Nasr.


como William Shakespeare disse: ―O diabo sabe citar as escrituras para seu próprio interesse‖.4


Os novos convertidos, que podem não conhecer a diferença entre os ortodoxos e os desviados, entre o pseudo erudito do desvio e o autêntico estudioso da verdade, devem ser particularmente cuidadosos e pesquisar e confirmar o que lhes é dito. Mais importante ainda, os fiéis devem suplicar a Allah por proteção a seus corações, mentes, corpos e almas contra o desvio, bem como estabelecer e mantê-los no caminho reto que Ele traçou. E esta é, afinal, a oração de Al-Fatiha, a primeira surah (capítulo) do Alcorão Sagrado, e uma oração de tal significado e importância que Allah Altíssimo exige a recitação desta surah em cada rakat de cada oração. Assim, os verdadeiros muçulmanos devem recitar esta oração com sinceridade e convicção.


No que diz respeito à discussão acima, os seguintes livros são particularmente úteis para navegar pelos desvios dos Shi‘a (xiitas), bem como algumas outras seitas errantes:


1. The Mirage in Iran - tradução do Dr. Abu Aminah Bilal Philips do Dr. Ahmad al-Afghani, Sarab fi Iraan, e


2. The Devil’s Deception - tradução do Dr. Abu Aminah Bilal Philips de Ibn al-Jawzi, Talbis Iblis.


4 Shakespeare, William. The merchant of Venice. I.iii.


1.a.) O Grupo Salvo


Um hadith frequentemente citado conclui o ensinamento de que até o final dos tempos o Islam será dividido em 73 seitas, das quais 72 estariam no Fogo. Quando lhe foi perguntado qual seria a seita salva, Muhammad صلى الله عليه وسلم, respondeu algo como, ―Aqueles que seguem o caminho em que estou hoje, e os meus companheiros.‖5


Alguns muçulmanos sugerem que o hadith acima apresenta uma fraqueza em sua cadeia de narradores, outros apontam que seu grande número de transmissores o tornam autêntico. De qualquer maneira, o fato é que, se a religião islâmica ainda não está dividida em 73 seitas, está caminhando para isso. Várias seitas xiitas, um número crescente de sufis extremistas, o culto dos Ansar, a Nação do Islam, os Ahmadiyyah (também conhecidos como Qadianis), os coranitas (que alegam seguir somente o Alcorão), e muitos outros apresentam variados perfis de desvio da ortodoxia do Islam sunita. Além disso, o conceito de que a seita salva consiste naqueles que aderem ao que o Profeta صلى الله عليه وسلم e seus companheiros praticavam, não representa uma ideia incompreensível para o crente sincero.


Há, no entanto, aqueles que propõem a revisão da religião islâmica com base na percepção da necessidade de modernizar o Islam em consideração às mudanças sociais e políticas dos últimos 1.400 anos. Ora, os muçulmanos têm sido, historicamente, alguns dos maiores progressistas do mundo. A revolução industrial na Europa foi, em grande parte, atribuída ao conhecimento e inovações importadas do mundo muçulmano, em uma época que a aristocracia da Europa enviava rotineiramente seus filhos para estudar nas universidades da Espanha muçulmana. Os muçulmanos se destacaram em idiomas e linguística, mecânica, óptica e física teórica, química orgânica e inorgânica, matemática, agricultura, medicina, geografia e astronomia, para citar algumas das ciências e áreas do intelecto. Muitos dos avanços tecnológicos que abriram o caminho para um mundo melhor foram inventados pelos muçulmanos, e até a própria universidade se origina da concepção muçulmana desta instituição de ensino superior.6


Assim, os muçulmanos não são tímidos ao abordar os problemas relacionados com sua existência e mudam, por vezes, em assuntos que não entram em conflito com os princípios religiosos. No entanto, Allah, Altíssimo, transmitiu o ensinamento através do Seu profeta final, Muhammad


5 Tirmidhi (2641).


6 Para mais informações consulte o terceiro livro desta série, Guiados?, e Islam and Science, da autoria de Shabir Ahmed, Anas Abdul Muntaqim e Abdul-Sattar Siddiq; publicado pela Oficina Cultural Islâmica, PO Box 1932, Walnut, CA 91789; (909) 399-4708.


صلى الله عليه وسلم, de que não aceitaria qualquer alteração ou inovação na religião. De acordo com o hadith de A‘isha, foi registrado que Muhammad صلى الله عليه وسلم ensinou,


―Quem introduzir qualquer coisa neste nosso assunto [isto é, o Islam] que não lhe pertença, ser-lhe-à rejeitado.‖7


Assim, enquanto a inovação em assuntos de aspecto prático não-religiosos pode ser louvável, não há espaço para a inovação na religião propriamente dita, pois todas as inovações religiosas levam ao Fogo do Inferno. Lembrando que a humanidade não foi criada, senão para servir e adorar Allah (veja TSA 51:56; ―E Eu não criei os gênios e os homens, senão para Me adorarem‖), esta fórmula faz sentido, pois a ideia não é fazer todo e cada aspeto da vida mais fácil e mais divertido, mas sim melhorar os aspectos práticos da vida para facilitar o dever para o qual a humanidade foi criada – servir e adorar a Allah.


Assim, tornar a vida mais fácil em termos de existência mundana é louvável, pois melhora a condição humana e dá liberdade ao indivíduo, tanto física como mentalmente, para a adoração. Fisicamente, as circunstâncias melhoradas tornam mais fácil a realização de atos de adoração, enquanto que, mentalmente, melhores condições dão ao indivíduo mais para ser grato a Allah. Por outro lado, a tentativa de tornar mais fácil a religião através do comprometimento dos deveres religiosos é censurável, pois ao fazê-lo o indivíduo detrai quanto às funções para as quais ele ou ela foi prioritariamente criado por Allah. Assim, um telefone é melhor do que um pombo-correio, mas, ao passo que quatro orações por dia é mais fácil do que cinco, isso definitivamente não é melhor, pois qualquer inovação que conflite com a Shari‘a (lei islâmica) desvia da religião e, em vez de fazer sua prática mais fácil, compromete ou a destrói.


Isto nos leva a um princípio geral de orientação que o novo muçulmano deveria se lembrar: toda adoração (ou seja, tudo pelo qual o adorador espera pela recompensa de Allah Altíssimo) é proibida, exceto a que foi prescrita, ao passo que tudo dentre os assuntos mundanos é permitido, exceto o que foi proibido. Os estudiosos estão de acordo quanto a este princípio e todos os muçulmanos devem cimentá-lo em suas memórias pela simples razão de que isto simplifica a religião e facilita o processo de tomar decisões. Evidência apoiante deste princípio é tão extensa que está além da compilação num trabalho como este, no entanto, deve ser mencionado que Allah Altíssimo transmitiu, em um dos últimos ayat (plural de ayah) a ser revelado, ―Hoje, eu inteirei vossa religião, para vós, e completei Minha graça para convosco e agradei-Me do Islamo como religião para vós‖ (TSA 5:3). Levando este ayah em consideração, juntamente com o mandato tantas vezes repetido de Allah,


7 Bukhari (2550), Muslim (1718), Sunan Abu Dawud (4606), Ahmad (26075, 26372).


―obedecei a Allah e a Seu mensageiro (isto é, Muhammad صلى الله عليه وسلم)‖, o muçulmano deve respeitar o hadith que menciona Muhammad صلى الله عليه وسلم como tendo ensinado,


1. ―Aquele que inovar alguma coisa neste nosso assunto (isto é, a religião), que não lhe pertença, ser-lhe-á rejeitado.‖8


2. ―O que eu vos proibi, evitai-o, e o que eu vos ordenei [fazer], façai tanto quanto possais.‖9


3. ―Allah, o Altíssimo, prescreveu deveres religiosos, por isso não os negligencie; Ele estabeleceu limites, então, não os ultrapasse; Ele proibiu algumas coisas, por isso, não as viole; sobre algumas coisas Ele ficou em silêncio – por compaixão a ti, não por esquecimento – então, não as busque.*‖10


Além disso, Allah Altíssimo transmitiu,


 ―E o que o Mensageiro vos conceder, tomai-o; e o de que vos coibir, abstende-vos dele. E temei a Allah. Por certo, Allah é Veemente na punição‖ (TSA 59:7)


 ―Os que seguem ao Mensageiro, O Profeta iletrado — que eles encontram escrito junto deles, na Tora e no Evangelho - o qual lhes ordena o que é conveniente e os coibe do reprovável, e torna lícitas, para eles, as cousas benignas e torna ilícitas, para eles, as cousas malignas e os livra de seus fardos e dos jugos a eles impostos...‖ (TSA 7:157)


 ―Ele é Quem criou para vós tudo aquilo que está sobre a terra‖ (TSA 2:29 - o que implica a permissibilidade de tudo aquilo que não é proibido dos assuntos mundanos.)


 ―Dize: ‗Quem proibiu os ornamentos que Allah criou para Seus servos e as cousas benignas do sustento?‖ (TSA 7:32 - que indica o erro em proibir aquilo que Allah Altíssimo não proibiu dos assuntos mundanos.)


8 Bukhari (em um capítulo intitulado: Se um servo civil ou um juiz julga algo indiferente à regra do Mensageiro, então, seu julgamento é rejeitado) e Muslim (1718)


9 Bukhari (6858) e Muslim (130) * Quer dizer, não se aprofunde nessas questões sobre as quais Allah, por Sua sabedoria e compaixão, não mencionou uma decisão, pois a resposta pode trazer mais sofrimento do que benefício. A este respeito Allah revelou no Alcorão, ―Ó vós que credes! Não pergunteis por cousas que, se vos fossem divulgadas, vos afligiriam: e, se perguntardes por elas, enquanto o Alcorão estiver sendo descido, ser-vos-ão divulgadas.‖ (TSA 5:101). A revelação e a religião são completas e perfeitas, os elementos prescritos da religião são conhecidos, não permitindo nenhuma adição, e os elementos proibidos da existência mundana são, da mesma forma, conhecidos, sendo permitido tudo que não tenha sido proibido. Devemos nos abster de discutir e investigar meticulosamente sobre o que Allah escolheu não emitir veredicto.


10 Daraqutni (42, 104)


Portanto, este princípio geral de que tudo da adoração é proibido, exceto o que é prescrito, e tudo dos assuntos mundanos é permitido, exceto o que foi proibido, não somente é bem suportado, como tem um grande impacto. No que se refere aos assuntos em discussão, aqueles que buscam um caminho mais fácil em termos de existência física e assuntos mundanos são encorajados a fazê-lo, pois um hadith autêntico diz que ―Nunca foi dado ao profeta صلى الله عليه وسلم, uma escolha entre duas coisas, senão que ele escolhesse a mais fácil, desde que não fosse pecado.‖11 No entanto, aqueles que buscam a inovação em assuntos de adoração devem ser censurados e/ou condenados. O Imam Malik, comentou:


―Aquele que inova algo para a ummah hoje em dia, que os piedosos antecessores não praticavam, então proclama que o Profeta (Isto é, Muhammad صلى الله عليه وسلم) tinha traído a ummah, porque Allah, o Todo-Poderoso, disse: ‗Hoje, eu inteirei vossa religião, para vós‘. Aquilo que não fazia parte da religião naquela época (isto é, na de Muhammad e de seus companheiros) não faz parte da religião hoje.‖12


O ponto é que, embora as possibilidades de melhoria da condição humana em termos mundanos sejam vastas, há um mínimo em termos de crenças e práticas que, se for transgredido, compromete a filiação de uma pessoa à religião. Os requisitos mínimos da fé islâmica estão claramente definidos, um exemplo dos quais é encontrado no seguinte hadith:


Um homem de Najd, com o cabelo despenteado, veio ao Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم, e ouvimos a sua voz alta, mas não conseguimos entender o que ele estava dizendo, até que chegou perto (e, então, viemos a saber) que ele estava perguntando sobre o Islam. O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم, disse: ―Tens de executar cinco Salat (orações) em um dia e noite (24 horas).‖ O homem perguntou: ―Há qualquer outra Salah (oração) obrigatória para mim?‖ O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم, respondeu: ―Não, mas se tu desejares executar as Salat Nawafil (isto é, voluntárias, ou não obrigatórias) (podes fazê-lo).‖ O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse ainda a ele: ―Tens de observar o sawm [jejum (de acordo com os ensinamentos islâmicos)] durante o mês de Ramadan.‖ O homem perguntou: ―Há qualquer outro jejum (adicional) obrigatório para mim?‖ O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم, respondeu: ―Não, mas se tu quiseres observar os jejuns Nawafil (podes fazê-lo).‖ Então, o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم, disse mais ao homem, ―Tens de


11 Bukhari (3367), Muslim (2327), Muwatta Imam Malik (1603)


12 Al-Ih’kam, por Ibn Hazim


pagar o Zakat.‖ O homem perguntou: ―Existe alguma outra coisa que não seja o Zakat para eu pagar?‖ O Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم respondeu: ―Não, a menos que queiras dar esmola de ti mesmo.‖ E então, o homem se retirou, dizendo: ―Por Allah! Eu não farei menos, nem mais do que isso.‖ O Mensageiro de Allah disse: ―Se ele for fiel à sua palavra, então será bem sucedido (ou seja, ser-lhe-á concedido o Paraíso).‖13


Este hadith efetivamente resume os limites mínimos da prática islâmica, enquanto, ao mesmo tempo, conclui que satisfazer esses limites mínimos leva à recompensa do paraíso.


Esta fórmula, é claro, faz sentido, pois a humanidade vive tais fórmulas todos os dias de mil maneiras diferentes. Por exemplo, o corpo necessita de uma quantidade mínima de oxigénio para sobreviver, e uma temperatura mínima. Se mantiver esses mínimos, uma pessoa sobrevive. Transgredir esses mínimos, ao menor grau, resulta na morte. Da mesma forma, um carro requer uma quantidade mínima de combustível para ir de um ponto a outro. Mesmo uma gota a menos que o mínimo significa que o carro vai parar no caminho – embora apenas pela equivalência de uma gota de distância. Mas ainda no caminho. Claro, alguém poderia dizer, ―Bem, apenas estacione o carro e caminhe‖. Mas, há algumas coisas que simplesmente não se pode desconsiderar. A falha é uma delas. Um ponto a menos do que um ‗10‘ num exame não é mais um ‗10‘. Uma grama a menos em um quilo já não é um quilo. Um passo atrás do vencedor é o segundo lugar. Um segundo a mais submerso significa afogar-se. E uma gota a menos do que os meios mínimos necessários resulta em insuficiência.


Se mantiver uma oxigenação e temperatura corporal superiores ao mínimo necessário, a pessoa não só se sentirá melhor, mas correrá menos riscos de desastre. Mantendo mais combustível que o necessário no carro, a pessoa terá uma reserva maior, por segurança. Uma pessoa pode viver com mínimos – a vida no limite, por assim dizer – mas isso é arriscado, desconfortável e, em circunstâncias normais desnecessariamente imprudente. Muito melhor viver acima dos limites críticos. Assim, também, com a religião. As pessoas que vivem nos limites mínimos de fé e prática se balançam na corda bamba de sua fé, pondo-se em risco, arriscando-se diariamente, com a consequência de cair para o lado errado. Por outro lado, aqueles que aperfeiçoam a sua fé, prática e adoração vivem dentro das zonas de segurança expandidas encontradas nos níveis mais altos da religiosidade.


Então, enquanto viver a vida no limite tornou-se moda nas arenas dos esportes radicais e das altas finanças, onde uma pessoa pode alcançar a fama ou fortuna arriscando-se a danos pessoais ou falência, viver a religião no


13 Bukhari (42) e Muslim (11).


limite põe em risco a salvação da pessoa para... bem, para quê exatamente? Mais alguns minutos economizados da oração, mais alguns bocados por não jejuar, algum dinheiro a mais salvo da caridade? Um preço baixo pela salvação, poderia se pensar, e definitivamente digno do sacrifício para o benefício da expansão da segurança e zona de conforto. E não significa que a pessoa tenha de comprometer todos os outros elementos da existência mundana.


Pelo contrário, muçulmanos vivem vidas incrivelmente limpas, honestas, saudáveis e satisfatórias. E em homenagem ao sucesso da norma islâmica, os campos da política, conduta pessoal, estrutura familiar e social, economia, direito civil e penal, e muitas outras disciplinas da existência humana, no mundo islâmico, têm desfrutado de uma longa duração e sucesso devido aos princípios religiosos sólidos sobre os quais foram fundados. A própria religião islâmica é praticada hoje como era no tempo do profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم, tornando o Islam a única religião abraâmica praticada hoje na sua pureza original. Se alguma vez houve um registro de sucesso que testemunha a verdade, é este. Além disso, Allah transmitiu a promessa de que haverá sempre um grupo de pessoas sobre o correto, pois um hadith autêntico relata que Muhammad صلى الله عليه وسلم, ensinou: ―Haverá sempre um grupo da minha ummah (isto é, nação) abertamente comprometido com a verdade até o Dia do Juízo‖.14


Vamos tentar permanecer entre eles.


14 Bukhari (3441), Muslim (156), Abu Dawud (4252) e Tirmidhi (2229).


2) Os Pilares


Uma vez que uma pessoa entra no Islam, a questão surge, ―O que eu faço agora?‖ A resposta mais curta é: ―Vá para casa, tome um banho e comece a rezar.‖



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